A colheita de soja da safra 2018/19 no Brasil está bem adiantada em comparação com anos anteriores. Mesmo com as chuvas recentes em várias regiões do país, o ritmo acelerado se mantém, com algumas áreas já superando 80% do total colhido.
Contudo, este cenário de colheita rápida contrasta com as novas projeções da Conab (Companhia Nacional de Abastecimento), que reduziu pela segunda vez as estimativas de produção para este ano.
Neste artigo, vamos detalhar o andamento da colheita, as expectativas de produção e como esses fatores podem influenciar suas decisões de comercialização. Use estas informações para ajustar ou confirmar suas estratégias de venda.
Ritmo Acelerado: Como Anda a Colheita da Soja 2019 no Brasil?
O ritmo da colheita da soja em 2019 está notavelmente mais rápido que o normal. Segundo a consultoria AgRural, até fevereiro, cerca de 45% da área cultivada no país já havia sido colhida.
Para se ter uma ideia, essa velocidade representa uma grande antecipação:
- Em 2018: neste mesmo período, os trabalhos de campo estavam em 25%.
- Média dos últimos 5 anos: a média para esta época é de 27%.
De modo geral, as regiões Sul, Centro-Oeste e Sudeste conseguiram manter um bom avanço na colheita, apesar de algumas chuvas.
O estado do Paraná, por exemplo, já havia colhido 51% de sua área até o final de fevereiro, segundo dados do Deral. No entanto, o Mato Grosso se destaca na liderança, com impressionantes 80% da área colhida, de acordo com o Imea. Em municípios como Lucas do Rio Verde/MT, a colheita já foi finalizada, alcançando uma produtividade entre 56 e 57 sacas por hectare.
(Fonte: Foto Jonas Oliveira em O Presente)
Por que a colheita está tão adiantada?
A principal razão para essa antecipação foi o plantio adiantado. Muitos produtores aproveitaram as ótimas condições climáticas no início da safra para plantar mais cedo, também visando garantir uma boa janela para a safrinha do milho.
O Impacto nos Preços e na Sua Estratégia de Venda
Produtores que apostaram na colheita antecipada esperando preços mais altos acabaram se decepcionando. O grande volume de grãos entrando no mercado de uma só vez, somado ao impasse comercial entre China e Estados Unidos, não favoreceu uma valorização dos preços inicialmente.
Contudo, como veremos mais adiante, o mercado começou a dar sinais de aquecimento nas últimas semanas. Diante disso, é fundamental que você, produtor, considere suas opções:
- Armazenamento de grãos: Guardar a produção para vender em momentos mais favoráveis pode ser uma excelente estratégia.
- Mercado futuro: Travar preços para entrega futura é outra ferramenta para garantir sua rentabilidade.
- Vendas escalonadas: Dividir a venda da sua safra em lotes ao longo do tempo pode ajudar a capturar melhores preços médios.
Analise cuidadosamente essas possibilidades, considerando a saúde financeira da sua empresa rural, especialmente seu capital de giro e fluxo de caixa, para tomar a decisão mais acertada.
Menos Grãos na Sacaria: As Novas Estimativas de Produção
A projeção mais recente da Conab para a safra de soja 2018/19 aponta para uma produção total de 115,34 milhões de toneladas.
Este número representa uma queda de 3,3% em relação ao recorde da safra anterior, que foi de 119,3 milhões de toneladas. A principal causa para essa redução foi o clima: o tempo quente e seco que atingiu os principais estados produtores desde o final de 2018 impactou o potencial produtivo das lavouras.
Isso é uma reviravolta, pois no início da safra as perspectivas eram excelentes, com boas chuvas que permitiram o plantio antecipado.
Segundo a Conab, os estados mais afetados pela estiagem foram o Paraná e o Mato Grosso do Sul, com perdas de produtividade que ultrapassam os 10%.
(Fonte: Foto de Cely Trevisan/ Prefeitura de Gaúcha do Norte-MT em Canal Rural)
No Mato Grosso, o maior produtor do país, também há relatos de preocupação. Já no Rio Grande do Sul, as perdas foram causadas pelo excesso de chuvas.
Apesar da quebra de safra, o fato de a colheita estar adiantada permitiu que, no acumulado do ano, o Brasil atingisse um recorde de exportação de soja, mantendo sua competitividade no mercado global por enquanto.
Cenário de Exportação: O Que Esperar do Mercado Externo?
O Brasil se consolidou como o maior exportador mundial de soja. No entanto, com uma safra menor, as projeções de exportação também foram ajustadas para baixo, de acordo com a consultoria Datagro.
- Vendas externas estimadas:
71,5 milhões de toneladas, uma queda significativa em relação ao recorde de 83,6 milhões de toneladas do ciclo anterior. - Embarques totais (complexo soja): A previsão é de
83,95 milhões de toneladas, uma redução de 18% em comparação com as 102,17 milhões de toneladas de 2018.
(Fonte: Abiove em Valor Econômico)
Com um volume menor para exportar, o faturamento também deve cair. A estimativa para 2019 é de US$ 31,15 bilhões, uma queda brusca de 24% em relação à receita de US$ 41,04 bilhões obtida em 2018.
Além da safra menor, o mercado internacional não aponta para preços favoráveis. A Datagro projeta um valor médio de US$ 370 por tonelada, abaixo dos US$ 387 registrados em 2018.
Fique atento ao câmbio. Apesar de o dólar ter subido nos últimos dias de fevereiro, negociações baseadas na moeda americana exigem atenção redobrada, pois elas impactam diretamente a sua rentabilidade.
Mercado Aquecido: Oportunidades de Negociação Apesar do Cenário
Apesar das estimativas de produção e exportação mais baixas, o mercado brasileiro de soja tem mostrado mais movimento recentemente. Esse aquecimento é impulsionado pelo aumento das exportações no porto de Paranaguá (PR).
De acordo com o Cepea, essa valorização está ligada à alta dos contratos futuros na Bolsa de Chicago (CME Group). Os principais motivos para essa alta são:
- Estimativas de uma menor área plantada com soja nos Estados Unidos na safra 2019/20.
- Expectativas de um acordo comercial entre os EUA e a China ser fechado em breve.
Esses fatores recentes estão elevando o otimismo dos produtores. Já se observa uma maior efetivação de negócios com entrega programada a partir de abril, com volumes maiores concentrados em junho e julho.
No entanto, alguns consultores, como Liones Severo, acreditam que os negócios entre Brasil e China continuarão fortes independentemente da guerra comercial, principalmente porque a soja brasileira ainda é a mais barata do mercado.
Para referência de preços:
- O Indicador ESALQ/BM&F Bovespa da soja Paranaguá (PR) está em torno de R$ 78,00 por saca de 60 kg nesta semana.
- O Indicador CEPEA/ESALQ Paraná está em cerca de R$ 73,40 por saca de 60 kg.
Você pode acompanhar os indicadores atualizados diariamente neste link do Cepea.
Conclusão
O cenário da soja 2019 tem dois lados: por um lado, a produção total será menor, mas por outro, o mercado dá sinais de aquecimento, com negociações mais ativas nas últimas semanas.
Para você, produtor, este é o momento de agir com estratégia. Tenha clareza sobre suas opções de comercialização e defina um plano que seja coerente com a realidade da sua fazenda.
Antes de decidir, analise sua gestão de custos e a saúde financeira do seu negócio. Avalie se o armazenamento de grãos é uma opção viável para você e tome a decisão que trará os melhores resultados para sua empresa rural.
Glossário
Bolsa de Chicago (CME Group): Principal mercado financeiro global para negociação de commodities agrícolas, como a soja. Os preços definidos em seus contratos futuros servem como referência para o mercado mundial, influenciando diretamente os valores pagos aos produtores no Brasil.
Complexo Soja: Conjunto de produtos exportados que são derivados do grão de soja. Engloba não apenas a soja em grão, mas também seus subprodutos processados, como o farelo (usado em ração animal) e o óleo de soja.
Conab (Companhia Nacional de Abastecimento): Órgão do governo brasileiro responsável por coletar, analisar e divulgar dados oficiais sobre a agropecuária nacional. Suas projeções de safra são referências cruciais para o planejamento de produtores e para o mercado.
Indicador ESALQ/BM&F Bovespa: Referência de preço para a saca de 60kg de soja no mercado físico brasileiro, especificamente no porto de Paranaguá (PR). É calculado diariamente pelo Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada) da ESALQ/USP.
Mercado Futuro: Ambiente de negociação na bolsa de valores onde são firmados contratos de compra e venda de produtos, como a soja, para liquidação em uma data futura com um preço pré-definido. Funciona como uma ferramenta de proteção contra a oscilação de preços.
Produtividade (sacas/hectare): Medida padrão para avaliar o rendimento de uma lavoura. Expressa a quantidade de sacas de 60 kg de um determinado grão que foram colhidas em uma área de um hectare (equivalente a 10.000 m²).
Safrinha: Refere-se à segunda safra plantada em um mesmo ano agrícola, aproveitando o final do período chuvoso. No Brasil, o cultivo mais comum é o de milho “safrinha” logo após a colheita da soja da safra principal.
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Decidir o momento certo de vender a safra, especialmente em um cenário de preços volátil como o descrito, é um dos maiores desafios do produtor. A análise mencionada no artigo sobre gestão de custos e fluxo de caixa é fundamental, mas pode ser complexa de fazer manualmente. Um software de gestão agrícola como o Aegro simplifica esse processo, centralizando todos os custos da lavoura e calculando automaticamente o custo por saca produzida. Com essa informação precisa, você sabe exatamente a partir de qual preço sua operação dá lucro, permitindo negociar com mais segurança e aproveitar as melhores oportunidades do mercado.
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Perguntas Frequentes
Por que a colheita de soja de 2019 está tão adiantada, mas a produção total será menor?
A colheita foi adiantada devido ao plantio antecipado, que aproveitou as boas condições climáticas no início da safra, visando também a janela do milho safrinha. No entanto, a produção total diminuiu porque um período posterior de tempo quente e seco atingiu importantes estados produtores, como Paraná e Mato Grosso do Sul, prejudicando o desenvolvimento das lavouras e reduzindo a produtividade por hectare.
Se a safra de soja é menor, por que os preços não subiram desde o início da colheita?
O ritmo acelerado da colheita injetou um grande volume de soja no mercado de uma só vez, criando um excesso de oferta momentâneo. Essa pressão de venda, somada às incertezas do mercado internacional, como a disputa comercial entre EUA e China, impediu uma valorização imediata dos preços, mesmo com a projeção de uma safra menor.
O que está impulsionando a recente alta nos preços da soja no mercado brasileiro?
A recente valorização está ligada principalmente a fatores externos. A alta dos contratos futuros na Bolsa de Chicago, motivada por estimativas de menor área plantada nos EUA e pela expectativa de um acordo comercial entre EUA e China, está aquecendo o mercado e criando melhores oportunidades de negócio para o produtor brasileiro.
Quais são as principais estratégias de venda de soja recomendadas neste cenário?
O produtor pode considerar três abordagens principais: armazenar os grãos para vendê-los em um período mais favorável, usar o mercado futuro para fixar um preço de venda antecipadamente, ou realizar vendas escalonadas para diluir os riscos e buscar um preço médio melhor. A escolha ideal depende da análise de custos, capital de giro e capacidade de armazenamento da fazenda.
Como a disputa comercial entre EUA e China afeta diretamente o produtor de soja no Brasil?
A disputa impacta diretamente a demanda e os preços. Quando a China impõe tarifas sobre a soja americana, a demanda pelo grão brasileiro tende a aumentar, valorizando nosso produto. Por outro lado, qualquer sinal de um acordo entre os dois países pode reduzir essa vantagem e causar volatilidade nos preços, exigindo que o produtor brasileiro monitore o cenário internacional de perto para tomar as melhores decisões de venda.
Além do clima, qual foi outro motivo importante para o plantio antecipado da soja em 2018?
Além das boas condições climáticas iniciais, um fator estratégico para o plantio adiantado foi garantir uma boa janela de tempo para o cultivo da safrinha de milho. Ao colher a soja mais cedo, os produtores conseguem plantar o milho dentro do período ideal, o que aumenta o potencial produtivo da segunda safra e otimiza o uso da terra.
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