A colheita de arroz é o momento que define a rentabilidade da sua safra. Realizar essa operação na época certa e da forma correta é fundamental para garantir um produto de alta qualidade e um maior rendimento operacional. Em outras palavras, um bom trabalho aqui se traduz diretamente em mais lucro.
Errar na colheita pode custar caro. Para se ter uma ideia, estudos da Embrapa mostram que cerca de 70% das perdas durante a colheita de arroz podem ocorrer apenas na plataforma de corte da colheitadeira.
Neste artigo, vamos apresentar estratégias práticas para otimizar a colheita de arroz, desde a definição do ponto ideal até a regulagem correta das máquinas, para que você alcance a máxima produtividade.
Como Definir o Ponto Ideal de Colheita do Arroz
Acertar o ponto ideal da colheita é um dos fatores que mais impactam a produtividade da sua lavoura.
Colher cedo demais resulta em grãos imaturos, gessados e malformados. Grãos gessados são aqueles com aparência de giz, que se quebram facilmente. Isso afeta diretamente a qualidade industrial do seu produto, significando um menor rendimento de grãos inteiros após o beneficiamento (descasque e polimento).
Por outro lado, uma colheita tardia aumenta as perdas por degrana (quando os grãos se soltam da planta) e a quebra de grãos por estarem muito secos.
Para definir o ponto ideal de colheita em sua lavoura de arroz, você deve monitorar os seguintes indicadores:
- Ciclo da Cultivar: Respeite o tempo de desenvolvimento indicado para a variedade que você plantou.
- Análise Visual da Panícula: O momento ideal de colheita é quando cerca de dois terços (⅔) da panícula (o cacho onde os grãos se formam) já estão com a coloração de maduros.
- Teste do Tato: Pegue um grão e aperte. Se ele quebrar, está no ponto de colheita. Se amassar, ainda está verde e precisa amadurecer mais.
- Umidade dos Grãos: Este é o método mais preciso. O teor de umidade ideal para a colheita de arroz fica entre 18% e 23%.
Qual é o Período de Colheita do Arroz no Brasil?
A época exata da colheita do arroz pode variar bastante, dependendo de alguns fatores-chave:
- Data em que o plantio foi realizado;
- Ciclo do material genético (quantos dias a cultivar leva do plantio à colheita);
- Condições climáticas da safra.
A janela de colheita também muda conforme a região do país. No Sul, que é a maior região produtora, a colheita geralmente acontece entre fevereiro e maio. Este período é semelhante ao que ocorre nas regiões Sudeste e Norte.
(Fonte: Conab)
Entendendo o Ciclo da Cultura do Arroz
O ciclo de desenvolvimento do arroz é parecido com o de outras gramíneas, como milho e trigo. Ele é dividido em duas grandes fases: a fase vegetativa (crescimento da planta) e a fase reprodutiva (formação dos grãos).
Dentro dessas fases, existem estágios de desenvolvimento definidos por características da planta. Esses estágios são os mesmos tanto para o arroz de sequeiro quanto para o irrigado, mas a duração de cada um pode variar.
O ciclo total do arroz irrigado dura entre 100 a 140 dias, enquanto o de sequeiro leva de 110 a 155 dias.
As principais fases do ciclo do arroz são: emergência, perfilhamento, crescimento vegetativo, diferenciação floral, florescimento, enchimento dos grãos e maturação.
Fenologia do arroz (Fonte: Embrapa)
Como Regular a Colheitadeira para a Colheita de Arroz?
Após definir o momento perfeito para a colheita, começa a parte operacional.
É fundamental ter um bom dimensionamento da necessidade de mão de obra e do tempo que a colheitadeira levará em cada talhão. Isso evita que uma área seja colhida prematuramente ou tarde demais, o que é um reflexo direto do bom planejamento feito desde o plantio.
Na colheitadeira, a regulagem correta é essencial para obter a máxima eficiência na trilha (separação dos grãos da palha), com o mínimo de dano e perda de grãos.
Para isso, é preciso ajustar a abertura entre o côncavo e o cilindro batedor. Além disso, a velocidade do molinete (a parte que “penteia” e joga as plantas para dentro) deve ser um pouco maior que a velocidade de avanço da máquina, garantindo uma alimentação contínua.
Para o arroz irrigado, as seguintes recomendações são importantes:
- Equipe a colhedora com rodado de esteira para operar em terrenos de baixa sustentação e evitar atolamentos.
- A velocidade do molinete não deve ultrapassar muito a velocidade de avanço da máquina para não debulhar os grãos antes de entrarem.
- Use o cilindro batedor de dentes com rotação entre
500 rpm
e700 rpm
. - Regule a abertura entre o côncavo e o cilindro para garantir uma trilha eficiente, sem quebrar os grãos.
- Evite velocidades de operação excessivas, pois isso aumenta drasticamente as perdas nas peneiras e no saca-palha.
Evite Perdas na Colheita de Arroz
As perdas na colheita podem ser classificadas de duas formas: pela condição do grão (quebra, umidade errada) e pela qualidade do processo de colheita (máquina mal regulada, velocidade alta).
No processo de colheita, o impacto das plantas com a plataforma provoca perdas, principalmente se a cultivar tiver alta degrana (facilidade de soltar os grãos), se a umidade dos grãos estiver muito baixa ou se houver muitas plantas daninhas.
Uma regulagem inadequada causa trilha deficiente, que pode deixar grãos presos às panículas ou provocar a quebra dos grãos, reduzindo a porcentagem de grãos inteiros no beneficiamento.
Determinação das Perdas de Grãos
Realizar a amostragem de perdas de grãos após a passagem da colheitadeira é uma prática padrão e muito importante.
A forma mais comum é usar um quadrado de 1 m², coletar os grãos que caíram no chão e pesá-los para quantificar a perda por hectare. É importante fazer essa medição em diferentes pontos para entender onde a máquina está desperdiçando mais.
A perda pode vir de três locais diferentes da colheitadeira:
- Plataforma de corte
- Saca-palha (responsável por separar a palha dos grãos)
- Peneiras da colhedora
Pontos de coletas de grãos perdidos por uma colhedora
(Fonte: Embrapa)
4 Dicas para Otimizar a Colheita de Arroz com Base em Dados
Como engenheira agrônoma, entendo que, além da prática no campo, a gestão das informações faz toda a diferença. Os dados coletados ajudam a ter um planejamento de safra muito mais preciso.
A tecnologia embarcada nos maquinários modernos gera muitos dados que, muitas vezes, são subutilizados. Para te ajudar a usar esses recursos, aqui estão 4 dicas:
1 – Crie Roteiros para Otimizar os Dados da Colheita
Aqui entra o planejamento detalhado de cada talhão. Um roteiro bem feito é crucial para fazer comparações corretas entre as áreas.
- Padronize os nomes das áreas para evitar confusão ou troca de informações.
- Crie um cronograma com a ordem de semeadura, informações de solo e manejos fitossanitários de cada talhão.
- Mantenha esse planejamento em um local de fácil acesso para toda a sua equipe de campo.
2 – Garanta a Precisão dos Dados na Hora da Colheita
É fundamental conferir a calibragem das suas máquinas agrícolas antes e durante a operação de colheita.
- Realize a medição de perdas periodicamente.
- Verifique a distribuição da palhada.
- No cultivo de arroz irrigado, certifique-se de que a drenagem da área está adequada para que as máquinas não atolem.
Isso garante que os dados de produtividade de cada talhão sejam comparáveis e precisos, sem interferência de problemas operacionais.
(Fonte: Planeta Arroz)
3 – Limpe e Padronize os Arquivos de Dados
Quando você descarrega os dados das máquinas para o computador, como você os salva?
É muito importante que você padronize os nomes dos arquivos e confira se as nomenclaturas dos talhões estão corretas. Essa organização facilita o acesso futuro a informações valiosas. Parece simples, mas é um ponto onde muitas propriedades falham.
4 – Analise os Dados Pós-Colheita para Entender seus Resultados
Depois de organizar os dados, é hora de analisar, tirar conclusões e tomar decisões para a próxima safra.
Ao analisar, foque nos seguintes pontos:
- Produtividade: Compare o resultado entre os diferentes talhões.
- Fatores de Influência: Considere as condições climáticas, o tipo de solo, o manejo nutricional e fitossanitário aplicado em cada área.
- Testes e Práticas: Avalie manejos diferenciados que você experimentou. O que deu certo? O que pode ser melhorado?
A produtividade é o grande indicador, mas compreender como você chegou àquele resultado é o que fará a diferença para manter e aumentar a produção no futuro. Converse com sua equipe, revise os manejos realizados e mapeie os erros e acertos. Ferramentas como planilhas e um software de gestão agrícola são essenciais para isso.
Quais as Principais Etapas do Pós-Colheita para o Arroz?
Após a colheita, o arroz passa por um processo de pós-colheita antes de ser comercializado. As principais etapas são:
- Transporte: Levar o produto trilhado da lavoura até a unidade armazenadora. Essa etapa deve ser rápida, pois os grãos colhidos com umidade alta podem se deteriorar.
- Recebimento: O arroz é pesado na unidade de recebimento e amostras são coletadas para verificar o nível de impurezas e a umidade.
- Pré-limpeza: Usando peneiras e fluxo de ar, as impurezas e outros materiais são retirados da massa de grãos.
- Secagem: Pode ser natural (ao sol) ou forçada (com secadores). Na secagem forçada, a temperatura não deve passar de 40°C e a umidade não deve ser reduzida em mais de 2% por hora. A umidade ideal para armazenamento seguro é de 13%.
- Armazenamento: O arroz deve ser armazenado antes de ser beneficiado, pois isso melhora suas características culinárias. O armazenamento pode ser a granel ou em sacaria, sempre controlando temperatura, umidade e a presença de pragas.
- Beneficiamento: Esta é a etapa que transforma o arroz bruto (com casca) no produto que compramos. Primeiro, retira-se a casca, resultando no arroz integral. Depois, para o arroz branco, realiza-se a brunição para retirar o farelo. Por fim, o arroz é classificado pela porcentagem de grãos inteiros e quebrados.
Conclusão
A colheita é o momento mais esperado da safra, e planejar bem essa operação é essencial para o sucesso do seu negócio.
Neste artigo, abordamos o momento ideal para a colheita, a regulagem correta da máquina e como analisar os dados da lavoura para tomar decisões mais inteligentes.
Espero que essas informações e dicas estratégicas te ajudem no próximo planejamento de safra e na gestão da sua propriedade. Tenha uma excelente colheita de arroz
Glossário
Beneficiamento: Processo industrial que transforma o arroz colhido (com casca) no produto final para consumo. Envolve etapas como a retirada da casca, polimento (para o arroz branco) e classificação dos grãos por tamanho e qualidade.
Degrana: Perda de grãos que se desprendem naturalmente da panícula (cacho) antes ou durante a colheita. Atrasar a colheita ou usar velocidades excessivas na máquina pode aumentar a degrana e o prejuízo.
Grãos gessados: Grãos com aparência opaca e esbranquiçada, semelhante a giz, devido à maturação incompleta. São mais frágeis, quebram-se facilmente no beneficiamento e reduzem o rendimento de grãos inteiros, afetando o valor comercial.
Molinete: Componente giratório localizado na frente da plataforma de corte da colheitadeira. Sua função é “pentear” as plantas, direcionando-as de forma contínua para o sistema de corte e alimentação da máquina.
Panícula: Estrutura da planta de arroz onde os grãos se formam e se desenvolvem, popularmente conhecida como o “cacho”. A observação da sua cor (ex: ⅔ madura) é um indicador visual para definir o ponto de colheita.
RPM (Rotações por Minuto): Unidade que mede a velocidade de giro de componentes da colheitadeira, como o cilindro batedor. Ajustar as RPMs (entre 500 e 700 para arroz) é crucial para uma separação eficiente dos grãos sem quebrá-los.
Saca-palha: Mecanismo interno da colheitadeira que separa os grãos restantes do grande volume de palha que sai do sistema de trilha. Perdas no saca-palha indicam que grãos estão sendo descartados junto com os restos vegetais.
Trilha: Processo mecânico, realizado pelo cilindro batedor e côncavo da colheitadeira, que separa os grãos de arroz da palha. Uma trilha eficiente remove todos os grãos da panícula com o mínimo de dano.
Veja como o Aegro pode ajudar a superar esses desafios
Organizar todos os dados da colheita, desde o cronograma por talhão até a análise final de produtividade, é um dos maiores desafios para garantir a rentabilidade safra após safra. Como vimos, um bom planejamento evita perdas e a análise de dados é o que permite melhorar os resultados futuros. Fazer isso em planilhas ou cadernos pode ser complicado e levar a erros.
Um software de gestão agrícola como o Aegro centraliza todas essas informações em um só lugar. Nele, você pode registrar o planejamento das atividades de colheita, acompanhar o desempenho do maquinário e, o mais importante, analisar a produtividade de cada área de forma visual e intuitiva. Isso transforma os dados gerados no campo em decisões mais inteligentes e lucrativas para o próximo ciclo.
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Perguntas Frequentes
Qual é a forma mais precisa para determinar o ponto ideal de colheita do arroz?
A forma mais precisa é medir a umidade dos grãos, que deve estar entre 18% e 23%. Métodos visuais, como observar quando dois terços da panícula estão maduros, e o teste do tato são úteis como complemento, mas a medição da umidade oferece o dado mais confiável para maximizar a qualidade e o rendimento.
Quais os principais prejuízos de colher o arroz muito cedo ou muito tarde?
Colher cedo demais resulta em uma alta porcentagem de grãos gessados e imaturos, que se quebram no beneficiamento e reduzem o valor comercial. Colher tarde demais aumenta as perdas por degrana (grãos que se soltam da planta) no campo e a quebra de grãos durante a colheita por estarem excessivamente secos.
Por que a velocidade da colheitadeira é tão importante para evitar perdas na colheita de arroz?
Uma velocidade de operação excessiva sobrecarrega os sistemas internos da máquina, como o saca-palha e as peneiras, que não conseguem separar eficientemente os grãos da palha, descartando-os no campo. Além disso, uma velocidade alta na plataforma de corte aumenta o impacto com as plantas, elevando as perdas por degrana.
O que são ‘grãos gessados’ e por que eles afetam a rentabilidade da safra?
Grãos gessados são grãos que não completaram sua maturação, apresentando uma aparência opaca e esbranquiçada. Eles são mais frágeis e se quebram com facilidade durante o processo de beneficiamento, diminuindo o rendimento de grãos inteiros e, consequentemente, o preço pago ao produtor pela saca de arroz.
Qual a diferença entre a umidade ideal para a colheita e a umidade para o armazenamento seguro do arroz?
A umidade ideal para a colheita, entre 18% e 23%, representa o ponto de maturação fisiológica que garante a melhor qualidade do grão. Já para o armazenamento seguro, a umidade precisa ser reduzida para cerca de 13% através do processo de secagem, a fim de evitar a deterioração, o desenvolvimento de fungos e o ataque de pragas.
Para a colheita de arroz irrigado, qual é o ajuste mais crítico na colheitadeira?
Além do uso de esteiras para evitar atolamentos, o ajuste mais crítico é a regulagem da rotação do cilindro batedor (entre 500 e 700 rpm) e da abertura do côncavo. Essa combinação garante uma trilha eficiente, que separa os grãos da panícula com o mínimo de dano mecânico e quebra.
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