Defensivos Biológicos: Guia Prático para Aumentar a Produtividade na Sua Lavoura

Redatora parceira Aegro.
Defensivos Biológicos: Guia Prático para Aumentar a Produtividade na Sua Lavoura

Os defensivos biológicos estão se tornando uma ferramenta cada vez mais comum e estratégica na agricultura brasileira. Prova disso é o crescimento impressionante do mercado, que avançou mais de 70% em 2018, de acordo com dados da Associação Brasileira das Empresas de Controle Biológico (Abcbio).

Apesar desse avanço, a utilização ainda é limitada, alcançando somente 5% da produção em algumas regiões do país. Isso mostra que existe uma grande oportunidade para produtores que buscam mais eficiência e sustentabilidade.

Neste artigo, vamos detalhar o que são os defensivos biológicos, por que eles são o futuro do manejo e como você pode começar a integrá-los na sua realidade para proteger sua lavoura e aumentar seus resultados.

O que são, afinal, os defensivos biológicos?

Defensivos biológicos são produtos formulados a partir de organismos vivos ou substâncias naturais, utilizados para o controle de pragas e doenças que atacam as lavouras. Em vez de compostos químicos sintéticos, eles usam a própria natureza como aliada.

Eles são classificados com base no seu ingrediente principal, chamado de princípio ativo. Podemos dividi-los em dois grandes grupos:

  • Produtos de Controle Biológico: Utilizam organismos vivos como princípio ativo.

    • Microbiológicos: Baseados em microrganismos como bactérias, fungos e vírus.
    • Macrobiológicos: Usam insetos maiores, como parasitoides e predadores, que são inimigos naturais das pragas.
  • Produtos de Substâncias Naturais: Utilizam compostos extraídos de organismos.

    • Bioquímicos: Substâncias naturais que controlam pragas por mecanismos não tóxicos.
    • Semioquímicos: Compostos, como feromônios, que modificam o comportamento dos insetos para afastá-los da lavoura.

Para o controle de insetos, por exemplo, a entomologia utiliza predadores vivos, nematoides entomopatogênicos (vermes microscópicos que infectam e matam insetos) ou patógenos microbianos para reduzir a população de pragas. Já no controle de doenças, são usados antagonistas microbianos, que são microrganismos que competem com os causadores de doenças, suprimindo sua ação.

Controle Biológico e MIP: A Dupla de Sucesso na Lavoura

O conceito central do controle biológico é simples: usar inimigos naturais para manter o equilíbrio. A ideia é que pragas e doenças podem ser controladas pela ação de outros organismos, como micróbios benéficos ou insetos predadores, que já existem no ambiente ou que podem ser introduzidos.

Essa prática é um dos pilares do MIP (Manejo Integrado de Pragas), uma abordagem racional e preventiva para proteger sua lavoura. O MIP se baseia em um ciclo contínuo:

  1. Identificação correta das espécies na área.
  2. Monitoramento constante da população de pragas e doenças.
  3. Avaliação dos níveis que exigem uma ação de controle.
  4. Escolha do melhor método de controle, considerando as condições ambientais e o menor impacto possível.

Este é um infográfico educacional que ilustra os componentes fundamentais do Manejo Integrado de Pragas (MIP). A imagem utili

Por que o Mercado de Biodefensivos Não Para de Crescer?

O Brasil é um gigante agrícola, mas também um grande consumidor de defensivos químicos. Segundo a Anvisa, o país consome cerca de um quinto (19%) de todos os agroquímicos produzidos no mundo. O dado mais preocupante é que aproximadamente 30% desses produtos são classificados como muito perigosos.

No campo, o impacto mais sentido tem sido o desenvolvimento de resistência de pragas, doenças e plantas daninhas. Esse problema é resultado direto do uso contínuo e nem sempre racional dos mesmos defensivos químicos.

Nesse cenário, os defensivos biológicos surgiram como uma estratégia poderosa. O apoio governamental, como a Política Nacional de Agroecologia e Produção Orgânica lançada em 2012, impulsionou o setor. Hoje, tanto empresas especializadas, ligadas à ABCBio, quanto gigantes tradicionais dos defensivos químicos já oferecem produtos biológicos em seus portfólios.

Os resultados são claros: em 2018, o mercado de biológicos cresceu 77%, movimentando cerca de R$ 464,5 milhões.

infográfico que destaca a posição do Brasil na produção de biodefensivos, afirmando que o país está entre os de (Fonte: SBA)

Segundo Arnelo Nedel, presidente da ABCBio, a tecnologia já entrega resultados comprovados. O desafio agora é levar essa informação de qualidade para mais produtores, com protocolos agronômicos cada vez mais ajustados para cada realidade.

Além dos produtos comerciais, a produção de microrganismos On-farm (diretamente na fazenda) tem crescido muito e nem entra nessas estatísticas. Essa é uma realidade tanto para pequenos produtores orgânicos, com seus biofertilizantes, quanto para grandes grupos como a Amaggi.

uma Biofábrica OnFarm, um equipamento industrial de aço inoxidável projetado para a produção de bioinsumos dir Biofábrica On-farm em fazenda de Goiás

close-up detalhado do micélio do fungo Sclerotinia sclerotiorum, o agente causador da doença conhecida c Produção de biofertilizante em agricultura orgânica no RS (Fotos: Arquivo pessoal da autora)

Como os Defensivos Biológicos Funcionam na Prática?

Para entender o poder dos biodefensivos, é importante conhecer as relações de antagonismo entre as espécies, que são a base do controle biológico. Existem três mecanismos principais:

  • Antagonismo direto: Acontece quando um organismo ataca diretamente o outro. Isso inclui o hiperparasitismo (um parasita ataca outro) e a predação (um organismo caça e come o outro). O fungo Trichodermma spp. é um exemplo clássico que parasita outros fungos causadores de doenças.
  • Antagonismo de caminho misto: Ocorre quando um microrganismo produz substâncias que inibem o desenvolvimento do patógeno. É o caso de antibióticos, enzimas líticas e outros resíduos. A bactéria Pseudomonas spp., por exemplo, produz antibióticos que combatem doenças.
  • Antagonismo indireto: É uma competição por recursos. Os organismos benéficos competem com os patógenos por espaço e nutrientes, como exsudatos e lixiviados das raízes. Eles também produzem sideróforos (moléculas que capturam ferro, deixando os patógenos sem esse nutriente essencial) e induzem a resistência natural das plantas.

Um solo com uma boa microbiota (comunidade de microrganismos) desenvolve a chamada supressividade, que é a capacidade natural de limitar o desenvolvimento de doenças. Um solo supressivo resulta em um destes três cenários:

  1. O patógeno não consegue se estabelecer no ambiente.
  2. O patógeno se estabelece, mas não consegue causar a doença.
  3. O patógeno causa a doença, mas com uma severidade muito reduzida.

fotografia macro que captura um momento crucial do controle biológico na agricultura. Em primeiro plano, vemos Vespa da espécie Trichogramma galloi parasita ovos da broca-da-cana (Fonte: Terra)

Empresas de Produtos Biológicos para Agricultura

Abaixo, listamos algumas das empresas que já oferecem defensivos biológicos, sejam eles controladores, bioquímicos ou semioquímicos:

  • Simbiose
  • Promip
  • Koppert
  • Laboratório Farroupilha
  • Gênica
  • BioControle
  • STK Bio Ag Technologies
  • RSA Biotecnologia Agrícola
  • Ballagro
  • FMC – Nemix
  • Korin – Embiotic
  • Bayer – Sonata

E também empresas que fornecem soluções On Farm, ajudando na produção de defensivos naturais dentro da propriedade:

  • Solubio
  • Agrobiológica – Soluções Naturais

Defensivos Agrícolas Químicos vs. Biológicos: Uma Estratégia Integrada

A questão não é uma disputa de “químico contra biológico”, mas sim entender como integrar as duas ferramentas de forma inteligente para um manejo mais eficiente. A agricultura moderna enfrenta desafios complexos que exigem uma abordagem mais ampla:

  • Doenças iatrogênicas: São problemas causados pelo próprio manejo, como o uso excessivo de um produto que acaba gerando outro problema.
  • Desequilíbrio biológico: O uso indiscriminado de químicos pode alterar o ciclo de nutrientes e matéria orgânica do solo.
  • Eliminação de organismos benéficos: Muitos defensivos químicos não são seletivos e acabam matando inimigos naturais e polinizadores.
  • Resistência: Como já mencionado, pragas e doenças estão se tornando resistentes aos produtos convencionais.
  • Falta de novas moléculas: O desenvolvimento de novos princípios ativos químicos é um processo cada vez mais lento e caro.

O Manejo Integrado de Pragas (MIP) é a chave para essa mudança. A pesquisa moderna, com avanços em biologia molecular, química analítica e computação, está permitindo entender melhor como os agentes de biocontrole, os patógenos e as plantas interagem, tornando os produtos biológicos cada vez mais eficazes.

planilha Manejo Integrado de Pragas - MIP

Conclusão

Fica claro que o setor de defensivos biológicos está em plena expansão e não é apenas uma tendência, mas uma realidade consolidada. A expectativa é de uma melhora contínua na qualidade dos produtos e nos protocolos de aplicação a campo, tornando-os ainda mais eficientes.

Essa evolução é impulsionada pela busca por uma agricultura mais sustentável, tanto do ponto de vista econômico quanto ambiental.

Ao adotar os biológicos de forma estratégica, você não apenas protege sua lavoura de maneira mais inteligente, mas também melhora a qualidade de vida no campo e a qualidade do alimento que entrega ao mercado.


Glossário

  • Antagonismo: Mecanismo de ação em que um organismo inibe ou ataca outro. No controle biológico, isso pode ocorrer por predação, parasitismo, competição por recursos ou produção de substâncias que impedem o desenvolvimento de patógenos.

  • Inimigos naturais: Organismos que, na natureza, controlam a população de outros, como pragas e doenças. Incluem predadores (que comem a praga), parasitoides (que se desenvolvem dentro da praga) e microrganismos patogênicos para o alvo.

  • MIP (Manejo Integrado de Pragas): Uma abordagem estratégica que combina diferentes métodos de controle (biológico, cultural, químico) de forma racional e sustentável. O objetivo não é erradicar as pragas, mas mantê-las em níveis que não causem danos econômicos.

  • Nematoides entomopatogênicos: Vermes microscópicos que são parasitas naturais de insetos. Eles penetram no corpo da praga e liberam uma bactéria simbiótica que a mata, servindo como um bioinseticida eficaz e específico.

  • On-farm: Refere-se à produção de insumos biológicos, como microrganismos benéficos, diretamente na propriedade rural (“na fazenda”). Essa prática permite ao produtor ter um produto fresco, com menor custo e adaptado às suas necessidades.

  • Semioquímicos: Substâncias químicas, como os feromônios, que transmitem sinais entre seres vivos e modificam seu comportamento. Na agricultura, são usados para atrair pragas para armadilhas ou para confundir os insetos e impedir o acasalamento.

  • Sideróforos: Moléculas produzidas por certos microrganismos benéficos para capturar ferro do ambiente. Ao sequestrar o ferro, elas tornam esse nutriente essencial indisponível para patógenos, inibindo o seu crescimento.

  • Supressividade do solo: A capacidade natural de um solo, devido à sua rica comunidade de microrganismos benéficos, de inibir o desenvolvimento de patógenos e doenças. Um solo supressivo é um solo biologicamente saudável e resiliente.

Veja como o Aegro pode ajudar a superar esses desafios

Adotar o Manejo Integrado de Pragas (MIP) é uma decisão estratégica, mas o sucesso depende de organização e dados precisos. Registrar o monitoramento em cadernos e acompanhar o estoque de defensivos biológicos e químicos pode ser um desafio. Um software de gestão agrícola como o Aegro centraliza essas informações, permitindo que você planeje, execute e registre todas as aplicações de defensivos diretamente do campo. Isso garante que as intervenções sejam feitas no momento certo, otimizando o uso de insumos e maximizando a eficácia do controle.

Além da eficiência agronômica, o controle financeiro é decisivo. Integrar a gestão de insumos ao financeiro permite saber exatamente o custo de cada aplicação por talhão e o impacto no resultado da safra. Ferramentas como o Aegro geram relatórios automáticos que mostram o custo de produção em tempo real, ajudando a comprovar o retorno sobre o investimento em biodefensivos e a tomar decisões mais seguras para uma agricultura mais rentável e sustentável.

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Perguntas Frequentes

Qual a principal diferença entre um defensivo biológico e um químico?

A principal diferença está na origem e no modo de ação. Defensivos biológicos usam organismos vivos (como bactérias e fungos) ou substâncias naturais para controlar pragas de forma específica, preservando inimigos naturais. Já os defensivos químicos são compostos sintéticos, geralmente com um espectro de ação mais amplo, que podem eliminar tanto pragas quanto organismos benéficos.

Defensivos biológicos são tão eficientes quanto os químicos para controlar pragas?

Sim, quando usados de forma estratégica dentro do Manejo Integrado de Pragas (MIP). A eficiência dos biológicos depende do monitoramento correto, da escolha do produto certo para o alvo e das condições de aplicação. Enquanto defensivos químicos podem ter um efeito de choque imediato, os biológicos promovem um controle mais equilibrado e duradouro, ajudando a evitar o surgimento de resistência.

Posso usar defensivos biológicos e químicos juntos na mesma lavoura?

Sim, essa é a base de uma estratégia integrada e moderna. A questão não é uma disputa, mas sim a integração inteligente. Muitos biológicos são compatíveis com químicos e podem ser aplicados em conjunto, mas é crucial verificar a compatibilidade na bula. O ideal é alternar os produtos para manejar a resistência das pragas e melhorar a saúde geral do ecossistema agrícola.

O que é a produção On-farm de biodefensivos e é viável para pequenos produtores?

Produção On-farm é a prática de cultivar microrganismos benéficos diretamente na fazenda, usando equipamentos chamados de biofábricas. Embora tenha começado com grandes grupos, hoje existem soluções escaláveis que tornam a produção On-farm viável também para médios e pequenos produtores, especialmente na agricultura orgânica. Isso pode reduzir custos e garantir um produto fresco e adaptado às condições locais.

Como escolher o defensivo biológico certo para a minha cultura?

A escolha correta começa com a identificação precisa da praga ou doença que você precisa controlar. Em seguida, deve-se pesquisar quais organismos ou substâncias naturais são eficazes contra esse alvo específico. É fundamental contar com a orientação de um engenheiro agrônomo, que poderá recomendar o produto mais adequado, a dosagem e o melhor momento para a aplicação.

Usar defensivos biológicos ajuda a evitar que as pragas fiquem resistentes?

Sim, essa é uma das suas maiores vantagens. Os defensivos biológicos geralmente possuem múltiplos modos de ação, ao contrário de muitos químicos que atuam em um único ponto do metabolismo da praga. Essa complexidade torna muito mais difícil para as pragas e doenças desenvolverem resistência, garantindo a eficácia do controle a longo prazo.

O que significa ter um ‘solo supressivo’ e como os biológicos ajudam nisso?

Um solo supressivo é aquele que possui uma comunidade rica e diversa de microrganismos benéficos que naturalmente inibem o desenvolvimento de patógenos. O uso de defensivos biológicos microbiológicos enriquece essa vida no solo, fortalecendo sua capacidade de suprimir doenças. Isso resulta em plantas mais saudáveis e resilientes, diminuindo a necessidade de intervenções químicas.

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