Cascudinho-da-soja: Identificação e Controle da Praga

Redatora parceira Aegro.
Cascudinho-da-soja: Identificação e Controle da Praga

O controle de pragas agrícolas é um dos pilares para garantir o sucesso e a rentabilidade da sua safra de soja. A cada ano, você investe alto na preparação do solo e na escolha de sementes de qualidade, tudo para alcançar altas produtividades. No entanto, se não forem controladas, as pragas podem comprometer seriamente, ou até mesmo inviabilizar, toda a lavoura.

Dentre as principais pragas que atacam as lavouras de soja, uma tem ganhado destaque e preocupado produtores nos últimos anos: o cascudinho-da-soja.

Este pequeno besouro ataca as plantas principalmente no início do ciclo da cultura. Tanto a larva quanto o inseto adulto podem causar danos significativos. A atenção a essa praga deve ser redobrada, pois sua presença tem crescido em importantes áreas produtoras, como Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, causando grandes prejuízos. Por isso, o monitoramento precisa começar o mais cedo possível.

Para proteger sua lavoura, vamos entender em detalhes quem é o cascudinho-da-soja, como identificar seus ataques e, o mais importante, como combatê-lo de forma eficaz.

Como Identificar o Cascudinho-da-soja Corretamente

O cascudinho-da-soja, de nome científico Myochrous armatus, pertence à ordem Coleoptera e família Chrysomelidae.

Em outras palavras: Ele é um tipo de besouro bem pequeno, medindo cerca de 5 milímetros de comprimento.

O inseto adulto possui características bem específicas que ajudam na sua identificação:

  • Formato: Corpo oval.
  • Coloração: Preta fosca, podendo variar para cinza-escuro ou marrom.
  • Detalhes: Apresenta sempre manchas mais escuras ou claras e o corpo é recoberto por escamas curtas e firmes.

Um comportamento curioso dos adultos é que eles têm pouca habilidade de voo. Quando se sentem ameaçados, eles costumam se fingir de mortos, ficando imóveis, ou simplesmente se jogam no chão para se esconder.

As larvas do cascudinho são amareladas e vivem no solo. Ali, elas se alimentam de matéria orgânica e das raízes de diversas plantas. Embora possam causar alguns danos às raízes da soja nesta fase, os prejuízos mais significativos são causados pelos insetos adultos.

Cuidado com a Confusão: Cascudinho vs. Torrãozinho

É muito comum que o cascudinho-da-soja seja confundido com outro besouro, conhecido como torrãozinho (Aracanthus mourei). Fazer a identificação correta do inseto é fundamental, pois um erro aqui pode levar a um controle ineficiente e a perdas de produtividade.

Observe as principais diferenças entre eles:

  • Cabeça: O torrãozinho, por ser “parente” do bicudo-do-algodoeiro, tem a cabeça mais alongada, formando um “bico”. O cascudinho tem a cabeça mais curta e arredondada.
  • Antenas: As antenas dos dois insetos também apresentam formatos diferentes.

Confundir os dois afeta diretamente o manejo de pragas da lavoura. A escolha errada das medidas de controle impacta negativamente a produtividade e a sua lucratividade.

Danos Causados pelo Cascudinho-da-soja na Lavoura

Os adultos do cascudinho são polífagos, ou seja, se alimentam de várias espécies de plantas, como braquiária, fedegoso, amendoim bravo, feijão e milho. Na cultura da soja, o ataque é mais severo na fase inicial, e os danos são mais intensos quanto mais jovem for a planta.

Poucos dias após a emergência da soja, a praga se concentra na base do caule, causando o tombamento e a morte da plântula. Se a lavoura estiver passando por um período de falta de chuva durante essa fase, o desenvolvimento das plantas já está comprometido, e os danos do cascudinho se tornam ainda mais severos.

O principal impacto dessa praga na lavoura é a redução do estande de plantas, o que afeta diretamente a produtividade final por hectare.

Outros sintomas que podem ser observados incluem:

  • Desenvolvimento inicial reduzido, com plantas que não crescem como deveriam.
  • Amarelecimento das folhas, seguido de murcha e morte.
  • Ocorrência desses sintomas em grandes reboleiras, de forma espalhada pela lavoura.

Uma característica importante do cascudinho é sua capacidade de sobrevivência. Ele consegue permanecer no solo na forma de pupa por até sete meses durante períodos de seca. O adulto só emerge quando as condições de umidade e temperatura se tornam adequadas.

Embora os danos mais críticos ocorram em plântulas, o cascudinho também pode prejudicar a planta em estágios mais avançados. Nesse caso, ele ataca os pecíolos (cabinhos que ligam a folha à haste) e as hastes mais finas, que acabam murchando e secando.

Como Controlar o Cascudinho-da-soja de Forma Eficiente

Sabemos que o cascudinho é uma praga que ataca a soja logo nos primeiros dias. Por isso, a identificação precoce é a chave para um controle bem-sucedido.

Fique atento a estes sinais da presença do cascudinho na sua lavoura:

  • Plântulas sem o “ponteiro” ou gema apical.
  • Plântulas com a haste principal cortada rente ao solo.
  • Folíolos pendentes na planta ou folhas inteiras caídas no chão (elas servem de abrigo para os adultos).
  • Presença de insetos adultos nas plantas, mesmo em estágios mais avançados como o florescimento.

Monitoramento: O Primeiro Passo do Manejo

O monitoramento é a principal ferramenta do Manejo Integrado de Pragas (MIP) e deve ser a sua primeira ação. Uma forma simples e muito eficiente de monitorar a praga é utilizando o pano de batida.

Atualmente, o nível de controle (a quantidade de insetos que justifica a aplicação de defensivos) para o cascudinho-da-soja ainda está sendo estudado pela pesquisa. Mesmo assim, o uso do pano de batida continua sendo essencial para acompanhar a presença e a população da praga na área.

Controle Químico e Biológico: Estratégias e Desafios

O controle do cascudinho ainda é um grande desafio para o produtor. Durante as horas mais quentes do dia, o inseto adulto se abriga sob a palhada no solo. Isso dificulta o controle, pois o cascudinho fica protegido, impedindo que os produtos pulverizados entrem em contato direto com ele.

A seguir, listamos as estratégias mais recomendadas:

  1. Tratamento de Sementes: Esta é uma das ferramentas mais indicadas e eficientes. A prática é indispensável, pois protege a cultura na fase mais crítica, que são os primeiros dias após a emergência, quando a planta está mais vulnerável.

  2. Manejo Químico e Biológico: É importante realizar o manejo com pulverizações na fase inicial da cultura, idealmente quando a planta ainda estiver com o primeiro par de folhas. Esta aplicação pode ser feita com defensivos químicos, produtos biológicos ou a associação de ambos.

  3. Horário da Aplicação: Para aumentar a eficiência das pulverizações, realize as aplicações nos horários mais frescos do dia ou durante a noite. Nesses períodos, a praga está mais ativa e exposta sobre as plantas, aumentando o contato com o produto.

Atualmente, não há inseticidas com registro específico para o cascudinho-da-soja, sendo necessário adaptar doses e misturas com base na recomendação de um engenheiro agrônomo. Alguns princípios ativos que têm apresentado bons resultados em campo são o fipronil, clorpirifós, tiametoxam e imidacloprida.

Estudos recentes indicam que produtos biológicos à base de bactérias e fungos que atacam insetos (entomopatogênicos) mostram grande potencial quando associados a inseticidas químicos no combate ao cascudinho.

Por fim, lembre-se de sempre rotacionar os princípios ativos dos inseticidas para evitar a resistência. Além disso, um bom controle de plantas daninhas e de plantas de milho voluntárias (tigueras) na área ajuda a reduzir os abrigos e fontes de alimento para o inseto.

Planilha de manejo integrado de pragas

Conclusão: Protegendo sua Lavoura do Cascudinho

O cascudinho-da-soja é uma praga que ameaça diretamente a produtividade da sua lavoura, principalmente por reduzir o estande inicial de plantas. Seu controle ainda é um desafio, mas a adoção de um conjunto de boas práticas aumenta muito as chances de sucesso.

Pontos-chave para um manejo eficaz:

  • Monitoramento Constante: Não deixe de monitorar a lavoura desde o início, pois os piores danos ocorrem na fase de plântula.
  • Identificação Correta: Aprenda a diferenciar o cascudinho de outros besouros para não errar na estratégia de controle.
  • Manejo Integrado: Adote um conjunto de técnicas, como o tratamento de sementes, o controle de plantas daninhas e tigueras de milho, e aplicações de defensivos nos horários corretos.

Seguindo essas recomendações e adotando as práticas do Manejo Integrado de Pragas, você estará no caminho certo para proteger sua soja e garantir a produtividade da sua safra.


Glossário

  • Estande de plantas: Refere-se à população ou número de plantas por unidade de área (ex: por hectare) após a emergência. A redução do estande pelo cascudinho é um dos principais danos, pois afeta diretamente o potencial produtivo da lavoura.

  • Entomopatogênicos: Microrganismos, como fungos e bactérias, que causam doenças e matam insetos de forma natural. São a base de muitos inseticidas biológicos utilizados no controle de pragas.

  • Gema apical: Também chamada de “ponteiro”, é a estrutura no topo da planta responsável pelo seu crescimento vertical. O ataque do cascudinho a esta gema interrompe o desenvolvimento da plântula, causando sua morte.

  • Manejo Integrado de Pragas (MIP): Uma estratégia que combina diferentes métodos de controle (biológico, químico, cultural) para manter as pragas em níveis que não causem prejuízo econômico. O monitoramento com o pano de batida é um pilar do MIP.

  • Pano de batida: Ferramenta de monitoramento que consiste em um tecido branco estendido entre duas varas. Ele é inserido na entrelinha da soja e as plantas são sacudidas sobre ele para derrubar e contar os insetos presentes.

  • Plântula: Uma planta em seu estágio inicial de vida, desde a germinação até o desenvolvimento das primeiras folhas verdadeiras. É a fase em que a soja está mais vulnerável ao ataque do cascudinho.

  • Polífago: Organismo que se alimenta de várias espécies de plantas. O cascudinho-da-soja é polífago, o que significa que ele pode sobreviver em plantas daninhas, milho ou braquiária antes de atacar a lavoura de soja.

  • Reboleiras: Termo usado para descrever a ocorrência de pragas ou doenças em manchas ou áreas concentradas na lavoura. O ataque do cascudinho frequentemente aparece em reboleiras, com falhas visíveis no estande de plantas.

Como a tecnologia otimiza o controle do cascudinho-da-soja

O monitoramento constante e o registro das informações coletadas em campo são a base de um Manejo Integrado de Pragas (MIP) bem-sucedido. No entanto, anotar tudo em cadernos pode gerar falhas e dificultar a análise. Ferramentas de gestão agrícola como o Aegro resolvem esse problema, permitindo que você registre os dados do pano de batida diretamente no aplicativo, até mesmo offline. Com base nesses registros, fica mais fácil planejar as pulverizações no momento certo e com os produtos corretos, garantindo um controle mais eficiente.

Além do desafio agronômico, cada aplicação de defensivo impacta diretamente o seu custo de produção. Sem um controle preciso, é difícil saber se o investimento no controle do cascudinho está realmente protegendo sua lucratividade. Um software como o Aegro centraliza esses dados, vinculando os custos de insumos e operações a cada talhão. Assim, você acompanha em tempo real o custo por hectare e toma decisões mais seguras, que protegem tanto a lavoura quanto o seu bolso.

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Perguntas Frequentes

Qual é o principal dano que o cascudinho-da-soja causa na lavoura?

O principal dano é a redução do estande de plantas. O cascudinho ataca as plântulas de soja logo após a emergência, cortando a base do caule e causando o tombamento e a morte das plantas. Isso cria falhas significativas na lavoura, o que impacta diretamente o potencial produtivo por hectare.

Como posso diferenciar o cascudinho-da-soja do torrãozinho no campo?

A principal diferença está no formato da cabeça. O torrãozinho (Aracanthus mourei) possui uma cabeça mais alongada que forma um ‘bico’, enquanto o cascudinho-da-soja (Myochrous armatus) tem a cabeça mais curta e arredondada. Fazer essa distinção é crucial, pois um erro na identificação pode levar a um controle químico ineficaz.

Por que o controle do cascudinho-da-soja é considerado tão desafiador?

O controle é um desafio por dois motivos principais. Primeiro, durante as horas mais quentes do dia, o inseto adulto se esconde sob a palhada no solo, evitando o contato com os defensivos pulverizados. Segundo, ainda não existem inseticidas com registro específico para esta praga, exigindo um manejo adaptado com a orientação de um engenheiro agrônomo.

Qual é o melhor horário para aplicar inseticidas contra o cascudinho-da-soja?

As aplicações são muito mais eficientes quando realizadas nos horários mais frescos do dia, como no final da tarde, ou durante a noite. Nesses períodos, a praga está mais ativa sobre as plantas para se alimentar, o que aumenta a chance de contato direto com o produto pulverizado e melhora a eficácia do controle.

O tratamento de sementes é eficaz para controlar o cascudinho-da-soja?

Sim, o tratamento de sementes é uma das estratégias mais eficientes e indispensáveis. Ele protege a cultura na sua fase mais crítica, que são os primeiros dias após a emergência, quando as plântulas estão mais vulneráveis. Essa prática garante que a planta tenha uma proteção inicial contra o ataque do cascudinho.

Quais são os primeiros sinais de um ataque de cascudinho-da-soja que devo observar?

Os primeiros sinais incluem plântulas com a haste principal cortada rente ao solo, ausência do ‘ponteiro’ (gema apical) ou folíolos pendentes e murchos. Observar esses sintomas em reboleiras (manchas na lavoura) é um forte indicativo da presença da praga e da necessidade de iniciar o monitoramento e controle.

O controle de plantas daninhas ajuda a combater o cascudinho-da-soja?

Sim, ajuda muito. O cascudinho é polífago, ou seja, se alimenta de várias espécies de plantas, incluindo daninhas como fedegoso e culturas como milho tiguera. Manter a área limpa antes do plantio da soja reduz as fontes de alimento e abrigo para a praga, diminuindo sua população inicial e a pressão de ataque sobre a lavoura.

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