Cercosporiose no Café: Guia Completo para Identificar, Prevenir e Controlar

Redatora parceira Aegro.
Cercosporiose no Café: Guia Completo para Identificar, Prevenir e Controlar

O Brasil é um dos maiores produtores de café do mundo, mas diversos problemas podem prejudicar o potencial das lavouras. As doenças causadas por fungos, como a cercosporiose, são um desses grandes desafios. Você sabe como evitar esse problema e garantir a produtividade da sua safra?

Conhecer as doenças do café e suas características é o primeiro passo para tomar as decisões de manejo mais eficientes.

Neste artigo, vamos detalhar tudo sobre a cercosporiose no café, mostrando como identificar os sintomas, prevenir a doença e realizar o controle correto.

O que é a cercosporiose do café?

A cercosporiose no café, também conhecida como mancha de olho pardo ou mancha-de-cercospora, é uma doença causada pelo fungo Cercospora coffeicola. É importante não confundi-la com a mancha aureolada do cafeeiro, que é uma doença diferente.

Esse fungo ataca principalmente as folhas e os frutos do cafeeiro. Como resultado, provoca perdas significativas de produtividade e afeta diretamente a qualidade final dos grãos.

A doença foi registrada pela primeira vez no Brasil em 1887 e, desde então, está presente em praticamente todas as regiões produtoras do país. A cercosporiose pode atacar as plantas em qualquer fase, desde as mudas recém-plantadas até os cafeeiros em plena produção.

Por sua ampla distribuição e potencial de dano, ela é considerada a segunda doença mais importante na cultura do café, ficando atrás apenas da ferrugem do cafeeiro. Para evitar prejuízos, é fundamental realizar o manejo adequado da doença.

O calendário abaixo mostra as principais doenças do café e os períodos do ano mais favoráveis para o desenvolvimento de cada uma.

gráfico de barras horizontais, funcionando como um calendário agrícola ou fitossanitário. Ele mapeia a Doenças do café e períodos favoráveis ao desenvolvimento (Fonte: adaptado de Manual de Fitopatologia)

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Sintomas da doença: como identificar na lavoura

A cercosporiose na plantação de café pode causar danos visíveis em mudas, folhas e frutos. Saber reconhecer cada sintoma é crucial para agir a tempo.

Sintomas nas Folhas

Nas folhas, os primeiros sinais são pequenas manchas circulares de cor marrom-escura, que crescem rapidamente. O centro dessas lesões torna-se cinza-claro, com um anel amarelado ao redor, dando a aparência de um olho, o que explica o nome popular “mancha de olho pardo”.

Em certas condições, as lesões podem não formar o halo amarelado, apresentando manchas mais escuras e sem o centro claro. Essa variação é chamada de cercospora negra e é muito comum em cafeeiros com deficiência de fósforo.

As folhas atingidas caem rapidamente, causando uma desfolha intensa que pode levar até à seca dos ramos. Com menos folhas, a fotossíntese da planta é severamente prejudicada. Em mudas, a desfolha intensa as deixa raquíticas, tornando-as impróprias para a comercialização e o plantio.

close-up detalhado de uma folha de cafeeiro, destacando um sintoma claro de uma doença foliar. A folha, de Sintoma clássico de cercosporiose em folha de cafeeiro (Fonte:Infectário)

Sintomas nos Frutos

Nos frutos, os sintomas começam a aparecer quando ainda estão verdes e se intensificam no início da granação, que ocorre entre 80 e 100 dias após a florada do café. Os sinais são pequenas manchas deprimidas e necrosadas, de coloração marrom a preta.

Os principais impactos nos frutos são:

  • Queda precoce dos chumbinhos e grãos;
  • Maturação acelerada e desuniforme;
  • Aumento da quantidade de grãos chochos (vazios).

Esses sintomas também prejudicam o processamento pós-colheita. As lesões da casca necrosada ficam aderidas à semente, dificultando o descascamento e o despolpamento. Isso aumenta a ocorrência de grãos quebrados e de má qualidade, o que afeta diretamente o sabor da bebida.

composição de três fotografias que ilustram os sintomas de uma doença fúngica em frutos de café, provavelmente Sintomas de cercosporiose em grãos de café (Fonte: Daniela de Cássia da Silva)

Ciclo da doença e condições favoráveis

A disseminação do fungo Cercospora coffeicola ocorre principalmente pelo vento, pela água da chuva ou irrigação e até mesmo por insetos.

Quando o fungo atinge a planta e encontra condições favoráveis de umidade e temperatura, ele germina e penetra na folha através de suas aberturas naturais.

A doença é mais favorecida em temperaturas entre 18°C e 25°C, combinadas com alta umidade relativa e elevada radiação solar. Períodos de chuva seguidos de veranicos ou épocas de intensa radiação solar com falta de água podem intensificar a severidade da doença.

O desequilíbrio nutricional da planta também é um fator crucial. A cercosporiose é mais agressiva em lavouras com:

  • Baixos teores de cálcio e magnésio nas folhas, especialmente nas fases de granação e maturação dos frutos;
  • Carência de nitrogênio.

Como prevenir e evitar o ataque da cercospora no cafeeiro

A prevenção é a ferramenta mais importante para o manejo da cercosporiose. As medidas devem começar antes mesmo do plantio, ainda no viveiro de mudas.

Cuidados Essenciais no Viveiro de Mudas

  • Controle da irrigação: realize irrigações diárias, mas evite o excesso de água no substrato.
  • Adubação equilibrada: evite o excesso de potássio nas adubações.
  • Correção do substrato: realize a calagem para garantir que não falte cálcio para as mudas.
  • Qualidade das sementes: utilize sementes limpas, sadias e devidamente tratadas.
  • Ambiente do viveiro: o local deve ser bem arejado e com sombreamento adequado para evitar estresse nas mudas.
  • Proteção: proteja as mudas de ventos frios e da insolação direta.
  • Limpeza: elimine mudas doentes e folhas mortas do viveiro para reduzir a fonte de contaminação.

Medidas Preventivas na Lavoura

  • Escolha da área: evite o plantio em solos muito arenosos ou compactados, que dificultam o desenvolvimento das raízes.
  • Nutrição: mantenha a fertilização equilibrada, com níveis adequados de nitrogênio.
  • Manejo da umidade: evite o excesso de umidade no solo e na folhagem.
  • Época de plantio: evite plantios tardios, que expõem as plantas jovens a condições mais favoráveis à doença.
  • Escolha de variedades: em regiões mais quentes, dê preferência a mudas de variedades com maturação mais tardia.

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Controle da mancha de cercospora

O controle da cercosporiose será sempre mais eficiente quando se utiliza o manejo integrado de doenças, combinando diferentes estratégias. Nunca dependa de apenas um método de controle.

Atualmente, não há relatos de variedades de café resistentes ou tolerantes à cercosporiose. Por isso, o controle químico com o uso de fungicidas se torna uma ferramenta fundamental de manejo preventivo.

O calendário de controle da cercosporiose geralmente coincide com o controle da ferrugem. Sendo assim, você pode utilizar formulações prontas ou misturas de tanque que contenham produtos para o manejo de ambas as doenças.

No entanto, em lavouras com elevada carga de frutos e localizadas em regiões muito favoráveis à doença, aplicações adicionais podem ser necessárias. Nesses casos, o controle também deve ser realizado entre o final de dezembro e os meses de março e abril, especialmente se as plantas não receberam tratamento recente contra a ferrugem.

Lembre-se que, além da escolha correta do ingrediente ativo, a tecnologia de aplicação é decisiva para o sucesso do controle.

Conclusão

A mancha de cercospora é uma doença fúngica presente nas principais regiões produtoras de café do Brasil, com potencial para causar grandes prejuízos.

Ela é favorecida pela alta radiação solar e umidade elevada, e os desequilíbrios nutricionais na planta podem agravar seus danos. Os prejuízos afetam desde as mudas até a qualidade final da bebida, tornando o manejo correto indispensável.

Um bom planejamento do plantio e a adoção de práticas preventivas são as formas mais eficazes de proteger sua lavoura e garantir uma alta produtividade.


Glossário

  • Cercospora coffeicola: Nome científico do fungo que causa a doença conhecida como cercosporiose ou mancha de olho pardo no cafeeiro. Ele se dissemina principalmente pelo vento e pela água, atacando folhas e frutos.

  • Cercosporiose (ou Mancha de olho pardo): Doença fúngica que afeta o cafeeiro, causando manchas circulares nas folhas (com aparência de “olho”) e lesões nos frutos. É considerada a segunda doença mais importante da cultura do café no Brasil.

  • Desfolha: Queda prematura e intensa das folhas de uma planta. No caso da cercosporiose, a desfolha severa prejudica a capacidade da planta de realizar fotossíntese, podendo levar à seca dos ramos e à perda de produtividade.

  • Fungicida: Tipo de defensivo agrícola químico utilizado especificamente para prevenir ou controlar doenças causadas por fungos. A aplicação de fungicidas é uma das principais ferramentas no manejo da cercosporiose.

  • Granação: Etapa do desenvolvimento do fruto do café em que o grão começa a se formar e a “encher”, acumulando massa e nutrientes. É uma fase crítica, pois é quando os sintomas da cercosporiose nos frutos se intensificam.

  • Grãos chochos: Termo usado para descrever grãos de café que não se desenvolvem completamente, resultando em sementes vazias ou malformadas. A cercosporiose aumenta a incidência de grãos chochos, impactando diretamente o peso e a qualidade da colheita.

  • Manejo Integrado de Doenças: Estratégia que combina diferentes métodos de controle (cultural, químico, biológico) para manter as doenças abaixo do nível de dano econômico. Em vez de depender apenas de uma tática, busca uma solução mais completa e sustentável.

  • Veranico: Período de estiagem (falta de chuva) com forte insolação que ocorre durante a estação chuvosa. A alternância entre chuvas e veranicos cria um ambiente de estresse para a planta que pode agravar a severidade da cercosporiose.

Veja como o Aegro pode ajudar a superar esses desafios

O manejo integrado da cercosporiose, como vimos, exige um controle rigoroso de diversas atividades, desde a adubação equilibrada até a aplicação de fungicidas no momento certo. Para não se perder em anotações e garantir que o planejamento seja executado corretamente, um software de gestão agrícola como o Aegro ajuda a centralizar todas as operações. Nele, é possível criar um cronograma de atividades, registrar cada aplicação diretamente do campo pelo celular e monitorar os custos de insumos e mão de obra em tempo real.

Essa organização não apenas otimiza o controle da doença, mas também fornece uma visão clara do custo de produção da lavoura de café. Saber exatamente quanto foi gasto em defensivos e fertilizantes por hectare ajuda o produtor a tomar decisões mais estratégicas e a garantir a rentabilidade da safra, mesmo em anos de maior pressão de doenças.

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Perguntas Frequentes

Qual a principal diferença entre a cercosporiose e a ferrugem do cafeeiro?

Embora ambas sejam doenças fúngicas importantes, elas têm sintomas e impactos distintos. A cercosporiose, ou mancha de olho pardo, causa lesões circulares necróticas nas folhas e frutos, afetando diretamente a qualidade do grão. Já a ferrugem se manifesta como pústulas de cor laranja na parte inferior das folhas, causando desfolha severa que debilita a planta e compromete a produção futura.

O que é a ‘cercospora negra’ e ela é mais perigosa que a mancha de olho pardo?

A ‘cercospora negra’ não é outra doença, mas sim uma variação dos sintomas da própria cercosporiose. Ela se manifesta como manchas escuras sem o centro claro e o halo amarelado característicos, sendo muito comum em cafeeiros com deficiência de fósforo. O perigo é o mesmo, pois também causa desfolha e prejudica a saúde da planta.

Como o desequilíbrio nutricional, como a falta de nitrogênio, agrava a cercosporiose no café?

Plantas com deficiência de nutrientes, como nitrogênio, cálcio e magnésio, ficam com seu sistema de defesa natural enfraquecido. A falta de nitrogênio, por exemplo, prejudica o desenvolvimento foliar e a capacidade da planta de resistir à infecção. Isso torna o cafeeiro mais vulnerável ao ataque do fungo Cercospora coffeicola, resultando em sintomas mais severos e danos maiores.

Quais os prejuízos econômicos diretos se a cercosporiose não for controlada a tempo?

Os prejuízos são significativos e ocorrem em várias frentes. A doença causa a queda prematura de frutos e aumenta a quantidade de grãos chochos, reduzindo o volume da colheita. Além disso, as lesões nos frutos dificultam o descascamento e afetam a qualidade final da bebida, diminuindo o valor de mercado do café produzido.

É possível realizar o controle da cercosporiose junto com o da ferrugem?

Sim, e essa é uma prática de manejo muito eficiente. O calendário de controle químico para a cercosporiose geralmente coincide com o da ferrugem. Dessa forma, é possível utilizar formulações de fungicidas prontas ou misturas em tanque que sejam eficazes contra ambos os fungos, otimizando as aplicações e reduzindo os custos operacionais.

Existe uma época do ano em que a atenção com a cercosporiose deve ser redobrada?

Sim. O período mais crítico é durante a fase de granação e maturação dos frutos, que geralmente ocorre entre dezembro e abril. Condições de alta umidade, temperaturas entre 18°C e 25°C e períodos de chuva seguidos por veranicos de sol forte favorecem a explosão da doença, exigindo monitoramento constante e controle preventivo.

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