Se você lida com lavouras, sabe que as plantas daninhas são uma dor de cabeça constante. E entre elas, o capim-arroz se destaca como um dos maiores desafios, especialmente na cultura do arroz, podendo causar perdas de até 90% na produtividade.
Mas o problema não para por aí: ele também prejudica seriamente outras culturas de grãos, competindo por água, luz e nutrientes.
Neste guia completo, vamos detalhar as três principais espécies de capim-arroz, discutir os casos de resistência a herbicidas e mostrar as melhores estratégias de controle para proteger sua produção.
O Que é o Capim-Arroz? Conheça as 3 Espécies Mais Comuns
O termo “capim-arroz” na verdade se refere a um grupo de plantas daninhas do gênero Echinochloa. As três que mais tiram o sono do produtor são:
- Echinochloa colona;
- Echinochloa crus-galli;
- Echinochloa crus-pavonis.
O grande desafio com essas plantas é que elas são muito parecidas com o arroz cultivado, especialmente nos estágios iniciais. Essa semelhança torna o controle com herbicidas seletivos — aqueles que matam a daninha sem prejudicar a cultura principal — uma tarefa bem mais complicada.
Vamos detalhar as características de cada uma para facilitar a identificação e o manejo correto.
Echinochloa colona (capim-arroz)
(Fonte: arquivo pessoal da autora)
Echinochloa colona
Esta espécie é popularmente conhecida por vários nomes, dependendo da região.
- Nomes comuns: Angolinho-branco, capim-arroz, capim-colônia, capim-coloninho, capim-jaú ou capituva.
Echinochloa colona (capim-arroz)
(Fonte: Moreira e Bragança, 2010)
É uma gramínea de ciclo anual da família Poaceae. Ela cresce de forma ereta, formando touceiras, e se desenvolve bem por todo o país, principalmente em áreas de baixada com solos encharcados ou úmidos. Por isso, é uma das plantas daninhas mais comuns em lavouras de arroz irrigado.
Além de competir por recursos, ela causa problemas indiretos, pois serve como hospedeira para nematoides e vírus que provocam doenças nas plantas cultivadas.
Características para Identificação
- Colmo (talo):
- Possui aerênquima: um tecido que permite a respiração da planta em solos alagados.
- Atinge até
80 cm
de altura. - É cilíndrico, fino e muito ramificado.
- Consegue enraizar a partir dos nós mais baixos, o que ajuda na sua propagação.
- Folhas:
- Não possuem lígula, que é aquela pequena estrutura na junção da folha com o colmo. No lugar, há um colar de cor branca ou levemente rosada.
- A lâmina da folha é lanceolada (formato de lança), lisa (sem pelos) e tem a base arredondada com a ponta fina. Suas margens são serrilhadas.
- Inflorescência (florada):
- É do tipo panícula: um cacho de flores com um eixo principal longo.
- Você pode identificar a espécie em campo observando a panícula, que tem espigas inseridas de forma alternada e oposta ao longo do eixo.
Echinochloa colona (capim-arroz)
(Fonte: UFSCar/CCA)
Casos de Resistência no Brasil e no Mundo
Atualmente, existem 26 casos de resistência de Echinochloa colona a herbicidas registrados no mundo. No entanto, até o momento, nenhum caso foi oficialmente documentado no Brasil.
Echinochloa crus-galli
Esta é outra espécie muito comum e com diversos apelidos pelo Brasil.
- Nomes comuns: Barbudinho, capim-arroz, capim-capivara, capim-da-colônia, capim-jaú, capim-pé-de-galinha, canevão, capituva, inço-de-arroz ou gervão.
Echinochloa crus-galli (capim-arroz)
(Fonte: Moreira e Bragança, 2010)
Também é uma gramínea anual da família Poaceae. Seu crescimento se adapta ao ambiente: em áreas com lâmina d’água, ela cresce de forma ereta. Já em solos mais secos, ela se deita (decumbente) e cria raízes a partir dos nós que tocam o chão.
Forma touceiras e se desenvolve em todo o país, preferindo áreas úmidas, sejam elas cultivadas ou não. É considerada uma das principais invasoras em lavouras de arroz irrigado e de várzea.
Características para Identificação
- Colmo (talo): Pode ser cilíndrico ou um pouco achatado, com ramificações na base.
- Folhas: Possuem a bainha aberta (parte que abraça o colmo) em uma fenda lateral longa e, assim como a E. colona, também não têm lígula. A lâmina é lisa, com formato linear-lanceolado.
- Inflorescência (florada): É uma panícula terminal (na ponta do colmo) com formato de pirâmide. É formada por numerosas espigas, que são mais afastadas na base e mais juntas no topo. As espiguetas (pequenas partes da espiga) são ovais, de cor verde ou arroxeada, e não possuem aristas (as pontas finas, tipo “barba”).
Casos de Resistência no Brasil e no Mundo
No mundo, já foram registrados 46 casos de resistência de Echinochloa crus-galli a herbicidas.
Desses, 3 casos ocorreram no Brasil, todos em lavouras de arroz, conforme detalhado na tabela abaixo:
(Fonte: Heap, 2020)
Echinochloa crus-galli (capim-arroz)
(Fonte: Universidade Federal de São Carlos/CCA)
Echinochloa crus-pavonis
A terceira espécie importante também possui uma grande variedade de nomes populares.
- Nomes comuns: Camarão, capim-arroz, capim-canevão, barbudinho capim-canevão-do-banhado, capim-da-colônia, capim-jaú, capim-pavão, capim-pé-de-galinha, capituva, gervão, inço-de-arroz.
Echinochloa crus-pavonis (capim-arroz)
(Fonte: Moreira e Bragança, 2010)
Assim como as outras, é uma gramínea anual da família Poaceae, que forma touceiras e se adapta bem a solos úmidos. Também é uma das principais espécies invasoras na cultura do arroz irrigado.
Sua forma de crescimento é similar à E. crus-galli: ereta em solos com água e decumbente em solos secos, com capacidade de enraizar pelos nós.
Características para Identificação
As características do colmo e das folhas são muito parecidas com as da Echinochloa crus-galli: colmo cilíndrico ou achatado, folhas sem lígula e com bainha aberta. A inflorescência também é terminal, do tipo panícula.
Casos de Resistência no Brasil e no Mundo
Existe apenas um caso de resistência de Echinochloa crus-pavonis a herbicidas registrado no mundo. Esse caso ocorreu justamente no Brasil, em lavouras de arroz, no ano de 1999, contra o herbicida quinclorac.
Echinochloa crus-pavonis (capim-arroz)
(Fonte: UFSCar/CCA)
Estratégias de Controle para o Capim-Arroz na Lavoura
O controle eficaz do capim-arroz não depende apenas de um único produto. A melhor abordagem é o Manejo Integrado de Plantas Daninhas (MIPD), que combina diferentes estratégias para um resultado mais duradouro e sustentável.
Isso inclui associar o uso de herbicidas com outras práticas, como:
- Controle preventivo: Usar sementes certificadas e limpar máquinas e implementos.
- Controle cultural: Fazer rotação de culturas para quebrar o ciclo da daninha.
- Controle mecânico: Utilizar capina manual ou mecânica quando viável.
- Controle físico ou biológico: Outras técnicas que podem ser exploradas.
Na tabela abaixo, você pode conferir os herbicidas recomendados para o controle das três principais espécies de capim-arroz.
O uso de cada um destes herbicidas vai depender da cultura que você está plantando. Veja na próxima tabela os produtos registrados para o controle de capim-arroz em lavouras de arroz, soja, milho, feijão, algodão e cana-de-açúcar.
Atenção: A seletividade de um herbicida (sua capacidade de controlar a daninha sem prejudicar a cultura) não é garantida. Ela depende de vários fatores:
- Dose utilizada;
- Época de aplicação;
- Modo de aplicação;
- Estádio de desenvolvimento da cultura e da planta daninha.
Por isso, sempre leia a bula do herbicida para entender as recomendações específicas de uso para cada produto e cultura.
Conclusão
O capim-arroz é, sem dúvida, um adversário duro na lavoura, principalmente pela sua semelhança com a cultura do arroz, o que dificulta o uso de herbicidas seletivos.
Neste guia, você aprendeu a:
- Identificar as três principais espécies de capim-arroz (E. colona, E. crus-galli e E. crus-pavonis).
- Conhecer os casos de resistência a herbicidas registrados no Brasil e no mundo.
- Descobrir os principais herbicidas recomendados para o controle desta daninha em diversas culturas, como grãos, algodão e cana-de-açúcar.
Com essas informações em mãos, você está mais preparado para implementar um manejo eficiente do capim-arroz, protegendo a produtividade da sua lavoura. Lembre-se que o conhecimento é a principal ferramenta para um controle bem-sucedido
Glossário
Colmo: Termo técnico para o talo ou caule das gramíneas, como o capim-arroz e o milho. No artigo, suas características, como altura e ramificação, são usadas para identificar as diferentes espécies.
Echinochloa: Gênero botânico ao qual pertencem as plantas daninhas conhecidas popularmente como capim-arroz. É um grupo de gramíneas que frequentemente infestam lavouras, especialmente as de arroz irrigado.
Herbicida seletivo: Produto químico projetado para controlar plantas daninhas específicas sem causar danos significativos à cultura principal. Por exemplo, um herbicida que mata o capim-arroz mas não afeta a lavoura de soja.
Inflorescência (Panícula): Estrutura que agrupa as flores de uma planta para a reprodução. A panícula, tipo de inflorescência do capim-arroz, é um cacho de flores com um eixo principal longo e ramificado, cuja forma ajuda a diferenciar as espécies.
Lígula: Pequena membrana ou fileira de pelos localizada na junção entre a folha e o colmo em muitas gramíneas. A sua ausência é uma característica chave para a identificação das espécies de Echinochloa mencionadas no texto.
Manejo Integrado de Plantas Daninhas (MIPD): Estratégia que combina diferentes métodos de controle (preventivo, cultural, mecânico e químico) de forma sustentável e econômica. O objetivo é reduzir a dependência de herbicidas e prevenir o surgimento de resistência.
Resistência a herbicidas: Capacidade herdada de uma planta daninha de sobreviver e se reproduzir após a aplicação de uma dose de herbicida que normalmente seria letal. O texto destaca casos de resistência do capim-arroz a certos produtos no Brasil e no mundo.
Simplifique o manejo do capim-arroz e proteja seu lucro
Lidar com o capim-arroz exige mais do que apenas o herbicida certo: é preciso um controle rigoroso para evitar a resistência e não estourar o orçamento. Planilhas e cadernos podem se perder, mas com um software de gestão como o Aegro, você registra cada aplicação de defensivo no campo, criando um histórico por talhão. Isso não só ajuda a planejar as próximas safras com mais inteligência, mas também mostra exatamente quanto você está gastando no controle de plantas daninhas, permitindo otimizar os custos e proteger sua margem de lucro.
Está pronto para tomar decisões baseadas em dados e simplificar a gestão da sua lavoura?
Experimente o Aegro gratuitamente e veja na prática como a tecnologia pode ser sua maior aliada no campo.
Perguntas Frequentes
Por que o capim-arroz é uma planta daninha tão difícil de controlar, especialmente em lavouras de arroz?
O principal desafio no controle do capim-arroz é sua grande semelhança com a planta de arroz cultivado, principalmente nos estágios iniciais de desenvolvimento. Isso dificulta a aplicação de herbicidas seletivos, que poderiam eliminar a daninha sem prejudicar a cultura. Além disso, sua alta capacidade competitiva por recursos como água, luz e nutrientes pode causar perdas de produtividade de até 90%.
Qual é a maneira mais prática de diferenciar as espécies de capim-arroz (Echinochloa spp.) de outras gramíneas no campo?
Uma das características mais distintivas e fáceis de observar para identificar o gênero Echinochloa é a ausência de lígula, uma pequena estrutura presente na junção da folha com o colmo na maioria das gramíneas. No lugar da lígula, as espécies de capim-arroz apresentam um colar de cor branca ou levemente rosada, o que ajuda a diferenciá-las rapidamente.
O que significa quando uma população de capim-arroz se torna resistente a um herbicida?
A resistência a herbicidas ocorre quando, após aplicações repetidas do mesmo produto ou de produtos com o mesmo mecanismo de ação, algumas plantas daninhas sobrevivem e se reproduzem, gerando uma população que não é mais controlada pela dose recomendada. O artigo aponta que já existem casos de resistência de Echinochloa crus-galli e Echinochloa crus-pavonis no Brasil, o que exige a rotação de herbicidas e outras práticas de manejo.
Além da aplicação de herbicidas, que outras práticas são essenciais para um controle eficaz do capim-arroz?
A abordagem mais eficaz é o Manejo Integrado de Plantas Daninhas (MIPD), que combina diferentes estratégias. Isso inclui o controle preventivo, como o uso de sementes certificadas e a limpeza de máquinas para evitar a disseminação, e o controle cultural, como a rotação de culturas, que quebra o ciclo de vida da planta daninha e reduz a infestação a longo prazo.
Posso usar o mesmo herbicida para controlar capim-arroz em diferentes culturas, como soja, milho e algodão?
Não necessariamente. A escolha do herbicida deve sempre considerar a seletividade para a cultura principal. Um produto pode ser excelente para controlar o capim-arroz na soja, mas tóxico para o milho. É fundamental consultar a bula do produto para verificar para quais culturas ele é registrado e seguir as recomendações de dose e estádio de aplicação para garantir a segurança e eficácia.
Como o capim-arroz prejudica a lavoura além da competição por recursos?
Além de competir diretamente por água, luz e nutrientes, o capim-arroz causa danos indiretos significativos. Ele pode servir como hospedeiro alternativo para pragas e doenças, como nematoides e vírus, que podem posteriormente infectar e prejudicar a cultura principal, aumentando os desafios de manejo e os custos de produção.
Artigos Relevantes
- Principais recomendações de manejo dos herbicidas para arroz: Este artigo é a expansão mais direta e necessária do conteúdo principal. Enquanto o guia de capim-arroz lista os ingredientes ativos, este aprofunda o tema detalhando produtos comerciais específicos, o momento crucial de aplicação baseado no Período Crítico de Competição (PCC) e as particularidades de uso no sistema Clearfield, preenchendo a lacuna entre a teoria e a prática do controle químico.
- Tudo o que você precisa saber sobre plantação de arroz: Este artigo oferece o contexto agronômico fundamental que falta no artigo principal. Ele detalha os diferentes sistemas de cultivo (irrigado, sequeiro, pré-germinado), explicando o ambiente onde o problema do capim-arroz ocorre e como a escolha do sistema de plantio impacta diretamente as estratégias de manejo de plantas daninhas, enriquecendo a tomada de decisão do leitor.
- Colheita de arroz: estratégias para otimizá-la e ganhar rentabilidade: Este artigo completa a jornada do produtor, conectando o esforço do controle de plantas daninhas ao resultado final: a rentabilidade. Ele detalha como as perdas na colheita, muitas vezes agravadas pela presença de daninhas, podem ser minimizadas, mostrando na prática a importância de um manejo bem-feito como o proposto no artigo principal para garantir a qualidade e o volume da produção.
- Recomendações de adubação para o arroz: como fazer em diferentes sistemas de cultivo: Este artigo complementa o conceito de Manejo Integrado (MIPD) ao focar no fortalecimento da cultura, e não apenas no controle da daninha. O artigo principal afirma que o capim-arroz compete por nutrientes; este guia detalha como realizar a adubação correta para que a lavoura de arroz se torne mais vigorosa e competitiva, sendo uma estratégia proativa essencial e de grande valor.
- Como fazer o manejo eficiente do capim-carrapicho: Este artigo serve como um estudo de caso prático e detalhado sobre o manejo de gramíneas, cujos princípios são diretamente aplicáveis ao capim-arroz. Ele ensina o leitor a pensar na aplicação de herbicidas, abordando nuances como o estágio ideal da planta (perfilhos), o impacto do estresse hídrico na eficácia do produto e o manejo sequencial na entressafra, agregando um conhecimento tático que o artigo principal não aborda.