Cercosporiose no Milho: Guia Completo para Identificar e Controlar

Sou engenheira-agrônoma e mestra em agronomia, com ênfase em produção vegetal, pela Universidade Federal de Goiás.
Cercosporiose no Milho: Guia Completo para Identificar e Controlar

A cercosporiose, causada pelo fungo Cercospora zeae-maydis, é uma das principais doenças que afetam a cultura do milho. Popularmente conhecida como mancha-de-cercospora ou mancha cinzenta, ela pode causar tantos prejuízos quanto a helmintosporiose e a mancha-branca no milho.

Esta doença está presente em todas as regiões produtoras de milho no Brasil e impacta diretamente a produtividade por hectare. Quando a infecção ocorre cedo na safra, a quantidade de lesões nas folhas aumenta rapidamente, o que intensifica os danos e as perdas na colheita.

Geralmente, as lesões da cercosporiose cobrem a parte aérea da planta, principalmente as folhas, que são responsáveis pela fotossíntese. Com a área foliar comprometida, a planta perde água, o colmo se deteriora e o risco de acamamento da lavoura aumenta consideravelmente.

Neste artigo, você aprenderá a identificar os sintomas da cercosporiose do milho e a se prevenir dos danos. Além disso, vamos detalhar as melhores estratégias de manejo da doença para garantir menos perdas em sua produção.

Quais são os sintomas da cercosporiose do milho?

A cercosporiose no milho apresenta vários sintomas característicos e fáceis de identificar no campo. Os primeiros sinais costumam aparecer nas folhas mais baixas da planta. À medida que a doença avança, os sintomas se espalham para as folhas superiores, tornando-se mais visíveis próximo ao período de florescimento.

As principais características da doença são:

  • Formato das Lesões: Os sintomas se manifestam como lesões estreitas e retangulares, que são claramente delimitadas pelas nervuras das folhas. Isso significa que as manchas crescem de forma paralela às nervuras, uma característica marcante da cercosporiose.
  • Aparência Inicial: No início, as lesões jovens têm uma cor amarelada. Em alguns casos, elas podem estar cercadas por um halo aquoso, que é um círculo de aparência úmida ao redor da mancha. Esse halo fica mais visível quando a folha é observada contra a luz.
  • Evolução da Doença: Com o tempo, as lesões se tornam necróticas (tecido morto), adquirem uma cor marrom e aumentam de tamanho, ocupando uma área maior da folha.
  • Condições de Umidade: Sob alta umidade do ar, as manchas foliares desenvolvem uma coloração acinzentada, o que dá à doença o nome popular de “mancha cinzenta”.

composição de duas fotografias em close-up que exibem os sintomas da Cercosporiose (Mancha-de-cercospora) em f Lesões de cercosporiose (Cercospora zeae-maydis) em folhas de milho (Fonte: Crop Protection)

O avanço da cercosporiose reduz a área de fotossíntese das plantas, limitando a produção de energia. Isso prejudica diretamente a produção e o enchimento dos grãos, resultando em espigas menores e grãos mais leves. Em infestações severas, as plantas de milho ficam enfraquecidas e têm seu desenvolvimento comprometido.

Como consequência, a lavoura se torna mais vulnerável ao ataque de outros fungos, especialmente aqueles que causam podridões do colmo. O ataque combinado desses patógenos pode levar ao tombamento precoce das plantas e até à morte prematura da lavoura.

close-up de uma espiga de milho ainda no pé, com a palha apresentando sinais claros de uma doença. A palha, Sintomas de cercosporiose também podem aparecer na palha da espiga (Fonte: Crop Protection Network)

Condições favoráveis para o fungo Cercospora zeae-maydis

A severidade da cercosporiose depende de dois fatores principais: a suscetibilidade do híbrido de milho plantado e as condições ambientais da região. O clima é um fator decisivo, pois a doença se agrava em locais com:

  • Elevada temperatura: Faixas entre 25°C e 30°C são ideais para o desenvolvimento do fungo.
  • Alta umidade relativa do ar: Umidade acima de 90% cria o ambiente perfeito para a infecção.
  • Presença de orvalho: O molhamento foliar prolongado favorece a germinação dos esporos.

Nessas condições favoráveis, o fungo, que sobrevive nos restos culturais da safra anterior, começa a produzir esporos. Esses esporos são facilmente transportados pelo vento e pelos respingos de chuva, infectando plantas sadias e espalhando a doença pela lavoura. Até o momento, não há registros de que o fungo seja transmitido por sementes.

infográfico detalhado que ilustra o ciclo de vida da cercosporiose, uma doença fúngica que afeta a cultura do m Ciclo da cercosporiose na cultura do milho (Fonte: Traduzido de Universidade Estadual de Ohio)

Como manejar a cercosporiose e outras doenças foliares?

Para controlar qualquer doença de forma eficaz, é fundamental adotar um conjunto de práticas integradas que previnem e reduzem sua disseminação. Essas práticas formam o Manejo Integrado de Doenças (MID).

A seguir, detalhamos as medidas recomendadas para o controle da cercosporiose no milho.

1. Controle Genético: A Primeira Linha de Defesa

O principal método para manejar a cercosporiose é o plantio de híbridos de milho resistentes. A resistência genética é a técnica mais eficiente, econômica e segura para controlar a doença, pois já protege a planta desde o início.

Essa é uma decisão que deve ser tomada no planejamento da safra. Se a sua área já teve problemas com a doença em safras passadas, a escolha de um híbrido com bom nível de resistência é ainda mais crucial.

2. Controle Cultural: Práticas que Reduzem a Pressão da Doença

As práticas culturais são ações de manejo na lavoura que ajudam a diminuir a sobrevivência e a disseminação do fungo.

  • Rotação de Culturas: Como o milho é o único hospedeiro do fungo Cercospora zeae-maydis, a rotação de culturas é altamente eficaz. Alternar o plantio com culturas como a soja ou o girassol quebra o ciclo de vida do patógeno.
  • Evitar Plantio Sucessivo: O fungo sobrevive nos restos culturais (palhada). Por isso, evite o plantio de milho sobre milho na mesma área, especialmente se houve alta incidência da doença.
  • Manejo dos Restos Culturais: Em áreas onde a doença foi muito severa, a destruição ou incorporação dos restos culturais pode ser uma alternativa para reduzir a quantidade de fungo no local para a próxima safra.
  • Diversificação de Híbridos: Cultivar diferentes híbridos de milho, com níveis de resistência distintos, dificulta a adaptação e a especialização do fungo.
  • Ajuste na Densidade de Plantio: Em lavouras com histórico da doença, evite altas densidades de plantio. Espaçamentos muito adensados criam um microclima úmido e sombreado, ideal para o fungo se desenvolver.
  • Adubação Equilibrada: A adubação correta do milho é essencial. Plantas com desequilíbrio nutricional, seja por falta ou excesso de nutrientes, ficam mais suscetíveis ao ataque de doenças. Uma nutrição adequada, baseada na análise de solo, garante plantas mais saudáveis e resistentes.

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3. Controle Químico: Qual o melhor fungicida para cercospora?

O controle químico com fungicidas é outra ferramenta importante no manejo da cercosporiose. No entanto, é fundamental avaliar o custo-benefício da aplicação, considerando o potencial produtivo da lavoura, as condições climáticas e o nível de infecção. Uma boa estratégia de controle precisa ser viável tanto técnica quanto economicamente.

Ao utilizar fungicidas, siga sempre as recomendações da bula do produto quanto à dosagem, modo e época de aplicação. Abaixo está a lista de moléculas fungicidas com registro no MAPA para o controle da cercosporiose na cultura do milho:

  • azoxistrobina
  • azoxistrobina + benzovindiflupyr + difenoconazol
  • azoxistrobina + ciproconazol
  • azoxistrobina + ciproconazol + mancozebe
  • azoxistrobina + difenoconazol
  • azoxistrobina + epoxiconazol
  • azoxistrobina + flutriafol
  • azoxistrobina + mancozebe
  • azoxistrobina + mancozebe + tebuconazol
  • azoxistrobina + tebuconazol
  • azoxistrobina + tetraconazol
  • bixafem + protioconazol + trifloxistrobina
  • ciproconazol + picoxistrobina
  • ciproconazol + trifloxistrobina
  • clorotalonil + tebuconazol
  • difenoconazol
  • difenoconazol + impirfluxam + picoxistrobina
  • difenoconazol + pidiflumetofen
  • epoxiconazol + fluxapiroxade + piraclostrobina
  • epoxiconazol + piraclostrobina
  • fluazinam + tiofanato-metílico
  • fluxapiroxade + mefentrifluconazol + piraclostrobina
  • mancozebe + picoxistrobina + tebuconazol
  • mefentrifluconazol + piraclostrobina
  • metominostrobin + tebuconazol
  • pidiflumetofen
  • protioconazol + trifloxistrobina
  • tebuconazol
  • tebuconazol + trifloxistrobina
  • tetraconazol

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Conclusão

A cercosporiose pode causar danos significativos na cultura do milho, com potencial para reduzir drasticamente a produtividade se não for controlada. O desenvolvimento da doença é favorecido por altas temperaturas e umidade elevada, condições comuns em muitas regiões do Brasil.

Por isso, se você identificar os sintomas ou desconfiar da presença da doença em sua lavoura, não hesite em iniciar o manejo integrado. Combine o uso de híbridos resistentes, rotação de culturas, evite plantios adensados, realize uma adubação equilibrada e, quando necessário, utilize fungicidas de forma estratégica.

Se tiver dúvidas sobre qual método adotar ou como implementar as melhores práticas, consulte um(a) profissional da agronomia de sua confiança. A orientação técnica é fundamental para proteger sua lavoura e garantir uma boa colheita.


Glossário

  • Acamamento: Refere-se ao tombamento ou queda das plantas de milho no campo, geralmente causado pelo enfraquecimento do colmo. Essa condição dificulta ou impede a colheita mecânica, resultando em perdas significativas.

  • Cercosporiose (Mancha-de-cercospora): Doença causada pelo fungo Cercospora zeae-maydis, que afeta principalmente as folhas do milho. Caracteriza-se por lesões retangulares acinzentadas que reduzem a capacidade de fotossíntese da planta e, consequentemente, a produtividade.

  • Colmo: É o caule principal da planta de milho, responsável por sua sustentação e pelo transporte de água e nutrientes. O ataque de doenças como a cercosporiose pode enfraquecer o colmo, levando ao acamamento.

  • Híbrido de milho: Variedade de milho resultante do cruzamento controlado entre linhagens puras para obter características desejáveis, como alta produtividade e resistência a doenças. A escolha de híbridos resistentes é a principal estratégia de controle da cercosporiose.

  • Lesões necróticas: São áreas de tecido vegetal morto em uma planta, geralmente apresentando coloração marrom ou preta. Na cercosporiose, as manchas iniciais evoluem para lesões necróticas, indicando a morte das células foliares.

  • MID (Manejo Integrado de Doenças): Uma abordagem estratégica que combina diferentes métodos de controle (genético, cultural, químico e biológico) para prevenir e manejar doenças de forma sustentável. O objetivo é reduzir a dependência de fungicidas e minimizar os impactos econômicos e ambientais.

  • Patógeno: Organismo, como um fungo, bactéria ou vírus, capaz de causar doenças em um hospedeiro. No contexto do artigo, o fungo Cercospora zeae-maydis é o patógeno que causa a cercosporiose no milho.

  • Restos culturais: Material vegetal, como palha, folhas e colmos, que permanece no campo após a colheita. O fungo da cercosporiose sobrevive nesses restos, que servem como fonte de infecção para a safra seguinte.

Simplifique o manejo e o controle de custos com tecnologia

Controlar a cercosporiose vai além da escolha do fungicida certo. Envolve um planejamento cuidadoso e um controle de custos rigoroso para garantir que cada decisão seja lucrativa, especialmente ao avaliar o custo-benefício das aplicações. O desafio é registrar o avanço da doença e planejar as pulverizações no momento ideal sem perder o controle financeiro.

Para isso, ferramentas de gestão agrícola como o Aegro são essenciais. Com um software especializado, é possível registrar os focos da doença e planejar as aplicações de defensivos de forma organizada, criando um histórico para safras futuras. Ao mesmo tempo, o sistema centraliza os custos de cada operação, permitindo que você analise a viabilidade do controle químico com dados precisos e tome decisões mais seguras para proteger sua produtividade.

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Perguntas Frequentes

Qual a principal diferença visual entre a cercosporiose e outras doenças de mancha foliar no milho?

A característica mais marcante da cercosporiose são suas lesões retangulares e estreitas, que crescem paralelas e são delimitadas pelas nervuras da folha. Outras doenças, como a helmintosporiose, geralmente produzem manchas mais arredondadas ou elípticas. Essa forma retangular é a principal pista para a identificação correta da cercosporiose no campo.

Se o fungo da cercosporiose sobrevive na palhada, o sistema de plantio direto aumenta o risco da doença?

Sim, o sistema de plantio direto pode aumentar a pressão inicial da doença, pois mantém os restos culturais infectados na superfície do solo. No entanto, esse risco é gerenciável e não invalida os benefícios do sistema. Para mitigar o problema, é fundamental combinar o plantio direto com outras práticas, como a rotação de culturas e o uso de híbridos resistentes.

Plantei um híbrido de milho resistente à cercosporiose. Ainda preciso me preocupar com a aplicação de fungicidas?

Sim, a vigilância continua sendo necessária. Híbridos resistentes reduzem drasticamente a severidade da doença, mas não são completamente imunes. Em anos com condições climáticas muito favoráveis ao fungo (calor e alta umidade), a pressão da doença pode superar a resistência da planta, tornando a aplicação de fungicidas uma medida complementar importante para proteger a produtividade.

Por que a rotação de culturas é tão eficaz para controlar a cercosporiose?

A rotação de culturas é altamente eficaz porque o fungo Cercospora zeae-maydis tem o milho como seu único hospedeiro e sobrevive nos restos culturais. Ao plantar uma cultura não hospedeira, como a soja ou o girassol, o ciclo de vida do patógeno é interrompido. Sem o milho para infectar, a população do fungo na área diminui drasticamente, reduzindo a chance de uma infecção severa na próxima safra.

Qual é o momento ideal para iniciar a aplicação de fungicidas contra a cercosporiose no milho?

O controle químico da cercosporiose é mais eficiente quando realizado de forma preventiva ou logo no aparecimento dos primeiros sintomas, especialmente antes do florescimento (pendoamento), período crítico para a definição da produtividade. O monitoramento constante da lavoura é essencial, e a decisão de aplicar deve considerar as condições climáticas, o histórico da área e o potencial produtivo do híbrido.

A adubação da lavoura de milho pode influenciar na severidade da cercosporiose?

Sim, a adubação tem um papel crucial. Uma nutrição desequilibrada, tanto por deficiência quanto por excesso de nutrientes (especialmente nitrogênio), pode deixar as plantas mais suscetíveis ao ataque de patógenos. Uma adubação correta, baseada em análise de solo, promove o desenvolvimento de plantas mais fortes e saudáveis, com maior capacidade de resistir à infecção da cercosporiose.

Além de reduzir a produtividade de grãos, quais outros danos a cercosporiose pode causar na lavoura de milho?

Além da perda direta de produtividade pelo comprometimento da fotossíntese, a cercosporiose enfraquece a planta de forma geral. Isso deteriora a qualidade do colmo, aumentando significativamente o risco de acamamento (tombamento das plantas), o que dificulta e até impede a colheita mecânica, resultando em perdas ainda maiores.

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