O milho safrinha já foi visto como uma cultura de menor importância, daí o nome “safrinha”. Mas essa realidade mudou completamente. Hoje, a segunda safra de milho é a principal do Brasil e sustenta grande parte da nossa produção total.
Segundo a estimativa mais recente da Conab, a safrinha 2020/2021 será responsável por 75,8% de toda a produção nacional de milho. Isso representa um volume impressionante de 82,6 milhões de toneladas, um aumento de 10,1% em comparação com a safrinha anterior.
Alcançar esses números só é possível com um manejo de alta qualidade, tanto na produção quanto na colheita. Mas com tanto milho sendo produzido, como fica o mercado?
Neste artigo, vamos analisar os pontos mais importantes da colheita do milho safrinha, seja para grãos ou para silagem, e entender as expectativas de mercado, especialmente no cenário da COVID-19.
O Protagonismo do Milho Safrinha
A safrinha de milho se consolidou como a maior safra do país em área plantada e produção. Isso acontece principalmente por causa do sistema de produção “soja-milho”, no qual o milho ocupa as áreas que acabaram de ser colhidas de soja.
Com uma produção tão grande, a colheita precisa ser executada com precisão para garantir que todo o esforço na lavoura se transforme em lucro. No entanto, alguns cuidados são necessários.
O cultivo de milho na segunda safra naturalmente apresenta mais riscos, devido à menor luminosidade e à irregularidade das chuvas. Neste ano, enfrentamos um desafio adicional e sem precedentes: a pandemia do coronavírus.
Embora o agronegócio não pare e a pandemia não interfira diretamente no ciclo da planta, o novo cenário global impacta fortemente o mercado, como veremos a seguir.
Como o Clima Afeta a Produtividade e os Riscos da Safrinha 2021
Atualmente, o mercado do milho está totalmente focado no que acontece nas lavouras da safrinha. A principal preocupação é o clima, pois uma parte significativa da área foi plantada fora da janela ideal recomendada.
O atraso na colheita da soja forçou muitos produtores a semear o milho fora do período estabelecido pelo Zarc (Zoneamento Agrícola de Risco Climático).
Para entender melhor: O Zarc é o calendário oficial que define as épocas de plantio com menor risco climático para cada cultura e região, ajudando a garantir a produtividade e o seguro agrícola.
Em estados importantes como o Mato Grosso, 45% da área total de milho safrinha foi semeada fora da janela recomendada pelo Zarc.
O Atraso no Plantio e as Incertezas Climáticas
As dúvidas sobre a produtividade da safrinha de 2021 começaram no final de 2020. Estados como Mato Grosso, Paraná e Rio Grande do Sul precisaram atrasar o plantio da soja devido à falta de chuvas.
Esse atraso inicial teve um efeito cascata, empurrando a semeadura do milho safrinha para fora da janela ideal na maior parte das regiões produtoras. Quando o milho é semeado mais tarde, os riscos climáticos, como geadas e falta de chuva na fase de enchimento de grãos, aumentam consideravelmente.
Apesar disso, como a área plantada fora da janela é muito grande, as chuvas que ainda podem ocorrer podem ser decisivas para minimizar as perdas de produtividade nessas lavouras.
Nota: (PS)=pré-semeadura; (S)=semeadura; (E)=emergência.
(Fonte: Conab)
Análise de Mercado: Por que os Preços do Milho Estão em Alta?
O mês de março de 2021 foi marcado por preços recordes para o milho em diversas regiões do Brasil. Essa alta foi impulsionada por três fatores principais:
- Alta do dólar, que torna o milho brasileiro mais competitivo para exportação.
- Baixa oferta do grão no mercado spot (mercado spot: significa a compra e venda de produtos para entrega imediata).
- Incertezas sobre a produtividade da safrinha.
Essa incerteza se deve, em grande parte, à situação do Mato Grosso, o maior produtor do Brasil, que encerrou o plantio com 45% da área semeada fora da janela ideal.
Com o atraso, a cultura está sofrendo com a falta de chuvas, o que pode prejudicar seriamente a produtividade. Por isso, os produtores contam com as chuvas de abril e maio para tentar garantir uma boa colheita.
A consequência direta dessa incerteza foi a valorização do preço. Em 14 de abril, o indicador Esalq/BM&Bovespa (referência para Campinas – SP) atingiu um patamar recorde, fechando em R$ 96,92 por saca de 60 kg.
Considerando as dúvidas sobre a produção no Brasil e as previsões de pouca chuva, a tendência é que os preços continuem altos.
O gráfico abaixo mostra o aumento constante nos preços da saca de milho nos últimos 12 meses:
Variação do indicador do preço do milho ESALQ/BM&FBOVESPA nos últimos 12 meses
(Fonte: Cepea/Esalq)
Além dos fatores internos, a demanda mundial por grãos está crescendo exponencialmente. Por isso, a expectativa é que os preços do milho se mantenham valorizados também na safra 2021/2022.
Dicas Para uma Colheita de Milho Safrinha Mais Eficiente
1. O Planejamento é a Base de Tudo
Um bom planejamento deve ser feito antes mesmo do início da safra. Qual será o destino da produção: venda de grãos ou produção de silagem? Aproveite o período mais calmo da entressafra para organizar cada etapa.
Este ano é atípico por causa do plantio fora da janela, mas um cronograma bem definido ajuda a reduzir as chances de erro e a se preparar para imprevistos. Como vimos, o atraso na safra de verão impacta diretamente a segunda safra de milho.
Claro que dependemos de São Pedro para mandar chuva, mas um bom planejamento evita surpresas, inclusive na hora de negociar o preço. Para mais detalhes, confira nosso guia completo de manejo do milho.
2. Colha no Ponto Certo para Grãos ou Silagem
O momento ideal da colheita do milho safrinha varia conforme o objetivo final e a infraestrutura da fazenda, como a disponibilidade de secadores.
Para Grãos
A colheita deve ser realizada na fase R6, conhecida como maturidade fisiológica.
Para entender melhor: A maturidade fisiológica (R6) é o ponto em que o grão para de acumular peso e atinge seu máximo de matéria seca, garantindo o maior rendimento possível. Um “ponto preto” se forma na base do grão, indicando que ele está fisiologicamente maduro.
Esperar muito tempo depois desse ponto pode aumentar a infestação de plantas daninhas, dificultando a operação da colheitadeira.
- Umidade ideal para armazenamento:
13%
. O ideal é colher com umidade próxima a esse valor. - Se você tem secadores: a janela de colheita é maior. É possível colher com umidade mais alta e fazer a secagem na fazenda.
Para Silagem
O objetivo é colher a planta inteira quando ela atingir o equilíbrio ideal entre umidade e nutrientes.
- Ponto ideal: A colheita deve ocorrer quando a matéria seca da planta inteira estiver entre 30% e 35%.
- Atenção: Colher fora dessa faixa prejudica a fermentação e a qualidade final da silagem. Se estiver muito úmida, haverá perdas por efluentes; se estiver muito seca, a compactação no silo será difícil.
Dica Extra: A famosa “linha do leite” no grão não tem uma correlação precisa com o teor de matéria seca da planta inteira. Usar apenas esse critério pode levar a erros. A melhor forma de acertar o ponto é medir a matéria seca. Com ela, não tem erro!
3. Regule Corretamente as Máquinas
Uma regulagem inadequada da colheitadeira pode causar perdas significativas de grãos ou comprometer a qualidade da silagem.
Para Grãos
Ajuste a máquina de acordo com as condições da lavoura e a umidade dos grãos.
- Velocidade do cilindro e espaçamento do côncavo: Devem ser regulados para evitar quebra de grãos e perdas na plataforma.
- Recomendação: Danos e perdas geralmente são menores quando se trabalha com rotações mais baixas e com a umidade dos grãos abaixo de
16%
.
Para Silagem
O tamanho da partícula é fundamental e depende da máquina utilizada e da categoria animal que será alimentada.
- Tamanho médio recomendado:
- Para máquinas acopladas ao trator: partículas próximas a
10 mm
. - Para máquinas automotrizes (autopropelidas): partículas de até
17 mm
.
- Para máquinas acopladas ao trator: partículas próximas a
Conclusão
Neste artigo, vimos os principais fatores que influenciam a colheita do milho safrinha e o mercado. Ficou claro que o planejamento do ano-safra é fundamental, pois qualquer atraso na semeadura da soja impacta diretamente os riscos e a produtividade do milho.
Os principais pontos a serem lembrados são:
- A semeadura da safrinha fora da janela recomendada pelo Zarc e as condições climáticas desfavoráveis criaram um cenário de incerteza para a produção deste ano.
- Essa incerteza sobre a oferta de milho fez o mercado ficar receoso, resultando em preços elevados e recordes.
- Para garantir uma boa colheita, é essencial focar no planejamento, colher no momento certo para cada finalidade (grãos ou silagem) e regular as máquinas com precisão para evitar perdas.
Glossário
Conab (Companhia Nacional de Abastecimento): Órgão do governo federal responsável por gerar e divulgar dados sobre a produção agrícola brasileira, como estimativas de safra, preços e estoques. Suas informações são referências para o mercado.
Entressafra: Período entre o fim da colheita de uma safra e o início do plantio da safra seguinte. É um momento estratégico para o produtor realizar o planejamento, a manutenção de máquinas e a negociação de insumos.
Janela de Plantio: Período de tempo ideal para a semeadura de uma cultura, definido com base em fatores climáticos como chuva e temperatura. Plantar dentro da janela minimiza os riscos climáticos e aumenta o potencial produtivo da lavoura.
Maturidade Fisiológica (R6): Estágio final do desenvolvimento do grão, quando ele atinge o máximo de peso seco e para de acumular nutrientes. É o ponto ideal para a colheita de grãos, identificado pela formação de um “ponto preto” na base do grão.
Matéria Seca (MS): Percentual de um alimento, como a planta de milho, que não é composto por água. Na produção de silagem, o teor de MS (ideal entre 30-35%) é o principal indicador para o momento certo da colheita, garantindo a qualidade da fermentação.
Mercado Spot: Modalidade de negociação para entrega e pagamento imediatos de um produto, como o milho. Contrapõe-se ao mercado futuro, no qual os contratos são negociados para liquidação em uma data posterior.
Milho Safrinha: Também conhecida como segunda safra, é a cultura de milho plantada logo após a colheita da safra de verão, geralmente a soja. Apesar do nome, hoje representa a maior parte da produção de milho no Brasil.
Zarc (Zoneamento Agrícola de Risco Climático): Ferramenta do governo que indica as melhores épocas e regiões para o plantio de cada cultura, com base em análises históricas de clima e solo. Seguir o Zarc reduz os riscos de perdas e é, muitas vezes, uma exigência para acessar o seguro agrícola.
Veja como o Aegro pode ajudar a superar esses desafios
Gerenciar os riscos de uma safrinha plantada fora da janela ideal e, ao mesmo tempo, aproveitar a alta dos preços exige um controle preciso. Um software de gestão agrícola como o Aegro centraliza o planejamento das atividades e os custos de produção em um só lugar. Isso permite que o produtor acompanhe o desempenho da lavoura em tempo real e tenha dados claros para decidir o melhor momento de vender a safra, transformando a incerteza do mercado em oportunidade de lucro.
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Perguntas Frequentes
Por que o milho safrinha é chamado assim se hoje é a principal safra do Brasil?
O nome ‘safrinha’ é histórico e remete a uma época em que essa segunda safra era vista como secundária e de menor investimento. Com a evolução da tecnologia e a consolidação do sistema soja-milho, ela superou a primeira safra em volume e importância, tornando-se a principal do país, mas o nome tradicional permaneceu.
Quais são os principais riscos de plantar o milho safrinha fora da janela ideal do Zarc?
Plantar fora da janela recomendada pelo Zarc (Zoneamento Agrícola de Risco Climático) expõe a lavoura a maiores riscos climáticos. Os principais perigos são a falta de chuvas durante a fase de enchimento de grãos e a maior probabilidade de geadas, fatores que podem comprometer severamente a produtividade e a rentabilidade da safra.
A tendência é que os preços do milho continuem altos?
Sim, a expectativa do mercado é que os preços permaneçam valorizados. Isso se deve a uma combinação de fatores: a forte demanda mundial por grãos, a alta do dólar que favorece a exportação e as incertezas sobre a produtividade da safrinha atual devido às condições climáticas adversas.
Qual a diferença fundamental entre o ponto de colheita do milho para grãos e para silagem?
A diferença está no objetivo. Para grãos, colhe-se no ponto de maturidade fisiológica (R6), quando o grão atinge o máximo de matéria seca. Já para silagem, colhe-se a planta inteira quando ela atinge o teor de matéria seca ideal, entre 30% e 35%, garantindo a melhor qualidade de fermentação e valor nutritivo.
Como o atraso na colheita da soja afeta diretamente o milho safrinha?
O atraso na soja causa um efeito cascata, empurrando a semeadura do milho safrinha para fora da sua janela de plantio ideal. Isso aumenta a exposição do milho a condições climáticas desfavoráveis, como a estiagem no final do ciclo, elevando o risco de perdas de produtividade.
É possível colher milho para grãos com umidade acima de 13%?
Sim, é possível, especialmente para produtores que possuem secadores na propriedade. Colher com umidade mais alta (até 16-18%) pode ampliar a janela de colheita, mas exige uma operação de secagem posterior para garantir que os grãos atinjam os 13% de umidade ideais para o armazenamento seguro e sem perdas.
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