Existem diversas cultivares de feijão, e cada região do país tem sua preferência na hora de acompanhar o arroz. Mas, independentemente de como ele é servido, uma coisa é certa: o sucesso da lavoura depende de uma colheita bem-feita.
Para o grão chegar com qualidade à mesa do brasileiro, a colheita do feijão é um ponto crítico. Ela representa um custo significativo e um desafio de eficiência, principalmente porque certas características da própria planta podem complicar o processo.
Neste artigo, separamos algumas dicas e pontos de atenção para você tornar a colheita do feijão mais eficiente, reduzindo perdas e aumentando a lucratividade. Confira!
Entendendo a Planta de Feijão e os Tipos de Colheita
A colheita de feijão pode ser realizada de três maneiras principais, cada uma com um nível diferente de tecnologia e custo:
- Colheita Manual: Todo o processo, desde o arranquio das plantas até a trilha (separação dos grãos) e abanação (limpeza), é feito à mão. É um método de baixo rendimento e alto custo de mão de obra.
- Sistema Semimecanizado: Este é o método mais comum no Brasil. O arranquio das plantas é manual, mas a trilha e a abanação são feitas por máquinas.
- Colheita Mecanizada: Todas as etapas do processo são realizadas por máquinas, oferecendo a maior eficiência.
Nosso foco aqui será na colheita mecanizada, pois ela representa a solução mais eficiente diante da crescente dificuldade de encontrar mão de obra para as operações manuais.
Colheita Mecanizada: Direta vs. Indireta
Dentro da colheita mecanizada, existem duas abordagens:
- Colheita Indireta: Utiliza duas operações distintas. Primeiro, uma máquina realiza o arranquio e o enleiramento (juntar as plantas em fileiras). Depois, outra máquina passa recolhendo, trilhando, limpando e ensacando os grãos.
- Colheita Direta: Todas as operações são feitas por uma única máquina em uma só passada, de forma semelhante ao que acontece com a soja e o milho.
Apesar de mais eficiente, algumas características da planta de feijão dificultam a adoção da colheita direta. Além disso, o terreno precisa ser bem regularizado para evitar que a máquina “colha” terra junto com os grãos, o que comprometeria a qualidade do produto final.
3 Dicas Práticas para uma Colheita de Feijão Mais Eficiente
1. O Momento Certo da Colheita: Precisão é Lucro
Colher no tempo exato é fundamental para garantir a qualidade e evitar perdas.
O momento ideal para a colheita do feijão é logo após a maturidade fisiológica: que é o ponto em que o grão atinge seu peso seco máximo, parando de receber nutrientes da planta. Tecnicamente, isso corresponde ao estádio R9, a fase final do desenvolvimento, como mostra a imagem abaixo.
Na prática, um indicador claro é a mudança de cor das vagens, que passam do verde para uma “cor de palha” seca.
Fenologia do feijoeiro. O estádio R9 indica o ponto ideal para a colheita.
(Fonte: Coopertradição)
Para quem produz sementes, este é o ponto de máxima qualidade, com o maior potencial de vigor e germinação.
Atrasar a colheita aumenta os riscos de perdas por degrana (grãos que caem no chão), piora da qualidade e ataque de pragas de armazenamento, como o caruncho.
A umidade ideal dos grãos para a colheita mecânica é de aproximadamente 15%
. Colher com umidade muito acima disso pode amassar os grãos, enquanto uma umidade muito baixa aumenta a quebra durante o processo.
Para garantir que as plantas cheguem a esse ponto de maneira uniforme, o uso de dessecantes (produtos que aceleram a secagem da planta) é uma estratégia eficaz. Isso também ajuda a controlar as plantas daninhas que podem infestar a área e atrapalhar as máquinas. Outra opção é escolher cultivares de maturação mais uniforme já no plantio.
Fique atento ao clima. Chuvas em excesso perto da colheita não só dificultam a entrada do maquinário na lavoura, mas também podem fazer com que os grãos comecem a germinar dentro da própria vagem.
2. Maquinário: A Ferramenta Certa para o Trabalho
No mercado, existem máquinas tanto para a colheita direta quanto para a indireta. Como a colheita direta ainda é um desafio para a cultura do feijão, a maior parte das opções disponíveis é para a colheita indireta.
O grande benefício da colheita direta é a redução de custos e tempo, já que uma única operação mecânica resolve todo o processo, assim como na soja e no milho.
Esquerda: Ceifadora e enleiradora. Direita: Recolhedora trilhadora para colheita indireta.
(Fonte: Miac)
Colhedora projetada para colheita direta de feijão.
(Fonte: Miack)
Para a colheita direta ser viável, é fundamental escolher cultivares que se adaptem a esse sistema, como veremos a seguir.
Para saber mais sobre o assunto, confira nosso artigo: “Como escolher a colheitadeira ideal para a sua lavoura”.
A Manutenção Preventiva é Indispensável
Uma colheita de sucesso começa com um maquinário bem regulado e com a manutenção em dia. A melhor forma de garantir o bom funcionamento é com revisões constantes e preventivas.
Não deixe para consertar peças ou fazer ajustes na véspera da colheita. Um imprevisto nessa hora pode custar caro e atrasar toda a operação.
A rotina na fazenda é corrida, mas é preciso organizar o planejamento para cuidar do maquinário. A entressafra é o período ideal para isso, pois há mais tempo disponível para essas atividades. Chegar à época de plantio e colheita com tudo preparado faz toda a diferença.
3. A Escolha da Cultivar: O Ponto de Partida para o Sucesso
Para viabilizar a colheita mecanizada, especialmente a direta, é preciso pensar na arquitetura da planta, ou seja, seu formato e modo de crescimento.
Plantas com hábito de crescimento prostrado (que se espalham pelo chão) e com vagens muito próximas ao solo tornam a colheita direta praticamente impossível, exigindo as duas operações do método indireto.
Para uma colheita mecanizada eficiente, priorize cultivares com as seguintes características:
- Altura de inserção da primeira vagem mais elevada em relação ao solo.
- Maturação uniforme em toda a lavoura.
- Porte ereto e menos ramificado.
Essas características reduzem perdas de grãos e garantem maior qualidade no produto final. A Embrapa Arroz e Feijão fornece catálogos detalhados com essas informações, além de dados sobre potencial produtivo, ciclo e resistência a doenças, como o exemplo abaixo.
Descrição técnica de uma cultivar de feijão, indicando sua aptidão para cada tipo de colheita.
(Fonte: Embrapa Arroz e Feijão)
Portanto, analisar a arquitetura da planta na hora de escolher a cultivar é um passo fundamental para obter melhores resultados com a colheita mecanizada, principalmente se o seu objetivo é realizá-la em uma única operação.
Conclusão
Como vimos, a colheita do feijão é um dos principais gargalos do sistema de produção. A morfologia da própria planta, com vagens próximas ao solo e maturação desuniforme, dificulta a mecanização e abre portas para perdas de grãos e de qualidade.
A escolha entre a colheita mecanizada direta ou indireta depende muito dessa realidade.
Para alcançar os melhores resultados, o produtor precisa integrar três fatores-chave:
- Escolher a cultivar adequada para o sistema mecanizado.
- Colher no ponto certo, com a umidade correta e em condições climáticas favoráveis.
- Utilizar um maquinário bem regulado e com a manutenção em dia.
Dominar esses três pilares é o caminho para uma colheita de feijão mais eficiente e, consequentemente, mais lucrativa.
Glossário
Arquitetura da planta: Refere-se à estrutura e formato da planta, incluindo a altura, o tipo de crescimento (ereto ou espalhado) e a posição das vagens. Uma arquitetura com porte ereto e vagens mais altas facilita a colheita mecanizada direta.
Cultivar: Uma variedade de planta que foi melhorada geneticamente para apresentar características específicas, como maior produtividade ou porte ereto. A escolha da cultivar certa é o primeiro passo para uma colheita mecanizada eficiente.
Degrana: Perda de grãos que ocorre quando as vagens se abrem e os grãos caem no solo antes ou durante a colheita. Atrasar a colheita aumenta o risco de degrana, especialmente em condições de baixa umidade.
Dessecantes: Produtos químicos (herbicidas) aplicados na lavoura para acelerar e uniformizar a secagem (maturação) das plantas. Seu uso facilita a programação da colheita mecanizada e ajuda a controlar plantas daninhas no final do ciclo.
Enleiramento: Operação mecanizada que arranca e agrupa as plantas de feijão em fileiras (leiras) para que sequem no campo. É a primeira etapa da colheita mecanizada indireta, realizada antes da máquina recolhedora passar.
Estádio R9: Termo técnico que identifica a fase final de desenvolvimento do feijoeiro, correspondendo à maturidade fisiológica. Neste ponto, as vagens perdem a cor verde e os grãos atingem seu peso seco máximo.
Maturidade fisiológica: Ponto no ciclo da cultura em que o grão atinge seu máximo acúmulo de matéria seca e, portanto, seu maior potencial de qualidade e produtividade. É o momento em que o grão para de receber nutrientes da planta.
Trilha: Processo mecânico ou manual de separar os grãos das vagens e do resto da planta. Nas colheitadeiras, esta etapa é realizada por sistemas internos de cilindros e côncavos.
Veja como o Aegro pode ajudar a superar esses desafios
A colheita do feijão, como vimos, envolve desafios que vão desde o controle de custos até a gestão do maquinário para evitar paradas inesperadas. Manter tudo organizado no papel ou em planilhas separadas pode ser complicado. Um software de gestão agrícola como o Aegro centraliza essas informações, permitindo um acompanhamento preciso dos custos operacionais e ajudando a identificar onde é possível economizar. Além disso, a plataforma facilita a gestão da manutenção preventiva, com registros do histórico de cada máquina e alertas automáticos para as próximas revisões, garantindo que seu equipamento esteja sempre pronto para o trabalho.
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Perguntas Frequentes
Qual é a principal diferença entre a colheita mecanizada direta e a indireta de feijão?
A colheita indireta é feita em duas etapas: uma máquina arranca e enleira as plantas e, depois, outra recolhe e trilha. Já a colheita direta, mais eficiente, realiza todo o processo em uma única passagem. A colheita direta exige cultivares de porte ereto e terreno regular, mas em troca oferece grande economia de tempo e custos operacionais.
Quais os riscos de colher feijão com a umidade dos grãos fora da faixa ideal de 15%?
Colher com umidade muito acima de 15% pode causar amassamento e danos mecânicos aos grãos, além de dificultar o processo de armazenamento. Por outro lado, colher com umidade muito baixa aumenta drasticamente a quebra, a degrana (perda de grãos no campo) e o percentual de grãos partidos durante a trilha, resultando em perdas significativas de produtividade.
O uso de dessecantes é sempre necessário para a colheita mecanizada do feijão?
Não é obrigatório, mas é uma estratégia altamente recomendada para garantir o sucesso da operação. Os dessecantes promovem uma secagem rápida e uniforme da lavoura, o que antecipa a colheita, facilita o trabalho da máquina e ajuda no controle de plantas daninhas tardias. A principal alternativa é o planejamento com cultivares de maturação naturalmente uniforme.
Por que a escolha da cultivar é tão crucial para o sucesso da colheita mecanizada?
A cultivar define a arquitetura da planta, que é um fator decisivo para a eficiência da máquina. Para a colheita mecanizada, especialmente a direta, é essencial escolher variedades com porte ereto, alta inserção da primeira vagem e maturação uniforme. Plantas que se espalham pelo chão (prostradas) ou com vagens muito baixas causam perdas enormes, pois a plataforma de corte não consegue recolhê-las.
É possível adaptar uma colheitadeira de soja para realizar a colheita de feijão?
Sim, é comum adaptar colheitadeiras de soja, mas são necessários ajustes cuidadosos. Recomenda-se o uso de plataformas de corte flexíveis (tipo draper), além da redução da velocidade de deslocamento e da rotação do cilindro. O feijão é um grão mais sensível que a soja, e uma regulagem inadequada pode causar uma alta porcentagem de quebra.
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