Você já sabe que a gessagem é uma prática fundamental para melhorar o solo. Mas aplicá-la sem critério pode levar à perda e ao desequilíbrio de outros nutrientes importantes.
A grande questão é: como definir a dose certa de gesso para cada talhão? Como fazer o cálculo correto para culturas anuais, como a soja e o milho, garantindo o máximo aproveitamento?
Neste artigo, vamos detalhar o passo a passo dos métodos tradicionais e apresentar uma nova fórmula para calcular a necessidade de gesso, que pode aumentar sua produtividade. Continue a leitura para conferir!
O que é Gessagem e Como Ela Melhora o Solo em Profundidade
Plantas com raízes curtas, que exploram um volume pequeno de solo, sofrem muito mais com a seca. Isso é um problema comum em períodos de veranicos, especialmente na região do Cerrado.
Para resolver essa limitação, a gessagem atua como um “condicionador”, melhorando o ambiente químico na subsuperfície, ou seja, na camada do solo abaixo dos 20 cm.
Seus resultados são ainda melhores quando combinados com a calagem, que corrige a acidez na camada superficial (0-20 cm), enquanto o gesso age mais fundo.
(Fonte: Nutrisafra)
O que é o Gesso Agrícola?
De forma simples, a gessagem é a aplicação de gesso para corrigir problemas no solo, principalmente em profundidade.
O gesso (CaSO₄ • 2H₂O) utilizado na agricultura pode vir de duas fontes principais:
- Mineração da rocha gipsita.
- Como subproduto da fabricação de fertilizantes fosfatados, sendo este o mais comum, conhecido como gesso agrícola ou fosfogesso.
O gesso agrícola geralmente contém de 26% a 28% de Cálcio (Ca) e cerca de 15% de Enxofre (S), além de pequenas quantidades de Fósforo (P₂O₅) e flúor.
(Fonte: Solloagro)
Como a Gessagem Age no Solo
Quando aplicado, o gesso se dissolve na água do solo, liberando cálcio e sulfato.
(Fonte: Adaptado de Vitti, disponível em Solloagro)
Essa reação traz vários benefícios práticos:
Fornece Nutrientes Essenciais: Libera cálcio (Ca) e enxofre (S) na forma de sulfato. O cálcio é vital para a estrutura da planta (parede celular), enquanto o enxofre é fundamental para a formação de proteínas.
Atinge Camadas Profundas: Cerca de 70% do gesso dissolvido não possui carga elétrica, o que permite que ele desça (lixivie) para as camadas mais fundas do solo. Assim, ele leva cálcio e enxofre para onde as raízes precisam se aprofundar.
Reduz a Toxicidade por Alumínio: O gesso também combate a toxicidade por alumínio (Al), um grande inimigo das raízes. Ele se liga ao alumínio formando o par AlSO₄+, que não é tóxico para as plantas e é facilmente lavado para fora da zona radicular. É importante notar que outras bases, como magnésio e potássio, também podem ser lixiviadas, o que exige atenção.
Não Altera o pH: Importante: O gesso agrícola não é um corretivo de acidez como o calcário. Ele não altera o pH do solo. Sua função é melhorar o ambiente químico em profundidade.
Apesar de não mudar o pH, o gesso melhora a saturação por bases (V%), que é a proporção de nutrientes “bons” (cálcio, magnésio, potássio) no solo, permitindo que as raízes se desenvolvam melhor e mais profundamente.
O gráfico abaixo mostra claramente como diferentes doses de gesso aumentaram o V% e a distribuição das raízes de cana-de-açúcar em camadas mais profundas do solo.
(Fonte: van Raij, 2011, disponível em IPNI)
Benefícios da Aplicação de Gesso Agrícola
Resumindo, a aplicação correta de gesso agrícola traz os seguintes benefícios:
- Fornecimento de Cálcio e Enxofre em camadas mais profundas do solo.
- Redução da saturação por alumínio tóxico em subsuperfície.
- Aumento da saturação por bases (V%) também em subsuperfície.
- Criação de condições favoráveis para um sistema radicular mais profundo e bem distribuído.
- Melhora na absorção de água e nutrientes como nitrogênio (N), cálcio (Ca), fósforo (P) e enxofre (S).
Quando Aplicar Gesso? O Diagnóstico pela Análise de Solo
A decisão de aplicar gesso deve ser baseada na análise de solo da camada de 20 a 40 cm de profundidade, e não apenas da camada superficial (0-20 cm).
Estudos de pesquisadores como Souza et al. (1992) e Vitti et al. (2008) identificaram as condições em que a gessagem traz maior retorno no aumento da produtividade.
A aplicação é recomendada se sua análise de solo (da camada de 20-40 cm) apresentar pelo menos uma das seguintes condições:
- Teor de Cálcio (Ca) < 0,5 cmolc/dm³;
- Teor de Alumínio (Al) > 0,5 cmolc/dm³;
- Saturação por Alumínio (m%) > 20%;
- Saturação por Bases (V%) < 35%.
Como Fazer o Cálculo de Gessagem para Soja e Milho
Existem diferentes fórmulas para calcular a dose de gesso para culturas anuais como soja e milho. Vamos ver as duas mais utilizadas.
1) Método Baseado na Textura do Solo (Sousa e Lobato, 2004)
Este cálculo leva em conta o teor de argila do solo.
2) Método Visando Aumento da Saturação por Bases (V%) (Demattê, 1986; Vitti et al., 2008)
Esta fórmula foca em elevar a saturação por bases para um nível desejado na subsuperfície.
Cálculo de Gessagem: Uma Nova Fórmula Mais Precisa
A ciência agrícola está sempre buscando formas de aumentar a produtividade e reduzir custos. Métodos antigos de cálculo de gessagem, como o baseado no teor de argila, nem sempre são precisos porque desconsideram a natureza e o tipo de argila do solo.
Pensando nisso, os pesquisadores Caires e Guimarães (2018) analisaram dados de diversos experimentos de campo. Eles buscaram uma forma de calcular a dose de gesso que proporcionasse a maior produtividade economicamente viável.
Os estudos foram realizados em latossolos no Sul do Brasil, sob sistema de plantio direto, em áreas de milho, soja, trigo e cevada.
Os resultados mostraram que as maiores produtividades foram alcançadas quando a saturação de cálcio atingiu 60% da capacidade de troca catiônica efetiva (CTCef: a capacidade do solo de reter nutrientes) na camada de 20 a 40 cm.
Com base nisso, eles propuseram uma nova fórmula.
Nova Fórmula para Cálculo de Gessagem
Este método visa elevar a saturação por cálcio para 60% da CTCef na camada de 20 a 40 cm. A recomendação é utilizá-lo quando a saturação por cálcio nesta camada for inferior a 54%.
Exemplo Prático: Comparando os Métodos
Vamos usar como exemplo um solo de cerrado em Jaguariaíva (PR), com a seguinte análise da camada de 20-40 cm:
(Fonte: Gape)
Este solo precisa de gesso, pois o teor de cálcio (0,2 cmolc/dm³) está baixo e a saturação por alumínio é maior que 20%.
- Cálculo pelo método da argila (%): A dose recomendada seria de 0,85 t/ha de gesso.
- Cálculo pela nova fórmula (Caires e Guimarães): A dose recomendada seria de 6,0 t/ha de gesso.
A diferença é grande. Mas os estudos mostraram que dosagens mais altas, calculadas pelo novo método, foram associadas a um aumento significativo na produtividade de milho e soja, como mostram os gráficos abaixo.
(Fonte: Gape)
Cuidado com Doses Elevadas: O Risco de Desequilíbrio Nutricional
Apesar dos benefícios, é preciso ter cuidado. A função do gesso é transportar bases para as camadas mais fundas do solo, mas esse processo pode levar junto nutrientes importantes.
Doses muito altas de gesso podem causar a lixiviação (perda) de Potássio (K) e Magnésio (Mg). Estudos em lavouras de café mostraram que doses excessivas podem ser prejudiciais justamente por causar desequilíbrio nutricional.
Por isso, os próprios autores do novo método recomendam a aplicação de gesso agrícola somente em solos que já possuem um bom teor de magnésio nas camadas superficiais.
Uma solução prática e segura é combinar a gessagem com a aplicação de calcário dolomítico, que é rico em magnésio e cálcio, garantindo um equilíbrio nutricional adequado no perfil do solo.
Conclusão
A gessagem é uma ferramenta poderosa para construir um perfil de solo fértil e aumentar a produtividade da lavoura. No entanto, deve ser aplicada de forma criteriosa para evitar a perda de nutrientes e garantir o retorno sobre o investimento.
Neste artigo, vimos como o gesso age no solo, como diagnosticar a necessidade de aplicação através da análise da camada de 20-40 cm e comparamos diferentes métodos de cálculo.
Apresentamos também a nova fórmula baseada em elevar a saturação por cálcio para 60% da CTC efetiva, que tem se mostrado mais eficiente para atingir altos tetos produtivos.
Espero que estas informações ajudem você a calcular a dose ideal de gesso para sua propriedade e a colher resultados ainda melhores.
Glossário
cmolc/dm³ (centimol de carga por decímetro cúbico): Unidade de medida padrão usada na análise de solo para expressar a quantidade de nutrientes, como Cálcio (Ca), Alumínio (Al) e outros. Essencialmente, quantifica a capacidade do solo de reter e fornecer elementos importantes para as plantas.
CTCef (Capacidade de Troca Catiônica efetiva): Sigla para Capacidade de Troca Catiônica efetiva. Representa a capacidade real do solo de reter nutrientes com carga positiva (cátions) em seu pH natural, funcionando como um “reservatório” de nutrientes. É um indicador fundamental da fertilidade do solo.
Gessagem: Prática agrícola que consiste na aplicação de gesso (sulfato de cálcio) para melhorar o ambiente químico do solo em profundidade (subsuperfície). Não corrige a acidez (pH), mas fornece cálcio e enxofre e neutraliza o alumínio tóxico, estimulando o crescimento de raízes mais profundas.
Lixiviação: Processo de “lavagem” de nutrientes e outros compostos no perfil do solo, levados pela água. Na gessagem, a lixiviação ajuda a transportar o cálcio para camadas mais fundas, mas em doses excessivas pode causar a perda de nutrientes importantes como potássio e magnésio.
Saturação por bases (V%): Um indicador da fertilidade que mede a proporção de nutrientes benéficos (Cálcio, Magnésio, Potássio) em relação à capacidade total de troca de cátions do solo. Um V% alto indica um solo mais fértil e com menor acidez.
Subsuperfície: Refere-se à camada do solo abaixo da camada arável superficial, geralmente entre 20 e 40 cm de profundidade. É a zona-alvo da gessagem, onde o calcário tradicionalmente não consegue agir com eficácia.
Toxicidade por alumínio (Al): Problema comum em solos ácidos, onde o alumínio se torna solúvel e prejudicial às plantas. O alumínio tóxico inibe o desenvolvimento das raízes, limitando severamente a absorção de água e nutrientes.
Veranicos: Períodos curtos de seca que ocorrem durante a estação chuvosa. Plantas com sistemas radiculares mais profundos, um dos principais benefícios da gessagem, são mais tolerantes ao estresse hídrico causado pelos veranicos.
Como a tecnologia otimiza o manejo da gessagem
Calcular a dose correta de gesso é apenas o primeiro passo. Garantir que o investimento trará o retorno esperado exige um controle financeiro e operacional rigoroso, especialmente ao lidar com diferentes talhões e fórmulas. O risco de desequilíbrio nutricional ou de gastos desnecessários é uma preocupação real.
É aqui que um software de gestão agrícola se torna um aliado estratégico. Ferramentas como o Aegro, por exemplo, centralizam todas as informações, desde a análise de solo até o acompanhamento dos custos com insumos. Isso permite que o produtor não apenas planeje a aplicação de gesso com precisão, mas também monitore o impacto financeiro de cada operação, garantindo que o investimento se traduza em maior produtividade. Além disso, o registro de todas as atividades cria um histórico valioso da área, facilitando a análise de resultados safra após safra e a tomada de decisões futuras com base em dados concretos.
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Perguntas Frequentes
Qual a principal diferença entre gessagem e calagem no manejo do solo?
A principal diferença está na função e na profundidade de ação. A calagem corrige a acidez (eleva o pH) na camada superficial do solo (0-20 cm), enquanto a gessagem atua como um condicionador em camadas mais profundas (abaixo de 20 cm), fornecendo cálcio e enxofre e neutralizando o alumínio tóxico, sem alterar o pH.
O gesso agrícola aumenta o pH do solo como o calcário?
Não, o gesso agrícola não altera o pH do solo. Sua função não é corrigir a acidez, mas sim melhorar o ambiente químico em subsuperfície. Ele fornece nutrientes e combate a toxicidade por alumínio, permitindo que as raízes cresçam mais profundamente em busca de água e nutrientes.
Aplicar gesso em excesso pode prejudicar minha lavoura?
Sim, doses excessivas podem ser prejudiciais. O excesso de gesso pode acelerar a lixiviação (perda) de nutrientes importantes como o potássio (K) e o magnésio (Mg) para as camadas mais fundas do solo, causando um desequilíbrio nutricional que pode impactar negativamente a produtividade da cultura.
Por que a análise de solo para gessagem deve ser feita na camada de 20-40 cm?
Porque o objetivo da gessagem é corrigir problemas na subsuperfície, onde o calcário não age eficientemente. A análise da camada de 20-40 cm permite diagnosticar com precisão a existência de barreiras químicas, como baixo teor de cálcio ou alta toxicidade por alumínio, que impedem o desenvolvimento profundo das raízes.
Preciso incorporar o gesso ao solo ou posso aplicá-lo na superfície?
Não é necessário incorporar o gesso. Por ser um produto de alta solubilidade, ele pode ser aplicado na superfície do solo, inclusive em sistemas de plantio direto. A água da chuva se encarrega de dissolvê-lo e transportá-lo para as camadas mais profundas onde sua ação é necessária.
Por que a nova fórmula de cálculo de gessagem é considerada mais precisa?
A nova fórmula é mais precisa porque se baseia em um objetivo agronômico claro: elevar a saturação por cálcio a 60% da CTCef, um nível que pesquisas demonstraram estar associado à máxima produtividade econômica. Métodos mais antigos, como o baseado no teor de argila, são mais genéricos e não consideram a química específica do solo.
Artigos Relevantes
- Calagem: Guia completo de uso e cálculos: O artigo principal menciona repetidamente que a gessagem complementa a calagem. Este guia completo sobre calagem é o contraponto perfeito, detalhando os cálculos e o uso do calcário com a mesma profundidade, preenchendo uma lacuna de conhecimento essencial para uma correção de solo completa e equilibrada.
- Análise química do solo: o porquê da sua realização: Este artigo é o pilar fundamental, pois detalha o processo de análise de solo, o pré-requisito absoluto para qualquer cálculo de gessagem. Ele oferece o conhecimento prático para obter os dados precisos da camada de 20-40 cm, que são a base de todas as fórmulas apresentadas no artigo principal, garantindo a correta aplicação da técnica.
- Gessagem: tudo o que você precisa saber sobre esta prática agrícola: Este artigo serve como a introdução ideal ao tema, abordando de forma abrangente o que é a gessagem, seus benefícios e a diferença para a calagem. Ele prepara o leitor com a base conceitual necessária para compreender a importância dos cálculos detalhados no artigo principal, especialmente ao conectar a prática a sistemas como o plantio direto.
- Enxofre para as plantas: função, adubação e outras recomendações de manejo: Enquanto o artigo principal foca em ‘como’ aplicar gesso, este artigo aprofunda o ‘porquê’, detalhando a função do enxofre – um dos principais nutrientes fornecidos. Com seções específicas para soja e milho, ele enriquece o entendimento do leitor sobre o impacto nutricional da gessagem, agregando uma valiosa dimensão agronômica.
- Esteja preparado e não se engane na pré-safra: saiba quais corretivos utilizar: Este artigo oferece uma visão estratégica e holística, posicionando a gessagem dentro do contexto mais amplo da correção do solo na pré-safra, junto com a calagem e a fosfatagem. Ele ajuda o leitor a entender como a gessagem se encaixa em um plano de manejo de fertilidade completo, proporcionando uma perspectiva de ‘big picture’ que o artigo principal, por ser mais focado, não aborda.