Apesar de algumas cochonilhas terem seu valor na indústria farmacêutica e alimentícia, para a agricultura, elas representam uma séria ameaça que pode limitar a sua produção.
As cochonilhas estão entre as principais pragas do café, da cana-de-açúcar e das forrageiras. Dependendo do nível de infestação na sua lavoura, elas podem causar perdas que chegam a 100% da produção.
Por isso, entender como este inseto age é o primeiro passo para realizar um manejo mais eficiente e proteger sua rentabilidade.
Neste guia completo, vamos detalhar o que são as cochonilhas, como identificá-las no campo, quais culturas são mais vulneráveis e as melhores estratégias para controlar e eliminar essa praga. Continue a leitura!
O que é cochonilha?
Cochonilhas são pequenos insetos sugadores que pertencem à ordem Hemiptera, a mesma dos pulgões e das cigarrinhas. Elas são bem pequenas, medindo entre 3mm e 5mm de comprimento, e geralmente têm um corpo de cor castanha ou amarelada.
O principal problema que causam é por se alimentarem da seiva das plantas. Embora sejam conhecidas por atacar cactos, na agricultura elas se alimentam de praticamente tudo: folhas, caules, flores, frutos e até das raízes.
Para sugar a seiva, elas utilizam um aparelho bucal do tipo picador-sugador, que funciona como uma agulha fina que perfura a planta e extrai os nutrientes. Essa ação contínua enfraquece a lavoura e afeta diretamente a produtividade agrícola.
Existem vários tipos de cochonilhas, organizados em famílias. Cada uma possui características e causa danos diferentes, sendo fundamental saber distingui-las para um controle eficaz.
Tipos de cochonilha
As espécies de cochonilhas são divididas em famílias. As mais importantes para a agricultura incluem a cochonilha branca (farinhenta), a cochonilha de carapaça e a cochonilha de raiz. Conheça as principais famílias:
- Asterolecaniidae: Causam afundamento e deformação nos tecidos das plantas onde se fixam.
- Coccidae: Conhecidas como cochonilhas de carapaça, possuem um corpo achatado coberto por uma espécie de escudo protetor.
- Dactylopiidae: Grupo do qual se extrai o corante carmim, usado na indústria.
- Diaspididae: Possuem escudos de formatos variados (diferentes das carapaças) e geralmente são brancas, mas podem ter outras cores.
- Ortheziidae: Seus dois pares de patas são visíveis. A fêmea possui uma extensão no corpo onde protege seus ovos.
- Pseudococcidae: São as famosas cochonilhas farinhentas. Elas têm o corpo coberto por uma secreção branca que parece algodão ou farinha, que também deixam sobre as plantas.
- Margarodidae: Incluem as perigosas cochonilhas de raiz, como a pérola-da-terra, que atacam o sistema radicular das plantas.
Fases da pérola-da-terra (Eurhizococcus spp.), principal cochonilha da videira. (A) cisto amarelo; (B) cisto branco; (C) fêmea móvel. À direita, cochonilhas associadas às raízes da videira
(Fonte: Zart, 2012)
Como identificar essa praga na lavoura
Você pode encontrar cochonilhas em todas as partes das plantas, desde as raízes até os frutos. Elas gostam de se esconder na parte de baixo das folhas (tanto novas quanto velhas) e nos caules. A identificação é feita observando o formato do corpo do inseto e os danos que ele causa.
A aparência varia bastante entre as espécies:
- Cochonilha de carapaça: Tem formato oval, arredondado, ou até mesmo de vírgula, com um escudo protetor.
- Cochonilhas sem carapaça (farinhentas): Geralmente têm formato oval e corpo mole, coberto por uma camada branca cerosa.
- Coloração: A cor pode ir do esbranquiçado ao amarronzado ou esverdeado, com algumas espécies apresentando combinações de cores bem diferentes.
- Machos: Diferente das fêmeas, os machos adultos geralmente possuem asas e são bem menores.
Fique atento: as infestações de cochonilhas são mais comuns e severas em períodos secos ou de estiagem. Portanto, reforce o monitoramento da sua lavoura nessas épocas.
Fêmeas adultas de diferentes espécies de cochonilhas e sua aparência distinta.
(Fonte: Wolff, 2016)
Outro ponto importante é entender o ciclo de vida das cochonilhas. A duração desse ciclo depende da espécie, da planta hospedeira e do clima. Em temperaturas mais frias, abaixo de 15°C, a reprodução pode ser interrompida.
- Capacidade de postura: Cada fêmea pode colocar de 50 a 600 ovos ao longo de sua vida.
- Fases de desenvolvimento: Elas passam por três estágios de ninfa, nos quais já se parecem com o adulto, mudando apenas de cor e tamanho.
- Duração do ciclo: O ciclo de vida completo pode levar de 60 a 150 dias, com uma média de 100 dias.
Danos causados pelo inseto
Os prejuízos causados pelas cochonilhas podem ser divididos em diretos e indiretos.
Danos diretos
O dano direto acontece quando o inseto suga a seiva da planta. Essa seiva é essencial para o desenvolvimento de novas folhas, galhos e, principalmente, para o enchimento de grãos e frutos. Com o ataque, a planta perde vigor, cresce menos e produz menos.
Danos indiretos
Os danos indiretos são consequências da alimentação da praga:
- Injeção de toxinas: Ao se alimentar, a cochonilha injeta toxinas que debilitam ainda mais a planta. Quanto maior a população de insetos, mais fraca a planta fica, podendo ocorrer a queda precoce de folhas, flores e frutos.
- Honeydew e Fumagina: Durante a alimentação, as cochonilhas excretam uma substância açucarada e pegajosa, chamada de honeydew. Esse líquido atrai formigas doceiras para a lavoura. Além disso, ele serve de alimento para fungos do gênero Capnodium spp., que formam uma camada preta sobre as folhas, conhecida como fumagina. Essa camada escura bloqueia a luz solar e dificulta a fotossíntese e a respiração da planta, prejudicando ainda mais a produção.
Aspecto visual do fungo causador da fumagina (Capnodium spp.), recobrindo folhas de cafeeiro e reduzindo a fotossíntese e a respiração da planta, afetando assim a produção da cultura
(Fonte: Costa, 2009)
No cafezal, as cochonilhas causam danos particularmente severos. As principais espécies que atacam a cultura são a cochonilha branca farinhenta, a cochonilha de raiz e a cochonilha verde.
Dysmicoccus spp. atacando raízes
(Fonte: Da silva, 2016)
O problema é que essas pragas conseguem sobreviver e se reproduzir em plantas daninhas comuns do café, como caruru, capim-rabo-de-burro e tiririca, o que torna o controle ainda mais desafiador.
Como acabar com a cochonilha?
O manejo eficaz das cochonilhas exige uma combinação de estratégias. Comece com o monitoramento constante das áreas de produção. Se notar plantas com desenvolvimento reduzido, murcha ou amarelamento, verifique também as raízes.
Evitar o uso indiscriminado de inseticidas de amplo espectro é uma boa prática. Esses produtos matam não apenas as pragas, mas também seus inimigos naturais, o que pode piorar a situação a longo prazo. O uso excessivo de químicos também pode alterar o metabolismo da planta, deixando-a menos resistente a ataques.
Manter a lavoura bem nutrida, com adubação equilibrada, boa luminosidade e água na medida certa, também ajuda a criar um ambiente desfavorável para as cochonilhas.
Lembre-se que a praga se espalha principalmente pelo vento, máquinas, solo, mudas contaminadas e com a ajuda de formigas. Portanto, a inspeção de tudo que entra em contato com sua cultura é fundamental.
A tática de manejo mais eficiente pode variar dependendo do local de ataque. Para infestações nas raízes, por exemplo, o controle biológico combinado com outras práticas de manejo é geralmente a melhor alternativa.
Controle cultural
- Monitoramento contínuo: Inspecione regularmente a lavoura, incluindo as plantas daninhas que servem de hospedeiras. As cochonilhas se multiplicam nelas antes de migrar para a cultura principal.
- Inspeção de mudas: Ao adquirir novas mudas, faça uma inspeção rigorosa. Recuse qualquer lote que apresente sinais de infestação.
Controle químico
- Cochonilhas de carapaça: O controle químico desse tipo de cochonilha exige a aplicação conjunta de produtos oleosos. O óleo ajuda o inseticida a penetrar na carapaça de cera que protege o inseto.
- Cochonilha-da-raiz: Inseticidas granulados aplicados no solo são eficientes, especialmente se a infestação for detectada cedo e em reboleiras (manchas na lavoura).
Atenção: Siga sempre as recomendações do fabricante sobre a dosagem, intervalo entre aplicações, condições climáticas ideais e período de carência. A aplicação de defensivos deve ser recomendada por um(a) engenheiro(a)-agrônomo(a). Consulte os produtos registrados para sua cultura no Agrofit.
Controle alternativo
- Calda sulfocálcica: Para a cochonilha branca em cafezais, a aplicação da calda sulfocálcica em concentração de 25% tem se mostrado uma alternativa eficaz.
- Calda de fumo: Apresenta uma eficiência de até 60% contra espécies do gênero Planococcus. É importante respeitar o intervalo de segurança para o consumo.
- Óleo de neem e óleo mineral: Uma solução com concentração de 3% desses óleos pode causar 100% de mortalidade na espécie Planococcus citri.
Controle biológico
- Nematoides entomopatogênicos: [Nematoides do bem]: são microrganismos que atacam insetos. São a principal ferramenta biológica para controlar a cochonilha-da-raiz-do-cafeeiro.
- Fungos entomopatogênicos: [Fungos que matam insetos]: como o Beauveria bassiana, são eficientes no controle da cochonilha-da-roseta em lavouras de café conilon.
Conclusão
Existem inúmeras espécies de cochonilhas que podem atacar diversas culturas de grande importância agrícola.
O primeiro passo para um controle bem-sucedido é o monitoramento constante e a identificação correta da espécie presente na sua área. Com essa informação, você pode planejar as estratégias de manejo mais adequadas.
Lembre-se que o controle químico deve ser bem planejado para não eliminar os inimigos naturais da cochonilha e de outras pragas em potencial. Um manejo integrado, que combina diferentes táticas, é sempre a abordagem mais sustentável e eficaz.
Em caso de dúvidas, procure sempre a orientação de um profissional agrônomo.
Glossário
Aparelho bucal picador-sugador: Estrutura bucal de certos insetos, semelhante a uma agulha, que perfura os tecidos da planta para sugar a seiva. É através deste mecanismo que as cochonilhas extraem nutrientes, enfraquecendo a lavoura.
Controle biológico: Método de manejo que utiliza organismos vivos, como predadores, parasitoides ou microrganismos (fungos e nematoides), para reduzir a população de uma praga. É uma estratégia fundamental no Manejo Integrado de Pragas (MIP).
Fumagina: Camada escura de fungos que se desenvolve sobre folhas e caules, alimentando-se do honeydew. Essa cobertura preta bloqueia a luz solar, prejudicando a fotossíntese e a respiração da planta.
Honeydew: Líquido açucarado e pegajoso excretado por insetos sugadores, como as cochonilhas, durante a sua alimentação. Esta substância atrai formigas e serve como base para o crescimento da fumagina.
Inimigos naturais: Organismos que predam, parasitam ou causam doenças em pragas agrícolas, ajudando a controlar suas populações de forma natural. O uso indiscriminado de inseticidas pode eliminar esses aliados importantes do produtor.
Nematoides entomopatogênicos: Vermes microscópicos que infectam e matam insetos-praga. São considerados “nematoides do bem” e representam uma ferramenta chave no controle biológico de pragas de solo, como a cochonilha-da-raiz.
Reboleiras: Termo que descreve manchas ou áreas localizadas na lavoura onde uma praga ou doença se manifesta de forma concentrada. A identificação de reboleiras de cochonilhas permite um controle mais rápido e focado.
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Lidar com uma praga persistente como a cochonilha exige um registro detalhado de infestações e um planejamento preciso das ações de controle. Anotar tudo em cadernos ou planilhas pode ser complicado e levar a falhas.
Um software de gestão agrícola como o Aegro centraliza essas informações, permitindo que você registre os focos da praga direto do campo pelo celular e planeje as pulverizações ou a liberação de inimigos naturais com antecedência. Isso garante que o manejo seja feito no tempo certo e com a estratégia correta.
Além do desafio agronômico, cada aplicação de defensivos ou controle biológico representa um custo que impacta diretamente a rentabilidade da safra. Controlar esses gastos é fundamental para garantir o lucro.
Com uma plataforma integrada, o custo de cada operação de manejo de pragas é calculado automaticamente, mostrando o valor investido por talhão. Dessa forma, você toma decisões mais seguras, sabendo exatamente quanto custa proteger sua lavoura e qual o retorno desse investimento.
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Perguntas Frequentes
Qual a diferença entre o dano direto e o indireto causado pelas cochonilhas?
O dano direto ocorre quando a cochonilha suga a seiva, enfraquecendo a planta e reduzindo sua produtividade. O dano indireto é causado pela injeção de toxinas e, principalmente, pela excreção do líquido açucarado (honeydew), que favorece o surgimento da fumagina, um fungo escuro que cobre as folhas e prejudica a fotossíntese.
Por que a presença de formigas na lavoura pode indicar um ataque de cochonilhas?
As cochonilhas excretam uma substância adocicada chamada honeydew, que serve de alimento para as formigas. Em troca, as formigas protegem as cochonilhas de seus inimigos naturais. Portanto, uma grande quantidade de formigas nas plantas é um forte indício de uma infestação por cochonilhas.
Como posso identificar um ataque de cochonilha-da-raiz se ela fica escondida no solo?
O ataque da cochonilha-da-raiz se manifesta na parte aérea da planta, causando sintomas como amarelamento, murcha e crescimento reduzido, mesmo com irrigação adequada. Para confirmar, é preciso escavar cuidadosamente o solo ao redor de uma planta sintomática e inspecionar as raízes em busca de insetos brancos de aspecto algodonoso ou pequenos cistos.
É possível prevenir o aparecimento de cochonilhas na minha propriedade?
Sim, a prevenção é uma etapa crucial do manejo. As principais medidas preventivas incluem a inspeção rigorosa de mudas antes do plantio para garantir que estejam livres da praga, o controle de plantas daninhas que podem servir de hospedeiras e o monitoramento constante da lavoura, especialmente em períodos de seca.
O controle químico é a única solução para infestações severas de cochonilhas?
Não. Embora o controle químico possa ser necessário em altas infestações, a estratégia mais eficaz e sustentável é o Manejo Integrado de Pragas (MIP). Ele combina diferentes táticas, como o controle biológico com inimigos naturais, práticas culturais e o uso criterioso de inseticidas seletivos para preservar os organismos benéficos.
Por que o controle químico da cochonilha de carapaça é mais difícil?
A cochonilha de carapaça possui um escudo protetor ceroso que dificulta a penetração dos inseticidas convencionais. Por isso, o tratamento geralmente exige a adição de produtos oleosos à calda de pulverização. O óleo ajuda a dissolver a camada de cera, permitindo que o ingrediente ativo do defensivo atinja e controle o inseto de forma eficaz.
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