O capim-colonião é uma forrageira muito conhecida e utilizada na alimentação animal, principalmente por sua excelente adaptação ao clima brasileiro e sua grande capacidade de crescimento. Esta planta forma uma quantidade impressionante de massa verde, podendo atingir até 3 metros de altura em condições favoráveis.
No entanto, essa mesma capacidade de crescer e se desenvolver rapidamente se torna um grande problema quando ela infesta uma lavoura comercial. A competição por água, luz e nutrientes pode diminuir drasticamente a produtividade da cultura principal.
Quer saber como fazer um manejo eficiente do capim-colonião e proteger sua safra? A seguir, explicarei o período ideal para controle, as características da planta e os herbicidas mais indicados para cada situação. Confira!
Entendendo o Inimigo: Características do Capim-Colonião
O capim-colonião (Panicum maximum Jacq.) é uma planta daninha de ciclo perene: significa que a planta vive por mais de dois anos. Sua reprodução acontece tanto por sementes quanto de forma vegetativa, através de rizomas: caules subterrâneos que permitem à planta se espalhar e rebrotar com facilidade.
Seu florescimento ocorre durante um longo período, sendo comum encontrar plantas florescendo e produzindo sementes durante quase todo o ano. A presença dos rizomas subterrâneos também possibilita que a planta se recupere facilmente de danos mecânicos na parte aérea, como roçadas.
Plantas adultas de capim-colonião (Panicum maximum)
(Fonte: Tropical forages)
Esta planta daninha apresenta algumas particularidades quanto ao ambiente:
- Tolera períodos curtos de seca.
- Não suporta solos que ficam encharcados por muito tempo.
- É bastante suscetível a geadas, o que limita sua presença em regiões mais frias.
O capim-colonião pode ser encontrado em quase todas as regiões do país, infestando principalmente a cultura da cana-de-açúcar, citros e lavouras de grãos. Como a espécie também é utilizada como forrageira, o tipo de variedade encontrado em uma região geralmente depende do que os pecuaristas costumam plantar. Infelizmente, devido ao manejo incorreto das pastagens, essas plantas acabam produzindo sementes que infestam outras áreas.
Por que o Capim-Colonião se Espalha com Tanta Facilidade?
A ampla dispersão do capim-colonião está diretamente ligada à sua capacidade de produzir uma enorme quantidade de sementes. Uma única planta pode gerar mais de 120 mil sementes, que são pequenas, leves e facilmente disseminadas pelo vento durante o ano todo.
(Fonte: USDA Plants)
Suas sementes germinam melhor em temperaturas entre 20ºC e 30ºC. Por isso, dependendo da região do país, a germinação pode ocorrer em qualquer época do ano, resultando em múltiplos fluxos de emergência na lavoura.
Costuma-se dizer que plantas daninhas são espécies cuja utilidade ainda não foi descoberta. No caso do capim-colonião, sua utilidade é bem conhecida. Por isso, vamos analisar tanto os benefícios de utilizá-lo como forrageira quanto os prejuízos de tê-lo como invasor.
Vantagens: Quando o Capim-Colonião é um Aliado
- Excelente Forrageira: É uma ótima opção para regiões quentes e com boa distribuição de chuvas, pois produz grande volume de massa verde com boa palatabilidade para o gado.
- Alto Teor de Proteína: As plantas novas chegam a conter 13% de proteína, um valor nutricional excelente para a pecuária.
- Fitorremediação: Pode ser usado na recuperação de solos contaminados com metais pesados, ajudando a limpar a área.
Desvantagens: Quando se Torna uma Dor de Cabeça
- Competição na Lavoura: É um grande problema na cana-de-açúcar, pois no início do desenvolvimento se parece muito com a cultura, dificultando a identificação e o controle.
- Toxicidade para Animais: Sua inflorescência pode acumular glicosídeos cianogênicos: compostos que liberam cianeto, uma substância tóxica, quando ingeridos. Isso pode intoxicar rapidamente os animais que a consomem, sendo um risco em áreas de pastagem ou integração lavoura-pecuária. É importante notar que, quando manejada corretamente como forrageira, a planta não chega a florescer.
- Hospedeiro de Pragas: A planta também pode servir como hospedeira para nematoides, que atacam as raízes das culturas comerciais.
Inflorescência de capim-colonião (Panicum maximum)
(Fonte: Conabio)
(Fonte: USDA Plants)
Manejo de Capim-Colonião na Entressafra do Sistema Soja-Milho
O controle na entressafra é fundamental para reduzir a infestação antes do plantio da cultura principal. A estratégia geralmente envolve herbicidas aplicados em pós-emergência (para plantas já crescidas) e pré-emergência (para controlar o banco de sementes).
Herbicidas Aplicados em Pós-Emergência (Controle de Plantas Existentes)
Cletodim: Possui ótimo controle de plantas pequenas (20 cm a 40 cm). Pode ser usado na primeira aplicação do manejo sequencial, geralmente associado ao glifosato.
- Dose recomendada: 0,40 a 0,45 L/ha.
- Adjuvante: Adicionar óleo mineral a 0,5% a 1,0% v/v.
Haloxyfop: Também apresenta ótimo controle de plantas pequenas (20 cm a 40 cm) e pode ser usado na primeira aplicação sequencial com glifosato.
- Dose recomendada: 0,5 a 1,2 L/ha.
- Adjuvante: Adicionar óleo mineral a 0,5% a 1,0% v/v.
Glifosato: Eficaz em plantas de 20 cm a 40 cm ou na primeira aplicação sequencial, associado a pré-emergentes.
- Dose recomendada: 5,0 a 6,0 L/ha.
Atenção: Ao misturar graminicidas (como Cletodim e Haloxyfop) com 2,4-D, aumente a dose do graminicida em 20%. O 2,4-D pode reduzir a eficiência desses produtos.
Estes são exemplos comuns de graminicidas, mas existem outros produtos no mercado com bom desempenho que seguem a mesma lógica de manejo.
(Fonte: Disponível em Bueno e Pereira)
Herbicidas Aplicados em Pré-Emergência (Controle do Banco de Sementes)
Flumioxazin: Herbicida com ação residual para controlar o banco de sementes. Pode ser usado na primeira aplicação do manejo de outono associado a herbicidas sistêmicos (glifosato, graminicidas) ou no sistema de “aplique e plante” da soja.
- Dose recomendada: 90 a 120 g/ha.
S-metolachlor: Outro herbicida residual para o banco de sementes, utilizado no sistema “aplique e plante” da soja.
- Dose recomendada: 2,5 L/ha.
- Restrição: Não deve ser aplicado em solos arenosos.
Trifluralina: Herbicida residual usado na primeira aplicação do manejo de outono, associado a produtos sistêmicos.
- Dose recomendada: 0,9 a 4,0 L/ha, dependendo da infestação e da cobertura do solo.
- Condição: Deve ser aplicado em solo úmido e livre de torrões.
Sulfentrazone: Herbicida residual para a primeira aplicação de outono, junto com sistêmicos como o glifosato.
- Dose recomendada: Até 0,5 L/ha.
- Cuidado: Apresenta grande variação na seletividade entre diferentes cultivares de soja, exigindo atenção na escolha.
Manejo na Pós-Emergência das Culturas de Soja e Milho
Após o plantio, o controle continua sendo crucial para evitar a competição com a cultura já estabelecida.
Controle na Soja Pós-Emergência
Para plantas pequenas ou rebrota de plantas maiores na soja, a opção mais eficiente é o uso de graminicidas (Cletodim, Haloxyfop e outros). Em lavouras de soja RR, esses produtos podem ser associados ao glifosato.
Em áreas com alta infestação, é fundamental utilizar herbicidas pré-emergentes (como Flumioxazin e S-metolachlor) no sistema de “aplique e plante”. Esta técnica ajuda a diminuir o banco de sementes e reduz a necessidade de múltiplas aplicações em pós-emergência, controlando os diferentes fluxos de germinação da daninha.
Controle no Milho Pós-Emergência
O controle de capim-colonião no milho é mais complexo, pois o milho também é uma gramínea. Existem poucas opções de herbicidas que são seletivos para a cultura e, ao mesmo tempo, eficazes contra o capim-colonião.
Controle do banco de sementes: Para reduzir a germinação inicial, podem ser aplicados herbicidas pré-emergentes no sistema “aplique e plante” (como trifluralina, s-metolachlor e isoxaflutole).
Controle de plântulas (20 cm a 30 cm): As principais opções em pós-emergência são:
- Nicosulfuron
- Atrazina + Mesotrione
Milho com tecnologia RR ou LL: Em lavouras de milho RR (resistente a glifosato) ou LL (resistente a glufosinato de amônio), podem ser utilizados glifosato ou amônio-glufosinato, respectivamente, para um controle eficaz em pós-emergência.
Conclusão
Neste artigo, vimos a importância econômica que o capim-colonião representa no Brasil, tanto como forrageira quanto como planta daninha. Entendemos que conhecer a biologia da planta é o primeiro passo para um manejo bem-sucedido em lavouras de grãos.
Discutimos estratégias de controle que, quando bem aplicadas, evitam perdas de produtividade e ajudam a prevenir a seleção de plantas resistentes a herbicidas.
Com essas dicas, espero que você consiga realizar um manejo mais eficiente e seguro do capim-colonião na sua propriedade
Glossário
Adjuvante: Substância adicionada à calda de pulverização para melhorar a eficácia de um herbicida. No artigo, o óleo mineral é um adjuvante que ajuda graminicidas como o Cletodim a penetrarem melhor nas folhas do capim-colonião.
Ciclo perene: Característica de plantas que vivem por mais de dois anos, rebrotando a cada estação. O capim-colonião é perene, o que o torna mais difícil de erradicar do que plantas anuais.
Glicosídeos cianogênicos: Compostos químicos que podem se acumular na inflorescência do capim-colonião. Quando ingeridos por animais, liberam cianeto, uma substância altamente tóxica que pode levar à intoxicação do rebanho.
Graminicidas: Classe de herbicidas desenvolvida especificamente para controlar plantas da família das gramíneas (capins). São essenciais no manejo do capim-colonião em culturas de folhas largas, como a soja.
Pós-emergência: Refere-se à aplicação de herbicidas após a germinação e o aparecimento das plantas daninhas na lavoura. Visa controlar plantas que já estão visíveis e competindo com a cultura principal.
Pré-emergência: Refere-se à aplicação de herbicidas no solo antes da germinação das sementes de plantas daninhas. Cria uma camada química residual que impede o surgimento de novos fluxos de infestação.
Rizomas: Caules subterrâneos que crescem horizontalmente e armazenam nutrientes. São uma forma de reprodução vegetativa que permite ao capim-colonião se espalhar e rebrotar com vigor, mesmo após roçadas.
Sistema de “aplique e plante”: Técnica de manejo que consiste na aplicação de herbicidas (geralmente com ação residual) pouco antes ou durante a operação de semeadura. É uma estratégia proativa para controlar o banco de sementes desde o início do ciclo da cultura.
Veja como a tecnologia simplifica o manejo de plantas daninhas
O controle eficaz do capim-colonião, como vimos, exige um planejamento detalhado de produtos, doses e épocas de aplicação. Gerenciar manualmente esse calendário complexo pode levar a erros que comprometem a lavoura e aumentam os custos. Um software de gestão agrícola como o Aegro centraliza o planejamento de atividades, permitindo registrar cada pulverização por talhão e acompanhar o trabalho da equipe em tempo real, garantindo que o manejo seja executado com precisão.
Além da organização operacional, controlar o impacto financeiro de cada aplicação é fundamental para a rentabilidade. O uso de diferentes herbicidas e adjuvantes representa um investimento significativo. Com uma ferramenta de gestão, é possível registrar todos os gastos com insumos e mecanização, calculando o custo de produção de forma automática. Isso facilita a tomada de decisões baseadas em dados, ajudando a escolher as estratégias de manejo mais eficientes e econômicas para a sua realidade.
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Perguntas Frequentes
Por que o capim-colonião é considerado tanto uma forrageira valiosa quanto uma planta daninha prejudicial?
O capim-colonião é uma excelente forrageira por sua alta produção de massa e bom valor proteico para o gado. No entanto, quando invade lavouras comerciais, torna-se uma planta daninha agressiva que compete intensamente por água, luz e nutrientes, além de poder hospedar pragas e ser tóxico para animais se florescer.
O que torna o capim-colonião tão difícil de erradicar de uma lavoura?
Sua dificuldade de controle se deve a três fatores principais: é uma planta de ciclo perene, se reproduz tanto por uma vasta quantidade de sementes leves quanto por rizomas (caules subterrâneos) que permitem a rebrota, e possui múltiplos fluxos de germinação ao longo do ano em climas quentes.
Qual a principal diferença entre o manejo do capim-colonião na soja e no milho?
O controle na soja é mais simples, pois podem ser usados herbicidas graminicidas seletivos que não afetam a cultura. Já no milho, o desafio é maior porque ambos são gramíneas, limitando as opções de herbicidas seletivos e exigindo estratégias como o uso de pré-emergentes ou o plantio de milho com tecnologia RR ou LL.
Existe risco de intoxicação para o gado ao consumir o capim-colonião que invade a lavoura?
Sim, existe um risco significativo. A inflorescência (flores) do capim-colonião pode acumular glicosídeos cianogênicos, que liberam cianeto, uma substância tóxica. Quando a planta é manejada corretamente como forrageira, ela não chega a florescer, mas em infestações descontroladas, o risco de intoxicação do rebanho é real.
Qual a importância de usar herbicidas pré-emergentes no controle do capim-colonião?
Herbicidas pré-emergentes são fundamentais porque atuam sobre o banco de sementes no solo, impedindo a germinação de novos fluxos da planta daninha. Essa estratégia reduz a competição inicial com a cultura e diminui a necessidade de múltiplas aplicações de herbicidas em pós-emergência, otimizando custos e manejo.
Como os rizomas do capim-colonião impactam o controle mecânico, como a roçada?
Os rizomas são caules subterrâneos que armazenam energia e permitem que a planta rebrote com vigor. Por isso, controles puramente mecânicos como a roçada são pouco eficazes, pois eliminam apenas a parte aérea da planta, que se recupera rapidamente a partir da energia armazenada nos rizomas.
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