A soja é um pilar do agronegócio brasileiro. Com uma produção estimada pela Conab em 133,7 milhões de toneladas para a safra 2020/21, o Brasil se consolida como um dos maiores produtores mundiais desta oleaginosa. Para atingir e superar essas marcas de produtividade, um manejo nutricional preciso é indispensável.
Nesse cenário, nutrientes como o molibdênio (Mo) e o elemento benéfico cobalto (Co) desempenham funções críticas. Eles participam de reações essenciais para o desenvolvimento da cultura da soja, impactando diretamente a saúde da planta e o resultado final da colheita.
Vamos entender em detalhes como o cobalto e o molibdênio podem ser os aliados que você precisa para elevar a produtividade da sua lavoura.
Qual o Papel do Cobalto e Molibdênio na Soja?
As plantas precisam de micronutrientes, que são nutrientes essenciais para o seu crescimento, porém necessários em quantidades menores quando comparados aos macronutrientes (como Nitrogênio, Fósforo e Potássio). Nesta categoria, o molibdênio (Mo) é classificado como um micronutriente, enquanto o cobalto (Co) é considerado um elemento benéfico.
O papel de cada um é bem específico e fundamental:
Molibdênio (Mo): Este micronutriente é um componente chave no processo de Fixação Biológica de Nitrogênio (FBN).
- FBN (Fixação Biológica de Nitrogênio): É o processo onde bactérias no solo transformam o nitrogênio do ar em uma forma que a planta de soja consegue absorver e usar para crescer.
- O Mo está presente na enzima nitrogenase, que funciona como a “ferramenta” que essas bactérias utilizam para realizar a FBN. Sem molibdênio suficiente, essa ferramenta não funciona direito.
Cobalto (Co): Este elemento é vital para a saúde das bactérias do gênero Rhizobium, as parceiras da soja na fixação de nitrogênio.
- Ele é um componente da cobalamina (vitamina B12), que por sua vez é precursora da leghemoglobina.
- Leghemoglobina: É uma substância que protege as bactérias fixadoras de nitrogênio nos nódulos das raízes, garantindo que elas tenham o ambiente ideal para trabalhar.
Quando há falta desses elementos, os problemas aparecem:
- Deficiência de Cobalto (Co): Pode atrasar ou diminuir a nodulação da soja, que é a formação das “casinhas” nas raízes onde as bactérias vivem e trabalham.
- Deficiência de Molibdênio (Mo): Afeta diretamente o metabolismo do Nitrogênio (N) e a FBN. Os sintomas na soja são muito parecidos com a falta de nitrogênio, como a clorose (folhas amareladas).
Como o Solo Afeta a Disponibilidade de Cobalto e Molibdênio?
A forma como você maneja seu solo determina se a planta terá acesso a esses nutrientes, mesmo que eles estejam presentes. A prática da calagem é o ponto de partida para resolver muitas deficiências.
A Importância da Calagem e do pH Correto
A calagem — que significa aplicar calcário para corrigir a acidez do solo — é o primeiro passo para construir a fertilidade e aumentar a eficiência dos fertilizantes que você aplica. Considerando que os fertilizantes representam cerca de 25% dos custos totais da lavoura de soja, qualquer ganho de eficiência impacta diretamente sua lucratividade.
(Fonte: Aprosoja)
Buscar maior eficiência no uso de recursos é, portanto, essencial para aumentar a produtividade e reduzir os custos.
A disponibilidade da maioria dos micronutrientes diminui quando o pH do solo aumenta (solo fica menos ácido). No entanto, o molibdênio é a grande exceção.
- Molibdênio (Mo): Sua disponibilidade aumenta com o aumento do pH. A planta o absorve na forma de molibdato (MoO42-). Por isso, a acidez do solo, comum em solos tropicais, muitas vezes causa a deficiência de Mo.
- Cobalto (Co): É absorvido na forma de Co2+ e se comporta de maneira inversa ao Mo. Um aumento excessivo do pH do solo pode reduzir sua disponibilidade e causar deficiência.
Disponibilidade dos nutrientes de acordo com o pH do solo
(Fonte: Ipni)
Portanto, a calagem, ao corrigir a acidez, pode resolver a deficiência de Mo, desde que existam teores adequados deste nutriente no solo.
Fique atento: a deficiência de Mo é mais comum em solos arenosos. Nesses solos, o molibdato tem alta mobilidade e pode ser facilmente “lavado” pela chuva ou irrigação, um processo chamado lixiviação.
O Momento Certo: Nodulação e as Fases da Soja
A cultura da soja passa por diferentes estádios fenológicos, que são as fases de desenvolvimento da planta, divididas em vegetativas (V) e reprodutivas (R). O processo de nodulação, essencial para a FBN, varia de intensidade conforme essas fases.
(Fonte: Compass minerals)
Estudos mostram como a nodulação progride, um processo que depende da cultivar, da estirpe da bactéria, do ambiente e do manejo.
- Início (estádios V1 e V2): Os primeiros nódulos começam a se formar na raiz principal e em suas primeiras ramificações.
- Intensificação (estádios V4 e V5): A nodulação aumenta em número e tamanho.
- Primeiro Pico de Atividade (R1 e R2 - Florescimento): O crescimento dos nódulos atinge seu primeiro pico.
- Segundo Pico de Atividade (R5.1 a R5.3 - Enchimento de Grãos): Com o aumento da formação das vagens, a atividade fotossintética cresce, e um novo pico de nodulação e fixação de nitrogênio acontece para suprir a demanda dos grãos.
(Fonte: Embrapa Soja)
Aplicação Prática: Doses e Métodos Recomendados
Pesquisas de longo prazo com soja no Brasil estabeleceram dosagens seguras e eficientes para a aplicação desses elementos.
Dosagens e Fontes
- Molibdênio (Mo): A recomendação é de
12 a 25 gramas por hectare
(g/ha). - Cobalto (Co): A dose recomendada é de
2 a 3 gramas por hectare
(g/ha).
As fontes mais comuns para fornecer esses elementos são:
- Para o Mo: Molibdato de sódio e molibdato de amônio.
- Para o Co: Sulfato de cobalto.
É importante reforçar: se a análise de solo indicar teores suficientes de Mo, a simples correção do pH com a calagem já irá disponibilizar este nutriente para a soja.
Métodos de Aplicação
Existem duas formas principais de aplicar Co e Mo:
- Via Semente (Tratamento com Inoculante): A aplicação pode ser feita na mistura com o inoculante (Bradyrhizobium) diretamente nas sementes, no momento da semeadura.
- Via Foliar: A aplicação pode ser feita por pulverização, na mesma dosagem recomendada para as sementes, em até 15 dias após a semeadura.
Para garantir o sucesso da inoculação via semente, alguns cuidados são essenciais:
- Plantio Imediato: Plante as sementes logo após a inoculação para garantir a viabilidade das bactérias.
- Qualidade do Inoculante: Utilize um produto de boa qualidade e na quantidade recomendada pelo fabricante.
- Umidade do Solo: Plante em boas condições de umidade do solo para favorecer a sobrevivência das bactérias e a germinação.
A aplicação de Mo via foliar antes do início da floração é uma excelente alternativa de manejo. Já para o Co, a aplicação foliar pode ter menor eficiência, pois ele possui baixa translocação na planta, ou seja, dificuldade de se mover da folha para outras partes onde é necessário.
Uma pesquisa demonstrou que a aplicação de Mo e Co (via sementes e/ou adubação foliar no estádio V4) promoveu aumentos significativos no rendimento da cultura da soja.
Conclusão: Nutrição de Precisão para Máxima Produtividade
Neste artigo, vimos a importância do micronutriente molibdênio e do elemento benéfico cobalto para a cultura da soja. Eles são peças-chave para garantir uma eficiente fixação biológica de nitrogênio e um bom processo de nodulação.
Compreender as fases fenológicas da soja é crucial para tomar as melhores decisões sobre o momento e a forma de fertilizar sua lavoura.
Para resumir os pontos principais:
- O Papel Essencial: Cobalto e molibdênio são vitais para a fixação de nitrogênio, o “motor” do crescimento da soja. A falta deles limita diretamente o potencial produtivo.
- Manejo do Solo é a Base: O pH do solo, corrigido pela calagem, tem um impacto direto na disponibilidade desses elementos, especialmente do molibdênio.
- O Momento Certo: A demanda por esses nutrientes aumenta em fases críticas, como nos estádios V4/V5 e durante o florescimento e enchimento de grãos (R1 a R5).
- Dosagem e Aplicação Corretas: Siga as recomendações técnicas de dosagem e escolha o método de aplicação (via semente ou foliar) mais adequado para sua operação.
Esperamos que este guia tenha ajudado você a entender melhor a importância do cobalto e molibdênio e como usá-los para extrair o máximo potencial da sua lavoura de soja
Glossário
Calagem: Prática agrícola que consiste na aplicação de calcário no solo para corrigir sua acidez (aumentar o pH). É fundamental para melhorar a disponibilidade de nutrientes, como o molibdênio, e aumentar a eficiência dos fertilizantes.
Clorose: Amarelamento das folhas das plantas devido à falta de clorofila. Na soja, a clorose pode ser um sintoma de deficiência de nitrogênio, que por sua vez pode ser causada pela ineficiência na fixação biológica por falta de molibdênio.
Estádios fenológicos: Fases distintas do ciclo de vida de uma planta, divididas em vegetativas (V) e reprodutivas (R). Conhecer esses estágios na soja, como V4 (quarto trifólio) ou R1 (início do florescimento), é crucial para determinar o momento ideal para aplicar nutrientes.
FBN (Fixação Biológica de Nitrogênio): Processo no qual bactérias do gênero Rhizobium, que vivem em simbiose com as raízes da soja, convertem o nitrogênio do ar em uma forma que a planta pode usar para crescer. O molibdênio e o cobalto são essenciais para que este processo ocorra eficientemente.
Inoculante: Produto biológico contendo bactérias fixadoras de nitrogênio (Bradyrhizobium) que é misturado às sementes de soja antes do plantio. O objetivo é garantir uma população bacteriana eficiente nos nódulos das raízes para maximizar a FBN.
Lixiviação: Processo de “lavagem” e perda de nutrientes do solo, arrastados pela água da chuva ou irrigação para camadas mais profundas. Em solos arenosos, nutrientes móveis como o molibdênio são mais suscetíveis à lixiviação.
Nodulação: Formação de nódulos (pequenas estruturas arredondadas) nas raízes da soja. Esses nódulos abrigam as bactérias responsáveis pela Fixação Biológica de Nitrogênio e são um indicador visual da saúde e eficiência desse processo.
pH do solo: Medida que indica o nível de acidez ou alcalinidade do solo, numa escala de 0 a 14. O pH afeta diretamente a disponibilidade dos nutrientes para as plantas; por exemplo, a disponibilidade de molibdênio aumenta em solos menos ácidos (pH mais alto).
Veja como a tecnologia pode simplificar o manejo nutricional
Alcançar a máxima eficiência no uso de nutrientes como cobalto e molibdênio exige um controle preciso, tanto das atividades no campo quanto dos custos envolvidos. Afinal, como o artigo destaca, os fertilizantes representam uma fatia significativa do investimento na lavoura. A boa notícia é que a tecnologia pode ser uma grande aliada nesse processo.
Um software de gestão agrícola, como o Aegro, centraliza as informações financeiras e operacionais, permitindo que o produtor saiba exatamente quanto está investindo em insumos a cada safra. Além disso, o planejamento das atividades se torna mais simples. É possível agendar a aplicação foliar no estádio V4, por exemplo, e acompanhar a execução em tempo real, garantindo que cada manejo seja feito no momento certo para maximizar a produtividade e o retorno sobre o investimento.
Que tal otimizar o uso de recursos e garantir que cada aplicação na sua lavoura de soja conte?
Experimente o Aegro gratuitamente e descubra como uma gestão integrada pode aumentar sua lucratividade.
Perguntas Frequentes
Qual a principal função do cobalto e molibdênio na cultura da soja?
Eles são essenciais para a Fixação Biológica de Nitrogênio (FBN). O molibdênio é um componente chave da enzima nitrogenase, que permite às bactérias converter o nitrogênio do ar em nutrientes para a planta. O cobalto é vital para a saúde dessas bactérias e para a formação da leghemoglobina, que protege o processo de fixação nos nódulos das raízes.
Qual é a melhor forma de aplicar cobalto e molibdênio: via semente ou foliar?
Ambos os métodos são eficazes e a escolha depende do manejo da fazenda. A aplicação via semente, junto com o inoculante, é uma prática comum que garante que os nutrientes estejam disponíveis desde o início. A aplicação foliar, especialmente para o molibdênio, é uma excelente alternativa, realizada geralmente no estádio V4 para corrigir deficiências e atender à demanda da planta.
A calagem do solo substitui a necessidade de aplicar molibdênio?
Não necessariamente. A calagem corrige a acidez do solo (aumenta o pH), o que torna o molibdênio já presente no solo mais disponível para a planta. No entanto, se a análise de solo indicar que os teores de molibdênio são baixos, a calagem por si só não será suficiente, sendo necessária a aplicação complementar do nutriente.
Por que a falta de molibdênio na soja causa sintomas de folhas amareladas (clorose)?
A falta de molibdênio prejudica a enzima nitrogenase, essencial para a Fixação Biológica de Nitrogênio. Com a FBN ineficiente, a soja não recebe a quantidade de nitrogênio necessária para seu desenvolvimento. Como o nitrogênio é um componente fundamental da clorofila, sua deficiência causa o amarelamento das folhas, um sintoma conhecido como clorose.
É possível aplicar cobalto e molibdênio em excesso? Quais são os riscos?
Sim, embora raro nas doses recomendadas, o excesso pode ser prejudicial. Doses muito elevadas de molibdênio podem causar toxicidade e interferir na absorção de outros micronutrientes, como o cobre. O excesso de cobalto também pode ser tóxico para a planta e para as próprias bactérias fixadoras de nitrogênio. Por isso, é fundamental seguir as recomendações técnicas de dosagem.
Em qual fase da soja a aplicação de cobalto e molibdênio é mais crítica?
A demanda por esses elementos é alta durante as fases de intensa atividade da Fixação Biológica de Nitrogênio. Os momentos mais críticos são nos estádios vegetativos V4/V5, quando a nodulação se intensifica, e durante as fases reprodutivas de florescimento (R1/R2) e enchimento de grãos (R5), quando a necessidade de nitrogênio pela planta atinge o pico.
Artigos Relevantes
- Calagem: Guia completo de uso e cálculos: Este artigo detalha a prática da calagem, que o artigo principal identifica como o ‘ponto de partida’ para a disponibilidade de molibdênio. Ele oferece um guia prático e aprofundado sobre como executar corretamente o primeiro passo essencial recomendado, transformando uma menção teórica em uma ação concreta para o produtor.
- Inoculante para soja de alta produtividade: como, quando e o porquê: Este artigo cria a conexão perfeita ao explicar em detalhes a prática da inoculação, o principal método de aplicação de Co e Mo via semente. Seu valor único está em reforçar explicitamente a necessidade de cobalto e molibdênio no contexto do tratamento de sementes, validando e complementando diretamente a tese do artigo principal.
- Como a coinoculação em soja contribui para o aumento da produtividade: Enquanto o artigo principal otimiza a FBN com nutrientes, este artigo apresenta uma otimização biológica avançada: a coinoculação. Ele introduz a bactéria Azospirillum, que melhora o desenvolvimento radicular, potencializando a absorção de todos os nutrientes do solo, incluindo o cobalto e o molibdênio, e levando a produtividade a um novo patamar.
- Como garantir uma melhor nutrição da soja?: Este artigo oferece o contexto nutricional mais amplo, situando a importância do cobalto e molibdênio dentro das necessidades gerais de NPK da soja. Ele ajuda o leitor a entender que a FBN (potencializada por Co e Mo) é a fonte de Nitrogênio, mas que Fósforo e Potássio são igualmente cruciais, além de introduzir a análise foliar como ferramenta de diagnóstico.
- Todos os cuidados para maximizar o enchimento de grãos de soja: O artigo principal destaca que a fase de enchimento de grãos (R5) tem um pico de demanda por FBN. Este artigo foca exclusivamente nesta fase crítica, detalhando outros fatores limitantes como estresse hídrico, pragas e doenças. Ele ensina como proteger o potencial de produtividade que uma nutrição eficiente com cobalto e molibdênio ajudou a construir.