Cultivo de Cevada: Guia Completo de Manejo para a Safra de Inverno

Redator parceiro Aegro.
Cultivo de Cevada: Guia Completo de Manejo para a Safra de Inverno

O cultivo da cevada está ganhando força como uma excelente fonte de renda alternativa na safra de inverno. Embora ainda pouco explorada em muitas regiões, essa cultura apresenta um grande potencial econômico, especialmente para o mercado de malte cervejeiro.

Para garantir uma lavoura produtiva e lucrativa, é fundamental dominar o manejo correto e saber como evitar as principais doenças das culturas de inverno. Assim, você assegura a máxima produtividade e qualidade do grão.

Neste artigo completo, vamos detalhar tudo o que você precisa saber, desde as características da planta até as melhores práticas de colheita. Confira!

Características Gerais da Cevada

A cevada é uma planta típica de inverno, o que significa que ela precisa de períodos frios para se desenvolver bem e não se adapta a qualquer região do Brasil. A Região Sul, por exemplo, oferece as condições ideais para o seu desenvolvimento.

  • Período de cultivo no Sul: Entre junho e novembro.
  • Período de cultivo em SP, GO e MG: Entre maio e setembro (geralmente com irrigação).

A germinação da semente ocorre rapidamente, entre um e três dias, e o ciclo total da cultura dura cerca de 110 dias.

close-up detalhado de espigas de cevada em uma lavoura, sob um céu azul e ensolarado. As espigas estão em f Espigas de cevada com aquênios ovalados. (Fonte: Embrapa)

Mundialmente, a cevada é uma das culturas mais importantes, com uma área plantada que ultrapassa 50 milhões de hectares. Para a safra de 2022 no Brasil, a expectativa de produção foi de 427,5 mil toneladas.

A planta é versátil e utilizada para diferentes finalidades:

  • Alimentação animal: Como forragem ou na composição de rações.
  • Alimentação humana: Na forma de farinha para diversos produtos.
  • Indústria cervejeira: Como matéria-prima principal para a produção de malte.

No Brasil, o grande destaque é a produção de malte para a indústria cervejeira. Atualmente, a produção nacional atende cerca de 30% da demanda das cervejarias, o que mostra um enorme potencial de crescimento.

Cevada como Oportunidade de Renda

A produtividade média da cevada no Brasil gira em torno de 4.000 kg/ha, mas há um potencial produtivo que pode ultrapassar os 5.000 kg/ha com manejo adequado.

Segundo pesquisadores da Embrapa Trigo, os preços da cevada de boa qualidade podem variar de 120% a 135% do preço do trigo pão. A rentabilidade aumenta ainda mais, podendo superar em 150% o preço do trigo, se mais de 85% dos seus grãos atingirem a classificação Classe 1, a mais valorizada pela indústria.

O Brasil é um dos maiores mercados de cerveja do mundo, e a indústria nacional absorve cerca de 70% dos grãos de cevada para malteação.

close-up detalhado de grãos de cevada em pleno processo de germinação. Cada semente, de cor dourada-acastan Grãos de cevada maltados. (Fonte: HominiLupulo)

Quando a produção não atende aos padrões de qualidade das cervejarias, ela é destinada à fabricação de ração animal. Esse mercado secundário ainda é robusto e absorve cerca de 30% da produção total.

Como exemplo do potencial de mercado, a cervejaria Ambev anunciou em 2021 um programa de incentivo à produção de cevada em Santa Catarina. A empresa fornece a semente e garante a compra da safra por meio de contratos, oferecendo segurança ao produtor. A meta é expandir a área de 500 hectares para 2.000 hectares nos próximos anos.

Por ser um mercado ainda em expansão, investir na cevada pode gerar excelentes lucros e, ao mesmo tempo, trazer benefícios agronômicos, como a proteção e melhoria do solo durante o inverno.

Cultivo da Cevada como Cultura de Inverno

Para ter sucesso com a cevada, é essencial planejar a sua safra considerando as particularidades do seu objetivo, seja para produção de grãos ou para malte.

O zoneamento agroclimático indica as melhores regiões para cada sistema:

  • Cultivo de sequeiro (sem irrigação) para malte: Recomendado para Santa Catarina, Paraná e Rio Grande do Sul.
  • Cultivo irrigado: Indicado para São Paulo, Minas Gerais, Goiás e Distrito Federal.

Semeadura

A semeadura deve ser feita em solo com pH e nutrientes já corrigidos, seguindo a recomendação técnica para sua região. Dê preferência ao sistema de plantio direto para conservar o solo.

  • Densidade: O objetivo é estabelecer uma população de 250 plantas/m², o que equivale a 2.500.000 plantas por hectare.
  • Espaçamento: O espaçamento entre linhas ideal fica entre 15 cm e 20 cm.
  • Profundidade: Deposite as sementes de maneira uniforme a uma profundidade de 3 cm a 5 cm.

uma visão em close-up e de ângulo baixo de uma lavoura em estágio inicial de desenvolvimento. Fileiras de plan Plântulas de cevada na lavoura. (Fonte: Embrapa)

Para cultivares com alta capacidade de perfilhamento (perfilhamento: habilidade da planta de gerar novos brotos a partir da base), é possível aumentar o espaçamento para até 30 cm entre linhas, mantendo a mesma densidade final de plantas.

Nutrição

A cevada é uma cultura sensível à acidez do solo. Portanto, a nutrição correta é fundamental.

  1. Correção do Solo: Utilize calcário para elevar o pH do solo para a faixa ideal de 5,5 a 6,0. Além de corrigir a acidez, essa prática fornece cálcio e magnésio.

  2. Nitrogênio (N): A dose de nitrogênio depende da quantidade de matéria orgânica no solo, da cultura anterior e da expectativa de produtividade.

    • Na semeadura: Aplique entre 15 kg e 20 kg de N por hectare.
    • Em cobertura: Aplique o restante entre os estádios de afilhamento (início da formação de perfilhos) e alongamento.
    • Doses altas (> 40 kg/ha): Se a recomendação for alta, divida a aplicação de cobertura em duas etapas: uma no início do afilhamento e o restante no início do alongamento.
    • Cuidado: Em cultivares suscetíveis ao acamamento (acamamento: tombamento das plantas), reduza a dose de nitrogênio em cobertura.
  3. Redutor de Crescimento: Em alguns cultivares, pode ser necessário usar um redutor de crescimento para evitar o acamamento. Aplique uma dose de 0,4 L/ha do produto Moddus quando o primeiro nó for visível no colmo principal da planta.

  4. Fósforo (P) e Potássio (K): As quantidades de fósforo e potássio são definidas com base no teor desses nutrientes no solo e na meta de rendimento. Faça a interpretação da análise de solo para determinar as doses e as fontes mais adequadas, sempre considerando a viabilidade financeira.

Manejo Integrado

Para um manejo eficiente, dê preferência a áreas onde não foram cultivadas gramíneas no último ano e adote o manejo integrado de pragas, doenças e plantas daninhas.

Ao planejar a rotação de culturas, leve em conta os seguintes aspectos:

  • Técnicos: Exigência de fertilidade, suscetibilidade a pragas e doenças, opções de controle de plantas daninhas e disponibilidade de maquinário.
  • Econômicos: Custo de produção, expectativa de produtividade e preço de venda.

Um exemplo de sequência recomendada para três anos no Sul do Brasil (cultura de inverno/verão) é:

  1. Ano 1: Aveia / Soja
  2. Ano 2: Cevada / Soja e leguminosa (para adubação verde)
  3. Ano 3: Nabo forrageiro / Milho

Essa rotação ajuda a reduzir a incidência de doenças, pragas e plantas daninhas em todas as culturas envolvidas.

Controle de Plantas Daninhas na Cevada

Se a infestação exigir o controle químico, lembre-se de realizar a limpeza do pulverizador agrícola e utilizar todos os equipamentos de proteção individual (EPIs). A recomendação é aplicar entre 100 a 150 litros de calda por hectare, com bicos adequados às condições climáticas locais.

Confira na tabela abaixo os herbicidas indicados para o controle de plantas daninhas na cevada:

uma tabela técnica e informativa que compara a eficácia de dois produtos herbicidas, 2,4-D (amina) e Metsulfur Herbicidas indicados no controle de daninhas na cevada. (Fonte: Embrapa)

Controle de Pragas

As pragas mais comuns na cevada são pulgões, lagartas e corós, que podem causar perdas significativas na produção de grãos.

Adote o Manejo Integrado de Pragas (MIP) para monitorar a lavoura e evitar que as populações atinjam o nível de dano econômico. Sempre que possível, utilize o controle biológico.

Se o controle químico for necessário, utilize apenas produtos registrados para a cultura da cevada. A lista completa está disponível no portal Agrofit, do Ministério da Agricultura.

Controle de Doenças

A cevada pode ser afetada por diversas doenças. Por isso, o monitoramento periódico da lavoura é essencial.

As melhores estratégias de controle incluem um conjunto de ações:

  • Rotação de culturas;
  • Eliminação de plantas voluntárias (tiguera) e hospedeiros alternativos;
  • Uso de sementes sadias e tratadas com fungicidas;
  • Escolha de cultivares resistentes às principais doenças da sua região;
  • Utilização de produtos biológicos;
  • Aplicação de fungicidas específicos quando necessário.

Colheita

A colheita é um momento crítico que define a qualidade final dos grãos. Siga estas recomendações:

  • Condições ideais: Realize a colheita em dias secos, evitando períodos de orvalho.
  • Umidade do grão: O ponto ideal é quando os grãos atingem 15% de umidade. Isso evita a necessidade de secagem artificial e a colheita de grãos verdes.
  • Regulagem da máquina: A colhedora deve estar adequadamente regulada para minimizar perdas, como grãos retidos nas espigas, descascamento ou quebra de grãos.
  • Áreas desuniformes: Se houver manchas com plantas ainda verdes na lavoura, essas áreas devem ser colhidas separadamente para não comprometer a qualidade do lote principal.

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Conclusão

A cevada é uma cultura que deve ser cultivada nos meses mais frios do ano e representa uma excelente oportunidade de renda para a sua propriedade, com preços de venda que podem ser muito atrativos.

O principal mercado para os grãos é a indústria cervejeira, mas a produção também pode ser direcionada para ração animal e alimentação humana.

Portanto, se você está buscando uma cultura rentável para diversificar sua produção na entressafra, vale a pena considerar a cevada e aplicar as boas práticas de manejo para garantir uma colheita de sucesso.


Glossário

  • Acamamento: Fenômeno em que as plantas de uma lavoura, como a cevada, tombam ou se deitam, geralmente devido a ventos fortes, chuvas intensas ou excesso de adubação nitrogenada. O acamamento dificulta a colheita mecânica e pode reduzir a qualidade dos grãos.

  • Cultivo de sequeiro: Sistema de produção agrícola que depende exclusivamente das chuvas para o suprimento de água para as plantas, sem o uso de irrigação artificial. É o método mais comum para o cultivo da cevada na Região Sul do Brasil.

  • kg/ha (Quilogramas por Hectare): Unidade de medida padrão para expressar a produtividade de uma lavoura. Um hectare (ha) equivale a 10.000 metros quadrados; portanto, uma produtividade de 4.000 kg/ha significa que foram colhidas 4 toneladas de grãos em uma área equivalente a um campo de futebol e meio.

  • Malteação: Processo industrial no qual os grãos de cevada são submetidos à germinação controlada e, em seguida, secos. Este tratamento ativa enzimas essenciais para a produção de cerveja, transformando o amido do grão em açúcares fermentescíveis.

  • MIP (Manejo Integrado de Pragas): Estratégia de controle que combina diferentes táticas (biológicas, culturais, químicas) de forma harmônica. O objetivo é manter as populações de pragas abaixo do nível que causa dano econômico, priorizando métodos mais sustentáveis.

  • Perfilhamento: Capacidade que plantas de gramíneas, como a cevada, têm de emitir múltiplos brotos (chamados de perfilhos) a partir da base do colmo principal. Um bom perfilhamento resulta em mais espigas por planta, impactando diretamente a produtividade.

  • pH do solo: Medida que indica o nível de acidez ou alcalinidade do solo, em uma escala de 0 a 14. Para a maioria das culturas, incluindo a cevada, a faixa ideal é entre 5,5 e 6,5, pois é nela que os nutrientes ficam mais disponíveis para as plantas.

  • Zoneamento agroclimático: Ferramenta que identifica as áreas mais adequadas para o cultivo de uma determinada espécie vegetal, com base nas condições de clima e solo. Indica as épocas de plantio com menor risco climático para se obter alta produtividade.

Otimize sua produção de cevada com a gestão certa

O cultivo de cevada, como detalhado neste artigo, envolve um planejamento cuidadoso, desde a correção do solo e adubação até o manejo integrado de pragas e a colheita no momento exato. Controlar todas essas operações e, ao mesmo tempo, acompanhar os custos de produção para garantir a alta rentabilidade que a cultura oferece é o principal desafio.

Um software de gestão agrícola como o Aegro ajuda a centralizar essas informações. Nele, é possível planejar todas as atividades da safra, registrar as aplicações de insumos e monitorar os custos em tempo real. Isso permite que você saiba exatamente o custo por hectare e tome decisões mais seguras para maximizar o lucro, transformando o potencial da cevada em resultado no caixa.

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Perguntas Frequentes

É possível cultivar cevada em todas as regiões do Brasil?

Não, a cevada é uma cultura típica de inverno que exige períodos frios para se desenvolver bem. A Região Sul do Brasil oferece as condições ideais para o cultivo de sequeiro (sem irrigação). Em estados como São Paulo, Goiás e Minas Gerais, o cultivo é viável, mas geralmente requer o uso de sistemas de irrigação para garantir uma boa produtividade.

A cevada é financeiramente mais vantajosa que o trigo na safra de inverno?

Sim, a cevada pode ser significativamente mais rentável. Grãos de boa qualidade para malteação podem alcançar preços entre 120% a 135% do valor do trigo pão. Se a produção atingir a classificação Classe 1, a mais valorizada pela indústria, essa rentabilidade pode superar em 150% o preço do trigo, tornando-a uma excelente fonte de renda alternativa.

O que acontece se a minha produção de cevada não atingir a qualidade para a indústria cervejeira?

Caso os grãos não atendam aos rigorosos padrões de qualidade exigidos para a malteação, como teor de proteína e capacidade de germinação, a produção é destinada a um mercado secundário. Geralmente, ela é comercializada para a fabricação de ração animal, que ainda representa um mercado robusto e absorve cerca de 30% da produção total no Brasil.

Por que o excesso de nitrogênio pode causar o acamamento da cevada?

O excesso de nitrogênio estimula um crescimento vegetativo muito rápido e intenso, o que enfraquece o colmo (caule) da planta. Com o colmo fragilizado, a lavoura se torna mais suscetível ao acamamento, que é o tombamento das plantas devido a chuvas ou ventos. O acamamento dificulta a colheita mecanizada e pode reduzir drasticamente a qualidade e o rendimento dos grãos.

Qual é o momento ideal para a colheita e por que a umidade do grão é tão importante?

O momento ideal para a colheita da cevada é em dias secos, quando os grãos atingem aproximadamente 15% de umidade. Colher neste ponto é crucial porque evita a necessidade de secagem artificial, o que reduz custos operacionais, e impede a colheita de grãos verdes, garantindo a uniformidade e a qualidade do lote para a comercialização.

Como a rotação de culturas beneficia especificamente a lavoura de cevada?

A rotação de culturas, especialmente evitando o plantio consecutivo de outras gramíneas, é uma prática fundamental para a cevada. Ela ajuda a quebrar o ciclo de vida de pragas e doenças comuns a essas culturas, reduz a infestação de plantas daninhas e melhora a saúde geral do solo. Uma boa rotação, como aveia/soja e nabo/milho, resulta em menor necessidade de defensivos e maior produtividade.

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