Danos em Grãos de Milho: Como Identificar e Evitar Perdas na Safra

Redatora parceira Aegro.
Danos em Grãos de Milho: Como Identificar e Evitar Perdas na Safra

A qualidade do milho é um fator decisivo para a rentabilidade da sua safra, seja para alimentação humana ou animal. Perdas causadas por danos nos grãos, diretos ou indiretos, podem gerar grandes prejuízos financeiros.

Identificar os momentos em que seus grãos estão mais vulneráveis é o primeiro passo para proteger seu investimento e evitar problemas na hora da comercialização. Não espere a venda para descobrir que algo deu errado.

Neste artigo, vamos detalhar os principais tipos de danos que afetam os grãos de milho e os períodos mais críticos da produção. Entenda como prevenir esses problemas e garantir a máxima qualidade do seu produto final.

Principais Danos em Grãos de Milho: Do Campo ao Armazém

A qualidade física e nutricional dos grãos de milho é construída em todas as etapas, desde o plantio até o consumo. Para alcançar uma produção rentável e de alto padrão, é essencial ter atenção total ao manejo, da lavoura à pós-colheita.

Os danos podem ocorrer em diferentes momentos, e podemos dividi-los em três fases principais para facilitar o entendimento: antes, durante e depois da colheita. Conhecer os riscos de cada período permite que você atue de forma preventiva para evitar perdas significativas.

Danos Antes da Colheita

Nesta fase, os problemas afetam principalmente o peso e a qualidade física dos grãos. Os maiores responsáveis pelos danos são as pragas, doenças e outros microrganismos que atacam a lavoura.

Pragas que atacam diretamente as espigas, como o percevejo-do-milho e a lagarta-da-espiga, causam estragos visíveis. Elas não só mancham os grãos, mas também reduzem seu peso final, impactando diretamente o rendimento.

Além do dano direto, as espigas feridas por pragas se tornam mais vulneráveis ao ataque de patógenos.

Patógenos, como os fungos, são a causa principal dos grãos ardidos, um dos problemas mais sérios para a qualidade do milho.

Grãos ardidos são grãos que apresentam uma descoloração anormal, variando entre tons de marrom, roxo ou vermelho (claro a escuro). Geralmente, esse problema é causado por fungos que se desenvolvem nas espigas durante a fase de maturação.

comparativo visual, dividido em dois painéis, que exibe grãos de milho severamente afetados por doenças, provav Aspecto de grãos ardidos de milho. (Fonte: Embrapa)

Devido à sua aparência, os grãos ardidos têm seu valor de mercado reduzido. Mas o prejuízo vai além da aparência, pois os fungos responsáveis também causam:

  • Redução da qualidade nutricional do grão;
  • Degradação de proteínas, carboidratos e açúcares;
  • Produção de micotoxinas, que são substâncias tóxicas perigosas para a saúde de quem consome os grãos ou seus derivados.

A produção dessas toxinas é mais comum quando as espigas são expostas a temperaturas muito baixas (geralmente, abaixo de 15 °C), condição que favorece a biossíntese da toxina pelos fungos.

Os grãos ardidos são uma grande preocupação para as indústrias, que seguem limites rígidos estabelecidos pela Instrução Normativa nº 60/2011 e, muitas vezes, adotam tolerâncias ainda menores para garantir a segurança de seus produtos.

uma tabela de classificação de grãos, especificamente relacionando o ‘Enquadramento’ (classificação por tipo) Limites máximos de tolerância expressos em percentual (%) de grãos ardidos no lote de milho. (Fonte: Senar)

Ainda no campo, pragas perigosas de armazenamento, como os carunchos, já podem iniciar a infestação em espigas mal empalhadas. Os insetos adultos depositam seus ovos dentro ou sobre os grãos, começando o ciclo de destruição antes mesmo da colheita.

Danos na Colheita

Durante a colheita, os danos são, em sua maioria, mecânicos. Os principais fatores de risco são a má regulagem da colhedora e o teor de água inadequado dos grãos.

A qualidade do lote colhido também é medida pela quantidade de impurezas. Quanto mais impurezas (restos de plantas, terra, etc.), menor o valor do seu produto, pois a remoção desses materiais durante o beneficiamento gera custos adicionais.

Um mau controle de plantas daninhas, como a corda-de-viola, é uma das principais causas do aumento de impurezas. Além disso, as daninhas podem atrapalhar a operação da colhedora, diminuindo seu rendimento.

Uma regulagem incorreta da colheitadeira também contribui para o problema, pois a máquina pode não separar adequadamente os grãos das impurezas, resultando em perdas quantitativas e qualitativas.

Outro ponto crítico é o teor de água dos grãos. A umidade inadequada pode causar amassamento, quebra e trincas durante o processo de colheita.

  • Grãos muito úmidos (acima de 25%) são moles e amassam com facilidade.
  • Grãos muito secos (abaixo de 10%) tornam-se quebradiços e trincam facilmente.

Quando combinados com uma regulagem inadequada da máquina, esses níveis de umidade aumentam drasticamente os danos mecânicos. Essas trincas e quebras, além de desvalorizar o produto, servem como porta de entrada para insetos e fungos durante a fase de armazenamento.

close-up de grãos de milho espalhados sobre uma superfície escura e lisa. Vários desses grãos apresentam da Grãos trincados e quebrados de milho. (Fonte: Dykrom)

Danos Após a Colheita

Os cuidados não terminam quando a colheitadeira desliga. No período de armazenamento, novos desafios surgem para manter a qualidade dos grãos de milho.

O teor de água ideal para um armazenamento seguro deve estar entre 12% e 13%. Níveis acima disso criam um ambiente favorável para o desenvolvimento de insetos e fungos.

Insetos como os carunchos e as traças são pragas comuns em armazéns. As larvas desses insetos se alimentam do interior dos grãos, causando perda de peso e de qualidade nutricional.

composição de duas fotografias em close-up que ilustram os danos causados por gorgulhos em grãos armazenados, Grãos de milho infectados com carunchos (esquerda) e traças (direita). (Fonte: Agrolink)

Fungos de armazenamento, como os dos gêneros Aspergillus e Penicillium, causam mofo e, assim como o Fusarium (comum no campo), também são produtores de micotoxinas, contaminando os grãos estocados.

Por isso, é fundamental colher os grãos com a umidade o mais próxima possível do ideal. Se isso não for viável, é indispensável realizar a secagem artificial dos grãos até que atinjam o nível seguro de 13% de umidade antes de armazenar.

uma análise comparativa de grãos de milho infectados por três gêneros distintos de fungos de armazenamento. Di Grãos de milho infectados com diferentes espécies de fungos causadores de grãos ardidos e mofados. (Fonte: Dagma D. Silva)

Roedores e pássaros também podem causar danos aos grãos armazenados, embora esses problemas sejam menos frequentes em sistemas de armazenamento bem gerenciados.

Como Evitar Danos em Grãos de Milho

Para colher grãos pesados, inteiros e bem formados (granados), o trabalho começa no planejamento da safra.

Comece pesquisando sobre os cultivares ou híbridos mais recomendados para a sua região. Avalie a resistência deles às principais pragas e doenças que afetam o milho localmente.

Sempre semeie na época recomendada para o material escolhido e não descuide do manejo integrado de pragas, doenças e plantas daninhas durante todo o ciclo da cultura.

Além dessas boas práticas, adote as seguintes estratégias para proteger a qualidade e a produtividade dos seus grãos:

  1. Faça rotação de culturas: Utilize espécies que não sejam hospedeiras dos fungos causadores de micotoxinas, como Fusarium e Stenocarpella, para quebrar o ciclo das doenças.
  2. Realize o controle de plantas daninhas: Mantenha a lavoura limpa, especialmente durante a maturação dos grãos e a colheita, para evitar impurezas.
  3. Controle insetos e fungos na espiga: Monitore e controle as pragas que atacam diretamente a formação dos grãos para prevenir danos diretos e indiretos.
  4. Não atrase a colheita: Colher no momento certo evita que os grãos fiquem excessivamente expostos a intempéries, pragas e doenças no campo.
  5. Regule a colhedora corretamente: Ajuste a máquina de acordo com as condições da lavoura e a umidade dos grãos para minimizar danos mecânicos.
  6. Monitore a umidade: Colha com a umidade adequada ou, se necessário, realize a secagem dos grãos logo após a colheita até atingir o nível seguro.
  7. Mantenha o armazém limpo: A higiene do local de armazenamento é fundamental para evitar a proliferação de pragas e fungos.
  8. Faça o expurgo dos armazéns: Se houver histórico de infestação, realize o expurgo (fumigação para eliminar pragas) antes de armazenar a nova safra.

Planilha de Planejamento da Safra de Milho

Conclusão

O milho é uma cultura de imensa importância global, e os danos nos grãos podem reduzir drasticamente a quantidade e a qualidade do seu produto final, resultando em prejuízo.

É essencial adotar um manejo cuidadoso antes, durante e após a colheita. Somente com uma gestão integrada em todas as etapas é possível prevenir perdas e garantir o máximo retorno sobre o seu investimento.

Fique sempre atento aos riscos em cada fase da produção. Lembre-se que, além de afetar a aparência, os danos nos grãos de milho comprometem a qualidade nutricional, o cheiro e o sabor, impactando toda a cadeia produtiva.


Glossário

  • Carunchos: Pequenos besouros considerados pragas de armazenamento. Suas larvas se desenvolvem dentro dos grãos, consumindo seu interior e causando perda de peso e qualidade.

  • Cultivares/Híbridos: Termos que se referem a variedades de plantas desenvolvidas para a agricultura. A escolha de um cultivar ou híbrido adaptado à região e resistente a doenças é um passo crucial para prevenir danos na lavoura.

  • Expurgo: Tratamento químico, geralmente por fumigação, realizado em silos e armazéns vazios para eliminar pragas. É uma medida essencial para evitar que uma nova safra seja infestada por insetos que restaram do armazenamento anterior.

  • Grãos Ardidos: Grãos que apresentam uma descoloração anormal (marrom, roxa ou avermelhada) causada pela infecção de fungos ainda no campo. Este é um defeito grave que reduz o valor comercial e nutricional do milho.

  • Micotoxinas: Substâncias tóxicas produzidas por certos tipos de fungos, como os que causam os grãos ardidos. Elas contaminam o milho e representam um risco para a saúde de humanos e animais.

  • Patógenos: Microrganismos, como fungos e bactérias, que causam doenças nas plantas. No contexto do artigo, são os principais responsáveis pelo desenvolvimento dos grãos ardidos nas espigas de milho.

  • Secagem Artificial: Processo de redução da umidade dos grãos colhidos utilizando equipamentos específicos, como secadores. É uma etapa fundamental quando o milho é colhido com teor de água acima do ideal para armazenamento seguro.

  • Teor de Água (Umidade): A porcentagem de água contida nos grãos. Um teor de água inadequado na colheita (muito alto ou muito baixo) aumenta os danos mecânicos, enquanto no armazenamento (acima de 13%) favorece o desenvolvimento de fungos e insetos.

Como a tecnologia ajuda a proteger a qualidade e a rentabilidade

Controlar pragas e doenças para evitar danos nos grãos é um trabalho que exige precisão e, ao mesmo tempo, impacta diretamente os custos de produção. Manter tudo organizado em planilhas ou cadernos pode levar a erros e dificultar a análise do que realmente está funcionando.

Um software de gestão agrícola como o Aegro centraliza essas informações, permitindo que você registre o monitoramento de pragas e as aplicações de defensivos diretamente do campo. Isso não só cria um histórico confiável para o planejamento futuro, mas também conecta cada operação ao seu custo, mostrando claramente o retorno sobre o investimento em cada talhão.

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Perguntas Frequentes

O que são exatamente os ‘grãos ardidos’ e por que são o principal problema de qualidade no milho?

Grãos ardidos são grãos com coloração anormal (marrom, roxa ou vermelha), causada por fungos que se desenvolvem na espiga ainda no campo. Eles são um problema grave porque, além de reduzir o valor de mercado pela aparência e perda nutricional, esses fungos podem produzir micotoxinas, substâncias tóxicas perigosas para a saúde de humanos e animais que consumirem o produto.

Qual é a faixa de umidade ideal para a colheita do milho para minimizar danos mecânicos?

A umidade ideal para a colheita mecânica fica geralmente entre 18% e 22%. Grãos muito úmidos (acima de 25%) amassam facilmente, enquanto grãos muito secos (abaixo de 10-13%) tornam-se quebradiços. Colher dentro da faixa recomendada ajuda a reduzir drasticamente a ocorrência de trincas e quebras pela colhedora.

Se eu precisar colher o milho com umidade acima de 13%, o que devo fazer imediatamente?

A ação mais crítica é levar os grãos para a secagem artificial o mais rápido possível. Armazenar milho com umidade acima de 13% cria um ambiente perfeito para a proliferação de fungos e insetos, que causam mofo, perda de peso e contaminação. A secagem até o nível seguro de 12-13% é fundamental para garantir a qualidade durante o armazenamento.

Qual a principal diferença entre os danos causados por pragas no campo e as pragas no armazém?

No campo, pragas como a lagarta-da-espiga causam danos diretos e, crucialmente, abrem portas para a entrada de fungos que causam os grãos ardidos. Já no armazém, pragas como os carunchos e traças se alimentam do interior dos grãos, causando perda de peso, redução da qualidade nutricional e perfurações, comprometendo o lote armazenado.

Como a rotação de culturas pode ajudar a prevenir os danos nos grãos de milho?

A rotação de culturas é uma estratégia fundamental para quebrar o ciclo de doenças. Fungos como o Fusarium, que causa os grãos ardidos, sobrevivem nos restos culturais do milho. Ao plantar uma espécie não hospedeira, como a soja, você reduz a quantidade desses patógenos no solo para a próxima safra de milho, diminuindo significativamente o risco de infecção.

É possível recuperar um lote de milho que já apresenta sinais de mofo ou grãos ardidos?

Recuperar a qualidade de um lote contaminado é extremamente difícil e, muitas vezes, inviável. Embora processos de limpeza possam remover os grãos mais afetados, a contaminação por micotoxinas pode estar presente em todo o lote, mesmo nos grãos de aparência normal. Por isso, a prevenção é sempre a estratégia mais eficiente e econômica.

Além da umidade, qual o ajuste mais importante na colhedora para evitar perdas de qualidade?

A velocidade de deslocamento da colhedora é um ajuste crucial. Operar a máquina em uma velocidade inadequada para as condições da lavoura pode aumentar o impacto sobre os grãos e a ineficiência da separação, resultando em mais quebras e maior quantidade de impurezas. Ajustar a velocidade, juntamente com a rotação do cilindro e a abertura do côncavo, é essencial para uma colheita de qualidade.

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