O capim-colchão é uma das plantas daninhas mais comuns e problemáticas do Brasil, infestando lavouras de grãos e grandes áreas de cana-de-açúcar. Sua alta capacidade de disseminação e competição por recursos pode causar perdas significativas de produtividade se não for controlada de forma adequada.
Para quem produz cana-açúcar, o desafio é ainda maior. Já existem relatos de populações com menor suscetibilidade a alguns dos herbicidas mais usados na cultura, o que acende um alerta para todos os produtores.
Implementar um bom manejo é fundamental para evitar a seleção de novas populações resistentes a herbicidas. Mas como fazer isso de forma eficiente? Qual o momento certo para agir e quais produtos usar?
Este guia prático vai mostrar como identificar, entender e controlar o capim-colchão, com recomendações claras para a entressafra e para as culturas de soja e milho.
Capim-Colchão: Conhecendo o Inimigo para um Controle Eficaz
No Brasil, o nome “capim-colchão” geralmente se refere a três espécies de gramíneas do gênero Digitaria, todas da família Poaceae:
- Digitaria horizontalis: É a espécie mais comum e frequente no país. Infesta principalmente lavouras anuais (como soja e milho) e perenes (como cana e café).
- Digitaria ciliaris: Muitas vezes, aparece em populações mistas com a D. horizontalis.
- Digitaria sanguinalis: É menos comum, sendo encontrada com maior intensidade na região Sul do Brasil.
Plantas adultas de capim-colchão (Digitaria horizontalis)
(Fonte: FCAV Unesp)
Plantas adultas de capim-colchão (Digitaria ciliaris)
(Fonte: Wiktrop)
Plantas adultas de capim-colchão (Digitaria sanguinalis)
(Fonte: Wiktrop)
A campo, essas três espécies são muito parecidas e difíceis de diferenciar a olho nu. Para uma identificação precisa, é necessário usar uma lupa e observar as características morfológicas, especialmente das espiguetas (as pequenas estruturas que formam a inflorescência).
Inflorescência de capim-colchão (Digitaria sanguinalis)
(Fonte: Luirig)
Características e Comportamento da Planta
Todas as espécies de capim-colchão são plantas daninhas de ciclo anual. Elas se espalham rapidamente pela lavoura através do enraizamento dos nós dos colmos que tocam o solo úmido, formando um verdadeiro “colchão” verde.
É importante notar que estas plantas daninhas se desenvolvem melhor em solos férteis. Em solos pobres e com baixa fertilidade, elas tendem a ser menos agressivas.
Sementes e Dispersão: O Motor da Infestação
A capacidade de produção de sementes é um dos fatores que explica a ampla distribuição do capim-colchão. Uma única planta pode produzir, em média, 150 mil sementes, que são leves e facilmente levadas pelo vento para outras áreas.
Sementes de capim-colchão (Digitaria sanguinalis)
(Fonte: Oardc)
A germinação das sementes depende de luz e temperatura:
- D. horizontalis e D. sanguinalis precisam de luz para germinar.
- D. ciliaris é indiferente, podendo germinar tanto na luz quanto no escuro.
- A temperatura ideal para a germinação das três espécies é a alternância entre
25℃ e 35℃
.
Mais que uma Daninha: Um Risco para a Sanidade da Lavoura
Além de competir diretamente com as culturas por água, luz e nutrientes, o capim-colchão serve como hospedeiro para pragase doenças, aumentando a pressão sobre a lavoura.
- As espécies D. horizontaliseD. sanguinalis podem hospedar nematoides.
- A espécie D. horizontalis também pode abrigar o patógeno causador da mancha branca do milho.
Atenção: Resistência a Herbicidas
No Brasil, já há um registro oficial de resistência para a espécie D. ciliaris. Em 2002, foi identificado um biótipo resistente a herbicidas inibidores da ACCase, conhecidos popularmente como graminicidas (como haloxyfop e fluazifop). Isso reforça a necessidade de um manejo integrado e da rotação de mecanismos de ação.
Manejo do Capim-Colchão na Entressafra: A Melhor Janela de Oportunidade
A entressafra é, sem dúvida, o período ideal para realizar um bom controle do capim-colchão. Nessa fase, há um número maior de opções de herbicidas que podem ser utilizados sem risco de fitotoxicidade para a cultura principal.
O segredo do sucesso é o tempo de aplicação: o ideal é que o controle seja feito em plantas pequenas, com até 2 perfilhos.
Para entender melhor: [Perfilho]: significa um novo broto que surge na base da planta de gramínea. Controlar a planta nesse estágio inicial é muito mais fácil e eficaz.
Herbicidas Pós-emergentes: Opções e Doses
Cletodim
- Ação: Ótimo controle de plantas pequenas (até 2 perfilhos). Pode ser usado na primeira aplicação do manejo sequencial, geralmente em associação com glifosato.
- Dose Recomendada:
0,5 a 1,0 L/ha
. - Observação: Adicionar óleo mineral na calda, na proporção de
0,5 a 1,0% v/v
.
Haloxyfop
- Ação: Excelente controle de plantas pequenas (até 2 perfilhos). Também é uma boa opção para a primeira aplicação do manejo sequencial, associado ao glifosato.
- Dose Recomendada:
0,55 a 1,2 L/ha
. - Observação: Adicionar óleo mineral na calda, na proporção de
0,5 a 1,0% v/v
.
Dica Importante: Existem outros graminicidas eficientes no mercado que seguem a mesma lógica de manejo. Além disso, novas formulações estão sendo lançadas com maior concentração do ingrediente ativo e com adjuvante já incluso (Ex: Verdict max®, Targa max® e Select one pack®), otimizando a aplicação.
Atenção à Mistura: Ao misturar graminicidas com 2,4-D, aumente a dose do graminicida em 20%. O 2,4-D pode reduzir a eficiência desses produtos.
Glifosato
- Ação: Controle eficaz em plantas pequenas (até 2 perfilhos) ou como parte da primeira aplicação em manejo sequencial.
- Dose Recomendada:
2,0 a 4,0 L/ha
.
Paraquat
- Ação: Ideal para plantas pequenas originadas de sementes ou no manejo sequencial para controlar a rebrota de plantas maiores.
- Dose Recomendada:
1,5 a 2,0 L/ha
. - Observação: Adicionar adjuvante não iônico na proporção de
0,5 a 1,0% v/v
.
Glufosinato de amônio
- Ação: Eficaz em plantas pequenas ou no manejo sequencial para controlar a rebrota de plantas maiores.
- Dose Recomendada:
2,5 a 3,0 L/ha
. - Observação: Adicionar óleo mineral na proporção de
2,0% v/v
.
Herbicidas Pré-emergentes: Controle Residual do Banco de Sementes
Diclosulam
- Ação: Herbicida com efeito residual para controlar o banco de sementes no solo.
- Aplicação: Usado na primeira aplicação do manejo de outono, associado a herbicidas sistêmicos (ex: glifosato e graminicidas).
- Dose Recomendada:
29,8 a 41,7 g/ha
. - Condição: O solo deve estar úmido para melhor eficácia.
Flumioxazin
- Ação: Herbicida residual para controle do banco de sementes.
- Aplicação: Pode ser usado no manejo de outono (associado a glifosato, graminicidas, etc.) ou no sistema de “aplique e plante” da soja.
- Dose Recomendada:
70 a 120 g/ha
.
S-metolachlor
- Ação: Herbicida residual para o banco de sementes.
- Aplicação: Utilizado no sistema de “aplique e plante” da soja.
- Dose Recomendada:
1,5 a 2,0 L/ha
. - Restrição: Não deve ser aplicado em solos arenosos.
Trifluralina
- Ação: Herbicida residual para controle do banco de sementes.
- Aplicação: Usado na primeira aplicação do manejo de outono, associado a herbicidas sistêmicos.
- Dose Recomendada:
1,2 a 4,0 L/ha
, variando conforme a planta daninha alvo e o nível de cobertura do solo. - Condição: Deve ser aplicado em solo úmido e livre de torrões.
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Como Manejar o Capim-Colchão na Pós-emergência da Soja e do Milho
Controle na Cultura da Soja
Para controlar plantas pequenas ou a rebrota de plantas já estabelecidas (perenizadas) na soja, a opção mais eficiente é o uso de graminicidas (clethodim, haloxyfop e outros). Em lavouras de soja RR, esses produtos podem ser associados ao glifosato para ampliar o espectro de controle.
Em áreas com alta infestação de capim-colchão, é fundamental utilizar herbicidas pré-emergentes no sistema de “aplique e plante” (como diclosulam, flumioxazin e s-metolachlor). Essa estratégia reduz o banco de sementes, diminui a necessidade de aplicações em pós-emergência e ajuda a prevenir a seleção de plantas resistentes, apresentando um ótimo custo-benefício.
O Desafio do Controle no Milho
O controle de capim-colchão no milho é mais complexo, pois o milho também é uma gramínea. Isso limita as opções de herbicidas seletivos que controlam a daninha sem prejudicar a cultura.
As principais ferramentas disponíveis são:
- Herbicidas pré-emergentes: Aplicados no sistema de “aplique e plante” (ex: trifluralina, s-metolachlor e isoxaflutole).
- Herbicidas pós-emergentes precoces: Utilizados no início do desenvolvimento da cultura (ex: nicosulfuron, tembotrione e mesotrione).
É importante ressaltar que não existem opções eficientes para o controle de plantas de capim-colchão mais desenvolvidas ou perenizadas dentro da cultura do milho. Portanto, o manejo preventivo na entressafra é ainda mais crucial.
Conclusão
O capim-colchão é uma planta daninha com grande impacto econômico, mas seu controle é totalmente viável com um planejamento correto.
Neste artigo, vimos a importância de identificar as espécies, entender seu ciclo e, principalmente, agir no momento certo. A entressafra é a melhor janela para um manejo robusto, utilizando as diversas opções de herbicidas pós e pré-emergentes disponíveis.
Ao integrar o uso de pré-emergentes para reduzir o banco de sementes e escolher os produtos corretos para aplicações em pós-emergência na soja e no milho, você protege o potencial produtivo da sua lavoura.
Espero que, com essas dicas, você consiga realizar um manejo mais eficiente e estratégico do capim-colchão
Glossário
Banco de sementes: Refere-se à reserva total de sementes viáveis de plantas daninhas presentes no solo. O uso de herbicidas pré-emergentes tem como objetivo controlar este banco, impedindo que as sementes germinem e infestem a área.
Entressafra: Período entre a colheita de uma safra principal e o plantio da safra seguinte. É considerado o momento ideal para o manejo de plantas daninhas como o capim-colchão, pois permite o uso de mais opções de herbicidas sem risco de dano (fitotoxicidade) à cultura.
Fitotoxicidade: Efeito tóxico que um produto químico, como um herbicida, pode causar a uma planta. O objetivo do manejo seletivo é controlar a planta daninha sem causar fitotoxicidade na cultura de interesse (soja, milho, etc.).
Graminicidas: Classe de herbicidas seletivos desenvolvidos para controlar especificamente plantas da família das gramíneas (capins). No artigo, são mencionados como a principal ferramenta para o controle do capim-colchão em pós-emergência na cultura da soja.
Herbicida pós-emergente: Produto aplicado sobre as plantas daninhas que já germinaram e estão crescendo na lavoura. Sua eficácia é máxima quando aplicado em plantas jovens, como o capim-colchão com até 2 perfilhos.
Herbicida pré-emergente: Produto aplicado no solo antes da emergência (germinação) das plantas daninhas. Ele forma uma barreira química que impede o desenvolvimento das sementes do banco do solo, mantendo a lavoura limpa no início do ciclo.
Manejo sequencial: Estratégia que envolve duas ou mais aplicações de herbicidas em sequência, com um curto intervalo de tempo entre elas. É uma tática eficaz para controlar infestações mais severas ou a rebrota de plantas daninhas maiores.
Perfilho: Broto que surge na base do colmo principal de uma planta gramínea, dando origem a um novo caule. O artigo destaca que o controle do capim-colchão é muito mais eficaz quando a planta tem, no máximo, 2 perfilhos.
Sistema de “aplique e plante”: Prática que consiste na aplicação de herbicidas (geralmente pré-emergentes) imediatamente antes ou no momento da semeadura da cultura principal. O objetivo é garantir que a cultura comece a se desenvolver em um ambiente livre da competição inicial das daninhas.
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Perguntas Frequentes
Qual é o momento ideal para aplicar herbicida no capim-colchão e por quê?
O momento ideal para o controle é quando a planta ainda é pequena, com no máximo 2 perfilhos (brotos). Nessa fase inicial, a planta é mais vulnerável aos herbicidas, o que garante uma aplicação mais eficiente e econômica. Adiar o controle permite que a planta se estabeleça, produza sementes e se torne muito mais difícil de manejar.
Por que o manejo do capim-colchão no milho é mais complexo do que na soja?
O controle no milho é mais desafiador porque tanto o milho quanto o capim-colchão são gramíneas. Isso limita o número de herbicidas seletivos que podem ser aplicados em pós-emergência sem causar danos (fitotoxicidade) à cultura. Na soja, por ser uma leguminosa, há mais opções de graminicidas eficientes e seguros para a lavoura.
Qual a principal vantagem de usar herbicidas pré-emergentes na entressafra?
A principal vantagem é o controle do banco de sementes presente no solo. Ao aplicar um herbicida pré-emergente, você cria uma barreira química que impede a germinação de novas plantas daninhas. Isso reduz a infestação inicial na cultura seguinte, diminui a necessidade de pulverizações em pós-emergência e ajuda a prevenir a seleção de plantas resistentes.
Além da competição por recursos, de que outra forma o capim-colchão prejudica a lavoura?
Além de competir por água, luz e nutrientes, o capim-colchão atua como hospedeiro para pragas e doenças. Ele pode abrigar nematoides e patógenos, como o agente causal da mancha branca do milho. Isso aumenta a pressão sanitária sobre a cultura principal, podendo agravar as perdas de produtividade.
Qual o risco de usar sempre o mesmo tipo de herbicida graminicida para controlar o capim-colchão?
O uso repetitivo de herbicidas com o mesmo mecanismo de ação, como os graminicidas (inibidores da ACCase), seleciona indivíduos naturalmente resistentes dentro da população de capim-colchão. Com o tempo, essa prática leva ao surgimento de populações resistentes, como já foi registrado no Brasil para a espécie D. ciliaris, tornando o controle ineficaz e mais caro.
O que significa o sistema de manejo ‘aplique e plante’ mencionado no artigo?
O sistema ‘aplique e plante’ é uma estratégia que consiste na aplicação de herbicidas, geralmente com ação pré-emergente, imediatamente antes ou durante o processo de semeadura da cultura. O objetivo é garantir que a cultura principal comece a se desenvolver em um ambiente limpo, sem a competição inicial das plantas daninhas, favorecendo um bom estabelecimento da lavoura.
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