Crédito de Carbono no Agro: Como Lucrar com Sustentabilidade em 2025

Engenheiro Agrônomo, Mestre e Doutorando em Produção Vegetal pela (ESALQ/USP). Especialista em Manejo e Produção de Culturas no Brasil.
Crédito de Carbono no Agro: Como Lucrar com Sustentabilidade em 2025

O crédito de carbono já não é mais uma conversa distante sobre meio ambiente. Ele se tornou uma das moedas verdes mais importantes e discutidas no agronegócio atualmente.

Com notícias importantes, como a recente compra de créditos pela Petrobrás e as novas leis para regulamentar o mercado no Brasil, este setor está ganhando força. Com isso, atrai a atenção de investidores, grandes empresas e, principalmente, de produtores rurais como você.

No campo, a pergunta deixou de ser apenas “preservar ou produzir?”. Hoje, a resposta é clara: preservar, recuperar solos e florestas, e manejar bem os resíduos pode gerar uma nova e importante fonte de receita para a sua fazenda.

Além do dinheiro direto, gerar créditos de carbono pode valorizar o valor da sua propriedade. Isso também abre portas para parcerias com grandes empresas e transforma suas práticas sustentáveis em um ativo que pode ser vendido no mercado.

Neste guia, você vai entender de forma clara como funciona a venda de créditos, quais atividades na fazenda podem gerá-los, como está o mercado brasileiro em 2025 e tudo o que você precisa saber para começar a aproveitar essa oportunidade.

O que é crédito de carbono?

De forma simples, o crédito de carbono é um certificado que representa uma tonelada de dióxido de carbono (CO₂) que foi retirada da atmosfera ou que deixou de ser emitida.

Essa “tonelada evitada” se transforma em um título negociável. Ele pode ser vendido para empresas ou governos que precisam compensar as emissões de gases que eles próprios geram.

Essa ideia surgiu com o Protocolo de Quioto, um acordo internacional assinado em 1997, e ganhou ainda mais força com o Acordo de Paris. Hoje, é uma das principais ferramentas do mundo para combater o aquecimento global.

Para o produtor rural, isso significa que práticas como preservar matas nativas, reflorestar áreas degradadas ou adotar uma agricultura de baixo impacto podem virar dinheiro no bolso.

Como funcionam os créditos de carbono?

O crédito de carbono nasce de um projeto prático que consegue provar sua capacidade de evitar, reduzir ou capturar gases do efeito estufa.

Essas ações são medidas e calculadas usando metodologias técnicas específicas, que são depois confirmadas por empresas de auditoria independentes. Após essa verificação, os créditos são oficialmente emitidos e podem ser vendidos.

A partir daí, o mercado se divide em duas frentes principais:

  • Mercado regulado: É obrigatório para países e grandes empresas que assumiram metas internacionais de redução de emissões. Nesse mercado, as empresas têm um limite do quanto podem poluir e compram créditos para não ultrapassar essa meta.
  • Mercado voluntário: Aqui a participação é opcional. Empresas, ou até mesmo pessoas, compram créditos por conta própria para neutralizar suas emissões e mostrar seu compromisso com a sustentabilidade.

No Brasil, o mercado voluntário ainda é o mais forte, mas a criação de leis para o sistema nacional está mudando rapidamente este cenário.

Como funciona a comercialização de crédito de carbono?

A comercialização de créditos de carbono é, basicamente, a compra e venda dos certificados que representam a redução de uma tonelada de dióxido de carbono (CO₂) ou de outros gases do efeito estufa (GEE).

Dentro do Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL), projetos aprovados geram as chamadas Reduções Certificadas de Emissões (RCEs). Esses títulos são negociados com empresas ou países que não conseguiram atingir suas próprias metas de redução.

Já no modelo de mercado de emissões (conhecido como cap-and-trade), as empresas que poluem menos do que o limite permitido podem vender seus créditos excedentes para aquelas que ultrapassaram o teto.

Existem duas formas principais de vender esses créditos:

  1. Negociação direta: A venda é feita diretamente entre o gerador do crédito (o produtor) e o comprador (uma empresa). Geralmente, isso é formalizado por meio de contratos específicos chamados ERPA (Emission Reduction Purchase Agreement).
  2. Negociação via bolsa: A negociação ocorre em mercados organizados, como bolsas de valores, onde os créditos são vendidos como ativos financeiros em plataformas especializadas.

Assim como o preço da soja ou do milho, o valor do crédito de carbono varia de acordo com a oferta e a demanda. Fatores como a qualidade do projeto, o tipo de certificação e a rastreabilidade também influenciam no preço final.

Como funciona o crédito de carbono no Brasil?

O Brasil está avançando para estruturar seu próprio mercado nacional de carbono. O primeiro passo importante foi o Decreto 11.075/22, que estabeleceu as bases para criar um mercado regulado no país.

Mais recentemente, em dezembro de 2024, foi sancionada a Lei do Mercado Brasileiro de Redução de Emissões (MBRE), dando continuidade a esse processo de regulamentação.

Essa nova lei prepara o país para ter um sistema organizado até 2025. O sistema terá regras claras sobre quais setores da economia serão regulados, como registrar os projetos e os mecanismos de verificação.

Enquanto o mercado regulado não está 100% operacional, o mercado voluntário continua sendo o principal caminho para os produtores rurais que já querem começar a vender seus créditos.

Estudos da Câmara de Comércio Internacional (ICC Brasil, 2023) mostram o enorme potencial do país: o Brasil pode atender até 37,5% da demanda mundial do mercado voluntário e 22% do mercado regulado da ONU na próxima década.

Este infográfico ilustra o funcionamento do mercado de carbono de forma esquemática. Ele é dividido em dois lados: ‘Demanda’

Quais atividades geram créditos de carbono?

Gerar créditos de carbono é um processo técnico que exige seguir etapas rigorosas para garantir que a redução de emissões seja real e confiável. O caminho geralmente é este:

  1. Elaborar um projeto: O primeiro passo é desenhar um projeto detalhado, baseado em metodologias já reconhecidas e aceitas pelo mercado.
  2. Medir a redução: É preciso calcular exatamente o quanto de emissão foi reduzida, convertendo tudo para a medida padrão de CO₂ equivalente.
  3. Registrar o projeto: O projeto deve ser registrado em uma plataforma de certificação internacional, como a Verra ou a Gold Standard, ou futuramente no sistema nacional brasileiro.
  4. Passar por auditoria: Uma empresa independente e especializada irá auditar todo o projeto para verificar se os dados estão corretos e se as regras foram seguidas.
  5. Emitir os créditos: Após a aprovação na auditoria, os créditos são finalmente emitidos e ficam disponíveis para serem vendidos no mercado.

Este processo exige conhecimento técnico. Por isso, é comum que produtores contem com o apoio de consultorias ambientais e empresas especializadas para guiá-los em todas as etapas.

Como está o mercado de créditos de carbono em 2025?

Em 2025, o mercado de carbono vive um momento de grande organização e crescimento. O anúncio da Petrobrás e do BNDES sobre a compra de créditos de carbono gerados na Amazônia foi um sinal forte, mostrando que grandes empresas estatais estão entrando no jogo e valorizando esses ativos verdes.

Além disso, dados da FGV (2023) mostram que o mercado voluntário cresceu impressionantes 236% em volume no ano de 2021, e a tendência de alta continua.

Atualmente, o Brasil ocupa o 7º lugar no ranking mundial de geração de créditos, com cerca de 4,6 milhões de toneladas de CO₂e, atrás de países como Índia, EUA e China. As principais tendências para o setor são:

  • Aumento da demanda global, principalmente de empresas na Europa e na Ásia.
  • Uso de novas tecnologias como o blockchain para garantir mais segurança e rastreabilidade digital aos créditos.
  • Crescimento de projetos que unem pequenos produtores em cooperativas para gerar créditos em conjunto.
  • Expansão da agricultura regenerativa como uma importante fonte de geração de créditos de carbono no solo.
  • Consolidação final do mercado regulado no Brasil até 2025, trazendo mais segurança jurídica para todos.

Essas tendências indicam um futuro com regras mais estáveis, projetos mais valorizados e muito mais oportunidades para o agronegócio brasileiro no mercado de carbono.

Quanto rende 1 hectare de crédito de carbono?

O valor que se pode ganhar por hectare depende muito do tipo de atividade, do bioma onde a propriedade está localizada e da metodologia usada para calcular os créditos. Veja algumas estimativas médias:

Tipo de ProjetoCréditos/ha/anoValor/ha/ano (R$)
Floresta em pé (REDD+)5 a 10R$ 250 a R$ 1.000
Reflorestamento8 a 15R$ 400 a R$ 1.500
ILPF / Agricultura de baixo carbono1 a 4R$ 50 a R$ 400
Pastagens bem manejadas1 a 3R$ 50 a R$ 300

Atualmente, o valor de um crédito de carbono (uma tonelada de CO₂) varia entre US$ 10 e US$ 30 (aproximadamente R$ 50 a R$ 150), dependendo da origem do projeto e do tipo de certificação.

Quem pode emitir crédito de carbono?

A oportunidade de gerar e vender créditos de carbono está aberta a diversos perfis, não apenas grandes empresas. A lista inclui:

  • Produtores rurais e proprietários de terras com áreas de vegetação nativa preservada.
  • Agricultores que adotam tecnologias de baixo carbono, como plantio direto e integração lavoura-pecuária-floresta (ILPF).
  • Cooperativas agrícolas que reúnem projetos de seus membros.
  • Prefeituras e governos com projetos ambientais de grande escala.
  • Empresas de qualquer setor que investem em práticas para compensar suas próprias emissões.

A exigência principal é sempre a mesma: comprovar, com base técnica e documentos, que o projeto conseguiu reduzir as emissões de forma real, que pode ser medida e que será permanente.


Glossário

  • Cap-and-trade: Sistema de comércio de emissões onde um limite (cap) é definido para a poluição total, e empresas negociam (trade) permissões para emitir. Empresas que poluem menos que o seu limite podem vender o excedente para aquelas que ultrapassaram a cota.

  • CO₂ equivalente (CO₂e): Unidade de medida que padroniza o potencial de aquecimento de diferentes gases de efeito estufa (GEE) em relação ao dióxido de carbono. Por exemplo, uma tonelada de metano (CH₄), comum na pecuária, equivale a várias toneladas de CO₂e.

  • ERPA (Emission Reduction Purchase Agreement): Termo em inglês para “Contrato de Compra de Redução de Emissões”. É o documento jurídico que formaliza a venda direta de créditos de carbono entre o gerador (o produtor rural) e o comprador final.

  • GEE (Gases do Efeito Estufa): Gases que contribuem para o aquecimento global, como o dióxido de carbono (CO₂), metano (CH₄) e óxido nitroso (N₂O). A redução da emissão desses gases em atividades agrícolas é o que pode gerar créditos de carbono.

  • ILPF (Integração Lavoura-Pecuária-Floresta): Sistema que combina atividades agrícolas, pecuárias e florestais na mesma área. É uma prática de agricultura de baixo carbono que pode gerar créditos por aumentar o sequestro de carbono no solo e na biomassa das árvores.

  • MBRE (Mercado Brasileiro de Redução de Emissões): Sistema nacional em processo de regulamentação no Brasil para organizar a compra e venda de créditos de carbono. O objetivo é criar regras claras e um ambiente de negócios mais seguro para este mercado.

  • MDL (Mecanismo de Desenvolvimento Limpo): Instrumento do Protocolo de Quioto que permite a países desenvolvidos financiarem projetos de redução de emissões em países em desenvolvimento. Em troca, recebem créditos para cumprir suas próprias metas ambientais.

  • Mercado Regulado: Ambiente de negociação de carbono onde a participação é obrigatória para certos setores da economia, que devem cumprir metas compulsórias de redução de emissões. É fiscalizado por governos ou órgãos internacionais.

  • Mercado Voluntário: Mercado onde empresas e indivíduos compram créditos de carbono por iniciativa própria, sem obrigação legal. O objetivo é compensar emissões e demonstrar compromisso com a sustentabilidade.

  • REDD+ (Redução de Emissões por Desmatamento e Degradação Florestal): Iniciativa que recompensa financeiramente proprietários rurais e comunidades por manterem suas florestas em pé. Projetos de REDD+ geram créditos de carbono pela conservação da vegetação nativa.

Como a tecnologia simplifica a geração de créditos de carbono

Um dos maiores desafios para entrar no mercado de créditos de carbono é comprovar, com dados, que as práticas sustentáveis estão realmente sendo aplicadas. Manter um registro detalhado de todas as operações para a auditoria pode ser um trabalho complexo e sujeito a erros, especialmente se feito em planilhas ou cadernos.

Um software de gestão agrícola como o Aegro resolve isso ao permitir que você registre todas as atividades do campo diretamente pelo celular. Isso cria um histórico digital completo e rastreável, gerando relatórios precisos que são essenciais para validar seu projeto e transformar suas boas práticas em uma nova e importante fonte de receita.

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Perguntas Frequentes

Como um pequeno ou médio produtor rural pode começar a vender créditos de carbono?

O primeiro passo é documentar todas as práticas sustentáveis adotadas na fazenda, idealmente com um software de gestão. Em seguida, o caminho mais comum é buscar consultorias especializadas ou se juntar a cooperativas que agregam projetos de múltiplos produtores. Essas organizações auxiliam em todo o processo técnico de medição, certificação e venda, tornando a iniciativa viável e dividindo os custos.

Qual a diferença prática entre o mercado regulado e o voluntário de carbono para o agricultor?

O mercado voluntário, mais acessível hoje, é onde empresas compram créditos por iniciativa própria para atingir metas de sustentabilidade. Já o mercado regulado, que está sendo implementado no Brasil (MBRE), obrigará grandes empresas poluidoras a compensarem suas emissões. Para o produtor, o mercado regulado tende a criar uma demanda mais estável e de maior volume no futuro.

Por que o valor do crédito de carbono varia tanto entre diferentes tipos de projetos agrícolas?

O valor de um crédito de carbono depende da qualidade, rastreabilidade e dos co-benefícios do projeto. Por exemplo, um projeto de reflorestamento que também protege a biodiversidade e recursos hídricos é percebido como de maior valor e pode ser vendido por um preço mais alto do que um projeto com impacto ambiental mais restrito. A demanda do comprador também influencia diretamente no preço.

Além de preservar florestas (REDD+), que outras práticas do dia a dia na fazenda podem gerar créditos de carbono?

Práticas de agricultura de baixo carbono são grandes geradoras de créditos. Isso inclui a adoção do sistema de plantio direto, a integração lavoura-pecuária-floresta (ILPF) que sequestra carbono no solo, o manejo otimizado de fertilizantes nitrogenados para reduzir emissões de N₂O e o tratamento de dejetos animais para capturar o gás metano.

O processo para certificar um projeto de carbono é muito caro ou complexo?

O processo envolve custos com consultoria, auditoria e registro, e exige um rigor técnico considerável. No entanto, o investimento pode ter um alto retorno. Muitas consultorias trabalham com modelos de parceria ou taxa de sucesso, e a união em cooperativas é uma estratégia eficaz para diluir os custos e simplificar a gestão do projeto para produtores individuais.

O que significa ‘CO₂ equivalente’ e por que é um termo importante para o agronegócio?

CO₂ equivalente (CO₂e) é uma unidade padrão para medir o impacto de diferentes gases do efeito estufa. Como a agropecuária emite não apenas CO₂, mas também metano (CH₄) e óxido nitroso (N₂O), que são mais potentes, o CO₂e converte o potencial de aquecimento de todos esses gases a uma única métrica. Isso permite que a redução de qualquer um deles seja quantificada e vendida como crédito de carbono.

Quanto tempo leva desde o início de um projeto até a venda dos primeiros créditos de carbono?

O tempo pode variar significativamente dependendo da complexidade do projeto e da metodologia utilizada. Em média, o processo completo, desde a elaboração do projeto, passando pela medição, registro e auditoria independente, até a emissão e a primeira venda dos créditos, pode levar de 12 a 24 meses. Projetos mais simples e com metodologias bem estabelecidas tendem a ser mais rápidos.

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