Você provavelmente já usa defensivos genéricos na sua fazenda, talvez sem nem perceber. Os números mostram que essa é uma realidade no campo: os produtos genéricos já representam cerca de 75% dos defensivos comercializados no mundo.
Aqui no Brasil, a situação é ainda mais clara: o produtor rural compra três vezes mais defensivos genéricos do que os de marca. Mas, na prática, você sabe qual a real diferença entre eles? E mais importante: qual vale mais a pena para a sua operação?
Para ajudar você a tomar a melhor decisão, preparamos este guia completo com as respostas para as principais dúvidas sobre os defensivos genéricos. Vamos analisar os pontos fortes e fracos de cada um, para que você possa escolher com segurança.
O que são Defensivos Agrícolas Genéricos?
Para entender o que é um defensivo genérico, primeiro precisamos falar sobre os produtos de marca.
Um defensivo agrícola de marca é um produto que nasce de uma nova descoberta e, por isso, é protegido por uma patente. Essa patente garante que apenas a empresa que o desenvolveu possa fabricá-lo e vendê-lo por um certo tempo.
No Brasil, a Lei de Patentes (n° 9.279 de 1996) define esse período de exclusividade: são 20 anos a partir do pedido de registro ou 10 anos após a concessão, valendo o prazo que for maior.
Quando esse período de patente acaba, a “receita” do produto se torna pública. A partir daí, outras empresas podem fabricar e comercializar defensivos com o mesmo princípio ativo. Esses são os chamados defensivos genéricos.
O que é o Ingrediente Ativo?
O ingrediente ativo é a substância principal do defensivo, aquela que efetivamente controla a praga, a doença ou a planta daninha.
Pense em um comprimido de aspirina: ele não contém apenas a molécula que alivia a dor. Existem outros componentes que dão forma, durabilidade e sabor ao comprimido.
Com um defensivo, a lógica é a mesma. Além do ingrediente ativo, a formulação contém outras substâncias que ajudam o produto a se misturar melhor na calda de pulverização, a penetrar na folha da planta ou a ter maior durabilidade.
Portanto, um defensivo genérico possui o mesmo ingrediente ativo do produto de marca original, mas é fabricado por outra empresa após o fim da patente. E esse mercado está crescendo: em 2019, impressionantes 94,5%%20s%C3%A3o%20produtos%20gen%C3%A9ricos.&text=Nos%20%C3%BAltimos%20anos%2C%20diversas%20medidas,ande%20mais%20r%C3%A1pido%20no%20Brasil.) dos defensivos registrados no Brasil eram genéricos.
Quem Produz os Defensivos Genéricos?
As empresas que atuam nesse mercado podem ser divididas em três grandes grupos:
- Produtoras de genéricos “puros”: Focam em vender produtos muito similares aos originais, com pouca alteração na fórmula.
- Produtoras de genéricos “diferenciados”: Buscam inovar criando novas misturas ou formulações. Não são cópias exatas, mas oferecem benefícios diferentes, como melhor absorção ou facilidade de aplicação.
- Produtoras de ingredientes ativos: Especializam-se em produzir o ingrediente ativo puro e vendê-lo para outras empresas, que então criam a formulação final, registram e comercializam o produto.
O Defensivo Agrícola Genérico é Igual ao de Marca?
Na agricultura, a resposta para muitas perguntas é: depende. E aqui não é diferente.
Em geral, um produto genérico não é idêntico ao de marca. Por isso, é fundamental ler a bula com atenção para entender as diferenças. Como a patente original expirou, diversas empresas podem lançar suas próprias versões de um mesmo ingrediente ativo, cada uma com pequenas variações.
As principais diferenças costumam ser:
- A concentração do ingrediente ativo: A quantidade por quilo ou litro de produto pode variar.
- A formulação: A presença ou ausência de um adjuvante (substância que melhora o desempenho) na fórmula pode mudar a eficácia.
Vamos a um exemplo prático:
- O Roundup Original da Monsanto (produto de marca) contém
360 g/L
de equivalente ácido de glifosato. - O Preciso, da Albaugh (produto genérico), possui
678,66 g/kg
de equivalente ácido de glifosato e vem na forma de sal de amônio (747 g/kg
).
As concentrações e formulações são diferentes. No entanto, a bula do Preciso indicará a dose correta para cada situação de campo, garantindo o desempenho esperado. Por isso, embora não sejam idênticos, os defensivos genéricos tendem a ter um desempenho muito semelhante quando usados conforme a recomendação.
O mais importante é lembrar que todo defensivo, seja genérico ou de marca, passa por um rigoroso processo de registro no MAPA (Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento). Ambos são submetidos a inúmeras avaliações de desempenho agronômico, ambiental e de segurança para a saúde humana antes de chegar até você.
Defensivos Genéricos vs. Defensivos de Marca: Quem Ganha Essa Disputa?
Vamos analisar cada critério para ver qual tipo de produto se sai melhor.
1. Inovação
As empresas de marca são focadas em pesquisa e desenvolvimento, buscando descobrir novas moléculas para lançar produtos inéditos no mercado. Já as empresas de genéricos inovam principalmente na formulação, como adicionar uma substância que melhora a absorção do produto pela planta.
Neste ponto, a vantagem é clara.
Vencedor: Defensivos de marca.
2. Custo
Desenvolver uma nova molécula é um processo longo e caro. Leva de 10 a 12 anos de pesquisa, onde de 160 mil moléculas testadas, apenas uma chega ao mercado. O investimento médio é de 280 milhões de dólares.
Todo esse custo é repassado para o preço final dos defensivos químicos de marca. Os números do mercado comprovam: os produtos de marca representam apenas 25% do volume vendido, mas movimentam 60% da receita total.
Atenção: O preço por litro ou quilo pode enganar. Como as concentrações de ingrediente ativo variam, o cálculo correto é o custo por hectare. Sempre faça as contas da dose recomendada para saber qual produto oferece o melhor custo-benefício real.
Vencedor: Defensivos genéricos.
3. Confiança
O alto investimento em pesquisa e o reconhecimento das marcas tradicionais geram grande confiança no produtor. Moléculas mais recentes tendem a oferecer maior eficiência e um perfil toxicológico mais seguro. Além disso, alguns produtores ainda desconfiam dos genéricos, seja por não conhecerem a marca ou pelos preços mais baixos.
Vencedor: Defensivos de marca.
4. Qualidade
Como já mencionado, a legislação brasileira é rigorosa. Tanto os produtos genéricos quanto os de marca precisam passar por um controle de qualidade rígido e obter registro na Anvisa, no MAPA e no Ibama.
Diversos trabalhos científicos já compararam os dois tipos de defensivos. Por exemplo, um estudo com soja avaliou 18 produtos à base de glifosato e concluiu que, mesmo em condições de seca, a eficácia foi semelhante para todos os produtos, sem diferenças significativas nos resultados aos 14 ou 28 dias após a aplicação. Nenhum tratamento causou intoxicação na cultura.
Vencedor: Empate.
(Fonte: Cultivar)
5. Suporte ao Cliente
Grandes corporações podem ter processos mais burocráticos, o que às vezes torna o atendimento ao cliente mais lento. Por outro lado, empresas de genéricos, muitas vezes menores e buscando conquistar mercado, costumam ser mais ágeis para atender às demandas dos produtores.
Vencedor: Defensivos genéricos.
Resultado da Batalha e Dicas Extras
O placar final? Um empate técnico. Isso significa que não existe uma resposta única. A escolha ideal depende da sua realidade, da sua gestão e dos seus objetivos. Ambos os tipos de defensivos têm vantagens e desvantagens claras.
Para provar como o mercado é equilibrado, algumas das maiores corporações do agronegócio atuam nos dois segmentos. A China National Chemical Corporation, por exemplo, é dona da Syngenta (focada em inovação) e da Adama (focada em genéricos).
Dicas Práticas para Fazer a Escolha Certa
Para tomar a decisão, considere os seguintes pontos:
- Compare as bulas: Entenda as diferenças de concentração e formulação entre o produto de marca e o genérico.
- Calcule o custo por hectare: Dentro do seu planejamento agrícola, calcule o custo final da aplicação, considerando as doses recomendadas de cada produto.
- Avalie o valor, não só o preço: Um produto de marca pode trazer uma nova tecnologia que aumenta a produtividade e compensa o custo mais alto.
- Verifique as condições comerciais: Analise as políticas de devolução, garantia e o suporte técnico oferecido com a compra.
- Considere o relacionamento: Pense em como sua escolha pode impactar seu relacionamento com distribuidores e fornecedores locais.
Conclusão
A decisão entre defensivos genéricos e de marca não é uma questão de “bom” ou “ruim”, mas sim de estratégia.
- Defensivos de marca oferecem inovação e a confiança de anos de pesquisa.
- Defensivos genéricos se destacam pelo menor custo e, muitas vezes, por um suporte mais ágil.
Ambos passam pelos mesmos testes de qualidade e segurança. A melhor escolha será sempre aquela que se encaixa no seu planejamento, no seu orçamento e nos objetivos da sua lavoura.
Portanto, analise cada caso, faça as contas e tome uma decisão informada. O mais importante é garantir a eficiência no controle de alvos e a rentabilidade da sua produção.
Glossário
Adjuvante: Substância adicionada à calda de pulverização para melhorar o desempenho do defensivo. Por exemplo, pode ajudar o produto a aderir melhor às folhas da planta ou a ser absorvido mais rapidamente.
Custo por hectare: Cálculo usado para determinar o custo real de uma aplicação, considerando o preço do produto e a dose recomendada para uma área de um hectare. É mais preciso do que comparar apenas o preço por litro ou quilo.
Formulação: A “receita” completa de um defensivo agrícola. Inclui não apenas o ingrediente ativo, mas também outras substâncias que afetam sua estabilidade, modo de aplicação e eficácia no campo.
Glifosato: Um dos ingredientes ativos herbicidas mais utilizados no mundo, responsável por controlar plantas daninhas. É a substância principal em produtos como o Roundup® e seus diversos genéricos.
Ingrediente Ativo (I.A.): A principal substância química de um defensivo que efetivamente controla a praga, doença ou planta daninha. É o componente que realiza a “ação” do produto.
MAPA: Sigla para Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. É um dos órgãos do governo brasileiro responsáveis por registrar e fiscalizar os defensivos agrícolas, garantindo sua eficácia agronômica.
Patente: Proteção legal que concede à empresa desenvolvedora o direito exclusivo de fabricar e vender uma nova molécula por um determinado período. Após a expiração da patente, a produção de genéricos é permitida.
Planta Daninha: Qualquer planta que cresce em local indesejado, competindo com a cultura principal por recursos essenciais como água, luz e nutrientes. Popularmente conhecida como “mato” ou “inço”.
Veja como o Aegro pode ajudar a superar esses desafios
A escolha entre defensivos genéricos e de marca se resume a dois grandes desafios: calcular o custo real por hectare e tomar uma decisão baseada em dados, não apenas em confiança. Fazer essas contas manualmente em planilhas consome tempo e abre margem para erros que impactam o lucro. Um software de gestão agrícola como o Aegro automatiza o controle de custos de insumos, mostrando com clareza qual produto oferece o melhor custo-benefício para a sua operação. Além disso, ao registrar todas as atividades da lavoura, você cria um histórico valioso para analisar a eficácia de cada aplicação, garantindo que suas futuras decisões sejam sempre as mais rentáveis para a sua realidade.
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Perguntas Frequentes
Um defensivo genérico é menos seguro ou tem qualidade inferior ao de marca?
Não. No Brasil, tanto os defensivos genéricos quanto os de marca passam pelo mesmo processo rigoroso de registro no MAPA, Anvisa e Ibama. Ambos são submetidos a testes que comprovam sua eficácia agronômica, segurança ambiental e para a saúde humana, garantindo que os padrões de qualidade sejam equivalentes.
Se o genérico é mais barato e tem eficácia comprovada, por que eu ainda compraria um defensivo de marca?
A principal vantagem dos defensivos de marca é a inovação. As empresas desenvolvedoras investem milhões em pesquisa para criar novas moléculas, que podem ser mais eficientes contra pragas resistentes ou ter um perfil toxicológico mais seguro. Essa tecnologia de ponta justifica o investimento maior para muitos produtores.
Como posso calcular o custo real por hectare para comparar um defensivo genérico e um de marca?
O cálculo correto do custo por hectare envolve dividir o preço total da embalagem pela dose recomendada para a sua lavoura. Como as concentrações do ingrediente ativo podem variar, comparar apenas o preço por litro ou quilo é um erro. Sempre utilize a dose indicada na bula para saber o custo real da aplicação.
Além do ingrediente ativo, o que mais diferencia um defensivo genérico de um de marca?
As principais diferenças estão na concentração do ingrediente ativo e na formulação. A formulação inclui outras substâncias, como adjuvantes, que afetam a estabilidade do produto, a mistura na calda de pulverização e a absorção pela planta. Por isso, mesmo com o mesmo princípio ativo, os produtos não são idênticos.
O que devo olhar na bula ao comparar um defensivo genérico com o seu equivalente de marca?
Ao comparar as bulas, preste atenção em três pontos principais: a concentração exata do ingrediente ativo (em g/L ou g/kg), o tipo de formulação do produto e, mais importante, as doses recomendadas para a sua cultura e o alvo específico. Essas informações são cruciais para garantir a eficácia e calcular o custo-benefício corretamente.
Todos os defensivos com o mesmo ingrediente ativo, como o glifosato, são iguais na prática?
Não necessariamente. Embora compartilhem o mesmo ingrediente ativo, as formulações podem ser diferentes (ex: sal de amônio vs. sal de potássio no glifosato). Essas variações, junto com os adjuvantes presentes na fórmula, podem alterar o desempenho do produto em diferentes condições de campo, como clima seco ou água de má qualidade. Portanto, é fundamental seguir a recomendação específica de cada bula.
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