Capim-Carrapicho: Guia Completo de Manejo e Controle na Lavoura

Engenheiro agrônomo, mestre e doutor em Fitotecnia focado em plantas daninhas.
Capim-Carrapicho: Guia Completo de Manejo e Controle na Lavoura

O capim-carrapicho é uma das plantas daninhas mais desafiadoras, infestando diversas culturas anuais e perenes pelo Brasil. Além de competir por água, luz e nutrientes, sua presença pode reduzir a qualidade de produtos agrícolas importantes, como o algodão, prejudicando a colheita e o beneficiamento.

Mas como realizar o controle mais eficaz dessa invasora na sua lavoura? Quais são os herbicidas mais recomendados para aplicações em pré e pós-emergência? E qual o melhor momento para agir?

Vamos responder a essas perguntas e apresentar um guia prático para um manejo eficiente.

Entendendo o Inimigo: Características do Capim-Carrapicho

O capim-carrapicho (Cenchrus echinatus), também conhecido como capim-timbete, é originário da América tropical e hoje está espalhado por todo o Brasil, com maior presença na região Sudeste.

Esta planta daninha tem ciclo anual e se reproduz por sementes. Além disso, ela se espalha facilmente quando seus colmos (caules) enraízam nos nós que tocam o solo, formando novas plantas.

É uma planta invasora muito adaptável, crescendo bem tanto em solos férteis quanto em solos pobres e arenosos. Em condições ideais, com bom enraizamento e umidade, seu ciclo de vida pode se prolongar, tornando-se quase perene (semi-perene).

A identificação de plantas adultas é simples. Já as plantas jovens (plântulas) podem ser reconhecidas pela base avermelhada do colmo. Outra dica é retirar a plântula do solo com cuidado: você poderá ver a semente ainda presa às raízes.

close-up detalhado de três plântulas, provavelmente de milho, em seu estágio inicial de desenvolvimento, brPlântulas de capim-carrapicho (Cenchrus echinatus) (Fonte: Sarangi e Jhala)

A temperatura ideal para seu crescimento fica em torno de 25°C, e uma única planta pode produzir até 1.100 sementes.

Curiosamente, o capim-carrapicho não precisa de luz para germinar. Na verdade, sua germinação pode ser até mais rápida no escuro, embora a quantidade final de sementes germinadas não mude. Devido ao tamanho de suas sementes, elas conseguem emergir de profundidades de até 10 cm, dependendo das condições do solo.

Por Que o Manejo do Capim-Carrapicho é um Desafio?

A capacidade de emergir de camadas mais profundas do solo impacta diretamente o manejo. O revolvimento mecânico do solo em uma área infestada pode causar várias ondas (fluxos de emergência), dificultando a aplicação de herbicidas pós-emergentes no momento certo.

Além disso, esse enterramento das sementes pode posicioná-las abaixo da camada de solo tratada por herbicidas pré-emergentes, o que também reduz a eficácia do controle.

Como suas sementes são grandes e pesadas, elas não se espalham facilmente pelo vento. A dispersão ocorre principalmente pelo trânsito de máquinas agrícolas sem a devida limpeza entre uma área e outra.

Além da forte competição com as culturas, o capim-carrapicho pode causar alelopatia: significa que a planta libera substâncias químicas que prejudicam o desenvolvimento de outras plantas ao redor.

Em seus estágios iniciais, a planta pode servir como forrageira por seu valor nutricional. No entanto, a partir do momento em que começa a produzir sementes (frutificação), torna-se imprópria para o consumo animal.

Uma boa notícia é que, até hoje, não foram registrados casos de populações de capim-carrapicho (Cenchrus echinatus) resistentes a herbicidas no mundo. Para manter esse cenário favorável, o manejo integrado de plantas daninhas é fundamental.

As melhores práticas incluem:

  • Rotação de culturas.
  • Rotação de princípios ativos de herbicidas.
  • Uso de culturas de cobertura, como a Urochloa ruziziensis, que apresenta ótima supressão do capim-carrapicho.

Manejo Estratégico na Entressafra: A Melhor Janela de Oportunidade

O período da entressafra é o momento ideal para realizar um manejo robusto do capim-carrapicho, pois há um número maior de ferramentas e herbicidas disponíveis.

O ideal é que a aplicação ocorra quando as plantas ainda são pequenas, com até 2 perfilhos.

Para entender melhor: Perfilhos são os brotos que surgem na base da planta, formando uma touceira. O controle é muito mais eficaz nesse estágio inicial.

Um ponto crucial para o sucesso do manejo é aplicar os produtos quando a planta não está sofrendo com falta de água (estresse hídrico). Em condições de estresse, a eficiência de muitos herbicidas pode ser drasticamente reduzida.

Herbicidas Pós-emergentes (Ação sobre Plantas Já Nascidas)

Glifosato

  • Uso: Possui ótimo controle de plantas pequenas (até 2 perfilhos). Pode ser usado na primeira aplicação do manejo sequencial.
  • Dose Recomendada: 1,2 a 3,0 L/ha.

Cletodim

  • Uso: Excelente controle de plantas pequenas, geralmente associado ao glifosato na primeira aplicação sequencial.
  • Dose Recomendada: 0,5 a 1,0 L/ha.
  • Observação: Adicionar óleo mineral na calda, na proporção de 0,5 a 1,0 % v/v.

Haloxyfop

  • Uso: Ótimo desempenho em plantas pequenas, também usado em associação na primeira aplicação do manejo.
  • Dose Recomendada: 0,55 a 1,2 L/ha.
  • Observação: Adicionar óleo mineral na calda, na proporção de 0,5 a 1,0 % v/v.

Atenção: Existem outras opções de graminicidas eficazes no mercado. Novas formulações, como Verdict Max®, Targa Max® e Select One Pack®, já vêm com maior concentração do ingrediente ativo e com adjuvante incluso na fórmula. Ao misturar graminicidas com 2,4-D, é necessário aumentar a dose do graminicida em 20%, pois o 2,4-D reduz sua eficiência.

Paraquat

  • Uso: Eficaz em plantas pequenas (até 2 perfilhos) ou no manejo sequencial para controlar a rebrota de plantas maiores.
  • Dose Recomendada: 1,5 a 2,0 L/ha.
  • Observação: Adicionar adjuvante não iônico na proporção de 0,5 a 1,0% v/v.

Glufosinato de amônio

  • Uso: Controle de plantas pequenas ou no manejo sequencial para rebrota.
  • Dose Recomendada: 2,5 a 3,0 L/ha.
  • Observação: Adicionar óleo mineral na proporção de 2,0% v/v.

Herbicidas Pré-emergentes (Ação no Banco de Sementes)

Para entender melhor: Ação residual significa que o herbicida permanece ativo no solo por um tempo, controlando novas plantas que tentam germinar.

S-metolachlor

  • Uso: Herbicida com ação residual, aplicado no sistema “aplique e plante” da soja.
  • Dose Recomendada: 1,5 a 2,0 L/ha.
  • Atenção: Não deve ser aplicado em solos arenosos.

Trifluralina

  • Uso: Utilizado na primeira aplicação do manejo de outono, associado a herbicidas sistêmicos (como glifosato ou graminicidas). Herbicidas sistêmicos são produtos que são absorvidos e se movem por toda a planta, matando-a por completo.
  • Dose Recomendada: 1,2 a 4,0 L/ha, variando conforme a infestação e a cobertura do solo.
  • Observação: Deve ser aplicado em solo úmido e livre de torrões.

Sulfentrazone

  • Uso: Controle residual do banco de sementes, aplicado no manejo de outono em associação com herbicidas sistêmicos.
  • Dose Recomendada: até 0,6 L/ha.
  • Atenção: Apresenta grande variação na seletividade entre diferentes cultivares de soja. Verifique a compatibilidade.

Imazetapir

  • Uso: Herbicida residual para controle de banco de sementes. Pode ser usado no manejo de outono ou no sistema “aplique e plante” da soja.
  • Dose Recomendada: 0,8 a 1,0 L/ha.

Controle Durante a Safra: Soja e Milho

Manejo na Pós-emergência da Soja

Para controlar plantas pequenas ou a rebrota na cultura da soja já estabelecida, a opção mais eficiente é o uso de graminicidas (como cletodim e haloxyfop).

  • Em lavouras de soja RR, esses produtos podem ser associados ao glifosato para ampliar o espectro de controle.
  • Em áreas com alta infestação, é fundamental usar herbicidas pré-emergentes no sistema “aplique e plante”. Isso diminui o banco de sementes e reduz a necessidade de aplicações em pós-emergência.
  • A inclusão de pré-emergentes no manejo previne a seleção de plantas resistentes e oferece um ótimo custo-benefício a longo prazo.

Manejo na Pós-emergência do Milho

O controle de capim-carrapicho no milho convencional é mais complexo, pois o milho também é uma gramínea. Existem poucas opções de herbicidas que são seletivos ao milho e, ao mesmo tempo, eficazes contra o capim-carrapicho.

As principais estratégias são:

  • Herbicidas pré-emergentes: Aplicados no sistema “aplique e plante”, como trifluralina, s-metolachlor e isoxaflutole.
  • Herbicidas em pós-emergência precoce: Opções como nicosulfuron e tembotrione podem ser usadas com a cultura e a daninha em estágios iniciais.

No entanto, não há opções eficientes para controlar plantas de capim-carrapicho mais desenvolvidas em milho convencional. Caso o milho possua a tecnologia RR, o uso de glifosato se torna uma ferramenta eficaz para o controle.

O Que Vem por Aí: Novas Tecnologias no Controle

Nos próximos anos, o mercado agrícola espera a liberação de novas tecnologias (“traits”) de resistência a herbicidas para soja e milho, o que ampliará as opções de manejo.

  • Soja e Milho Enlist: Esta tecnologia permitirá o uso de 2,4-D colina, glifosato e glufosinato de amônio em pós-emergência das culturas. Além disso, tornará possível a aplicação de haloxyfop em pós-emergência do milho, um grande avanço para a rotação de princípios ativos.

Há também a previsão de lançamento de novos herbicidas pré-emergentes para controle de gramíneas, como o pyroxasulfone, que trará mais uma ferramenta para o manejo integrado.

Conclusão: Um Manejo Inteligente Garante o Controle

Neste artigo, vimos que o capim-carrapicho é um adversário sério, mas que pode ser controlado com uma estratégia bem planejada.

O manejo eficaz não depende de uma única ação, mas de uma combinação de táticas: entender a biologia da planta, aproveitar a janela da entressafra para um controle robusto, escolher os herbicidas corretos para cada situação e, principalmente, adotar o manejo integrado para evitar a seleção de resistência.

Aproveite estas orientações para aprimorar o controle do capim-carrapicho na sua lavoura e proteger seu potencial produtivo.


Glossário

  • Adjuvante: Substância adicionada à calda de pulverização para melhorar a eficácia de um herbicida. Pode aumentar a absorção do produto pela planta, melhorar a cobertura foliar ou reduzir a deriva.

  • Alelopatia: Fenômeno biológico no qual uma planta produz e libera substâncias químicas que inibem o desenvolvimento de outras plantas ao seu redor. O capim-carrapicho usa a alelopatia para competir com as culturas.

  • Colmos: Termo técnico para os caules das plantas gramíneas, como o capim-carrapicho. No texto, é relevante pois seus colmos podem enraizar e formar novas plantas, ajudando na infestação.

  • Estresse hídrico: Condição de déficit de água em uma planta, que ocorre em períodos de seca. Plantas sob estresse hídrico absorvem menos os herbicidas, o que reduz drasticamente a eficácia do controle.

  • Fluxos de emergência: Germinação de plantas daninhas em ondas ou pulsos sucessivos. O manejo do solo pode desencadear vários fluxos de emergência do capim-carrapicho, dificultando o controle em um único momento.

  • Herbicidas sistêmicos: Produtos que, após absorvidos, se movem por todo o sistema vascular da planta (do ponto de aplicação para outras partes), causando sua morte. O glifosato é um exemplo de herbicida sistêmico.

  • Perfilhos: Brotos que nascem na base do colmo principal de uma gramínea, formando uma touceira. O controle do capim-carrapicho é mais eficaz em seu estágio inicial, com até 2 perfilhos.

  • Soja RR: Sigla para “Roundup Ready”, tecnologia que torna a soja geneticamente resistente ao herbicida glifosato. Isso permite a aplicação de glifosato na lavoura para controlar plantas daninhas, como o capim-carrapicho, sem afetar a soja.

Como a tecnologia otimiza o manejo do capim-carrapicho

O controle eficaz do capim-carrapicho, como vimos, exige um planejamento minucioso: escolher o herbicida certo, aplicá-lo no estágio ideal da planta daninha (como os 2 perfilhos) e rotacionar princípios ativos. Manter o registro de todas essas atividades no papel ou em planilhas pode ser um desafio. Ferramentas de gestão agrícola, como o Aegro, simplificam esse processo ao centralizar o planejamento e o histórico de aplicações, garantindo que cada operação seja registrada e executada no momento certo para máxima eficiência.

Além do controle agronômico, o impacto financeiro do manejo é crucial. Cada aplicação de herbicida representa um custo que precisa ser monitorado para garantir a rentabilidade da safra. Um software agrícola integra essas operações de campo diretamente ao controle de estoque e financeiro. Assim, você sabe exatamente quanto está gastando com defensivos e pode analisar o custo-benefício de cada estratégia, tomando decisões mais seguras para proteger tanto a lavoura quanto o seu bolso.

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Perguntas Frequentes

Qual é o momento ideal para aplicar herbicidas e garantir o controle mais eficaz do capim-carrapicho?

O momento ideal é durante a entressafra, com as plantas ainda pequenas, possuindo no máximo 2 perfilhos (brotos). Além disso, é crucial que a planta não esteja sofrendo com a falta de água (estresse hídrico), pois nessas condições a absorção do herbicida é muito mais eficiente, garantindo um controle superior.

Qual a principal diferença entre usar herbicidas pré-emergentes e pós-emergentes no manejo do capim-carrapicho?

Herbicidas pré-emergentes são aplicados no solo e atuam sobre o banco de sementes, impedindo que novas plantas germinem. Já os herbicidas pós-emergentes são aplicados diretamente nas plantas que já nasceram. Uma estratégia completa geralmente combina ambos, usando pré-emergentes para reduzir a infestação inicial e pós-emergentes para controlar as plantas que escaparam.

O controle de capim-carrapicho no milho convencional é mais difícil. Quais as estratégias mais eficientes nesse cenário?

Para o milho convencional, a principal estratégia é o uso de herbicidas pré-emergentes no sistema “aplique e plante”, como a trifluralina e o s-metolachlor. As opções de pós-emergência são limitadas e só funcionam em plantas muito jovens. Por isso, em áreas com alta infestação, o uso de milho com tecnologia RR, que permite a aplicação de glifosato, é uma alternativa muito mais eficaz.

O artigo menciona que ainda não há casos de resistência. Como posso evitar que o capim-carrapicho se torne resistente na minha fazenda?

Para prevenir o surgimento de resistência, é fundamental adotar o manejo integrado. Isso inclui práticas como a rotação de culturas, o uso de culturas de cobertura para abafar a daninha e, principalmente, a rotação de herbicidas com diferentes mecanismos de ação. Evitar o uso repetitivo do mesmo produto é a chave para manter a eficácia do controle a longo prazo.

Como posso impedir que o capim-carrapicho se espalhe para outras áreas da minha propriedade?

A principal forma de dispersão das sementes do capim-carrapicho é através de máquinas e implementos agrícolas. A prática mais importante é realizar uma limpeza rigorosa de tratores, colheitadeiras e equipamentos antes de movê-los de uma área infestada para uma área limpa. Essa simples ação pode evitar a contaminação de novos talhões.

Por que o revolvimento do solo, como a aração, pode piorar uma infestação de capim-carrapicho?

As sementes do capim-carrapicho conseguem germinar mesmo quando estão mais fundas no solo. O revolvimento mecânico acaba trazendo sementes de camadas mais profundas para a superfície, estimulando sua germinação. Isso resulta em múltiplos fluxos de emergência, dificultando o controle e prolongando o problema na área.

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