Contabilidade de Custos no Agronegócio: Gestão Eficiente da Fazenda

Engenheira agrônoma, mestre e doutora na linha de pesquisa de sementes.
Contabilidade de Custos no Agronegócio: Gestão Eficiente da Fazenda

Muitos produtores sentem um arrepio quando o assunto é contabilidade. No entanto, dominar os números do seu negócio é o caminho mais seguro para aumentar a lucratividade. Um bom controle de gastos é o que diferencia uma safra boa de uma safra realmente lucrativa.

Entender a contabilidade de custos significa ter um mapa detalhado de cada real investido na produção. Com essas informações em mãos, a gestão se torna mais precisa e a tomada de decisões, mais estratégica.

Neste artigo, vamos mostrar de forma prática como aplicar a contabilidade de custos na sua empresa rural, transformando dados em lucro e garantindo o sucesso do seu negócio.

Qual é o objetivo da contabilidade de custos?

Pense na contabilidade de custos como o “raio-X” financeiro da sua produção. Seu principal objetivo é gerar informações detalhadas para o planejamento estratégico, determinando com exatidão os custos de produção e, assim, auxiliando na tomada de decisões.

No contexto da produção rural, essa área da contabilidade foca nos custos para produzir um item específico. Por exemplo, ela identifica todos os valores gastos na produção de milho em uma determinada safra, desde a semente até a colheita.

De forma mais técnica, a contabilidade de custos é responsável pelo registro contábil das operações de produção da empresa por meio das contas de custeio.

O uso dessa técnica permite que o gestor da empresa rural conheça e entenda todos os custos envolvidos em cada etapa da produção. Com esses números na mão, você pode criar um planejamento adequado e decidir qual é o melhor caminho a seguir com base em dados, não em achismos.

Em resumo, a contabilidade de custos mantém você atualizado e no controle da gestão financeira do seu negócio, permitindo que você responda com precisão a perguntas como “quais foram minhas despesas na produção de grãos?” ou “quanto gastei com defensivos?”.

agricultor ou agrônomo agachado em meio a uma plantação de hortaliças de folhas verdes, como couve ou rep A contabilidade de custos é fundamental para nortear a tomada de decisões na fazenda. (Fonte: Prosa)

5 Dicas Práticas para Apuração de Custos no Agronegócio

Vamos detalhar agora, passo a passo, como realizar a apuração dos custos no seu negócio rural.

1ª dica: Liste todos os custos e despesas

O primeiro passo é a organização. Nesta etapa, você precisa incluir absolutamente todos os gastos, desde a compra de sementes e o pagamento de salários até a manutenção de maquinário e o frete para transporte dos grãos. Não deixe nada de fora.

Você pode organizar essas informações usando planilhas ou, de forma mais eficiente, com um software de gestão agrícola. A tecnologia permite visualizar todos os custos na palma da mão, eliminando pilhas de papéis e tabelas confusas.

2ª dica: Separe os custos diretos

Agora, você deve listar as despesas que estão diretamente ligadas à sua produção. Essa separação é fundamental para a próxima análise.

  • Custos diretos: são todos os gastos diretamente aplicados para gerar o produto final.
  • Custos indiretos: são despesas gerais para manter a fazenda funcionando, mas que não se ligam a uma cultura específica.

Pense no milho que você acabou de colher. A semente, o defensivo utilizado, o combustível da colheitadeira… Todos são custos de produção, ou seja, gastos diretos que sua empresa rural teve para produzir aqueles grãos.

3ª dica: Compare o custo direto com o preço de venda

Nesta fase, você fará uma conta fundamental: o preço que você planeja receber pela venda da sua produção é compatível com o que você gastou para produzi-la?

Essa análise de custos mostra se o seu retorno financeiro será suficiente para cobrir os custos diretos. Se a resposta for sim, significa que sobrou uma margem para ajudar a pagar os custos indiretos e, claro, gerar lucro.

4ª dica: Faça o rateio dos custos indiretos

Aqui, vamos considerar apenas os custos que não estão ligados diretamente a uma cultura específica. Como exemplo, podemos citar as despesas com o contador, o salário do gestor da fazenda ou a conta de energia do escritório.

Para entender melhor a diferença, observe a figura abaixo:

Este é um infográfico vertical educativo que explica a diferença entre os tipos de custos em uma empresa: fixos, variáveis, d (Fonte: Nomus)

5ª dica: Encontre seu ponto de equilíbrio

Após organizar todos os custos, você poderá calcular seu ponto de equilíbrio.

  • Ponto de equilíbrio: é a quantidade de produto (em sacas, arrobas, etc.) que você precisa vender para cobrir todos os seus custos, tanto diretos quanto indiretos.

É o seu “zero a zero”. A partir desse ponto, cada saca vendida a mais se transforma em lucro líquido para o seu negócio.

infográfico didático que ilustra os conceitos financeiros de lucro, ponto de equilíbrio e prejuízo utilizando a (Fonte: Soften)

Como Fazer o Cálculo de Rateio de Custos?

Quando se fala em calcular custos, muitas dúvidas podem surgir. Vamos mostrar como fazer isso de forma descomplicada.

Lembre-se que existem vários métodos para realizar o rateio de custo. Aqui, vamos citar os mais comuns, e você pode escolher o que melhor se adapta à sua empresa.

Cálculo de Rateio por Absorção

Este é um dos métodos de custeio mais utilizados por ser simples e direto. Nele, dividimos os custos indiretos (fixos) pela quantidade produzida e somamos ao custo direto.

Exemplo prático: Imagine que você gasta R$ 15,00 de custos diretos para produzir 1 saca de milho. Seu custo fixo total (mão de obra, energia, etc.) é de R$ 12.000,00 para uma produção total de 10.000 sacas.

  1. Custo direto por saca: R$ 15,00
  2. Rateio do custo fixo por saca: R$ 12.000 ÷ 10.000 sacas = R$ 1,20 por saca
  3. Custo unitário total (por absorção): R$ 15,00 (direto) + R$ 1,20 (fixo rateado) = R$ 16,20 por saca

Este cálculo simples já mostra o custo real de cada saca produzida. Sugerimos que você aplique essa fórmula usando os valores reais da sua propriedade.

Cálculo do Rateio por Atividade (Custeio ABC)

Este método, conhecido como Activity Based Costing (ABC), é mais detalhado e distribui os custos com base nas atividades que os geram, em vez de fazer uma divisão simples. Ele aloca os gastos aos produtos de forma mais precisa, considerando os recursos que cada atividade consumiu.

fluxograma que ilustra o conceito de Custeio Baseado em Atividades (ABC). O diagrama é dividido em três est (Fonte: Blog Luz)

Mas, qual método de rateio utilizar?

A melhor resposta é: aquele que faz mais sentido para a realidade do seu negócio rural. Dependendo do estágio da sua gestão e do controle das suas finanças, o mais importante pode ser simplesmente começar a registrar todos os custos de forma organizada, antes de se preocupar com um método de rateio específico.

O que é MOD na contabilidade de custos?

Ao lidar com contabilidade, várias siglas e termos técnicos aparecem. Na contabilidade rural, uma sigla comum é a MOD.

MOD (Mão de Obra Direta): refere-se ao custo com os funcionários que trabalham diretamente na produção.

A mão de obra direta está relacionada às atividades essenciais para que os cultivos de grãos sejam semeados ou para que uma determinada atividade agropecuária aconteça. Ou seja, sem ela, a produção não ocorre.

Do ponto de vista contábil, a MOD permite verificar quantas pessoas são necessárias para se produzir determinado produto. Por exemplo: “para produzir 100 kg de feijão, preciso de uma pessoa auxiliando no processo de semeadura, manejo e colheita”.

Fique atento, pois os custos com MOD devem englobar todos os gastos relacionados ao funcionário, como:

  • Salários
  • Encargos sociais (INSS, FGTS)
  • Benefícios pessoais (vale-transporte, alimentação, etc.)

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Contabilidade Financeira e Gerencial: Qual a Diferença?

Além da contabilidade de custos, outras duas áreas são importantes para o setor agrícola. Entender a função de cada uma ajuda a organizar a gestão.

Contabilidade Financeira: Olhando para Fora

A contabilidade financeira tem o objetivo de mostrar a “saúde” da empresa rural para partes externas, como sócios, bancos ou investidores.

  • Para quem se destina: Agentes externos (sócios que não participam da gestão, bancos para aprovação de crédito, governo).
  • O que mostra: O desempenho da fazenda na última safra por meio de relatórios contábeis padronizados (Balanço Patrimonial, DRE).
  • O que exige: Uma escrituração contábil rigorosa, registrando todos os eventos administrativos de forma regular.

Contabilidade Gerencial: Olhando para Dentro

Já a contabilidade gerencial é uma ferramenta interna, usada pelos gestores da fazenda para tomar decisões mais inteligentes.

  • Para quem se destina: Uso interno (proprietários, gerentes, administradores).
  • O que mostra: Informações detalhadas e personalizadas para planejamento e controle (custo por talhão, rentabilidade por cultura, etc.).
  • O que exige: Foco em dados que ajudem a melhorar a operação, sem a necessidade de seguir padrões externos rígidos.

A utilização combinada dessas áreas da contabilidade se torna uma poderosa ferramenta de gestão, fornecendo informações consistentes para o crescimento sustentável da empresa rural.

Software para a Contabilidade de Custos do Agronegócio

Depois de entender todos esses conceitos, a pergunta é: como aplicar tudo isso de forma prática e sem dor de cabeça? A resposta está na tecnologia. Um bom software de gestão agrícola ajuda a gerenciar todas essas atividades no dia a dia da fazenda.

No Aegro, por exemplo, você pode montar um orçamento completo para a sua safra e estabelecer metas de produtividade. Isso facilita o cálculo de por quanto você precisa vender sua produção para ter o lucro desejado.

uma tela de ‘Informações gerais’ de um software de gestão agrícola, possivelmente o Aegro. A interface apresen

Além disso, o sistema permite que você gerencie todo o seu fluxo de caixa. Basta vincular suas contas bancárias para manter em dia as parcelas a pagar e a receber.

Cada despesa pode ser atribuída como um custo da fazenda, de estoque ou de uma safra específica. De maneira rápida, você rateia o gasto proporcionalmente entre diferentes safras e talhões. Com isso, é possível extrair relatórios completos para analisar a rentabilidade do seu negócio e desenvolver estratégias financeiras mais eficazes.

captura de tela da aba de resultados do sistema de gestão rural Aegro

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Conclusão

Dominar a contabilidade de custos não é apenas sobre preencher planilhas; é sobre tomar o controle financeiro da sua propriedade. Essa ferramenta, voltada para o estudo detalhado dos gastos na lavoura, é essencial para uma gestão eficiente e para uma tomada de decisão baseada em fatos.

Neste artigo, você viu um passo a passo de como calcular o rateio de custos de maneira descomplicada, além de entender conceitos importantes como mão de obra direta (MOD) e as diferenças entre contabilidade financeira e gerencial.

Esperamos que, com essas dicas, você se sinta mais seguro para aplicar a contabilidade de custos na sua fazenda e colher os frutos de uma gestão mais profissional e lucrativa.


Glossário

  • Custeio ABC (Activity Based Costing): Método de rateio que distribui os custos indiretos com base nas atividades que os originam, de forma mais precisa que uma divisão simples. Por exemplo, o custo de manutenção de um trator é alocado às culturas que mais utilizaram a máquina.

  • Custeio por Absorção: Método de cálculo onde todos os custos da produção, tanto diretos quanto indiretos (fixos), são absorvidos pelo produto final. É um cálculo mais simples, onde o custo fixo total é dividido pela quantidade produzida e somado ao custo direto de cada item.

  • Custos Diretos: Gastos que podem ser diretamente atribuídos à produção de uma cultura ou produto específico. Incluem itens como sementes, fertilizantes, defensivos e o combustível usado na colheitadeira para aquela safra.

  • Custos Indiretos: Despesas gerais necessárias para manter a fazenda funcionando, mas que não estão ligadas a uma única cultura. Exemplos comuns são o salário do administrador, a conta de luz do escritório ou os honorários do contador.

  • MOD (Mão de Obra Direta): Sigla para o custo com funcionários que trabalham diretamente nas atividades de produção, como operadores de máquinas e trabalhadores do campo. O cálculo deve incluir não apenas o salário, mas também encargos sociais e benefícios.

  • Ponto de Equilíbrio: O nível de produção e vendas em que a receita total se iguala aos custos totais, resultando em lucro zero. A partir deste ponto, cada saca ou arroba vendida a mais gera lucro líquido para o negócio.

  • Rateio de Custos: Processo de distribuir os custos indiretos entre os diferentes produtos ou centros de custo da fazenda. É fundamental para determinar o custo real de cada atividade produtiva, como o cultivo de soja e milho na mesma propriedade.

Veja como o Aegro pode ajudar a superar esses desafios

Lidar com a complexidade da contabilidade de custos, desde o registro de cada despesa até o rateio correto entre as safras, é um desafio que consome tempo e pode levar a erros em planilhas. Um software de gestão agrícola como o Aegro simplifica esse processo ao centralizar todas as finanças em um sistema intuitivo. Ele permite que você registre os gastos diretamente do campo pelo celular e automatiza o rateio de custos, transformando dados complexos em relatórios visuais que mostram a rentabilidade real de cada talhão.

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Perguntas Frequentes

Qual a principal diferença entre custos diretos e indiretos na prática agrícola?

Custos diretos são aqueles diretamente ligados a uma cultura específica, como sementes de soja, fertilizantes e o diesel da colheitadeira usada naquela safra. Já os custos indiretos são despesas gerais para manter a fazenda funcionando, como o salário do administrador ou a conta de luz do escritório, que beneficiam todas as atividades e precisam ser distribuídas (rateadas) entre elas.

O que é o ponto de equilíbrio e por que ele é crucial para o planejamento da safra?

O ponto de equilíbrio representa a quantidade mínima de produto (em sacas ou arrobas) que você precisa vender para cobrir todos os seus custos, diretos e indiretos. É o seu “zero a zero”. Conhecer esse número é crucial, pois ele mostra a partir de qual volume de vendas você começará a ter lucro real, ajudando a definir metas de produtividade e estratégias de comercialização mais seguras.

Para um pequeno produtor, qual método de rateio de custos é mais recomendado: Absorção ou ABC?

Para pequenos produtores que estão começando a organizar suas finanças, o método de Custeio por Absorção é geralmente mais recomendado por ser mais simples e direto de aplicar. O Custeio ABC, embora mais preciso, exige um controle de atividades muito mais detalhado, sendo mais adequado para operações maiores e mais complexas. O mais importante é começar a registrar e ratear os custos, mesmo que da forma mais simples.

O que exatamente compõe o custo da Mão de Obra Direta (MOD)? É apenas o salário?

Não, o custo da Mão de Obra Direta (MOD) vai muito além do salário base do funcionário. Para um cálculo correto, você deve incluir todos os encargos sociais (como INSS e FGTS) e benefícios (vale-transporte, alimentação, etc.) relacionados aos trabalhadores que atuam diretamente na produção. Ignorar esses valores leva a uma subestimação do seu custo de produção real.

Preciso mesmo de um software de gestão ou uma planilha de gastos é suficiente para a contabilidade de custos?

Uma planilha de gastos é um ótimo primeiro passo e pode ser suficiente para operações muito pequenas. No entanto, um software de gestão agrícola automatiza processos complexos como o rateio de custos entre diferentes safras, integra o controle financeiro ao operacional e gera relatórios visuais. Isso reduz erros manuais, economiza tempo e fornece uma análise de rentabilidade muito mais precisa para a tomada de decisões.

De forma simples, qual a diferença entre contabilidade gerencial e financeira para o produtor rural?

A contabilidade financeira é voltada para “fora” da fazenda, gerando relatórios padronizados para bancos, investidores e governo. Já a contabilidade gerencial é uma ferramenta para “dentro”, fornecendo dados detalhados e personalizados (como custo por talhão) para ajudar o gestor a tomar as melhores decisões operacionais e estratégicas no dia a dia do negócio.

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