Inseticidas: Guia sobre Neonicotinoides, Organofosforados e Carbamatos

Redação Aegro
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Inseticidas: Guia sobre Neonicotinoides, Organofosforados e Carbamatos

Você sabe qual a diferença na forma de ação de um inseticida neonicotinoide, um organofosforado ou um carbamato? Entender o mecanismo de ação de cada produto é fundamental para um manejo de pragas eficiente e seguro.

Esses três grupos são classificados como inseticidas neurotóxicos, o que significa que eles atacam o sistema nervoso dos insetos. No entanto, a maneira como eles fazem isso varia bastante de acordo com o princípio ativo e o grupo químico.

Neste artigo, vamos detalhar como cada um desses inseticidas funciona, o que os diferencia e por que essa informação é tão importante para suas decisões no campo.

O que são os inseticidas neurotóxicos?

No mercado agrícola, existem diversos tipos de inseticidas, cada um com um modo de ação específico. Eles podem atuar sobre:

  • O sistema nervoso e/ou a musculatura do inseto;
  • O desenvolvimento e o crescimento da praga;
  • O sistema digestivo (intestino médio);
  • O sistema respiratório;
  • Outros mecanismos que ainda não são totalmente conhecidos.

Os inseticidas neurotóxicos, como o nome sugere, são aqueles que agem diretamente no sistema nervoso dos insetos. Esse sistema é a central de comando do inseto, composto por células nervosas chamadas neurônios.

[Neurônios]: são as células responsáveis por transmitir informações, permitindo que o inseto sinta, se mova e coordene suas ações. Pense neles como a “fiação elétrica” do corpo do inseto.

uma ilustração estilizada de um neurônio sobre um fundo com gradiente de azul e roxo. A estrutura é composta p Imagem ilustrativa de um neurônio (Fonte:Larry Keeley – YouTube)

O sistema nervoso central dos insetos é formado pelo cérebro, localizado na cabeça, e uma corda nervosa ventral que percorre o corpo, com vários centros de comando chamados gânglios.

uma ilustração didática da anatomia interna de um gafanhoto, com foco em seu sistema nervoso. O inseto é mostr Imagem ilustrando o sistema nervoso central de um inseto ortóptero (em amarelo) (Fonte:Larry Keeley – YouTube)

Os inseticidas neurotóxicos interferem na comunicação entre esses neurônios. Essa comunicação acontece em um ponto de conexão chamado sinapse, onde substâncias químicas (neurotransmissores) transmitem os impulsos nervosos. Ao perturbar esse processo, o inseticida causa um colapso no sistema nervoso da praga.

Dentro da categoria de neurotóxicos, existem vários grupos químicos, e cada um deles possui diversos ingredientes ativos — as moléculas específicas que realizam o trabalho de controle.

Vamos ver em detalhes como os principais grupos funcionam.

Mecanismo de Ação dos Inseticidas Neonicotinoides

Os neonicotinoides são inseticidas conhecidos por sua ação sistêmica e de contato.

  • Ação Sistêmica: significa que, após a aplicação, o produto penetra nos tecidos da planta e é distribuído por toda a sua estrutura através da seiva.
  • Ação de Contato: o produto também age quando entra em contato direto com o corpo do inseto.

Essa característica sistêmica é uma grande vantagem: não importa como o produto é aplicado (no sulco, via semente ou foliar), ele consegue proteger a planta inteira. Por isso, é especialmente eficaz contra insetos sugadores, que se alimentam diretamente dos tecidos da planta.

O mecanismo de ação dos neonicotinoides é atuar como agonistas da acetilcolina.

Em outras palavras: Pense na acetilcolina como a “chave” que liga o motor de um neurônio, transmitindo um sinal. Os neonicotinoides agem como uma “cópia da chave” que emperra na ignição, deixando o motor permanentemente ligado.

O que acontece é que as moléculas do inseticida se ligam aos receptores de acetilcolina no neurônio seguinte (pós-sináptico). Essa ligação gera um estímulo constante, fazendo com que os impulsos nervosos sejam transmitidos sem parar. O resultado é uma hiperexcitação do sistema nervoso, que leva à paralisia e à morte do inseto.

Os principais ingredientes ativos do grupo dos neonicotinoides são:

  • Acetamiprido
  • Clotianidina
  • Dinotefuran
  • Imidaclopride
  • Nitenpiram
  • Tiaclopride
  • Tiametoxam

uma captura de tela do sistema AGROFIT, a plataforma oficial de consulta de agrotóxicos e afins do Ministério Ingredientes ativos de neonicotinoides registrados no site do Mapa (Fonte: Mapa)

Dentre eles, os mais comuns no Brasil, com maior número de produtos registrados no Mapa, são o acetamiprido, o imidaclopride e o tiametoxam. Eles são amplamente utilizados em diversas culturas para controlar insetos polífagos como mosca-branca, pulgões, cigarrinhas e percevejos.

Como Agem os Inseticidas Organofosforados e Carbamatos

Estes dois grupos de inseticidas agem de forma muito parecida, por isso são frequentemente discutidos juntos. Eles funcionam por contato e ingestão, e seu alvo é uma enzima chamada acetilcolinesterase.

Em outras palavras: Se a acetilcolina é a “chave que liga o motor”, a acetilcolinesterase é a “mão que desliga o motor” após o sinal ser enviado, garantindo que o sistema não fique sobrecarregado. Os organofosforados e carbamatos “quebram” essa mão, impedindo que o motor seja desligado.

A função da acetilcolinesterase é “limpar” a acetilcolina da sinapse após a transmissão do impulso nervoso. As moléculas dos organofosforados e carbamatos se encaixam perfeitamente nessa enzima, bloqueando sua ação:

  • Organofosforados: bloqueiam a enzima através de seu grupamento fosfato.
  • Carbamatos: bloqueiam a enzima através de seu grupamento carbamila.

Com a enzima bloqueada, a acetilcolina se acumula na sinapse, causando uma transmissão contínua de impulsos nervosos. Assim como nos neonicotinoides, o resultado é a hiperexcitação do sistema nervoso, paralisia e morte rápida do inseto.

Esses inseticidas foram muito populares até a década de 1990. No entanto, com a chegada de moléculas mais modernas e com menor risco de toxicidade, o uso desses grupos químicos foi reduzido.

Atualmente, ainda existem diversos ingredientes ativos de organofosforados registrados no MAPA, mas o número de carbamatos disponíveis é bem menor.

Principais ingredientes ativos dos organofosforados:

  • Acefato
  • Cadusafós
  • Clorpirifós
  • Dimetoato
  • Etoprofós
  • Fenamifós
  • Fenitrotiona
  • Fosmete
  • Fostiazato
  • Malation

Para o grupo químico dos carbamatos, o principal ingrediente ativo disponível hoje é o cloridrato de propamocarbe.

Esses produtos são conhecidos por controlar um grande número de pragas, e os organofosforados também podem agir como acaricidas, nematicidas e formicidas.

uma captura de tela do sistema AGROFIT, a plataforma oficial do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abasteci (Fonte: Mapa)

Vantagens e Desvantagens dos Inseticidas Neurotóxicos

Apesar de serem ferramentas úteis na agricultura, é crucial conhecer os prós e contras dos neonicotinoides, carbamatos e organofosforados para usá-los de forma correta e segura.

Vantagens

  • Custo e Acesso: Geralmente são produtos mais baratos e de fácil aquisição.
  • Ação Rápida: São absorvidos rapidamente pela camada protetora (cutícula) do inseto, agindo com velocidade.
  • Boa Persistência: A maioria dos produtos permanece ativa no campo por um bom tempo após a aplicação.
  • Amplo Espectro: Controlam uma grande variedade de espécies de insetos-praga com uma única aplicação.

Desvantagens

  • Baixa Seletividade: Por terem amplo espectro de ação, podem matar organismos não-alvo, como predadores e parasitoides. Isso significa que, em sua maioria, não são seletivos aos inimigos naturais.
  • Prejuízo ao MIP: Se usados de forma irracional, podem atrapalhar o Manejo Integrado de Pragas (MIP), eliminando os agentes de controle biológico.
  • Risco de Toxicidade: Podem causar distúrbios neurológicos em animais vertebrados, incluindo seres humanos, exigindo cuidado redobrado no manuseio.
  • Persistência Ambiental: A maioria permanece no ambiente por muito tempo, podendo afetar outros organismos.
  • Resistência de Pragas: A exposição constante das pragas a esses inseticidas pode levar à seleção de populações resistentes, tornando o controle mais difícil no futuro.
  • Impacto em Polinizadores: Muitos neonicotinoides têm sido associados a problemas em abelhas e outros polinizadores, o que pode causar um grande desequilíbrio ecológico.

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Conclusão

Neste guia, você aprendeu como funcionam três importantes grupos químicos de inseticidas que agem no sistema nervoso dos insetos: neonicotinoides, organofosforados e carbamatos.

Vimos que, embora todos causem a morte da praga por hiperexcitação do sistema nervoso, os mecanismos são diferentes:

  • Neonicotinoides: imitam o neurotransmissor acetilcolina, travando o sistema na posição “ligado”.
  • Organofosforados e Carbamatos: bloqueiam a enzima que “desliga” o sistema, causando um acúmulo do neurotransmissor.

Compreender essas diferenças é essencial para tomar as melhores decisões. Ao analisar sua cultura, a praga-alvo e a real necessidade de controle, você pode escolher o produto mais adequado e aplicá-lo na dose correta.

Lembre-se sempre que o uso de inseticidas deve ser criterioso. Quando utilizados da maneira correta, são aliados valiosos na proteção da sua lavoura. Utilizados sem necessidade, podem trazer mais problemas do que soluções.


Glossário

  • Ação Sistêmica: Característica de um agrotóxico que, ao ser absorvido pela planta (via raiz, caule ou folhas), é distribuído por todos os seus tecidos através da seiva. Isso faz com que a planta inteira se torne tóxica para a praga que dela se alimenta.

  • Acetilcolina: Um neurotransmissor essencial no sistema nervoso dos insetos. Funciona como uma “chave” que transmite o sinal elétrico de um neurônio para o outro, permitindo o movimento e outras funções vitais.

  • Acetilcolinesterase: Enzima que tem a função de “desligar” o sinal da acetilcolina após a sua transmissão. Ela “limpa” a sinapse, garantindo que os impulsos nervosos não sejam contínuos e descontrolados.

  • Agonistas da acetilcolina: Moléculas que imitam a ação da acetilcolina, ligando-se aos seus receptores. Os inseticidas neonicotinoides agem como agonistas, funcionando como uma “chave falsa” que emperra na ignição, causando estímulo nervoso contínuo.

  • Inseticidas Neurotóxicos: Classe de inseticidas que atuam diretamente no sistema nervoso dos insetos. Eles interferem na comunicação entre os neurônios, causando paralisia, colapso do sistema e, consequentemente, a morte da praga.

  • MAPA: Sigla para Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. É o órgão do governo federal brasileiro responsável por regulamentar e fiscalizar o setor agropecuário, incluindo o registro de agrotóxicos.

  • MIP (Manejo Integrado de Pragas): Uma estratégia de controle que combina diferentes táticas (biológicas, culturais, físicas e químicas) de forma racional e sustentável. O objetivo é manter as pragas em níveis que não causem dano econômico, minimizando o uso de agrotóxicos.

  • Sinapse: Ponto de comunicação entre dois neurônios onde os impulsos nervosos são transmitidos por meio de substâncias químicas (neurotransmissores). É o local exato onde a maioria dos inseticidas neurotóxicos atua.

Como a tecnologia pode te ajudar no manejo de pragas

Saber qual inseticida usar é fundamental, mas registrar e analisar cada aplicação é o que garante um manejo eficiente a longo prazo. Desafios como a resistência de pragas e a necessidade de seguir o Manejo Integrado (MIP) tornam o controle de dados essencial. Ferramentas de gestão agrícola, como o Aegro, resolvem esse problema ao permitir o registro detalhado das pulverizações, dos insumos utilizados e do monitoramento de pragas. Com esse histórico, fica mais fácil planejar as próximas aplicações, rotacionar ingredientes ativos e tomar decisões baseadas em informações precisas do seu campo.

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Perguntas Frequentes

Qual a principal diferença na forma de ação entre neonicotinoides e organofosforados?

A principal diferença está no alvo. Os neonicotinoides agem como uma “chave falsa” que se liga aos receptores de acetilcolina, causando um estímulo nervoso contínuo. Já os organofosforados e carbamatos bloqueiam a enzima (acetilcolinesterase) responsável por “desligar” esse estímulo, o que também resulta em uma hiperexcitação do sistema nervoso do inseto.

O que significa a “ação sistêmica” dos neonicotinoides na prática?

Na prática, a ação sistêmica significa que o produto é absorvido e distribuído por toda a planta através da seiva. Isso protege a planta por inteiro, incluindo folhas e brotos que surgem após a aplicação, sendo especialmente eficaz contra pragas sugadoras como pulgões, cigarrinhas e mosca-branca.

Por que é importante para o agricultor conhecer o mecanismo de ação de um inseticida?

Conhecer o mecanismo de ação é crucial para implementar a rotação de ingredientes ativos, uma prática fundamental para manejar e prevenir a resistência de pragas. Isso permite ao agricultor alternar produtos com diferentes modos de ação, garantindo a eficácia dos tratamentos a longo prazo e a sustentabilidade do controle.

Se os inseticidas neurotóxicos são eficientes, por que seu uso é cada vez mais questionado?

O questionamento se deve principalmente à sua baixa seletividade, que afeta organismos não-alvo como inimigos naturais (predadores e parasitoides) e polinizadores essenciais, como as abelhas. Além disso, a persistência ambiental e o risco de desenvolvimento de resistência nas pragas são preocupações constantes.

O que significa a “baixa seletividade” de um inseticida e qual o impacto disso no campo?

Baixa seletividade significa que o inseticida não diferencia a praga-alvo de outros organismos benéficos. Na prática, a aplicação pode eliminar joaninhas, vespas e outros inimigos naturais que ajudam a controlar pragas. Isso gera um desequilíbrio ecológico e pode levar ao ressurgimento da praga-alvo ou ao aparecimento de pragas secundárias.

Como o uso contínuo do mesmo tipo de inseticida neurotóxico pode causar resistência nas pragas?

O uso repetido de inseticidas com o mesmo mecanismo de ação seleciona os indivíduos da população de pragas que são naturalmente mais tolerantes ao produto. Esses sobreviventes se reproduzem, passando essa característica aos seus descendentes, e com o tempo, a população inteira se torna resistente, tornando o inseticida ineficaz.

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