Anos atrás, a buva era apenas mais uma planta daninha, mas hoje a situação é bem diferente. Se você lida com essa invasora na sua fazenda, sabe exatamente do que estamos falando. A principal causa dessa mudança foi o desenvolvimento da resistência ao glifosato, um dos herbicidas mais utilizados.
Sem um controle eficaz com esse produto, a buva se espalha rapidamente pela lavoura. Para se ter uma ideia do prejuízo, a presença de apenas três plantas de buva por metro quadrado pode causar perdas de até 4 sacas de soja por hectare.
Então, como realizar o controle da buva que se tornou resistente ao glifosato? E, mais importante, como garantir que o investimento no manejo valerá a pena?
(Fonte: Jornal Coamo)
Neste artigo, vamos detalhar as melhores estratégias de manejo, além de apresentar dicas práticas e informações essenciais para você vencer essa batalha.
O Cenário da Buva Resistente no Brasil
Se você está enfrentando problemas com plantas daninhas resistentes a herbicidas, saiba que não está sozinho. Infelizmente, essa é uma situação cada vez mais comum na agricultura brasileira.
Atualmente, o Brasil registra 50 casos de plantas daninhas com resistência confirmada a algum tipo de herbicida. Desses, 15 são de plantas resistentes ao glifosato (que pertence ao grupo de herbicidas inibidores da EPSPs), e 8 desses casos envolvem espécies de buva.
Infestação de buva resistente a glifosato no Brasil
(Fonte: Prof. Michelangelo Trezzi)
O primeiro caso de buva resistente ao glifosato no país foi identificado em 2005. O cenário se tornou ainda mais preocupante em 2017, com o surgimento de populações de buva resistentes a três mecanismos de ação de herbicidas diferentes.
Confira a linha do tempo dos casos de resistência da buva no Brasil (Fonte: Heap, 2018):
- 2005:
- Conyza bonariensis resistente ao glifosato.
- Conyza canadensis resistente ao glifosato.
- 2010:
- Conyza sumatrensis resistente ao glifosato.
- 2011:
- Conyza sumatrensis resistente ao chlorimuron.
- Conyza sumatrensis com resistência múltipla a glifosato e chlorimuron.
- 2016:
- Conyza sumatrensis resistente ao paraquat.
- Conyza sumatrensis resistente ao saflufenacil.
- Conyza sumatrensis com resistência múltipla a glifosato, chlorimuron e paraquat.
O primeiro passo para um controle eficiente de plantas daninhas, sejam elas resistentes ou não, é a sua correta identificação. A seguir, detalhamos as principais características para você reconhecer a buva na sua área.
Como Identificar Corretamente a Buva na Lavoura
- Família e Porte: As plantas de buva pertencem à família Asteraceae. São plantas de ciclo anual ou bianual, com crescimento ereto, que podem atingir até 2,5 metros de altura.
- Dispersão: Suas sementes são leves e se espalham facilmente com o vento, o que facilita a infestação de novas áreas.
- Tolerância à Seca: A buva suporta bem condições de falta de água, o que a torna competitiva em períodos de estiagem.
- Potencial Reprodutivo: Uma única planta pode produzir entre 100 mil e 200 mil sementes.
- Germinação: As sementes não possuem dormência, ou seja, germinam assim que encontram condições favoráveis. A faixa de temperatura ideal para a germinação é de 20°C a 25°C.
Diferenciar as espécies de buva pode ser um desafio. A imagem abaixo oferece algumas dicas visuais para ajudar na identificação.
(Fonte: Michelangelo Trezzi)
Para um aprofundamento técnico, consulte a publicação do HRAC: “Aspectos Botânicos, Ecofisiologicos e Diferenciação de Espécies do Gênero Conyza”.
Controle Químico: Herbicidas Alternativos para Buva Resistente
Para manejar a buva e prevenir novos casos de resistência, é fundamental rotacionar os herbicidas. A tabela abaixo, elaborada pela Embrapa, apresenta opções recomendadas para a cultura da soja.
(Fonte: Embrapa)
Além disso, é importante conhecer os herbicidas com mecanismos de ação alternativos ao glifosato para o controle da buva resistente:
- Inibidores da ALS: (impedem a produção de aminoácidos essenciais na planta)
- Clorimuron, cloransulam, diclosulam e iodosulfuron.
- Mimetizadores de Auxinas: (causam um crescimento desordenado que leva a planta à morte)
- 2,4-D e dicamba.
- Inibidores da Glutamina Sintetase: (bloqueiam a síntese de um aminoácido vital)
- Glufosinato de amônio.
- Inibidores da PROTOX: (destroem as membranas celulares das plantas)
- Flumioxazin, saflufenacil e sulfentrazone.
- Inibidores do Fotossistema I: (interrompem a fotossíntese)
- Paraquat.
Contudo, o controle eficiente não depende apenas do uso de herbicidas. As práticas de controle cultural são igualmente cruciais.
Além dos Herbicidas: A Importância do Controle Cultural
O controle cultural utiliza práticas agronômicas para reduzir a infestação de plantas daninhas. No caso da buva, a cobertura do solo com palhada é uma ferramenta poderosa.
Um estudo de Lamego e sua equipe (2013) mostrou que a infestação de buva é significativamente reduzida em áreas com cobertura vegetal.
(Fonte: Lamego et al., 2013)
Os pesquisadores também observaram que a combinação do manejo cultural (cobertura) com o controle químico (herbicidas) eleva a produtividade da soja. Em alguns casos, a palhada por si só foi suficiente para proteger o potencial produtivo da cultura.
Em outra pesquisa, Rizzardi e Silva (2014) demonstraram que o uso de culturas de cobertura de inverno diminuiu tanto o número quanto a altura das plantas de buva.
(Fonte: Rizzardi e Silva (2014))
A lógica é simples: quanto maior a cobertura do solo, menor a germinação da buva. Isso acontece porque suas sementes precisam de luz para germinar (são fotoblásticas positivas). A palhada funciona como uma barreira física, impedindo que a luz chegue ao solo e, consequentemente, que a planta daninha se estabeleça e produza novas sementes.
Portanto, o manejo cultural é uma estratégia fundamental para qualquer área, tenha ela problemas com buva resistente ou não.
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Manejo Integrado: Dicas Práticas para Controlar a Buva Resistente
Para prevenir e manejar a resistência da buva e de outras plantas daninhas, siga estas recomendações indispensáveis:
- Ação Imediata: Se encontrar plantas suspeitas de resistência, arranque e destrua-as para evitar a produção de sementes.
- Rotação de Herbicidas: Alterne o uso de herbicidas com diferentes mecanismos de ação para evitar a seleção de plantas resistentes.
- Aplicações Sequenciais: Utilize aplicações em sequência com produtos de mecanismos de ação distintos para um controle mais robusto.
- Limite de Uso: Não use herbicidas com o mesmo mecanismo de ação mais de duas vezes consecutivas na mesma área.
- Rotação de Culturas: Diversificar as culturas plantadas ajuda a quebrar o ciclo das plantas daninhas.
- Monitoramento Constante: Inspecione a lavoura regularmente para identificar focos de resistência logo no início.
- Esgotamento do Banco de Sementes: Adote práticas que estimulem a germinação das sementes no solo e, em seguida, controle as plântulas para reduzir a reserva de sementes a longo prazo.
- Controle no Tempo Certo: Elimine as plantas daninhas antes do florescimento para impedir que produzam novas sementes.
- Tamanho Ideal para Controle: No caso da buva, o controle é muito mais eficaz quando a planta está pequena, entre 15 a 30 cm de altura.
Um dos maiores desafios no controle químico da buva é o tamanho da planta no momento da aplicação. Plantas maiores são naturalmente mais tolerantes aos herbicidas.
Influência do tamanho da buva na eficácia do controle químico aos 28 dias após aplicação (ou 13 dias após a segunda aplicação no caso de 2 aplicações).
(Fonte: Blainski, 2009)
A imagem acima deixa claro: quanto maior a altura das plantas de buva, menor a eficácia dos herbicidas. Por isso, a identificação precoce é fundamental para um controle bem-sucedido.
Para saber mais, assista a este vídeo da Embrapa que explica a associação entre métodos culturais e químicos no controle da buva:
O Impacto no Bolso: Quanto Custa a Buva Resistente?
Quando a resistência a herbicidas se instala na fazenda, os custos de produção inevitavelmente sobem. Isso é especialmente verdade para quem estava acostumado a depender do glifosato, um herbicida de custo relativamente baixo.
Estudos apontam que o custo com o manejo de plantas daninhas aumentou em 82% para produtores que enfrentam problemas com a buva resistente.
(Fonte: Qualittas)
O problema se agrava quando, além da buva, outras plantas resistentes como o azevém e o capim-amargoso também estão presentes na área.
Impacto econômico da resistência de plantas daninhas a herbicidas no Brasil
(Fonte: Adegas)
Você sabe exatamente qual é o seu custo com herbicidas ou com o manejo de cobertura vegetal?
Analisar esses dados é fundamental para identificar as estratégias de controle que, além de eficientes, garantem a rentabilidade da sua operação. Um bom planejamento agrícola, que inclua um orçamento detalhado da safra, é a melhor ferramenta para isso.
Aliado ao monitoramento constante da área, esse controle de custos permitirá que você tome as melhores decisões para manejar as plantas daninhas de forma técnica e economicamente viável.
Conclusão
A buva resistente a glifosato e a outros herbicidas representa um grande desafio na lavoura, mas seu manejo eficaz é totalmente possível com a estratégia correta.
A chave para o sucesso é a prevenção, combinando o uso rotacionado de herbicidas com diferentes mecanismos de ação a práticas de controle cultural, como a cobertura do solo. Neste artigo, apresentamos os produtos e métodos mais indicados para o controle da buva resistente.
É no planejamento agrícola que você definirá, com segurança, a melhor combinação de medidas de controle para a sua realidade. Com um bom plano, você garante não apenas o manejo eficiente dessa e de outras plantas daninhas, mas também a rentabilidade da sua safra.
Glossário
Banco de Sementes: O conjunto de sementes viáveis de plantas daninhas presentes no solo. Práticas de manejo, como o controle cultural, visam esgotar esse banco ao longo do tempo para reduzir infestações futuras.
Controle Cultural: Utilização de práticas agronômicas para suprimir o desenvolvimento de plantas daninhas, sem o uso direto de produtos químicos. Exemplos incluem a rotação de culturas e a cobertura do solo com palhada para dificultar a germinação da buva.
Glifosato: Herbicida sistêmico e não seletivo, um dos mais utilizados na agricultura global. Atua inibindo a enzima EPSPs, essencial para o desenvolvimento das plantas. O uso repetido selecionou populações de buva resistentes a este produto.
Mecanismo de Ação (de Herbicidas): Refere-se à forma específica como um herbicida interfere nos processos vitais de uma planta para causar sua morte (ex: inibindo a fotossíntese ou a produção de aminoácidos). Rotacionar diferentes mecanismos de ação é a principal estratégia para prevenir a resistência.
Palhada: Camada de restos vegetais (como palha de milho ou aveia) deixada sobre a superfície do solo após a colheita ou manejo de culturas de cobertura. Funciona como uma barreira física que impede a passagem de luz, dificultando a germinação de sementes de buva.
Resistência a Herbicidas: É a capacidade natural e hereditária de uma planta daninha de sobreviver e se reproduzir após a aplicação de um herbicida que normalmente a controlaria. Este fenômeno surge da seleção de indivíduos resistentes devido ao uso repetitivo do mesmo produto ou mecanismo de ação.
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Controlar a buva resistente é um desafio duplo: exige um manejo agronômico preciso e, ao mesmo tempo, um controle de custos rigoroso, já que os gastos podem aumentar significativamente. Manter um registro detalhado de cada aplicação de herbicida, incluindo os produtos utilizados e o estágio de desenvolvimento da planta, é fundamental para garantir a eficácia do tratamento e evitar o avanço da resistência.
Ferramentas de gestão agrícola, como o Aegro, simplificam esse processo. Com ele, você pode planejar e registrar todas as atividades no campo, garantindo que o controle seja feito no momento ideal. Além disso, o sistema centraliza o acompanhamento de custos, mostrando exatamente qual o impacto do manejo de plantas daninhas na rentabilidade da sua safra e ajudando a tomar decisões mais inteligentes para proteger seu lucro.
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Perguntas Frequentes
Por que a buva se tornou um problema tão sério na agricultura brasileira?
A buva se tornou um grande problema principalmente por desenvolver resistência ao glifosato, um dos herbicidas mais utilizados. Sem um controle químico eficaz, ela se espalha rapidamente e compete agressivamente com as culturas, podendo causar perdas de até 4 sacas de soja por hectare, além de aumentar significativamente os custos de manejo.
O que significa dizer que a buva tem ‘resistência múltipla’?
Resistência múltipla significa que uma mesma população de buva é capaz de sobreviver à aplicação de herbicidas com diferentes mecanismos de ação. No Brasil, já existem casos de buva resistente simultaneamente ao glifosato (inibidor da EPSPs), ao chlorimuron (inibidor da ALS) e ao paraquat (inibidor do Fotossistema I), o que torna seu controle químico extremamente desafiador.
Qual é o momento ideal para realizar o controle químico da buva resistente?
O controle químico é muito mais eficaz quando a buva está em seu estágio inicial de desenvolvimento, idealmente com altura entre 15 a 30 cm. Plantas maiores se tornam naturalmente mais tolerantes aos herbicidas, exigindo doses maiores ou produtos mais caros, e muitas vezes o controle não é satisfatório. O monitoramento constante é chave para aplicar no tempo certo.
Como exatamente a cobertura do solo com palhada ajuda a controlar a buva?
A palhada funciona como uma barreira física que impede a luz solar de chegar ao solo. As sementes de buva são fotoblásticas positivas, ou seja, precisam de luz para germinar. Ao bloquear a luz, a cobertura vegetal reduz drasticamente a emergência de novas plantas de buva, diminuindo a infestação sem o uso de químicos.
É suficiente apenas trocar o glifosato por outro herbicida para controlar a buva?
Não, apenas trocar o produto não é uma solução a longo prazo. O manejo eficaz exige a rotação de herbicidas com diferentes mecanismos de ação para evitar a seleção de novas resistências. O ideal é integrar essa prática com o controle cultural, como a rotação de culturas e o uso de plantas de cobertura, para um manejo sustentável.
Qual o principal impacto financeiro da buva resistente para o produtor rural?
Além da perda direta de produtividade, o principal impacto é o aumento expressivo nos custos de produção. Estudos mostram que o custo com o manejo de plantas daninhas pode aumentar em mais de 80% em áreas com buva resistente, devido à necessidade de utilizar herbicidas mais caros, realizar mais aplicações e adotar outras práticas de controle.
A rotação de culturas realmente ajuda a combater a buva resistente?
Sim, a rotação de culturas é uma ferramenta fundamental. Ela quebra o ciclo de vida da planta daninha e permite o uso de diferentes estratégias de manejo e herbicidas com mecanismos de ação variados em cada cultura. Por exemplo, a introdução de uma gramínea de cobertura no inverno pode suprimir a germinação da buva antes do plantio da soja.
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