O trigo é um dos cereais mais cultivados e consumidos no mundo, sendo a base da alimentação de uma grande parte da população global. A produção mundial na safra 2019/20 alcançou a marca de 764,3 milhões de toneladas, mostrando um crescimento contínuo e destacando sua imensa importância econômica.
No entanto, o Brasil enfrenta um desafio particular: nosso consumo anual, que fica entre 10 a 12 milhões de toneladas, é maior que a nossa produção. Mesmo com uma safra de 10,55 milhões de toneladas em 2022, cultivada em 3,086 milhões de hectares, ainda dependemos da importação para abastecer o mercado interno.
Neste artigo, vamos analisar em detalhes o cenário atual da colheita de trigo no país, os impactos das condições climáticas e as projeções de produção para cada estado.
O Panorama do Trigo no Brasil e no Mundo
Globalmente, o trigo ocupa o posto de terceiro cereal mais cultivado, ficando atrás apenas do arroz e do milho. Sua capacidade de adaptação a diferentes climas e solos resulta em uma grande variedade de tipos, como o trigo de inverno e o trigo de primavera. Além disso, o grão é classificado pelo seu teor de glúten, a principal proteína que define sua finalidade industrial.
Essa diversidade é fundamental para sua importância econômica. Contudo, para o Brasil, a balança entre produção e consumo ainda é um ponto de atenção. A produtividade média de 3.420 kg por hectare em 2022 mostra o potencial do campo, mas também a necessidade de superar desafios para alcançar a autossuficiência.
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Como o Clima Recente Afetou a Colheita de Trigo no Brasil?
Nas primeiras semanas de setembro, o cenário climático no Brasil foi de extremos. Um clima quente e seco dominou a maior parte do país, elevando o risco de queimadas, especialmente em Mato Grosso e no Pará.
Por outro lado, as chuvas mais fortes se concentraram em outras áreas, trazendo diferentes impactos:
- No Noroeste do Amazonas e em Roraima: As chuvas foram volumosas.
- Na Região Sul: As precipitações beneficiaram diretamente as culturas de inverno, como o trigo. Além disso, ajudaram na semeadura do feijão e do milho de primeira safra, e também no início do plantio da soja.
Apesar das boas notícias no Sul, as chuvas não foram suficientes para reverter os efeitos da seca e do calor intenso em algumas lavouras de trigo, principalmente no Oeste e Norte do Paraná, que estavam na fase crucial de enchimento de grãos.
Na região Centro-Oeste, a umidade do solo continuou baixa, o que restringiu a semeadura apenas às áreas que contam com irrigação.
Uma análise espectral, que mede a saúde das plantas, indicou um atraso no desenvolvimento inicial das lavouras de inverno no Sudoeste do Paraná, em Santa Catarina e no Rio Grande do Sul. No entanto, dados mais recentes mostram uma condição geral favorável para a safra atual. O índice de vegetação (IV), que indica a saúde da lavoura, está próximo ou acima da média em comparação com a safra anterior.
Análise da Produção de Trigo por Estado Brasileiro
Segundo o relatório World Agricultural Production (WAP) de outubro, divulgado pelo Departamento de Agricultura dos EUA (USDA), a produção de trigo no Brasil para a safra 2024/25 deve chegar a 9 milhões de toneladas. Este número representa uma queda de 5% em relação à previsão anterior, mas ainda é 11% maior que a produção do ciclo passado e 19% acima da média dos últimos cinco anos.
Vamos ver os detalhes:
- Área colhida: Estimada em 3 milhões de hectares, uma redução de 14% em relação ao mês anterior e ao mesmo período do ano passado, mas ainda 10% acima da média histórica.
- Rendimento médio: Previsto em 3 toneladas por hectare, um aumento de 11% sobre a previsão anterior e 29% acima do ano passado.
Após uma safra complicada em 2023, afetada por chuvas excessivas no Rio Grande do Sul, o trigo brasileiro mostra sinais de recuperação. A seguir, um panorama da produção nos principais estados.
1. Rio Grande do Sul
As chuvas na terceira semana de setembro melhoraram a umidade do solo nas regiões Noroeste, Missões e Fronteira Oeste, o que favoreceu o desenvolvimento das lavouras. Embora tenham surgido casos pontuais de doenças fúngicas: causadas por fungos que atacam as plantas, os tratamentos fitossanitários (controle de pragas e doenças) foram mais eficazes graças ao aumento da luz solar.
2. Goiás
As lavouras irrigadas na região Leste estão na fase final da colheita de trigo. Os resultados são positivos, com grãos de boa qualidade e um rendimento considerado satisfatório.
3. Minas Gerais
A colheita de trigo foi finalizada com excelentes produtividades e alta qualidade nas áreas irrigadas. O estado produziu cerca de 420 mil toneladas, um resultado que contribui significativamente para o aumento da produtividade na região.
4. Mato Grosso do Sul
A colheita também foi concluída no estado. No entanto, as produtividades foram negativamente impactadas por um período de seca prolongada, que prejudicou a fase de enchimento dos grãos. Essa condição climática adversa resultou em um rendimento por hectare menor do que o esperado.
5. Bahia
O tempo seco e firme favoreceu a colheita de trigo, que já alcançou 70% da área total. As boas condições climáticas ajudaram a reduzir a incidência de doenças e facilitaram o manejo na etapa final do ciclo. Apesar de algumas áreas terem recebido pouca chuva, o que afetou a produtividade média, o estado demonstra grande potencial para expandir sua área cultivada no futuro.
6. Paraná
A colheita atingiu 35% da área plantada. Contudo, a falta de chuvas e as altas temperaturas impactaram o potencial produtivo de parte das lavouras. Essas condições prejudicaram o desenvolvimento das plantas, levando a um rendimento abaixo do esperado em certas áreas do estado.
7. Santa Catarina
O baixo volume de chuvas no início do mês prejudicou a qualidade das lavouras, criando um ambiente favorável para o surgimento de doenças e dificultando os tratos culturais: práticas de manejo da lavoura, como adubação e controle de pragas. Mesmo assim, a alta radiação solar e as chuvas mais recentes trouxeram uma melhora, com algumas lavouras já iniciando o enchimento dos grãos.
Qual o Clima Ideal para o Cultivo de Trigo e Como Superar os Desafios?
A instabilidade climática é um dos maiores desafios para a triticultura. Em anos de fenômenos como o El Niño, o excesso de chuvas e o aumento das temperaturas podem impactar negativamente o desenvolvimento das lavouras. Durante a primavera, o aumento da nebulosidade reduz a radiação solar disponível, o que afeta diretamente o enchimento dos grãos e, consequentemente, diminui a produtividade.
No Sul do Brasil, principal região produtora, é comum que as chuvas superem os níveis históricos, alterando as condições ideais para a cultura. Apesar dessas dificuldades, algumas regiões do país se destacam com produtividades impressionantes:
- Guarapuava (PR): Produção de
7.028 kg/ha
- Coxilha (RS): Registrou
6.589 kg/ha
- Vacaria (RS): Obteve
6.347 kg/ha
Um aumento de 20% a 30% na produtividade média nacional poderia transformar o Brasil de importador em exportador de trigo. Para alcançar essa meta, é fundamental investir em pesquisa, no desenvolvimento de variedades mais resistentes e em técnicas de cultivo aprimoradas para mitigar os impactos do clima.
Além disso, o uso de ferramentas que oferecem previsão do tempo precisa e controle detalhado da produtividade faz toda a diferença no manejo.
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Glossário
Doenças fúngicas: Enfermidades causadas por fungos que atacam as plantas, como a ferrugem e o oídio. O excesso de umidade e o calor podem favorecer sua proliferação, exigindo tratamentos para proteger a lavoura.
Enchimento de grãos: Fase final do ciclo da cultura, na qual os nutrientes são movidos para dentro do grão, determinando seu peso e qualidade final. Estresse hídrico ou calor excessivo nesta etapa impactam diretamente a produtividade.
Índice de Vegetação (IV): Indicador obtido por meio de sensores ou imagens de satélite que mede a saúde e o vigor de uma lavoura. Valores altos de IV geralmente representam plantas bem desenvolvidas e com bom potencial produtivo.
Produtividade (kg/ha): Medida que indica a quantidade de grãos, em quilogramas (kg), colhida por cada hectare (ha) plantado. Um hectare equivale a 10.000 metros quadrados, aproximadamente o tamanho de um campo de futebol oficial.
Tratamentos fitossanitários: Conjunto de medidas aplicadas para proteger as plantas contra pragas, doenças e plantas daninhas. Inclui a aplicação de defensivos agrícolas para garantir a saúde e o potencial produtivo da cultura.
Tratos culturais: Todas as práticas de manejo realizadas na lavoura durante seu ciclo de vida. Exemplos incluem adubação, controle de plantas invasoras e monitoramento de pragas e doenças.
USDA (Departamento de Agricultura dos EUA): Sigla para United States Department of Agriculture. É o órgão governamental dos Estados Unidos que monitora e divulga relatórios sobre a produção agrícola mundial, sendo uma referência para o agronegócio global.
Veja como o Aegro pode ajudar a superar esses desafios
O artigo mostra como a instabilidade climática e a incidência de doenças fúngicas são os principais obstáculos para uma colheita de trigo mais produtiva. Para superar esses desafios, é fundamental ter um controle rigoroso das operações.
Um software de gestão agrícola como o Aegro permite planejar e registrar todos os tratos culturais, desde a semeadura até as aplicações de defensivos. Esse histórico detalhado ajuda o produtor a analisar a eficiência de cada manejo e a tomar decisões baseadas em dados para otimizar a produtividade e proteger a lavoura, mesmo em safras climaticamente adversas.
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Perguntas Frequentes
Por que o Brasil ainda precisa importar trigo se a produção nacional é tão grande?
Apesar de o Brasil produzir mais de 10 milhões de toneladas, nosso consumo interno é ainda maior, variando entre 10 e 12 milhões de toneladas anualmente. Essa diferença entre o que produzimos e o que consumimos cria uma necessidade de importação para abastecer completamente o mercado nacional e a indústria de panificação.
Quais são os principais desafios climáticos que afetam a colheita de trigo no Brasil?
Os principais desafios são os extremos climáticos. O excesso de chuvas, especialmente na Região Sul, aumenta a incidência de doenças fúngicas e dificulta a colheita. Por outro lado, a seca e o calor intenso, vistos no Paraná e Mato Grosso do Sul, prejudicam a fase crítica de enchimento dos grãos, reduzindo drasticamente a produtividade.
O que significa a fase de ’enchimento de grãos’ e por que ela é tão importante?
O enchimento de grãos é a etapa final do ciclo do trigo, quando a planta transfere os nutrientes para formar o grão, definindo seu peso e qualidade. Qualquer estresse nesse período, como falta de água ou calor excessivo, impacta diretamente o rendimento final da lavoura, resultando em grãos mais leves e menor produtividade por hectare.
É possível cultivar trigo com alta produtividade em regiões fora do Sul do Brasil?
Sim, é totalmente possível. Estados como Goiás e Minas Gerais demonstram excelentes resultados em áreas irrigadas, com produtividades altas e grãos de ótima qualidade. O sucesso nessas regiões depende do uso de irrigação para contornar a falta de chuvas e de um manejo adequado para as condições climáticas locais.
Como o produtor pode se proteger contra perdas causadas por doenças fúngicas no trigo?
Para se proteger, o produtor deve adotar um manejo integrado. Isso inclui o uso de variedades de trigo mais resistentes a doenças, o monitoramento constante da lavoura e das condições climáticas, e a aplicação de tratamentos fitossanitários (fungicidas) de forma preventiva e no momento correto para evitar que a doença se espalhe e comprometa a produção.
O que é preciso para o Brasil se tornar autossuficiente na produção de trigo?
Para alcançar a autossuficiência, o Brasil precisa aumentar sua produtividade média em cerca de 20% a 30%. Isso pode ser alcançado através do investimento em pesquisa para desenvolver variedades mais produtivas e adaptadas, da expansão para novas áreas com potencial, como na Bahia, e da adoção de tecnologias e softwares de gestão agrícola para otimizar o manejo e reduzir perdas.
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