A safra de soja 2022 está projetada para alcançar 144,7 milhões de toneladas, o que mantém o Brasil como um dos maiores produtores mundiais. Mas como conseguimos chegar a um patamar tão impressionante?
Esse sucesso é resultado de anos de pesquisa, desenvolvimento de técnicas de manejo eficientes e uma gestão agrícola de alto nível.
Para tomar as melhores decisões na sua lavoura, é fundamental conhecer a fundo o ciclo da soja e seus principais estágios. Você sabe identificar cada um deles? Vamos detalhar tudo a seguir.
Como se Desenvolve uma Planta de Soja?
As Partes da Planta de Soja
Para entender o ciclo, primeiro precisamos conhecer as peças que formam a planta de soja.
A soja (Glycine max) é uma planta herbácea da família Fabaceae, a mesma do feijão. Entender sua estrutura é o primeiro passo para um manejo correto.
Suas sementes têm uma germinação epígea: significa que os cotilédones (as primeiras “folhas” da semente) emergem para fora do solo. Seu sistema de raízes é pivotante: quer dizer que a planta tem uma raiz principal, mais grossa, que cresce para baixo, com raízes menores (secundárias) saindo dos lados.
Apesar das raízes poderem atingir até 1,8 m
de profundidade e 50 cm
de largura, a maior parte delas, que absorve os nutrientes, se concentra nos primeiros 30 cm
de solo.
Detalhe dos componentes de uma plântula de soja (Glycine max)
(Fonte: International Plant Nutrition Institute – IPNI)
O caule da soja é coberto por pelos (híspido) e geralmente cresce como uma haste única, mas pode desenvolver ramos laterais durante o ciclo. A altura da planta varia bastante, dependendo das cultivares e da região de cultivo.
Durante seu desenvolvimento, a planta de soja apresenta três tipos de folhas em sequência:
- Cotiledonares: As primeiras a aparecer, vêm da semente.
- Unifolioladas: Um par de folhas simples que surgem logo após.
- Trifolioladas: As folhas compostas, com três folíolos, que formam a maior parte da planta.
As flores da soja realizam fecundação autógama: significa que a flor se fertiliza sozinha, sem precisar do pólen de outra planta. Elas podem ter cores variadas, como branco, roxo ou tons intermediários.
Dessas flores se formam as vagens. Elas começam verdes e, à medida que os grãos se enchem e amadurecem, mudam para um tom amarelo-pálido.
Existem dois tipos principais de plantas de soja quanto ao seu hábito de crescimento:
Detalhe de racemo terminal em soja BRS Sambaíba RR
(Fonte: Embrapa)
- Crescimento Determinado: A planta para de crescer em altura quando o florescimento começa. Isso acontece porque ela forma um racemo terminal, que é um cacho de flores na ponta do caule principal.
- Crescimento Indeterminado: A planta continua a crescer e a produzir novas folhas mesmo depois que o florescimento já começou. Ela não possui um cacho de flores na ponta do caule principal.
Os Estágios do Ciclo da Soja: A Nomenclatura Padrão (V e R)
Agora que conhecemos a estrutura da planta, vamos detalhar as fases do seu desenvolvimento. O modelo mais usado hoje para classificar o ciclo da soja foi criado pelos pesquisadores Fehr e Caviness em 1977.
Esse sistema divide o ciclo em duas grandes fases:
- Estágios Vegetativos (V): Foco no crescimento de raízes, caule e folhas.
- Estágios Reprodutivos (R): Foco no desenvolvimento de flores, vagens e grãos.
Cada fase é dividida em subestágios, identificados por um número (ex: V1, V2, R1, R2).
Descrição dos estágios vegetativos e reprodutivos da soja (Glycine max)
(Fonte: Adaptado de IPNI)
Uma regra importante: dizemos que uma lavoura de soja atingiu um determinado estágio quando pelo menos 50% das plantas do talhão estão nessa fase. Isso é feito para padronizar a avaliação, já que sempre haverá uma pequena variação no desenvolvimento entre as plantas.
Esquema das plantas de soja nos diferentes estágios de desenvolvimento
(Fonte: Coopertradição)
Essa padronização da nomenclatura é fundamental. Ela garante que produtores, agrônomos e pesquisadores de diferentes regiões do país estejam falando a mesma língua ao discutir o manejo da lavoura.
Qual a Duração do Ciclo da Soja em Dias?
O ciclo completo da soja, do plantio à colheita, pode variar de 100 a 160 dias. Essa variação depende principalmente da cultivar escolhida e da região. No entanto, os ciclos comerciais mais comuns hoje no Brasil duram entre 115 e 125 dias, típicos de cultivares precoces a médias.
Antigamente, as cultivares eram classificadas como superprecoces, precoces, semiprecoces, médias e tardias, com base apenas na duração do ciclo em dias. O problema é que a mesma cultivar, plantada em regiões diferentes, apresentava durações de ciclo distintas, o que gerava confusão para produtores e consultores.
Para resolver essa questão, foram criados os Grupos de Maturação Relativa (GMR).
Distribuição dos grupos de maturação (maturidade relativa) das cultivares no Brasil
(Fonte: Alliprandini et al. (2009*)*)
Os GMR classificam as cultivares com base na sua adaptação a diferentes regiões e latitudes, usando valores que vão de 0 a 10. Esse sistema indica quais cultivares são mais adequadas para cada local, permitindo que elas atinjam seu máximo potencial produtivo. Com essa classificação, fica muito mais fácil e seguro escolher a cultivar certa para a sua fazenda.
Etapas Práticas do Cultivo Alinhadas ao Ciclo da Soja
Com a padronização dos estágios e dos grupos de maturação, alinhar as operações de campo ao ciclo da soja se torna mais simples e eficiente. As principais etapas são:
- Planejamento e Escolha da Cultivar: A primeira etapa é a escolha da cultivar ideal, usando os Grupos de Maturação como guia para sua região.
- Preparo do Solo: Muito antes da semeadura, é crucial fazer a amostragem de solo para planejar a correção (calagem, gessagem) e a adubação. Não deixe para a última hora.
- Controle de Plantas Daninhas: O manejo de plantas daninhas deve ser planejado com cuidado, especialmente se for usar herbicidas pré-emergentes, que podem afetar a germinação da soja se não forem bem gerenciados.
- Plantio: A execução da semeadura na janela ideal para sua região, garantindo a profundidade e a distribuição corretas das sementes.
- Monitoramento de Pragas e Doenças: Durante todo o desenvolvimento da lavoura, o monitoramento constante de pragas e doenças é vital. Acompanhar cada estágio (V e R) permite aplicar estratégias de manejo integrado (MIP), agindo de forma rápida e precisa para minimizar perdas.
- Colheita: A etapa final, realizada quando a cultura atinge o ponto de maturação ideal para garantir a qualidade dos grãos e evitar perdas na colheita.
Para organizar todas essas etapas, desde o planejamento até o controle de custos e estoque, ferramentas como os softwares de gestão agrícola são essenciais. Esses aplicativos ajudam a criar calendários de atividades, registrar operações e controlar insumos, tudo em um só lugar.
Conclusão
Dominar a nomenclatura do ciclo da soja e entender os Grupos de Maturação não é apenas teoria. É conhecimento prático que facilita a comunicação, aprimora o planejamento e melhora a tomada de decisão no campo.
Em um cenário globalizado, a tecnologia é uma grande aliada. Usar esse conhecimento técnico junto com ferramentas de gestão modernas permite um controle preciso de cada etapa do ciclo.
É esse manejo correto e bem gerenciado, do plantio à colheita, que nos permitirá continuar quebrando recordes de produtividade safra após safra.
Glossário
Cultivares: Variedades de uma planta que foram melhoradas geneticamente para apresentar características específicas, como maior produtividade, resistência a doenças ou adaptação a certas regiões. A escolha da cultivar de soja correta é um dos primeiros passos para o sucesso da lavoura.
Crescimento Determinado e Indeterminado: Tipos de hábito de crescimento da soja. Plantas de crescimento determinado param de crescer em altura quando o florescimento começa, enquanto as de crescimento indeterminado continuam o desenvolvimento vegetativo mesmo após o início da floração.
Fecundação Autógama: Processo de autofecundação em que a flor da planta é fertilizada pelo seu próprio pólen. Isso significa que a soja não depende de agentes externos, como insetos ou vento, para a polinização e produção de vagens.
Germinação Epígea: Tipo de germinação em que os cotilédones (as primeiras folhas embrionárias contidas na semente) emergem para fora do solo. Na soja, isso é visível quando as duas primeiras “folhinhas” arredondadas aparecem acima da superfície.
GMR (Grupos de Maturação Relativa): Sistema que classifica as cultivares de soja com base em sua adaptação a diferentes latitudes e duração do ciclo, usando uma escala de 0 a 10. Ajuda o produtor a escolher a cultivar mais adequada para sua região, otimizando o potencial produtivo.
Sistema Radicular Pivotante: Tipo de sistema de raízes caracterizado por uma raiz principal, mais grossa e profunda, da qual partem raízes secundárias menores. Embora a raiz principal possa ser profunda, a maior parte da absorção de nutrientes na soja ocorre nos 30 cm superficiais do solo.
V e R (Estágios Vegetativos e Reprodutivos): Nomenclatura padrão para classificar o ciclo de desenvolvimento da soja. Os estágios ‘V’ (V1, V2, etc.) referem-se à fase de crescimento de folhas e caules, enquanto os estágios ‘R’ (R1, R2, etc.) correspondem à fase de florescimento, formação de vagens e enchimento de grãos.
Como a tecnologia otimiza o manejo do ciclo da soja
Gerenciar todas as etapas do ciclo, do preparo do solo à colheita, exige um planejamento detalhado e um acompanhamento rigoroso. O monitoramento constante de pragas e o controle de custos, por exemplo, são desafios que demandam dados precisos para decisões rápidas. Ferramentas digitais como o software de gestão agrícola Aegro foram desenvolvidas para simplificar exatamente esse processo. Com ele, é possível registrar as atividades de monitoramento diretamente do campo pelo celular, criando um histórico por talhão que facilita o planejamento de pulverizações no estágio fenológico correto.
Essa organização não só otimiza o uso de insumos, mas também centraliza o controle financeiro, garantindo que o custo de produção esteja sempre sob controle. Quer transformar o manejo da sua lavoura em um processo mais simples e lucrativo?
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Perguntas Frequentes
Como sei exatamente quando minha lavoura de soja atingiu um novo estágio, como V3 ou R2?
Uma lavoura é considerada em um determinado estágio fenológico quando pelo menos 50% das plantas em uma área representativa (talhão) atingem as características daquela fase. Essa regra de 50% é uma padronização técnica essencial para garantir que as decisões de manejo, como a aplicação de defensivos ou fertilizantes, sejam tomadas no momento ideal para a maior parte da população de plantas.
Qual a principal diferença entre os estágios vegetativos (V) e reprodutivos (R) da soja?
Os estágios vegetativos (V) são focados no crescimento e estruturação da planta, como o desenvolvimento de raízes, caule e folhas. É a fase de construção da “fábrica”. Já os estágios reprodutivos (R) são dedicados à produção propriamente dita: florescimento, formação das vagens e enchimento dos grãos, que é o período crítico onde a produtividade da safra é efetivamente definida.
Por que os Grupos de Maturação Relativa (GMR) são mais importantes do que apenas a duração do ciclo em dias?
Os GMR são mais precisos porque indicam a adaptação da cultivar a uma latitude específica, considerando fatores como o fotoperíodo (duração do dia). Uma mesma cultivar pode ter um ciclo de 110 dias no Sul e 125 dias no Centro-Oeste. O GMR ajuda o produtor a escolher a variedade que vai expressar seu máximo potencial produtivo em sua região, algo que a contagem de dias sozinha não consegue garantir.
Existe uma diferença prática no manejo de uma soja de crescimento determinado e uma de crescimento indeterminado?
Sim. Sojas de crescimento determinado param o desenvolvimento vegetativo quando o florescimento começa, então é crucial que a planta já tenha uma boa estrutura foliar nesse momento. Já as de crescimento indeterminado continuam a produzir folhas mesmo após o florescimento, o que pode demandar um manejo nutricional e fitossanitário mais prolongado para sustentar tanto o crescimento vegetativo quanto o reprodutivo ao mesmo tempo.
Se a raiz da soja pode chegar a 1,8m de profundidade, por que a adubação se concentra na superfície?
Apesar de a raiz principal (pivotante) buscar água em camadas profundas, a grande maioria das raízes secundárias, responsáveis pela absorção da maior parte dos nutrientes, concentra-se na camada superficial do solo, entre 0 e 30 cm. Por isso, a adubação é mais eficiente quando aplicada nessa zona, garantindo que os nutrientes estejam prontamente disponíveis onde a atividade de absorção da planta é mais intensa.
Qual a importância de identificar corretamente as folhas unifolioladas e trifolioladas da soja?
A identificação correta é crucial para a contagem dos estágios vegetativos (V). O primeiro nó com folhas trifolioladas completamente desenvolvidas marca o estágio V1. A partir daí, cada novo nó com uma folha trifoliolada desenvolvida representa um novo estágio (V2, V3, etc.). Essa contagem precisa orienta o momento exato para aplicações de herbicidas, inseticidas e outros manejos que dependem do estágio de desenvolvimento da cultura.
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