Classificação de Soja: O Guia Completo para Aumentar sua Rentabilidade

Redator parceiro Aegro.
Classificação de Soja: O Guia Completo para Aumentar sua Rentabilidade

A colheita da soja é um momento decisivo, mas o trabalho não termina quando a máquina sai do campo. Depois de colher, começa uma etapa fundamental que define o valor do seu produto: a classificação dos grãos.

Afinal, a soja é uma matéria-prima com muitos destinos, desde a exportação do grão bruto até a produção de óleo ou o uso na indústria de cosméticos. Para entrar nesse mercado, seja vendendo para uma indústria ou uma trading, sua produção precisa atender a um padrão de qualidade.

É aqui que entra a classificação física da soja, um processo baseado em regras e normas técnicas. Entender como ela funciona é essencial para garantir uma comercialização justa e mais lucrativa.

Neste artigo, vamos detalhar todo o processo de classificação e dar dicas práticas de como você pode usar esse conhecimento para garantir um melhor preço na venda da sua safra.

O Que a Legislação Diz Sobre a Classificação da Soja?

A base para toda a classificação de soja no Brasil é a Instrução Normativa (IN) 11, de 2007, do Ministério da Agricultura. Toda análise feita em território nacional utiliza esta norma como referência.

No entanto, é fundamental entender um ponto: a IN 11 funciona como um padrão. Empresas, indústrias e tradings não são obrigadas a segui-la à risca, desde que os critérios de classificação próprios sejam explicados ao produtor e estejam claros no contrato assinado por ambas as partes.

A Instrução Normativa divide a soja em dois grandes grupos (I e II), definidos pelos limites máximos de tolerância para defeitos, como você pode ver na tabela abaixo:

duas tabelas técnicas que detalham os limites máximos de tolerância para a classificação da soja, expressos em Variáveis analisadas e os limites na classificação de soja especificadas na IN 11 de 2007. (Fonte: Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento)

Um detalhe importante: a tabela acima não usa a umidade do grão para definir o grupo da soja. A IN 11 apenas recomenda um percentual máximo de 14%. Na prática, esse padrão de 14% é seguido por todo o mercado. Se a sua soja chegar com umidade acima disso, serão aplicados descontos no peso para cobrir os custos de secagem.

O Processo de Classificação da Soja em 7 Passos Práticos

Depois da colheita, a soja é levada para uma indústria, trading ou para a estrutura de armazenamento do grão na própria fazenda. Independentemente do destino, o processo de classificação segue uma ordem lógica para garantir a qualidade.

As etapas são: amostragem (calagem), quarteamento, retirada de impurezas, medição da umidade e, por fim, a avaliação de grãos avariados, esverdeados e partidos dentro do laboratório.

Vamos detalhar cada passo.

1 – Amostragem (ou Calagem)

O primeiro passo é coletar amostras representativas da carga do caminhão.

  • Calagem (amostragem): neste contexto, significa retirar pequenas porções de grãos, chamadas de subamostras, de diferentes pontos do caminhão para formar uma amostra geral.

A quantidade de pontos a serem coletados varia com o peso total da carga, conforme a tabela da IN:

uma tabela informativa que estabelece uma diretriz para a amostragem de produtos agrícolas a granel. A tabela Número de pontos a se retirar para formar a amostra de trabalho. (Fonte: Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento)

2 – Quarteamento

  • Quarteamento: é o processo de misturar bem a amostra geral e reduzi-la de forma padronizada até obter uma amostra de trabalho homogênea, com cerca de 250 g. Isso garante que a pequena porção analisada represente toda a carga do caminhão. Para isso, usa-se um equipamento chamado quarteador.

comedouro automático vertical, fabricado em metal, provavelmente aço inoxidável ou galvanizado, projetado p Quarteador em cascata, equipamento usado para homogeneizar e reduzir a amostra. (Fonte: Eagri)

3 – Retirada de Matérias Estranhas e Impurezas

Nesta etapa, a amostra de trabalho passa por peneiras (com aberturas de 3 mm e 9 mm) para separar tudo o que não é grão de soja, como terra, palha, sementes de outras plantas e outros detritos.

O percentual aceitável de impurezas é de 1%. Qualquer valor acima disso é descontado proporcionalmente do peso total da carga.

comparativo visual utilizado na análise de qualidade de grãos, provavelmente soja, demonstrando o processo de s Exemplo de matérias estranhas e impurezas separadas da amostra de soja. (Fonte: Referencial fotográfico da soja)

4 – Determinação da Umidade do Grão

Aqui, equipamentos específicos medem o teor de água presente nos grãos. Como mencionado, o percentual padrão do mercado é de 14%. Cargas com umidade superior a isso recebem um desconto no peso para compensar o custo da secagem.

5 – Determinação dos Grãos Avariados

Esta é uma das análises mais detalhadas e importantes.

  • Grãos avariados: são grãos que sofreram danos por pragas, umidade, calor excessivo na secagem ou problemas mecânicos.

O percentual aceitável é de 8%. Acima deste valor, o desconto é aplicado. Esses defeitos impactam diretamente a qualidade do óleo e o teor de proteína da soja, reduzindo seu valor comercial.

Veja alguns exemplos de avarias:

composição de duas fotografias que ilustram o problema de grãos queimados durante o processo de secagem. À esq Esta imagem é uma composição de três fotografias que ilustram diferentes tipos de problemas de qualidade em grãos de soja apó Grãos mofados e ardidos, geralmente causados por atraso na colheita em períodos chuvosos. (Fonte: Referencial fotográfico da soja)

uma comparação visual didática entre diferentes tipos de sementes de soja, dispostas sobre um fundo azul para Comparação entre grãos imaturos e chochos, que não se desenvolveram completamente. (Fonte: Referencial fotográfico da soja)

Os principais causadores de grãos avariados são:

  • Ataque de percevejos: insetos como o percevejo barriga-verde e o percevejo marrom sugam a seiva dos grãos. O furo que eles deixam serve de porta de entrada para fungos e bactérias, que fermentam o grão e o transformam no que chamamos de grão ardido.
  • Chuva na colheita: a umidade excessiva atrasa a operação, fazendo com que o grão “passe do ponto” no campo, o que favorece o surgimento de mofo e outros danos.

6 – Determinação de Grãos Esverdeados

  • Grãos esverdeados: são grãos que não atingiram a maturidade fisiológica completa, seja por estresse hídrico (seca), ataque de pragas agrícolas ou outros fatores.

Essa análise específica só é realizada se o classificador notar visualmente uma grande quantidade de grãos esverdeados na amostra. O percentual aceitável é de 8%, e valores acima disso são descontados.

seis cotilédones de soja, de cor verde intensa, dispostos sobre uma superfície azul clara. No topo, uma caixa Exemplo de grãos esverdeados, que não completaram seu ciclo de maturação. (Fonte: Referencial fotográfico da soja)

7 – Determinação de Grãos Partidos e Amassados

Assim como os esverdeados, esta análise só é feita se houver uma quantidade visivelmente grande de grãos partidos, quebrados ou amassados na amostra, geralmente por problemas na colheita ou no transporte.

O percentual aceitável é de 30%. Acima deste valor, o desconto é aplicado proporcionalmente.

uma comparação visual clara entre grãos ‘quebrados’ e ‘partidos’, provavelmente de soja ou outra leguminosa, s Diferença entre grãos partidos e quebrados, defeitos comuns de manejo. (Fonte: Referencial fotográfico da soja)

Como Usar a Classificação para Aumentar sua Rentabilidade

Conhecer os critérios de classificação do seu comprador e ter uma boa estrutura na fazenda (silos, secadores, peneiras) abre portas para uma gestão pós-colheita muito mais inteligente.

O primeiro passo é fazer uma pré-classificação da sua própria soja antes de enviá-la. Analise a umidade, as impurezas e os grãos avariados de cada carga que sai da lavoura. Com base nisso, você pode separar os grãos em diferentes silos, de acordo com a qualidade.

A partir daí, você pode aplicar uma técnica muito usada por indústrias e tradings chamada de “blend”.

  • Blend: é uma palavra em inglês que significa “mistura”. No agronegócio, é a técnica de misturar lotes de soja com qualidades diferentes para criar uma carga final que atenda exatamente ao padrão do comprador, evitando descontos e maximizando o peso.

Opções de Blend na Prática

Para ilustrar, vamos imaginar um produtor, o João, que colheu 30 mil sacos de soja, conseguiu armazenar tudo e classificou sua produção em três tipos diferentes:

uma tabela detalhada que exemplifica um plano de gestão pós-colheita para um produtor fictício chamado ‘João d

Com esses dados, João tem duas ótimas estratégias de blend:

  1. Ganhar com a Umidade: Ele pode misturar a soja do Tipo 1 (13% de umidade) com a do Tipo 2 (15% de umidade). A carga final ficará com a umidade próxima do padrão de 14%, evitando o desconto que seria aplicado no Tipo 2 e, na prática, vendendo a “água” do Tipo 1 pelo preço de soja.
  2. Evitar Desconto de Avariados: Outra opção é misturar a soja do Tipo 3 (10% de avariados) com a do Tipo 2 (6% de avariados). A mistura resultante terá um índice de avariados dentro do limite de 8%, evitando o pesado desconto que seria aplicado sobre o lote do Tipo 3.

Essas misturas devem ser feitas de forma calculada e, muitas vezes, envolvem técnicas de conservação e secagem nos silos.

Análise de Ganhos: Venda Direta vs. Venda com Blend

A tabela abaixo compara o resultado financeiro da venda direta (entregando tudo como está e aceitando os descontos) com a venda após o manejo e o “blend” dos grãos.

uma tabela comparativa que analisa a rentabilidade da comercialização de soja, contrastando a venda com e sem

Fica claro que, quanto maior a sua produção e capacidade de armazenamento, maiores são as oportunidades de maximizar os lucros com essa estratégia. O blend é um forte aliado não só para a soja, mas também para outras culturas, como o milho.

Conclusão

A classificação de grãos é o que padroniza as commodities, garantindo produtos de qualidade e facilitando o comércio nacional e internacional.

Neste guia, você viu como a legislação funciona, conheceu os 7 passos do processo de classificação e, o mais importante, aprendeu como usar esse conhecimento a seu favor.

Entender a classificação e aplicar técnicas como o “blend” no pós-colheita não é apenas um detalhe técnico – é uma ferramenta poderosa para aumentar a rentabilidade da sua lavoura!


Glossário

  • Blend: Técnica de misturar lotes de soja com qualidades diferentes para criar uma carga final que atenda aos padrões do comprador. Por exemplo, misturar um lote com umidade de 15% com outro de 13% para atingir o padrão de 14%, evitando descontos.

  • Grãos Avariados: Grãos que sofreram danos por pragas, umidade excessiva, calor na secagem ou problemas mecânicos (mofados, ardidos, chochos). Avarias impactam diretamente a qualidade do óleo e da proteína, sendo um critério chave na classificação, com limite padrão de 8%.

  • Grãos Esverdeados: Grãos que não atingiram a maturidade fisiológica completa, geralmente por estresse hídrico ou ataque de pragas. Sua presença indica uma finalização inadequada do ciclo da cultura, e o mercado estabelece um limite de tolerância (geralmente 8%) para evitar descontos.

  • Instrução Normativa (IN) 11: Norma técnica do Ministério da Agricultura (MAPA) que estabelece os padrões oficiais para a classificação da soja no Brasil. Define os limites máximos de tolerância para defeitos, umidade e impurezas, servindo como referência para todo o mercado.

  • Quarteamento: Processo padronizado para reduzir o volume de uma amostra de grãos, garantindo que a porção final (amostra de trabalho) seja homogênea e representativa de toda a carga. Utiliza-se um equipamento chamado quarteador para realizar a divisão.

  • Trading: Empresa especializada na compra e venda de commodities agrícolas em grande volume, como a soja. Atuam como intermediárias entre os produtores e o mercado global, gerenciando a logística, o armazenamento e a exportação dos grãos.

  • Umidade do Grão: Percentual de água contido nos grãos, um parâmetro fundamental para o armazenamento e comercialização. O padrão de mercado para a soja é de 14%; cargas com umidade superior a este valor recebem descontos no peso para compensar os custos de secagem.

Como a tecnologia simplifica a gestão pós-colheita

Aplicar a estratégia de blend é uma forma inteligente de maximizar a rentabilidade, mas controlar todo o processo manualmente, em planilhas ou cadernos, pode ser um grande desafio. É preciso registrar a qualidade da soja em cada silo, acompanhar as misturas realizadas e, principalmente, conectar essas operações aos contratos de venda para saber se o resultado final foi realmente lucrativo.

Nesse ponto, a tecnologia se torna uma aliada indispensável. Um software de gestão agrícola como o Aegro centraliza essas duas frentes: a operacional e a financeira. Com a funcionalidade de controle de estoque, você gerencia o que há em cada silo, registra as transferências e sabe exatamente a qualidade do produto armazenado. Ao mesmo tempo, a gestão de contratos agrícolas permite simular o resultado das vendas, aplicar os descontos previstos e analisar com precisão o retorno financeiro de cada carga, transformando dados em decisões mais seguras.

Que tal transformar a gestão pós-colheita em uma fonte de lucro e evitar perdas com descontos?

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Perguntas Frequentes

Qual a diferença entre a classificação da IN 11 e a que a trading usa na prática?

A Instrução Normativa (IN) 11 do Ministério da Agricultura é a referência oficial que estabelece os padrões de qualidade da soja no Brasil. No entanto, as tradings e indústrias podem usar critérios próprios, desde que estejam claramente definidos no contrato de compra e venda. Na prática, a IN 11 serve como uma base, mas os termos do contrato são os que prevalecem na negociação.

Por que o padrão de umidade da soja para comercialização é fixado em 14%?

O limite de 14% de umidade é um padrão de mercado estabelecido para garantir o armazenamento seguro dos grãos, evitando a proliferação de fungos e a deterioração do produto. Grãos entregues com umidade acima desse valor recebem descontos no peso para cobrir os custos de secagem. Entregar com umidade muito abaixo significa que o produtor está perdendo peso vendável.

Quais são as principais causas de grãos avariados e como posso evitá-los?

As principais causas são o ataque de pragas, como os percevejos, que abrem portas para fungos (causando grãos ardidos), e o excesso de umidade por chuvas durante a colheita, que leva a grãos mofados. Para evitar, é fundamental realizar um bom manejo integrado de pragas durante o ciclo da cultura e planejar a colheita para a janela de tempo ideal, com o grão na umidade correta e em condições climáticas favoráveis.

É possível fazer o ‘blend’ de soja em pequenas propriedades sem grandes silos?

Sim, a técnica de ‘blend’ é adaptável. Mesmo em menor escala, produtores com estruturas de armazenamento mais simples, como silos-bolsa ou moegas separadas, podem segregar lotes com qualidades diferentes (ex: umidade, avarias). A partir daí, é possível realizar misturas calculadas ao carregar os caminhões, visando atingir o padrão do comprador e evitar descontos.

Vender soja com umidade abaixo de 14% gera algum bônus para o produtor?

Geralmente não há um bônus financeiro direto por entregar a soja mais seca. Na verdade, isso representa uma perda de peso, pois você vende menos ‘água’ do que o padrão permite. A estratégia mais inteligente, como o ‘blend’, é misturar esse lote mais seco com outro um pouco mais úmido para aproximar a carga final do padrão de 14%, maximizando o peso total vendido.

O que fazer se eu discordar do resultado da classificação de soja feita pelo comprador?

Caso discorde da análise, o primeiro passo é solicitar uma reclassificação na presença de um representante seu. É uma boa prática sempre coletar uma amostra da sua carga (contra-amostra) antes da entrega para poder enviá-la a um laboratório independente, se necessário. Ter seus próprios dados de pré-classificação também fortalece sua posição na negociação.

Artigos Relevantes

  • Qual o teor de umidade de armazenamento da soja?: Este artigo aprofunda o parâmetro mais crítico mencionado no guia principal: a umidade. Enquanto o artigo principal estabelece o padrão de 14%, este candidato explica a ciência por trás desse número, detalhando como a umidade e a temperatura interagem ao longo do tempo. Ele oferece um valor único com a tabela de armazenamento seguro, transformando o conceito de ‘blend’ de uma tática para uma estratégia baseada em dados precisos de conservação.
  • Estratégias para o manejo de grãos ardidos de milho e soja: O artigo principal identifica ‘grãos avariados’ como um fator chave de desconto, mencionando os ardidos como exemplo. Este artigo funciona como uma expansão focada, oferecendo um guia completo sobre as causas (fungos, secagem, armazenamento) e, mais importante, as estratégias de manejo para prevenir esse defeito específico. Ele preenche a lacuna entre identificar o problema na classificação e agir para evitá-lo na lavoura e no pós-colheita.
  • Armazenamento de grãos: cuidados e estratégia para comercialização: A estratégia de ‘blend’, ponto alto do artigo principal, só é viável para quem tem capacidade de armazenamento. Este artigo fornece o contexto estratégico essencial, abordando a decisão de ‘armazenar vs. vender’ e os cuidados operacionais (limpeza, aeração, pragas) para manter a qualidade. Ele complementa o guia principal ao fundamentar o pré-requisito para a maximização da rentabilidade, conectando a gestão de estoque à estratégia de comercialização.
  • Colheita de soja: 7 dicas para torná-la ainda melhor: Este artigo funciona como o capítulo anterior indispensável ao guia principal. Ele aborda como evitar perdas e danos mecânicos (‘grãos partidos e quebrados’, um critério de classificação) durante a colheita, através da correta regulagem da colhedora. Ele garante que o máximo de grãos de alta qualidade chegue ao armazém, tornando o processo de classificação e ‘blend’ muito mais eficaz e rentável.
  • Entenda os diferentes métodos de amostragem de grãos e como eles podem impactar a comercialização da sua safra: O artigo principal apresenta a amostragem como o primeiro passo da classificação, mas de forma resumida. Este candidato detalha a importância crítica e a metodologia correta deste passo, explicando os tipos de amostras e os cuidados para garantir a representatividade. Sua seleção é crucial, pois uma amostragem falha invalida todo o processo de classificação, tornando este conteúdo um aprofundamento técnico fundamental para a credibilidade da análise.