A pandemia da Covid-19 acelerou uma tendência que já vinha crescendo na cafeicultura brasileira: a colheita mecanizada. Com a necessidade de distanciamento social, a mão de obra no campo ficou mais escassa, tornando as máquinas uma solução ainda mais estratégica.
Os avanços em pesquisa e inovação mostram que este método traz benefícios claros. Estudos apontam uma redução de custos de até 62,36% em comparação com a colheita manual. Além disso, a colheita mecanizada seletiva permite um ganho significativo na qualidade do grão, o que é fundamental para a produção de cafés especiais.
Contudo, para que a colheita mecanizada do café seja realmente eficiente, é preciso atenção a diversos cuidados e regulagens. Neste artigo, vamos detalhar tudo o que você precisa saber para aproveitar ao máximo essa tecnologia. Confira!
O Cenário da Colheita Mecanizada de Café no Brasil
No Brasil, o período principal da colheita do café acontece entre maio e junho, estendendo-se até agosto ou setembro.
Sendo o líder mundial na produção, o país tem uma safra robusta, que em 2021 foi estimada em pouco mais de 47 milhões de sacas de 60 kg. Desse total, 68% são do tipo arábica e 32% da variedade conilon (ou robusta).
Hoje, a colheita mecanizada já é o método mais utilizado no país, respondendo por metade de toda a produção:
- Colheita mecanizada: 50%
- Colheita manual: 24%
- Uso de derriçadora portátil: 22%
- Colheita manual seletiva: 4%
A mecanização predomina em propriedades com mais de 25 hectares. Em fazendas com 26 a 50 hectares, por exemplo, 59% dos produtores já utilizam este método.
Mas a tecnologia também está presente em áreas menores. Cerca de 25% das propriedades entre 6 e 15 hectares já usam colhedoras, e esse número sobe para 38% nas áreas de 15 a 25 hectares.
Colheita mecanizada em área de produção no oeste da Bahia
(Foto: Divulgação/Pinhalense)
Os 3 Principais Métodos de Colheita de Café
Existem três formas principais de realizar a colheita do café. Entenda cada uma delas:
1. Colheita Manual
Neste método tradicional, os trabalhadores selecionam visualmente os frutos maduros, fazendo a catação (retirada um a um) ou a derriça (passando a mão pelo ramo para derrubar os frutos). Os grãos caem sobre uma lona no chão e, depois, são recolhidos, peneirados para retirar folhas e galhos, e ensacados.
2. Colheita Semimecanizada
Aqui, são utilizados derriçadores portáteis, que são máquinas costais (carregadas nas costas) com hastes vibratórias. Essa ferramenta agiliza o trabalho manual e pode multiplicar por até quatro vezes a produtividade de um trabalhador em campo.
3. Colheita Mecanizada
Utiliza máquinas automotrizes (colhedoras) que passam sobre as linhas de café. A eficiência dessas máquinas depende de regulagens precisas, que levam em conta a topografia do terreno e o objetivo da colheita (seletiva ou plena). Geralmente, a colheita é feita em duas a três passadas, com intervalos de até 25 dias entre elas, variando conforme a região.
Vantagens e Desvantagens da Mecanização: Vale a Pena o Investimento?
Analisar os prós e contras é fundamental antes de decidir pela mecanização.
Vantagens
- Redução de Custos: É o benefício mais direto. A economia em relação à colheita manual varia de 30% a 40%, mas pode chegar a impressionantes 62,36% em condições ideais.
- Agilidade na Operação: O uso de máquinas reduz drasticamente o tempo da colheita, o que diminui a exposição da lavoura a riscos climáticos.
- Menor Dependência de Mão de Obra: Reduz os custos e os desafios de encontrar e gerenciar equipes grandes durante a safra.
- Melhor Recuperação da Planta: Ao liberar a planta mais cedo do peso dos frutos, ela ganha mais tempo para se recuperar e se preparar para a próxima floração. Isso pode resultar em maior produtividade na safra seguinte.
Desvantagens
- Limitação por Terreno: A mecanização não é viável em áreas com declive muito acentuado. A maioria das máquinas opera com segurança em terrenos com inclinação de até 15% a 20%. Em áreas com topografia mais desafiadora, são necessárias máquinas menores e especializadas, o que pode aumentar o tempo e o custo da operação.
- Alto Custo de Aquisição: O investimento inicial é a principal barreira. Uma colhedora nova custa entre R$ 300 mil e R$ 450 mil. No entanto, dependendo da área de produção e da economia gerada, o investimento pode ser pago em duas ou três safras.
Colhedoras de Café: Principais Modelos e Funcionamento
No mercado brasileiro, diversas marcas oferecem colhedoras de café, como:
- Case
- Jacto
- Avery
- Matão
- Selecta
- Pinhalense
- Vn Suprema
- Maco Matao
- IH
É importante notar que existem modelos específicos para café conilon e arábica, e a regulagem de cada máquina deve ser ajustada conforme as particularidades de cada cafezal.
Detalhes dos modelos de algumas colhedoras
(Foto: Grupo Cultivar)
Como as Colhedoras Funcionam?
A maioria das colhedoras opera de forma parecida, com sistemas hidráulicos que realizam um processo de quatro etapas principais:
- Derriça: A máquina abraça a linha de café e utiliza varetas vibratórias para derrubar os frutos dos galhos.
- Recolhimento: Placas na base da máquina recolhem os frutos derrubados, junto com folhas e pequenos galhos.
- Abanação (Limpeza): Um sistema de ventilação sopra e separa os detritos (folhas, galhos) dos grãos de café, que são mais pesados.
- Descarga: O café limpo é então descarregado, seja em uma bica lateral para uma carreta graneleira, em sacos (ensaque) ou em um depósito na própria máquina. O rendimento médio é de cerca de 3 mil litros de café por hora.
Parâmetros Técnicos de Referência
Para uma operação eficiente, pesquisas científicas recentes sugerem os seguintes ajustes iniciais:
- Vibração da máquina: entre
800 rpm
e1.000 rpm
. - Velocidade de deslocamento: entre
1.000 metros/hora
e1.300 metros/hora
.
Esses números são um ponto de partida, pois a regulagem ideal dependerá das condições específicas da sua lavoura.
A Chave para a Eficiência: Como Regular Corretamente sua Colhedora
Uma colhedora mal regulada pode causar mais prejuízos do que benefícios, danificando plantas e perdendo grãos. A regulagem ideal depende da observação cuidadosa de vários fatores:
- A cultivar do café: Cada variedade tem arquitetura de planta, força de desprendimento do fruto e época de maturação diferentes.
- Idade e altura das plantas: Plantas mais novas são mais sensíveis. Pesquisadores recomendam utilizar vibrações menores para não danificá-las excessivamente.
- Condições climáticas: Temperatura, altitude e regime de chuvas influenciam diretamente na maturação dos frutos.
- Topografia do terreno: A declividade exige ajustes na velocidade e estabilidade da máquina.
- Sistema de irrigação: Se você utiliza pivô central, atenção redobrada. É comum haver uma variabilidade de maturação nos dois lados da linha de café, o que exige ajustes finos na colheita.
Café colhido de forma manual
(Foto: Fábio Moreira)
Café colhido de forma mecanizada
(Foto: Fábio Moreira)
Café de colheita mecanizada seletiva
(Foto: Fábio Moreira)
Carga de Café nas Plantas e Ponto de Maturação
Dois pontos são cruciais para a regulagem no campo:
Carga de Café: A quantidade de frutos na planta influencia diretamente a configuração.
- Cargas altas: Exigem maiores vibrações nas varetas e menores velocidades de deslocamento para garantir que todos os frutos sejam derrubados e recolhidos com eficiência.
- Cargas baixas: Permitem vibrações menores e velocidades maiores, otimizando o tempo e o combustível.
Maturação dos Frutos: A observação do ponto de maturação é vital, especialmente na colheita seletiva.
- Frutos verdes: São mais difíceis de soltar. Exigem que a vibração das varetas seja maior e a velocidade da colhedora menor. Isso gera maior gasto de combustível e pode danificar mais a planta.
- Frutos cereja (maduros) e secos: Desprendem-se com facilidade, permitindo vibrações mais suaves e maior velocidade, o que é ideal para a colheita seletiva.
Planejando as Passadas da Colheita
A partir da avaliação da maturação, você programa o intervalo entre a primeira, a segunda e, se necessário, a terceira passada da máquina.
- Intervalo: Geralmente, fica em torno de 25 a 40 dias, sendo menor em regiões mais quentes, onde a maturação é mais rápida.
- Segunda Passada: Para esta operação, é preciso ajustar a máquina. A recomendação é retirar as varetas vibratórias da parte superior da colhedora, deixando apenas as duas linhas de baixo para colher os frutos que amadureceram mais tarde.
- Terceira Passada: É recomendada apenas para áreas com cargas de café muito altas, onde uma segunda passada não foi suficiente. Nesses casos, a colheita deve ser iniciada de forma antecipada para que os intervalos se encaixem no período ideal da safra.
Conclusão
A colheita mecanizada do café é mais do que uma tendência; é uma ferramenta estratégica que promove redução de custos e influencia diretamente na qualidade da bebida final.
Para ter sucesso, é fundamental entender os fatores que afetam a eficiência da operação, especialmente na regulagem para colheitas seletivas de cafés especiais. Os maquinários estão em constante aprimoramento, assim como as pesquisas sobre as condições ideais de colheita.
Ao escolher a máquina para sua lavoura, analise cuidadosamente as necessidades da sua área de produção e a relação custo-benefício do investimento.
Para garantir a melhor decisão e a regulagem correta, consultar um agrônomo ou especialista no assunto é sempre o caminho mais seguro.
Glossário
Colheita mecanizada seletiva: Método de colheita que utiliza regulagens específicas na máquina (como vibração e velocidade) para derrubar predominantemente os frutos maduros (cereja). O objetivo é aumentar a qualidade do café colhido, aproximando-se do resultado da catação manual.
Derriça: Ação de retirar os frutos de café do ramo, seja passando a mão por ele (manual) ou através da vibração de varetas (mecanizada). Diferente da catação, a derriça remove todos os frutos do ramo, independentemente do estágio de maturação.
Derriçadora portátil: Ferramenta motorizada, geralmente a gasolina, que o trabalhador carrega nas costas. Possui uma haste longa com “dedos” que vibram para realizar a derriça dos frutos, aumentando significativamente a produtividade em comparação com o trabalho puramente manual.
Frutos cereja: Termo usado para descrever os grãos de café que atingiram o ponto ideal de maturação. Nessa fase, eles apresentam uma cor vermelha intensa e brilhante, semelhante a uma cereja, e se desprendem facilmente da planta, sendo ideais para a produção de cafés de alta qualidade.
RPM (Rotações por Minuto): Unidade que mede a frequência de vibração das varetas da colhedora. Uma regulagem de
800 RPM
significa que as varetas vibram 800 vezes por minuto; um ajuste crucial para determinar a seletividade e a eficiência da colheita.Topografia: Refere-se às características físicas do relevo de um terreno, como a inclinação (declive). É um fator crítico na cafeicultura, pois a maioria das colhedoras mecanizadas só opera com segurança em terrenos com inclinação de até 15% a 20%.
Varetas vibratórias: Componentes centrais da colhedora de café. São hastes que vibram em alta frequência para sacudir os ramos do cafeeiro de forma controlada, fazendo com que os frutos se soltem e caiam no sistema de recolhimento da máquina.
Como a tecnologia otimiza a gestão da sua colheita mecanizada
O artigo destaca que o alto investimento em uma colhedora pode ser pago em poucas safras, graças à expressiva redução de custos. No entanto, para garantir que esse retorno realmente aconteça, é fundamental ter um controle financeiro detalhado. Um software de gestão agrícola como o Aegro centraliza essas informações, permitindo que você compare os custos da colheita mecanizada com os métodos anteriores e monitore o impacto do investimento safra após safra, com relatórios claros e visuais.
Além do desafio financeiro, a eficiência da operação depende da correta regulagem e manutenção do maquinário. Perder dias de trabalho por uma falha mecânica durante a colheita representa um grande prejuízo. Ferramentas como o Aegro ajudam a evitar isso, permitindo registrar o histórico completo de manutenções e programar lembretes para as próximas revisões, garantindo que suas máquinas estejam sempre prontas para operar com máximo desempenho.
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Perguntas Frequentes
A colheita mecanizada de café é viável em qualquer tipo de terreno?
Não, a colheita mecanizada é limitada pela topografia. A maioria das colhedoras opera com segurança em terrenos com inclinação de até 15% a 20%. Áreas com declive mais acentuado exigem máquinas especializadas, o que pode aumentar o custo e o tempo da operação, tornando-a inviável em alguns casos.
Qual a principal diferença entre a colheita mecanizada plena e a seletiva?
A colheita plena visa retirar todos os frutos da planta de uma vez. Já a colheita mecanizada seletiva, fundamental para cafés especiais, utiliza regulagens finas de vibração e velocidade para derrubar predominantemente os frutos maduros (cereja), melhorando a qualidade do lote e exigindo passadas múltiplas na lavoura.
O alto investimento em uma colhedora de café compensa para pequenos produtores?
Apesar do alto custo inicial, entre R$ 300 mil e R$ 450 mil, o investimento pode ser pago em duas ou três safras devido à drástica redução de custos operacionais (até 62%). A tecnologia já é uma realidade em propriedades menores, com cerca de 38% das áreas entre 15 e 25 hectares utilizando o método.
Por que a regulagem da velocidade e vibração da colhedora é tão importante?
A regulagem correta é a chave para a eficiência. Uma vibração ou velocidade inadequada pode danificar as plantas, especialmente as mais jovens, deixar muitos frutos para trás ou derrubar excesso de grãos verdes. O ajuste ideal depende da cultivar, idade da planta, carga de frutos e ponto de maturação, impactando diretamente a qualidade e o rendimento da safra.
Quais são os principais fatores que influenciam o intervalo entre as passadas da colhedora?
O intervalo entre as passadas, geralmente de 25 a 40 dias, é influenciado principalmente pelo ritmo de maturação dos frutos. Fatores como condições climáticas (regiões mais quentes aceleram a maturação), a cultivar do café e o sistema de irrigação utilizado determinam o momento ideal para a segunda ou terceira passada da máquina.
Como a carga de café na planta afeta a configuração da máquina?
A carga de frutos influencia diretamente a regulagem. Lavouras com cargas altas exigem maior vibração e menor velocidade de deslocamento para garantir a derriça eficiente de todos os frutos. Em contrapartida, áreas com cargas baixas permitem uma operação com menor vibração e maior velocidade, otimizando o tempo e o consumo de combustível.
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