Defensivos Agrícolas: O que são, como são registrados e as novas tecnologias

Redação Aegro
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Defensivos Agrícolas: O que são, como são registrados e as novas tecnologias

O Brasil possui condições climáticas excelentes para a produção de alimentos. No entanto, esse mesmo clima favorece a proliferação de pragas e doenças nas lavouras, tornando o manejo um desafio constante.

Para proteger a produtividade e reduzir os danos, os defensivos agrícolas são ferramentas essenciais.

Apesar da percepção comum, o Brasil não é o maior consumidor de defensivos do mundo em relação à sua área plantada. O uso intensivo se deve à nossa alta capacidade produtiva, com regiões que chegam a realizar até três safras por ano, o que exige um controle fitossanitário contínuo.

Mas você realmente entende o que são os defensivos, quais tecnologias estão disponíveis hoje e o que esperar para os próximos anos?

Neste artigo, vamos detalhar este assunto fundamental para o seu dia a dia no campo.

O que são os defensivos agrícolas?

Defensivos agrícolas, também conhecidos como produtos fitossanitários, são produtos de origem química, física ou biológica. Sua finalidade é realizar o controle de organismos que causam, ou podem causar, danos econômicos à produção agrícola.

No mercado, você encontrará várias denominações como produtos fitossanitários, pesticidas e o termo popular “agrotóxico”. Todos se referem a produtos com o mesmo objetivo: controlar organismos indesejados na lavoura.

Esses organismos são os agentes que causam prejuízos diretos, como:

  • Insetos
  • Ácaros
  • Nematoides
  • Fungos
  • Plantas daninhas

É crucial entender que a aplicação de defensivos é específica para cada alvo. Utilizar um produto de forma incorreta pode levar a falhas no controle e ao desperdício de recursos.

infográfico educativo que classifica diferentes tipos de pragas agrícolas e os associa aos seus respectivos def Tipos de defensivos de acordo com o alvo. (Fonte: CropLife Brasil)

Todos os produtos autorizados para uso no Brasil são registrados pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) e podem ser consultados publicamente no site Agrofit.

Como funciona o registro de novos defensivos?

O processo de registro de um novo produto é complexo e demorado. Para ser aprovado, um defensivo precisa passar por uma avaliação rigorosa de três órgãos federais, seguindo padrões internacionais:

  • Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa): Responsável por avaliar a eficiência agronômica do produto, ou seja, se ele realmente funciona no campo para o fim que se destina.
  • Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa): Avalia todos os impactos potenciais para a saúde humana, definindo limites de resíduos e regras de segurança.
  • Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis (Ibama): Analisa os impactos ambientais do produto, como seus efeitos no solo, na água e em outros organismos.

Esse processo detalhado faz com que alguns pedidos de registro fiquem até quatro anos na fila apenas para começar a serem avaliados. Por isso, muitos produtos químicos e biológicos levam anos para chegar ao mercado.

Uma regra importante é que nenhum novo produto pode ser registrado com uma toxicidade maior do que os que já existem no mercado para o mesmo fim.

Novidades e tendências no mercado de defensivos

Em 2019, o Brasil aprovou 474 novos defensivos agrícolas. Um dado importante é que cerca de 95% deles são produtos genéricos.

Produtos genéricos: são formulações que utilizam ingredientes ativos cuja patente já expirou. Isso permite que outras empresas produzam e comercializem moléculas já conhecidas e testadas.

Essa dinâmica aumenta a concorrência, quebra monopólios e ajuda a regular os preços, beneficiando diretamente o produtor rural. A recente modernização das regulamentações nos três órgãos (Mapa, Anvisa e Ibama) também ajudou a reduzir o tempo de espera na fila de registros.

O crescimento dos produtos biológicos

Um avanço significativo foi o registro de 40 produtos biológicos e orgânicos em 2019. Essas soluções são fundamentais para o Manejo Integrado de Pragas (MIP) e estão ganhando cada vez mais espaço no mercado.

O crescimento da produção em larga escala de defensivos biológicos tem sido destaque na mídia especializada:

captura de tela de uma matéria jornalística do portal Globo Rural, veiculada no G1. A manchete em destaque inf (Fonte: Globo Rural)

captura de tela de uma manchete de notícia do portal ‘RADAR Agrojornalismo em tempo real’. O fundo é branco, c (Fonte: Canal Rural)

captura de tela de uma matéria jornalística do portal ‘Estado de Minas’, na seção ‘Agropecuário’. O título pri (Fonte: Estado de Minas)

Um exemplo prático de agente de controle biológico registrado em 2019 é a vespa Telenomus podisi. Ela é utilizada para controlar o percevejo marrom (Euschistus heros), uma das principais pragas da cultura da soja.

uma fotografia macro de um parasitoide, uma pequena vespa preta, sobre uma massa de ovos amarelados de uma pra Vespa parasitoide Telenomus podisi. (Fonte: Koppert Biological Systems)

Novos registros de defensivos químicos

O mercado de químicos também trouxe novidades importantes. Um exemplo é o produto à base do ingrediente ativo fluopiram, que possui ação fungicida e nematicida e aguardava registro há 10 anos.

O fluopiram pode ser usado para combater nematoides em culturas como batata, café, cana, milho e soja, além de controlar fungos no algodão, feijão e soja.

a estrutura química molecular do Fluopyram, um ingrediente ativo amplamente utilizado na agricultura moderna. Estrutura química do fluopiram. (Fonte: Chem Service)

Outro registro notável foi o do herbicida florpirauxifen-benzil, que introduz um modo de ação inédito no Brasil. Este produto é indicado para o controle de plantas daninhas na cultura do arroz.

O ingrediente ativo florpirauxifen-benzil recebeu o prêmio Química Verde em 2018 por sua menor toxicidade e alta eficiência.

defensivos Estrutura química de florpirauxifen-benzil. (Fonte: WeedOut)

Este produto será comercializado pela Corteva Agriscience com o nome comercial Loyant.

O futuro dos defensivos: a nanotecnologia

O mercado está sempre buscando inovações para o uso de defensivos agrícolas, e a nanotecnologia é uma das fronteiras mais promissoras.

Nanotecnologia: de forma simples, é a tecnologia que manipula materiais em uma escala extremamente pequena, a escala nanométrica, que é geralmente inferior a 100 nanômetros (nm).

infográfico educacional que ilustra a comparação de tamanhos em diferentes escalas de medida: miliescala, micro Comparação de escalas com um material nanotecnológico. (Fonte: Embrapa)

A Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária) está na vanguarda dessa pesquisa, tendo criado em 2006 a Rede de Nanotecnologia Aplicada ao Agronegócio, a AgroNano. Hoje, a rede conta com mais de 150 pesquisadores de diversas instituições brasileiras.

A principal tendência é desenvolver produtos que ofereçam maior eficácia na aplicação, visando não apenas o retorno econômico, mas também um menor impacto ambiental e redução da toxicidade para o aplicador.

A nanotecnologia contribuirá para o desempenho, eficiência e economia dos defensivos através do uso de nanopartículas e do nanoencapsulamento, que permitem uma liberação mais controlada e direcionada do ingrediente ativo.

Um exemplo prático é o projeto “Nanotecnologia aplicada à degradação de pesticidas em água”, liderado pela Embrapa Instrumentação. A pesquisa busca usar matéria-prima nacional para criar um sistema que degrade resíduos de pesticidas na água de forma eficiente e reutilizável.

Embora os Estados Unidos liderem as pesquisas globais em nanotecnologia, o Brasil tem avançado rapidamente e a implementação dessas tecnologias no campo deve se intensificar nos próximos anos.

planilha de compras de insumos

Conclusão

Os defensivos agrícolas são ferramentas indispensáveis para o controle de pragas, doenças e plantas daninhas que ameaçam a produtividade das lavouras.

Vimos que cada produto fitossanitário tem uma aplicação específica e que seu registro é um processo longo, avaliado por três órgãos federais para garantir sua eficácia e segurança.

O mercado está em constante evolução. Em 2019, vimos um aumento no registro de produtos genéricos, o que favorece a competitividade, e um crescimento expressivo no número de produtos biológicos e orgânicos, alinhados com o Manejo Integrado de Pragas.

Para o futuro, a nanotecnologia promete revolucionar o setor, oferecendo defensivos mais eficientes, econômicos e com menor impacto na saúde humana e no meio ambiente. Manter-se atualizado sobre essas tendências é fundamental para tomar as melhores decisões na sua fazenda.


Glossário

  • Defensivos agrícolas: Nome técnico para produtos de origem química, física ou biológica usados para proteger as lavouras contra pragas, doenças e plantas daninhas. Também são conhecidos como produtos fitossanitários, pesticidas ou, popularmente, agrotóxicos.

  • Eficiência agronômica: Termo técnico que se refere à capacidade comprovada de um defensivo agrícola controlar o alvo (praga, doença, etc.) para o qual foi desenvolvido. É o critério que o MAPA utiliza para avaliar se um produto funciona de fato no campo.

  • Ingrediente Ativo (IA): A substância principal dentro de um defensivo que é responsável pelo efeito de controle sobre o organismo-alvo. É como o princípio ativo de um remédio, sendo o componente que realmente combate o problema.

  • Manejo Integrado de Pragas (MIP): Uma estratégia de controle que combina diferentes táticas (biológicas, culturais, químicas) para manter as pragas em níveis que não causem danos econômicos. O objetivo é usar defensivos químicos de forma mais racional e sustentável.

  • MAPA: Sigla para Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. É um dos três órgãos federais responsáveis pelo registro de defensivos no Brasil, focando na avaliação da eficiência agronômica dos produtos.

  • Nanotecnologia: A manipulação de materiais em escala nanométrica (extremamente pequena). Na agricultura, é usada para criar defensivos mais eficientes, que podem ter liberação controlada do ingrediente ativo, reduzindo perdas e impacto ambiental.

  • Nematicida: Um tipo específico de defensivo agrícola formulado para controlar nematoides. Nematoides são vermes microscópicos que geralmente atacam as raízes das plantas, causando grandes perdas de produtividade.

  • Produtos genéricos: Defensivos agrícolas cuja patente do ingrediente ativo já expirou. Isso permite que outras empresas produzam e comercializem a mesma molécula, aumentando a concorrência e ajudando a reduzir os custos para o agricultor.

Como otimizar o uso de defensivos e reduzir custos

Controlar pragas e doenças de forma eficaz, como vimos, exige a escolha correta dos produtos e um manejo cuidadoso para evitar desperdícios. Esse é um desafio que impacta diretamente os custos de produção. Um software de gestão agrícola como o Aegro ajuda a resolver isso, permitindo registrar todas as aplicações e monitorar o estoque de defensivos em tempo real. Com um histórico detalhado por talhão, fica mais fácil planejar as próximas pulverizações, comprar insumos na hora certa e garantir que cada centavo investido traga o máximo de retorno.

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Perguntas Frequentes

Qual a diferença entre defensivo agrícola, agrotóxico e produto fitossanitário?

Na prática, todos os termos se referem ao mesmo tipo de produto: substâncias usadas para controlar organismos que prejudicam as lavouras. ‘Defensivo agrícola’ e ‘produto fitossanitário’ são denominações técnicas, enquanto ‘agrotóxico’ é o termo legal e popular no Brasil. O objetivo é sempre proteger a produção agrícola de pragas, doenças ou plantas daninhas.

Um defensivo ‘genérico’ é menos eficiente que o produto de marca original?

Não. Um defensivo genérico utiliza o mesmo ingrediente ativo do produto original, cuja patente já expirou. Isso significa que ele passou pelos mesmos testes de eficiência agronômica e segurança. A principal vantagem dos genéricos é que eles aumentam a concorrência no mercado, o que geralmente resulta em preços mais baixos para o agricultor.

É possível combinar o uso de defensivos biológicos e químicos na mesma lavoura?

Sim, essa prática é um dos pilares do Manejo Integrado de Pragas (MIP). A combinação permite usar defensivos biológicos de forma preventiva ou para alvos específicos, reservando os produtos químicos para situações de maior infestação. Essa estratégia torna o controle mais sustentável, eficiente e pode reduzir custos e o impacto ambiental.

Por que o registro de um novo defensivo agrícola demora tanto no Brasil?

O processo é longo porque é extremamente rigoroso, envolvendo a avaliação de três órgãos federais distintos. O MAPA avalia a eficácia do produto no campo, a Anvisa analisa os riscos à saúde humana e o Ibama estuda os impactos ao meio ambiente. Essa análise detalhada garante que apenas produtos seguros e eficazes cheguem ao mercado.

O grande número de novos registros significa que mais produtos perigosos estão sendo liberados?

Não necessariamente. Como o artigo aponta, cerca de 95% dos registros recentes são de produtos genéricos, ou seja, moléculas já conhecidas e testadas. Além disso, a legislação impede o registro de um novo produto que seja mais tóxico do que os já existentes para o mesmo fim. Há também um crescimento significativo de produtos biológicos, que são de baixa toxicidade.

Quando a nanotecnologia em defensivos estará realmente disponível para o produtor?

A nanotecnologia ainda está em fase de pesquisa e desenvolvimento avançado, liderada por instituições como a Embrapa. Embora promissora, a expectativa é que os primeiros produtos comerciais com essa tecnologia comecem a chegar ao mercado de forma mais ampla nos próximos anos. Eles prometem maior eficiência na aplicação e menor impacto ambiental.

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