A lagarta curuquerê-do-algodão, também conhecida como curuquerê-dos-capinzais, é uma das principais pragas que atacam o algodoeiro. Seu poder de destruição é tão grande que pode reduzir a produtividade de uma lavoura em até 67%.
Por causa de um estrago tão significativo, é fundamental que você conheça cada detalhe dessa praga. Entender suas características e os manejos corretos é o caminho para controlá-la antes que os prejuízos apareçam, garantindo que sua lavoura continue saudável e produtiva.
Neste artigo, vamos detalhar as principais características da lagarta curuquerê, as culturas que ela afeta e os danos que provoca. Boa leitura!
O que é o curuquerê-dos-capinzais?
A lagarta curuquerê (Mocis latipes, anteriormente classificada como Alabama argillacea), ou lagarta-dos-capinzais, é a fase jovem de uma mariposa da família Erebidae (ordem Lepidoptera). Ela é encontrada em uma vasta área que vai da América do Norte até a América do Sul.
Essa praga possui duas características muito importantes que todo produtor precisa saber:
- Hábito migratório: As mariposas adultas voam longas distâncias, migrando entre diferentes regiões. Isso significa que o controle não pode ser apenas local; um esforço regional é essencial para evitar novas infestações.
- Hábito monófago (na fase de lagarta): Hábito monófago: significa que, na fase de lagarta, ela se alimenta quase exclusivamente de uma única planta. No caso do curuquerê, sua preferência é a cultura do algodão.
A cor da lagarta mocis latipes muda para preto quando a população na lavoura se torna muito alta.
(Fonte: F.J. Celoto/Lab. MIP – Unesp/Ilha Solteira)
Ciclo de vida e reprodução da mocis latipes
A variedade de algodão (cultivar) que você planta pode influenciar diretamente na quantidade de ovos que a mariposa coloca. Algumas cultivares são mais atrativas para a postura de ovos do que outras.
Cada fêmea tem uma capacidade impressionante de postura, podendo colocar de 6 a mais de 1.700 ovos. Por isso, escolher a cultivar mais adaptada à sua região, considerando o histórico de ataques da praga, é um passo fundamental.
O ciclo de vida da lagarta funciona da seguinte forma:
- Postura de ovos: O período de postura dura cerca de um mês.
- Incubação: Os ovos levam de 4 a 6 dias para eclodir, liberando as novas lagartas na lavoura.
- Fase de lagarta: A fase larval, quando ela efetivamente causa danos, pode durar até 30 dias. A temperatura do ambiente influencia muito essa duração.
- Fase de pupa: O período em que a lagarta fica no casulo para se transformar em mariposa (pupa) dura de 10 a 30 dias, também dependendo da temperatura.
O clima quente acelera o ciclo de vida. No verão, com temperaturas mais altas, o ciclo completo é mais rápido, o que aumenta o potencial de dano e exige cuidados redobrados no monitoramento.
Temperaturas entre 25°C e 30°C são ideais para o desenvolvimento da lagarta. Acima de 35°C ou em temperaturas muito baixas, seu desenvolvimento é prejudicado.
Como identificar a praga na lavoura
A aparência do curuquerê é bem distinta de outras lagartas comuns na soja, milho ou algodão. A identificação visual depende diretamente do nível de infestação:
- Em populações normais: A lagarta tem coloração verde clara, com duas listras brancas finas que percorrem todo o corpo. Ela também possui vários pontos pretos espalhados da cabeça à cauda.
- Em altas populações (infestação): Quando a infestação é severa, as lagartas mudam de cor. O corpo fica preto, mas as listras brancas e os pontos pretos nas laterais continuam visíveis.
Portanto, se você encontrar lagartas pretas com essas características na lavoura, é um sinal de alerta máximo. Isso indica que a população do inseto já está muito alta e os danos já estão acontecendo em grande escala.
À esquerda, a lagarta curuquerê na sua fase larval. À direita, a pupa, estágio antes de se tornar mariposa.
(Fonte: González et a., 2021)
Mariposa do curuquerê-dos-capinzais, a fase adulta da praga.
(Fonte: González et a., 2021)
Quando e onde a lagarta curuquerê aparece no Brasil?
No Brasil, a ocorrência da lagarta é mais comum entre os meses de janeiro e julho, mas o período varia conforme a região:
- Região Centro-Sul: A praga pode ser observada de dezembro até julho.
- São Paulo: O pico populacional costuma ocorrer por volta de abril.
- Nordeste: A incidência vai do início de janeiro até o mês de maio.
Geralmente, as infestações começam na região Centro-Norte e depois se espalham para a região Centro-Sul do país, seguindo seu padrão migratório.
Danos do curuquerê no algodão e em outras culturas
O algodão é a cultura mais afetada, e os danos podem ocorrer em todas as partes da planta. O estrago é maior quando a população da praga está alta ou quando há pouca disponibilidade de alimento (folhas).
No início, a lagarta se alimenta das folhas novas do ponteiro, deixando sinais de raspagem. Conforme cresce, ela avança para o terço médio da planta, causando uma desfolha severa e generalizada.
Uma única lagarta pode consumir mais de 90 cm² de área foliar até completar seu ciclo. Considerando que uma fêmea pode botar até 1.800 ovos, o potencial de destruição é enorme, podendo levar a uma perda de área foliar superior a 16,2 m². Como as folhas são essenciais para a fotossíntese, identificar e controlar a praga rapidamente é crucial para proteger o potencial produtivo da cultura.
As fases mais críticas para o algodão são as iniciais (desenvolvimento vegetativo) e a abertura das maçãs. No início, a planta tem poucas folhas, e qualquer perda é crítica. Na fase final, o ataque às maçãs força uma maturação precoce, o que reduz a qualidade e a quantidade das fibras.
Até os 135 dias do ciclo, a lagarta pode causar:
- Redução do peso do capulho e das sementes;
- Queda na porcentagem e na uniformidade das fibras;
- Atraso do ciclo floral em aproximadamente um mês.
A lista de culturas afetadas não para no algodão. A presença das seguintes culturas perto de lavouras de algodão pode favorecer a reprodução da praga e o início das infestações:
- Plantação de arroz;
- Plantação de cana-de-açúcar;
- Plantação de milho;
- Pastagens;
- Plantação de soja;
- Plantação de trigo.
Além da lagarta, as mariposas (fase adulta) também podem causar danos ao se alimentarem de diversas espécies de frutas.
Manejo da lagarta Alabama argillacea
O manejo da lagarta curuquerê não é uma tarefa simples e exige uma combinação de estratégias. O ideal é integrar diferentes métodos, como o controle preventivo, cultural, genético, biológico e químico.
Controle preventivo
A prevenção começa por não oferecer as condições ideais para o desenvolvimento da praga. Nas últimas safras, os ataques do curuquerê têm ocorrido mais cedo, principalmente devido à presença de plantas de algodão que sobram na área após a colheita.
Por isso, o monitoramento constante da área, incluindo as beiradas da lavoura e estradas, é fundamental para eliminar as plantas tigueras. Plantas tigueras: são plantas de algodão que nascem sozinhas de sementes perdidas na colheita anterior.
Com essas plantas servindo de abrigo e alimento, a lagarta consegue manter uma pequena população na área, o que faz com que as infestações da próxima safra comecem mais cedo e com mais força.
Controle cultural
Medidas de controle cultural visam manejar a cultura para dificultar o estabelecimento da praga. Uma prática que pode ajudar é a redução da irrigação com pivô central. No entanto, é preciso ter atenção, pois essa medida pode, por outro lado, favorecer o ataque de outras pragas importantes, como a mosca-branca.
Controle genético
Outra ferramenta importante é a escolha de cultivares de algodão resistentes ou tolerantes à lagarta. Essa medida se tornou ainda mais crucial porque já existem relatos de populações do curuquerê resistentes a alguns inseticidas químicos.
Controle com inimigos naturais (Biológico)
Alguns parasitoides e fungos atuam como inimigos naturais e podem ser usados para controlar esta lagarta.
É muito importante que as medidas de Manejo Integrado de Pragas (MIP) sejam adotadas em conjunto, pois uma única forma de controle raramente é eficaz a longo prazo.
Ao combinar o controle biológico com o químico, produtores e técnicos precisam conhecer bem os produtos para verificar a compatibilidade entre eles. Além disso, é necessário respeitar o intervalo entre as aplicações para não prejudicar a eficiência de nenhum dos métodos.
Controle químico
De acordo com o sistema Agrofit do MAPA, existem atualmente 277 produtos registrados para o controle desta lagarta na cultura do algodão. Entre eles, há opções com os seguintes ingredientes ativos:
- Abamectina;
- Acefato;
- Beta-cipermetrina;
- Bifentrina;
- Fipronil;
- Cipermetrina;
- Clorpirifós;
- Diflubenzurom;
- Metomil, entre outros.
A escolha do inseticida químico deve sempre priorizar produtos que causem menos danos aos inimigos naturais presentes na área. O uso contínuo de inseticidas não seletivos (que matam tanto as pragas quanto seus predadores) pode causar um desequilíbrio perigoso.
Esse desequilíbrio pode fazer com que uma praga secundária se torne um problema grave. Praga secundária: é um inseto que normalmente não causa grandes problemas, mas sua população explode quando seus inimigos naturais são eliminados.
Isso já aconteceu com várias espécies de lagartas em culturas como o milho. Por isso, o Manejo Integrado de Pragas, que combina diferentes métodos de controle, é indispensável.
Conclusão
A lagarta curuquerê-dos-capinzais é uma das pragas mais importantes do algodoeiro. A identificação rápida do problema é o primeiro passo para um controle eficaz, especialmente diante dos crescentes riscos de resistência a inseticidas.
Para um manejo de sucesso, é fundamental combinar diferentes estratégias:
- Controle preventivo: elimine plantas de algodão voluntárias (tigueras).
- Controle cultural e genético: ajuste o manejo e escolha cultivares resistentes.
- Controle biológico e químico: utilize inimigos naturais e inseticidas de forma integrada e inteligente.
Evitar que a população da praga atinja níveis altos é crucial, não apenas para evitar danos diretos, mas também para diminuir a pressão de seleção que leva ao surgimento de indivíduos resistentes aos inseticidas químicos.
Glossário
Cultivar: Refere-se a uma variedade específica de uma planta que foi desenvolvida por meio de melhoramento genético para possuir características desejáveis. Por exemplo, um cultivar de algodão pode ser resistente à lagarta curuquerê ou mais produtivo.
Desfolha: É a perda de folhas de uma planta, que pode ser causada pelo ataque de pragas, como a lagarta curuquerê. Uma desfolha severa compromete a fotossíntese e, consequentemente, reduz o potencial produtivo da lavoura.
Hábito monófago: Descreve o comportamento de um organismo que se alimenta exclusivamente de uma única espécie de planta. No caso do curuquerê, a lagarta é monófaga, tendo o algodoeiro como sua principal e quase única fonte de alimento.
Inimigos naturais: Organismos que predam, parasitam ou causam doenças em pragas agrícolas, ajudando a controlar suas populações de forma natural. Vespas parasitoides e fungos entomopatogênicos são exemplos de inimigos naturais da lagarta curuquerê.
Manejo Integrado de Pragas (MIP): Uma estratégia de controle que combina diversas táticas (biológicas, culturais, químicas) de forma harmônica. O objetivo do MIP é manter a população de pragas abaixo do nível de dano econômico, utilizando inseticidas de forma racional e sustentável.
Plantas tigueras: Plantas de uma cultura (neste caso, algodão) que nascem de forma voluntária na área após a colheita, a partir de sementes que caíram no solo. Elas funcionam como “pontes verdes”, servindo de abrigo e alimento para pragas entre uma safra e outra.
Praga secundária: Um inseto que normalmente existe em baixa população na lavoura e não causa danos significativos. No entanto, sua população pode explodir e se tornar um problema grave se seus inimigos naturais forem eliminados pelo uso indiscriminado de inseticidas de amplo espectro.
Pupa: Estágio do ciclo de vida de insetos como mariposas, que ocorre entre a fase de lagarta e a adulta. Nesta fase, o inseto fica em um casulo, onde ocorre a metamorfose para se transformar em mariposa.
Como a tecnologia simplifica o Manejo Integrado de Pragas
O Manejo Integrado de Pragas (MIP), como detalhado no artigo, é a chave para controlar o curuquerê-do-algodão, mas sua execução pode ser complexa. Registrar os pontos de monitoramento, planejar as aplicações e, ao mesmo tempo, acompanhar os custos de cada operação exige uma organização impecável. Um software de gestão agrícola como o Aegro centraliza essas tarefas, permitindo que você registre as infestações no mapa da fazenda, agende atividades e controle o estoque de defensivos em tempo real. Isso transforma dados do campo em informações valiosas para decisões mais rápidas e econômicas.
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Perguntas Frequentes
Por que a lagarta curuquerê muda de cor de verde para preto e o que isso significa?
A mudança de cor do curuquerê para preto é uma resposta à alta densidade populacional. Na prática, encontrar lagartas pretas na lavoura é um sinal de alerta máximo, indicando que a infestação já está em um nível severo e que os danos econômicos estão ocorrendo em grande escala, exigindo medidas de controle imediatas.
Qual a real importância de eliminar as ‘plantas tigueras’ de algodão para o controle do curuquerê?
As plantas tigueras (ou voluntárias) funcionam como uma ‘ponte verde’, oferecendo abrigo e alimento para a praga durante a entressafra. Eliminá-las é uma medida preventiva crucial, pois quebra o ciclo de vida do curuquerê, impedindo que ele sobreviva na área e inicie a infestação da nova safra de forma mais precoce e intensa.
Como a temperatura do ambiente afeta o potencial de dano do curuquerê-do-algodão?
A temperatura influencia diretamente a velocidade do ciclo de vida da praga. Temperaturas mais quentes, especialmente entre 25°C e 30°C, aceleram seu desenvolvimento, encurtando o tempo entre as gerações. Isso resulta em um aumento rápido da população e, consequentemente, um maior potencial de desfolha e danos à lavoura em um curto período.
Além da lagarta, a mariposa adulta do curuquerê também causa prejuízos à lavoura de algodão?
Não, o dano direto e mais significativo na cultura do algodão é causado exclusivamente pela fase de lagarta, que se alimenta vorazmente das folhas. A mariposa adulta não ataca o algodoeiro, mas pode causar prejuízos secundários ao se alimentar de frutos de outras espécies de plantas, embora seu principal impacto seja a postura de ovos que darão origem a novas lagartas.
É possível controlar o curuquerê do algodão de forma eficaz sem usar inseticidas químicos?
Sim, o controle eficaz se baseia no Manejo Integrado de Pragas (MIP), que não depende exclusivamente de químicos. A combinação de estratégias como o uso de cultivares de algodão geneticamente resistentes, a preservação e introdução de inimigos naturais (controle biológico) e a eliminação de plantas tigueras são fundamentais. O controle químico deve ser a última opção, utilizando produtos seletivos para proteger os inimigos naturais.
Como o uso incorreto de inseticidas pode, na verdade, piorar o ataque de pragas?
O uso de inseticidas não seletivos (de amplo espectro) pode eliminar não apenas o curuquerê, mas também seus inimigos naturais. Esse desequilíbrio biológico pode levar ao surgimento de pragas secundárias — insetos que antes não causavam problemas, mas que, sem seus predadores naturais, têm sua população aumentada explosivamente, tornando-se um novo e grave problema para a lavoura.
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