A cotação agrícola é o termômetro que define os preços dos alimentos e de matérias-primas essenciais no Brasil. Entender como ela funciona é fundamental, pois seus valores influenciam diretamente a rentabilidade da sua fazenda e toda a economia do país.
Como esses índices impactam toda a cadeia produtiva, desde o custo dos insumos até o preço final no supermercado, estar atento a eles não é importante apenas para quem está no campo. A cotação agrícola afeta diretamente o custo de vida de todas as famílias brasileiras.
Neste guia completo, vamos explicar o que é a cotação agrícola, como os preços são formados e por que esse conhecimento é uma ferramenta estratégica para o seu negócio.
O que é a cotação agrícola?
De forma direta, a cotação agrícola é a definição, pelo mercado, dos preços de produtos agropecuários. Isso inclui desde grãos, como soja e milho, até café, boi gordo e diversas outras commodities agrícolas.
No Brasil, esse sistema de preços vale tanto para o que é produzido na agricultura quanto na pecuária. As cotações são definidas para as negociações que acontecem dentro do país (mercado interno) e também para os produtos que são exportados (mercado externo).
Como a cotação agrícola é calculada?
A formação de preços dos produtos agrícolas segue regras e metodologias específicas para refletir a realidade do mercado. Um dos órgãos mais importantes e respeitados para acompanhar esses índices é o Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea).
O Cepea é um centro de pesquisa da Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz” (Esalq), da Universidade de São Paulo (USP). Ele é uma referência essencial para o setor. A instituição divulga diariamente cotações para uma vasta lista de produtos, incluindo:
- Açúcar;
- Algodão;
- Arroz;
- Bezerro;
- Boi;
- Café;
- Laranja;
- Etanol;
- Florestal (56 produtos florestais);
- Frango;
- Hortifruti;
- Leite;
- Mandioca;
- Milho;
- Ovinos;
- Ovos;
- Soja;
- Suíno;
- Tilápia;
- Trigo.
Acompanhar os dados divulgados pelo Cepea é indispensável para qualquer produtor ou profissional que queira entender a dinâmica de preços e tomar decisões mais seguras no agronegócio brasileiro.
O que são as commodities agrícolas?
O termo commodity (que significa “mercadoria” em inglês) é usado para descrever matérias-primas ou produtos básicos que são produzidos em larga escala e possuem qualidade padronizada em todo o mundo. No agronegócio, exemplos clássicos são a soja, o milho, o café e o trigo.
Para que um produto seja classificado como uma commodity agrícola, ele precisa atender a algumas características específicas:
- Negociação em Bolsas: É comprado e vendido em bolsas de valores e mercadorias ao redor do mundo, como a Bolsa de Chicago.
- Produto Padronizado: É um produto homogêneo, ou seja, a soja produzida no Brasil tem as mesmas características básicas da soja produzida nos Estados Unidos, facilitando o comércio global.
- Preço Internacional: Seu preço é definido pela oferta e demanda no mercado global, não apenas local.
- Estocagem: Pode ser armazenado por longos períodos sem perder qualidade, permitindo a negociação de estoques.
- Origem Primária: É um produto bruto, que servirá de matéria-prima para outras indústrias.
Esses produtos são negociados tanto no mercado nacional quanto internacional, funcionando quase como uma moeda de troca na Bolsa de Valores. Suas cotações, geralmente calculadas por tonelada, quilo ou saca, são influenciadas por fatores como clima, estimativas de safra, tamanho dos estoques e até movimentos especulativos de investidores.
Como funciona o mercado de commodities agrícolas?
O mercado de commodities agrícolas é uma fonte de investimentos e funciona com base em contratos de compra e venda para entrega futura. Como vimos, fatores externos têm uma forte influência na formação dos preços.
A principal dinâmica é a da oferta e demanda global. Variações na produção dos principais países produtores, exportadores e importadores afetam diretamente os preços aqui no Brasil.
- Cenário de Alta: Tradicionalmente, em períodos de estoques mundiais mais baixos ou quebras de safra, a oferta diminui. Com a demanda se mantendo, os preços tendem a subir.
- Cenário de Baixa: Por outro lado, quando há uma safra recorde e a oferta é muito superior ao consumo, a tendência é que as cotações caiam.
Na prática: como funciona a cotação agrícola da soja?
A soja é uma das principais commodities agrícolas do Brasil e do mundo. Sua negociação acontece na Bolsa de Valores por meio de contratos de mercado futuro, e a principal referência global para o seu preço é a Bolsa de Chicago (CBOT).
No entanto, o preço que o produtor recebe na fazenda não é o mesmo da Bolsa de Chicago. Vários outros fatores entram no cálculo para chegar ao valor final em cada região produtora do Brasil.
Os principais critérios avaliados são:
- Cotação na Bolsa de Chicago: Este é o ponto de partida, definido em dólar por bushel (uma unidade de medida que equivale a aproximadamente 27,2 kg).
- Cotação do Dólar: Como o preço em Chicago é em dólar, é preciso converter esse valor para o real. Por isso, a variação do câmbio afeta diretamente o preço da saca.
- Prêmio de Exportação: É um valor, positivo ou negativo, que ajusta o preço de Chicago à realidade do mercado brasileiro. Ele reflete a relação entre oferta e demanda nos portos, custos de logística e a taxa de câmbio.
- Despesas de Exportação: Inclui todas as taxas, comissões e gastos portuários necessários para embarcar o produto.
- Transporte (Frete): Considera o custo para transportar a soja do armazém ou da fazenda até o porto de exportação.
- Demais Custos: Envolve custos variáveis que são negociados entre o comprador e o vendedor, como taxas de armazenagem.
Fórmula de cálculo do preço da soja
Para entender como esses fatores se combinam, veja a estrutura básica do cálculo:
Cotação na Bolsa de Chicago (em US$/bushel) + Prêmio de Exportação
– Despesas de Exportação
= Valor da soja no Porto (convertido para R$/tonelada)
– Custos Extras (Frete, Armazenagem, etc.)
= Valor final da soja na sua região (em R$/saca de 60kg)
Você pode acompanhar as cotações atualizadas diretamente no site da B3, a bolsa de valores brasileira.
Conclusão
Os produtos agrícolas brasileiros são fundamentais para o abastecimento mundial. No entanto, os preços pagos ao produtor estão sujeitos a constantes variações, um processo conhecido como cotação agrícola.
Para as commodities como a soja, a formação de preço ocorre de “fora para dentro”, começando em bolsas internacionais e sendo ajustada por fatores locais. Como mostramos, o preço final na sua região depende de uma combinação de mercado global, câmbio e custos de logística.
Portanto, para o produtor rural, entender como funciona o mercado de commodities não é um luxo, mas uma necessidade. Ficar de olho em fatores como as variações regionais do prêmio, o custo do frete e, principalmente, a cotação do dólar, é essencial para tomar decisões estratégicas, negociar melhor sua produção e garantir a saúde financeira do seu negócio.
Glossário
Bushel: Unidade de medida de volume usada no mercado internacional de grãos. Para a soja, um bushel equivale a aproximadamente 27,2 quilogramas.
CBOT (Chicago Board of Trade): A Bolsa de Chicago, principal referência mundial para a negociação de contratos futuros e formação de preços de commodities agrícolas, como soja e milho.
Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada): Centro de pesquisa da USP/Esalq que é uma das principais referências para a cotação e análise de preços de produtos agropecuários no mercado interno brasileiro.
Commodity: Produto de origem primária (matéria-prima) com padrão de qualidade uniforme, produzido em larga escala e negociado em bolsas de valores globais. Exemplos na agricultura são a soja, o milho e o café.
Mercado Futuro: Ambiente de negociação na bolsa de valores onde são firmados contratos de compra ou venda de commodities para uma data futura, com um preço pré-definido. É uma ferramenta de proteção contra a oscilação de preços.
Oferta e demanda: Princípio econômico que define os preços. No agronegócio, quando a produção (oferta) de uma safra é maior que o consumo (demanda), os preços tendem a cair, e o inverso ocorre quando a oferta é menor que a demanda.
Prêmio de Exportação: Valor, que pode ser positivo ou negativo, adicionado ao preço da commodity na Bolsa de Chicago. Ele ajusta a cotação internacional à realidade do mercado local, refletindo custos logísticos, demanda nos portos brasileiros e a taxa de câmbio.
Veja como o Aegro pode ajudar a superar esses desafios
Entender a cotação agrícola é o primeiro passo, mas o verdadeiro desafio é proteger a rentabilidade da fazenda diante da volatilidade dos preços. Se o produtor não tem controle sobre o valor da saca no mercado, ele precisa ter controle total sobre seus custos de produção. Ferramentas de gestão agrícola como o Aegro resolvem esse problema ao centralizar todas as despesas, desde insumos até mão de obra, calculando o custo exato por hectare e por saca. Com essa informação em mãos, fica muito mais fácil definir o melhor momento para vender a produção e garantir uma margem de lucro saudável.
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Perguntas Frequentes
Qual a principal diferença entre a cotação na Bolsa de Chicago e o preço que o produtor recebe na fazenda?
A cotação na Bolsa de Chicago (CBOT) é a referência global para o preço da commodity, negociada em dólar. O preço que o produtor recebe é o resultado dessa cotação ajustada por fatores locais, como a conversão do dólar para o real, o prêmio de exportação, custos de frete da fazenda ao porto e despesas de exportação. Por isso, o valor final varia muito entre as diferentes regiões do Brasil.
Como a variação do dólar impacta diretamente a cotação agrícola no Brasil?
Como as principais commodities são cotadas em dólar no mercado internacional, uma alta na moeda americana significa que o produtor receberá mais reais pela mesma saca vendida. Por outro lado, um dólar alto também pode encarecer insumos importados, como fertilizantes e defensivos, impactando o custo de produção.
O que é o ‘Prêmio de Exportação’ e por que ele é tão importante no cálculo do preço da soja?
O Prêmio de Exportação é um valor (positivo ou negativo) somado ao preço da Bolsa de Chicago para adequá-lo à realidade do mercado brasileiro. Ele reflete a relação de oferta e demanda nos portos do Brasil. Um prêmio positivo, por exemplo, indica uma forte demanda pela soja brasileira, o que aumenta o valor pago ao produtor.
Além da Bolsa de Chicago para commodities de exportação, qual é a principal referência para os preços no mercado interno brasileiro?
Para o mercado interno, a principal referência é o Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada), da USP/Esalq. O Cepea divulga diariamente cotações para uma vasta gama de produtos, como boi gordo, leite, milho e hortifrútis, servindo como um termômetro essencial para as negociações dentro do país.
Por que os custos de frete são tão decisivos no preço final pago ao agricultor?
O custo do frete representa a despesa para transportar a produção da fazenda até o porto ou a indústria. Como o Brasil é um país de dimensões continentais, esse custo varia muito dependendo da distância e da infraestrutura logística da região. Esse valor é descontado do preço final, impactando diretamente a rentabilidade do produtor.
É possível um produtor se proteger da volatilidade dos preços das commodities?
Sim. Uma das principais ferramentas é o mercado futuro, que permite ao produtor travar o preço de venda da sua safra antecipadamente, garantindo uma margem de lucro. Além disso, ter um controle rigoroso dos custos de produção permite saber o preço mínimo de venda necessário para ser lucrativo, facilitando a tomada de decisão.
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