O Brasil lidera a produção e exportação mundial de cana-de-açúcar, um feito impressionante. No entanto, um dado preocupa produtores e gestores: mais de 10% do total produzido se perde durante a colheita mecanizada. Esse volume representa um prejuízo significativo que impacta diretamente a rentabilidade da lavoura.
Felizmente, é possível minimizar essas perdas com planejamento e tecnologia. Neste artigo, vamos detalhar estratégias práticas para otimizar o processo de colheita, reduzir desperdícios e garantir melhores resultados no seu canavial. Confira a seguir!
O Dilema da Colheita Mecanizada: Eficiência vs. Danos à Soqueira
Nos últimos anos, os sistemas de colheita de cana-de-açúcar evoluíram muito, migrando do corte manual para o mecanizado. A colheita mecanizada de cana crua (sem queima prévia) trouxe grandes benefícios, como a redução de custos e a manutenção da palha no solo, o que melhora a saúde do sistema produtivo.
A adoção dessa tecnologia foi rápida. Segundo o Centro de Tecnologia Canavieira (CTC), a mecanização na região centro-sul do Brasil saltou de 47% em 2008 para impressionantes 97% em 2015. Uma colhedora moderna pode alcançar uma produção média de 400 a 700 toneladas por máquina.
Apesar desses avanços, a mecanização trouxe um novo desafio. Como o gráfico abaixo demonstra, a transição para a colheita com máquinas coincidiu com uma redução na produtividade média dos canaviais. Isso ocorre principalmente pelos danos que a máquina causa à soqueira.
Soqueira: significa o conjunto de raízes e gemas que permanecem no solo após o corte da cana, permitindo a rebrota para a próxima safra. É a base da longevidade do seu canavial.
O corte impreciso e o pisoteio das linhas de cana pela máquina prejudicam a brotação, afetando a saúde da planta como um todo. O resultado direto é uma menor produtividade nos ciclos seguintes.
(Fonte: Novacana)
Portanto, o problema não está na máquina em si, mas na forma como a operação é conduzida. Com mais cuidado, atenção aos detalhes e ajustes operacionais, é possível aproveitar os benefícios da mecanização sem sacrificar a produtividade do canavial.
5 Dicas Práticas para Otimizar a Colheita de Cana
1. O Planejamento da Colheita Começa no Plantio
Uma colheita eficiente é resultado de um planejamento que começa muito antes da máquina entrar no campo. Vários fatores são decisivos para o sucesso da operação:
- Escolha da área: Avaliar as condições do terreno, como declividade e tipo de solo.
- Época de plantio e colheita: Definir um calendário que aproveite as melhores condições climáticas.
- Necessidades da cultura: A cana-de-açúcar exige alta disponibilidade de água, temperaturas elevadas e muita radiação solar para se desenvolver bem.
- Planejamento logístico: Escalonar o plantio de diferentes cultivares para que a colheita não se concentre em poucas semanas, evitando sobrecarga de maquinário e mão de obra.
Lembre-se que a colheita está sujeita a imprevistos climáticos, sociais e administrativos. Um cronograma bem-feito deve ser flexível para absorver esses problemas sem comprometer o resultado final.
(Fonte:Opiniões)
Qual o melhor momento para a colheita?
O ponto ideal para a colheita é quando a cana atinge o seu pico de teor de açúcar (sacarose). Esse momento varia conforme a região, a cultivar e o sistema de cultivo adotado. O planejamento do plantio está diretamente ligado a isso, pois define o ciclo da cultura.
Os principais sistemas de plantio são:
- Sistema de ano-e-meio: O plantio ocorre entre janeiro e março, e a colheita é realizada de 16 a 18 meses depois. Este sistema geralmente resulta em maior produtividade, pois a cultura tem mais tempo para crescer e acumular açúcar.
- Sistema de ano: Com plantio entre outubro e novembro, o ciclo de cultivo dura cerca de 12 meses.
- Plantio de inverno: Realizado em épocas mais secas, dependendo da região.
Na região Centro-Sul, a safra de colheita vai de abril a novembro. Já no Nordeste, ocorre entre novembro e abril. Técnicas como irrigação e uso de maturadores podem ajudar a manejar e otimizar a janela de colheita.
2. Faça a Colheita no Ponto Certo de Maturação
Colher cedo demais significa menos açúcar. Colher tarde demais significa que a planta já começou a perder sacarose. Para acertar o momento exato, a tecnologia é sua aliada.
A ferramenta essencial aqui é o refratômetro.
Refratômetro: é um aparelho portátil que mede a quantidade de sólidos solúveis, como o açúcar, no caldo da cana.
Grau Brix (°Bx): é a medida que o refratômetro fornece, indicando a porcentagem de açúcar no caldo.
(Fonte: Educalingo)
Para determinar o ponto de colheita, siga estes passos:
- Colete amostras de caldo da base, do meio e da ponta do colmo de cana.
- Meça o Brix de cada parte com o refratômetro.
- Calcule a média dos três resultados. A colheita deve ocorrer quando essa média for maior que 18 °Bx.
Outro indicador importante é o Índice de Maturação (IM), calculado pela fórmula: IM = (Brix do topo / Brix da base) x 100
. A colheita deve ser feita quando o resultado for próximo de 1, indicando que a cana está uniformemente madura.
(Fonte: Na sala com Gismonti)
3. Preste Atenção na Velocidade da Máquina
Durante a colheita, velocidade excessiva não é sinônimo de eficiência; na verdade, pode custar caro. Operar a colhedora acima da velocidade recomendada aumenta os danos à soqueira, o que compromete a longevidade do canavial e antecipa a necessidade de um custoso investimento em renovação.
Estudos do Laboratório Nacional de Ciência e Tecnologia do Bioetanol (CTBE) apontam que as perdas totais na colheita mecanizada chegam a 11% no Brasil, um prejuízo bilionário que pode ser reduzido com melhores práticas operacionais.
(Fonte: Novacana)
4. Controle o Tráfego de Máquinas para Proteger a Soqueira
O pisoteio das linhas de cana é um dos maiores vilões da produtividade. Quando as rodas do maquinário passam sobre a soqueira, compactam o solo e danificam as gemas de brotação.
A solução é implementar um controle de tráfego, garantindo que as máquinas passem sempre no mesmo lugar (nas entrelinhas), sem atingir a linha de cana. O uso de piloto automático ou GPS é fundamental para garantir essa precisão.
Outras dicas importantes para o controle de tráfego são:
- Realizar a colheita na época adequada, com o solo em boas condições.
- Utilizar mão de obra especializada e bem treinada para a colheita mecanizada.
- Escolher variedades de cana-de-açúcar com porte ereto, mais adequadas à mecanização.
- Adequar o espaçamento entre linhas ao maquinário disponível, para que o trânsito ocorra sempre nas entrelinhas.
O impacto positivo do controle de tráfego na produtividade é comprovado, como mostra o gráfico abaixo.
(Fonte: Novacana)
5. Acompanhe as Inovações e Tecnologias do Mercado
O setor sucroenergético está em constante evolução. Ficar atento às novas tecnologias para colhedoras pode trazer ganhos expressivos de eficiência e reduzir perdas.
Colhedora de 2 Linhas de 1,5 m
Esta inovação permite colher duas linhas de cana simultaneamente. O principal benefício é a redução de 50% no tráfego de máquinas dentro do canavial. Isso resulta em menor compactação do solo, menos danos à soqueira e economia de combustível.
(Fonte: Revista RPA News edição 168/2015)
A tabela a seguir mostra uma simulação dos ganhos operacionais com essa tecnologia.
(Fonte: Revista RPA news – edição 168/2015)
Sistemas Automáticos de Ajuste da Altura do Corte de Base
O corte ideal da cana deve ser o mais rente possível do solo para maximizar o aproveitamento, mas sem arrancar ou danificar a soqueira. Os sistemas de controle automático de altura do corte de base garantem essa precisão, reduzindo as perdas de matéria-prima e protegendo a longevidade da lavoura.
(Fonte: Machado et al., 2018)
Piloto Automático
O piloto automático é uma tecnologia essencial para combater o pisoteamento de soqueiras e a compactação do solo. Ele garante que a máquina siga exatamente a mesma linha em todas as passadas, aumentando a uniformidade da operação, reduzindo o consumo de combustível e otimizando a capacidade operacional.
Outras Tecnologias que Fazem a Diferença
Segundo o especialista Roberto Biasotto, outras funções automatizadas disponíveis no mercado aprimoram ainda mais a eficiência:
- Automação das manobras no início e final da linha.
- Uso de câmeras operacionais para melhor visualização.
- Controle de velocidade variável da esteira do elevador.
- Sistema de correção de rota para manter o alinhamento perfeito.
Conclusão
A colheita mecanizada é uma realidade que trouxe enormes benefícios ao setor, mas as perdas associadas a ela não precisam ser uma fatalidade. Com um bom planejamento que começa desde a plantação da cana, é possível estruturar uma operação muito mais eficiente.
Neste artigo, você viu que o sucesso da colheita depende de uma combinação de fatores:
- Determinar o ponto ideal de maturação com ferramentas como o refratômetro.
- Controlar a velocidade das máquinas para proteger a soqueira.
- Gerenciar o tráfego para evitar a compactação do solo.
- Adotar tecnologias que aumentam a precisão e a eficiência.
Aproveite estas dicas para transformar sua colheita, proteger a longevidade do seu canavial e garantir a máxima rentabilidade da sua lavoura. Boa colheita
Glossário
Colmo: O principal caule ou talo da cana-de-açúcar. É do colmo que o caldo (suco) é extraído para medir a concentração de açúcar e determinar o ponto de colheita.
Controle de Tráfego: Prática de planejar e restringir o caminho das máquinas agrícolas no campo para que passem sempre nas mesmas linhas (entrelinhas). Isso evita a compactação do solo e danos à soqueira na linha de plantio.
Grau Brix (°Bx): Unidade de medida que indica a porcentagem de sólidos solúveis (principalmente açúcares) em um líquido, como o caldo da cana. Um Brix de 18° significa que 100 gramas de caldo contêm 18 gramas de açúcar.
Índice de Maturação (IM): Indicador calculado pela divisão do Brix da ponta do colmo pelo Brix da base. Um valor próximo de 1 indica que a planta está uniformemente madura e pronta para a colheita.
Refratômetro: Instrumento óptico portátil usado para medir o Grau Brix (°Bx) no caldo da cana. Permite ao produtor avaliar rapidamente o ponto de maturação da lavoura diretamente no campo.
Sacarose: O tipo de açúcar produzido pela cana, que é o principal produto de interesse comercial. O objetivo da colheita no momento certo é maximizar a quantidade de sacarose acumulada na planta.
Soqueira: Conjunto de raízes e gemas que permanecem no solo após o corte da cana. É a estrutura responsável pela rebrota da planta na safra seguinte, e sua preservação é vital para a longevidade do canavial.
Veja como o Aegro pode ajudar a superar esses desafios
O planejamento detalhado da colheita e o controle rigoroso dos custos operacionais são fundamentais para reduzir as perdas e proteger a longevidade do canavial. Lidar com a complexidade do cronograma, desde o plantio até a operação das máquinas, e ainda quantificar o impacto financeiro de cada decisão pode ser um grande desafio.
Um software de gestão agrícola como o Aegro centraliza todas essas informações, facilitando o controle. Com ele, é possível realizar o planejamento e acompanhamento de todas as atividades em tempo real, garantindo que as operações ocorram no momento certo e com a máxima eficiência. Além disso, a ferramenta permite um acompanhamento preciso dos custos de produção, conectando os gastos com maquinário, insumos e mão de obra diretamente aos resultados de produtividade, o que torna visível o impacto real das perdas na rentabilidade da fazenda.
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Perguntas Frequentes
O que é a soqueira da cana e por que sua preservação é tão importante para a lucratividade?
A soqueira é o conjunto de raízes e gemas que permanece no solo após o corte, sendo responsável pela rebrota da cana nas safras seguintes. Sua preservação é crucial porque um canavial saudável produz por vários ciclos sem a necessidade de um replantio completo, que é uma operação de alto custo. Danificar a soqueira reduz a longevidade e a produtividade do canavial, impactando diretamente a rentabilidade.
Qual a velocidade ideal para uma colhedora de cana e por que o excesso de velocidade aumenta as perdas?
Não existe uma velocidade única ideal, pois ela depende das condições do terreno e da cultura. No entanto, operar acima da velocidade recomendada para cada situação causa cortes imprecisos, aumenta o dano por impacto na soqueira e eleva a quantidade de matéria-prima deixada no campo. A eficiência não está na rapidez, mas na qualidade da operação que maximiza a colheita e protege safras futuras.
Como posso saber o momento exato de colher a cana para obter o máximo de açúcar?
O momento ideal é determinado medindo o teor de açúcar (sacarose) no caldo com um refratômetro. A colheita deve ocorrer quando a média do Grau Brix (medida de açúcar) da base, meio e topo do colmo for superior a 18°. Outro indicador é o Índice de Maturação (IM), que deve ser próximo de 1, mostrando que a cana está uniformemente madura.
O controle de tráfego com piloto automático é a única solução para evitar o pisoteio das linhas de cana?
Embora o piloto automático seja a solução mais precisa, não é a única. Medidas eficazes incluem o planejamento do plantio com espaçamento adequado à bitola das máquinas e o treinamento rigoroso dos operadores para que sigam sempre as mesmas entrelinhas. Evitar operações com o solo muito úmido também é fundamental para reduzir a compactação e os danos à soqueira.
Qual a principal diferença entre o sistema de plantio de ‘ano-e-meio’ e o de ‘ano’?
A diferença está no tempo de desenvolvimento da cultura. No sistema de ‘ano-e-meio’, a cana cresce por 16 a 18 meses, o que geralmente resulta em maior acúmulo de biomassa e sacarose, levando a uma produtividade superior. O sistema de ‘ano’ tem um ciclo mais curto, de cerca de 12 meses, sendo uma opção para otimizar o calendário agrícola, embora com uma produtividade potencialmente menor por ciclo.
As perdas de 11% na colheita mecanizada são inevitáveis ou podem ser realmente reduzidas?
Essas perdas não são inevitáveis e podem ser significativamente reduzidas. A adoção de boas práticas, como o planejamento cuidadoso da colheita, o controle da velocidade da máquina, a gestão do tráfego para proteger a soqueira e o uso de tecnologias de precisão, permite diminuir drasticamente o desperdício. O objetivo é transformar esse prejuízo bilionário em maior rentabilidade para o produtor.
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