A presença de buva na sua lavoura é um sinal de alerta que não pode ser ignorado. Essa planta daninha se espalha com extrema rapidez e compete diretamente com suas culturas, prejudicando o desenvolvimento e a produtividade. A cultura da soja, por exemplo, é muito sensível à competição com a buva, o que resulta em perdas diretas na colheita.
No entanto, controlar essa planta daninha não é uma tarefa simples.
Com o aumento de casos de resistência, muitos herbicidas já não são mais eficientes para o manejo da buva. Por isso, é fundamental conhecer bem essa planta e aplicar as melhores táticas de controle antes que os danos na lavoura se tornem graves.
Neste artigo, você vai aprender qual é o período ideal para controlar a buva, quais as estratégias mais eficazes e os herbicidas mais indicados para o manejo. Continue a leitura!
O que é buva?
A buva (nome científico Conyza spp.) é uma planta daninha de difícil controle, presente nas principais regiões agrícolas do Brasil. Ela também é conhecida por outros nomes populares, como rabo-de-foguete, arranha-gato e voadeira. Existem três espécies principais que preocupam o produtor:
- Conyza canadensis;
- Conyza bonariensis;
- Conyza sumatrensis.
O ciclo da Conyza canadensis pode ser anual (um ano) ou bienal (dois anos). Já as espécies Conyza bonariensis e Conyza sumatrensis completam seu ciclo em apenas um ano.
Principais diferenças morfológicas entre as plantas do gênero Conyza
(Fonte: Comitê de Ação a Resistência aos Herbicidas)
A propagação dessas espécies de buva ocorre exclusivamente por sementes. Uma única planta pode produzir até 200 mil sementes, que são muito leves e facilmente transportadas pelo vento e pela água a longas distâncias.
As sementes da buva são fotoblásticas positivas: isso significa que elas precisam de luz para germinar. Por isso, elas brotam quando estão na superfície do solo ou muito próximas dela. Temperaturas em torno de 20°C são ideais para a sua germinação.
A emergência das sementes de buva pode acontecer durante todo o ano, mas a incidência é muito maior durante o outono e o inverno, principalmente entre os meses de junho e setembro. Essa época de germinação coincide com o período da entressafra.
Fotos de buva em lavoura
(Fonte: Blog da Aegro)
Nesse período, a buva pode atuar como uma “ponte verde”: ou seja, ela serve de abrigo e alimento para pragas e doenças, que depois atacarão a cultura principal. Entre as principais pragas que se hospedam na buva, destacam-se:
- Ácaro-da-leprose (Brevipalpus phoenicis);
- Percevejo-verde-pequeno (Piezodorus guildinii);
- Percevejo-marrom-da-soja (Euschistus heros);
- Lagarta-da-soja (Anticarsia gemmatalis);
- Lagarta falsa-medideira (Chrysodeixis includens);
- Lagarta-do-cartucho (Spodoptera frugiperda);
- Helicoverpa armigera.
Resistência da planta buva (Conyza spp.) aos herbicidas
Por muitos anos, o herbicida glifosato foi a principal ferramenta usada na dessecação para formar palhada no sistema de plantio direto. O uso se intensificou ainda mais com a chegada da soja transgênica tolerante a esse produto.
O uso contínuo e exclusivo do glifosato para controlar plantas invasoras em lavouras de soja RR acabou selecionando populações de buva resistentes a ele.
No Brasil, o primeiro registro oficial de plantas de buva resistentes ao glifosato ocorreu em 2005. Desde então, o problema só aumentou, e hoje a buva já apresenta resistência a diversas moléculas de herbicidas.
Veja a evolução da resistência da buva aos herbicidas no Brasil:
- 2005: As espécies Conyza bonariensis e Conyza canadensis são identificadas com resistência ao glifosato.
- 2010: A espécie Conyza sumatrensis também é confirmada como resistente ao glifosato.
- 2011: A mesma Conyza sumatrensis é identificada com resistência ao clorimurom.
- 2016: A Conyza sumatrensis mostra resistência a mais dois herbicidas: paraquate e saflufenacil.
- 2017: A resistência da Conyza sumatrensis se expande para o diuron e o herbicida 2,4-D.
É importante reforçar que não se deve utilizar produtos isolados para os quais a resistência já foi comprovada. Atualmente, existem populações de buva com resistência a 6 moléculas herbicidas diferentes:
- Glifosato
- Clorimurom
- Paraquate
- Saflufenacil
- Diuron
- 2,4-D
Como controlar a buva?
O manejo de plantas daninhas como a buva é um dos maiores desafios da agricultura moderna. Para ter sucesso, é essencial adotar o Manejo Integrado de Plantas Daninhas (MIPD). Essa abordagem combina diferentes práticas para eliminar as invasoras e, ao mesmo tempo, prevenir o surgimento de novos casos de resistência.
Veja a seguir as principais técnicas para o manejo eficiente da buva.
Manejo preventivo
O objetivo aqui é impedir que as sementes de buva entrem e se espalhem na sua lavoura. As principais medidas são:
- Utilizar sementes certificadas: Garanta que você não está introduzindo a invasora na sua área.
- Controlar as bordaduras: Limpe as plantas daninhas presentes em estradas, carreadores e ao redor da lavoura, pois o vento pode levar as sementes para dentro da área cultivada.
- Realizar a limpeza de máquinas e implementos: Essa prática evita que torrões de terra e restos de plantas contaminados com sementes sejam transportados de uma área para outra.
Manejo mecânico
O manejo mecânico utiliza métodos físicos para remover a buva. As opções incluem:
- Capina: Remoção manual ou com ferramentas.
- Roçagem: Corte das plantas daninhas.
- Arranquio: Retirada completa da planta, incluindo a raiz.
- Preparo de solo: Operações como aração e gradagem enterram os restos vegetais e as sementes, dificultando a germinação.
- Cobertura morta (palhada): A palha sobre o solo atua como uma barreira física, impedindo a passagem de luz e, consequentemente, a germinação das sementes de buva.
Manejo cultural
O manejo cultural foca em fortalecer a cultura principal para que ela possa competir com a buva. As estratégias são:
- Escolher cultivares adaptadas: Plante variedades de rápido crescimento e bem adaptadas à sua região.
- Seguir as recomendações técnicas: Realize o plantio na época, espaçamento e densidade corretos.
- Fazer adubação equilibrada: Nutra bem sua cultura para que ela se desenvolva com vigor.
- Realizar a rotação de culturas: Alternar diferentes culturas dificulta o ciclo da buva.
- Utilizar culturas de inverno: Plantar trigo, centeio ou aveia na entressafra ajuda a suprimir e reduzir a população de buva.
Manejo químico
No controle químico, é crucial fazer a rotação dos mecanismos de ação dos herbicidas. Essa prática evita a seleção de novas populações de plantas daninhas resistentes aos produtos disponíveis.
Após aplicar um herbicida, monitore a área. Se encontrar plantas de buva que sobreviveram, elimine-as imediatamente (com capina, arranquio ou roçada) para impedir que produzam e espalhem sementes resistentes.
O sucesso do controle químico depende do uso correto dos herbicidas. Siga sempre as orientações da bula e de um engenheiro agrônomo sobre:
- Dosagem correta;
- Estádio de desenvolvimento ideal da buva;
- Intervalo entre aplicações;
- Época e modo de aplicação dos produtos.
Lembre-se: o manejo da buva deve ser feito tanto na safra quanto na entressafra.
Manejo da buva na entressafra do sistema soja-milho
A atenção ao período da entressafra é decisiva para o controle da buva. Como já mencionado, é nessa época que a taxa de germinação das sementes atinge seu pico.
Por isso, a entressafra é o momento estratégico para realizar o manejo da buva, pois há mais opções de herbicidas que podem ser utilizados sem prejudicar a cultura principal.
O momento da aplicação também é um fator crítico. Em geral, plantas jovens são muito mais fáceis de controlar do que plantas em estágio avançado de desenvolvimento. A aplicação de herbicidas nos estádios iniciais da buva resulta em menor chance de rebrote, garantindo um controle muito mais eficaz.
Herbicidas para matar a buva na entressafra
A seguir, listamos alguns princípios ativos eficazes para o manejo químico da buva, sempre utilizados conforme recomendação técnica:
- Atrazina + Mesotriona: Herbicida seletivo de ação sistêmica, para aplicação em pós-emergência.
- Cloransulam-meptílico: Herbicida seletivo de ação sistêmica, para aplicação em pós-emergência.
- Diclosulan: Herbicida seletivo aplicado no solo para o controle em pré-emergência.
- Fluroxipir-metílico: Herbicida seletivo de ação sistêmica, para aplicação em pós-emergência.
- Glufosinato – sal de amônia: Herbicida não seletivo de ação não sistêmica, para aplicação em pós-emergência.
- Imazapir: Herbicida de ação sistêmica para aplicação em pós-emergência.
- Sulfentrazona: Herbicida seletivo de ação sistêmica, para aplicação em pré-emergência.
- Flumioxazina: Herbicida seletivo de ação não sistêmica, para aplicação em pré e pós-emergência.
- Picloran + 2,4 – D: Herbicida seletivo de ação sistêmica, para aplicação em pós-emergência.
Atenção ao efeito residual: É fundamental verificar o poder residual dos herbicidas para não prejudicar a cultura que será plantada em seguida (fitotoxidez). Para consultar os produtos registrados no MAPA, utilize a plataforma Agrofit.
Conclusão
A buva (Conyza spp.) é uma planta daninha desafiadora, que já demonstrou resistência a seis diferentes moléculas herbicidas. Sua alta capacidade de produzir sementes, facilidade de dispersão e crescimento rápido tornam seu controle complexo.
O manejo eficaz dessa invasora exige a adoção de técnicas integradas, combinando práticas preventivas, mecânicas, culturais e químicas. O uso racional e rotacionado de herbicidas é uma ferramenta poderosa para controlar a buva e, ao mesmo tempo, evitar a seleção de novas plantas resistentes.
Com as informações deste guia, você está mais preparado para realizar um manejo eficiente da buva e proteger a produtividade da sua lavoura.
Glossário
Ação sistêmica (Herbicida): Refere-se a um herbicida que é absorvido pela planta e se move por todo o seu sistema vascular (seiva), matando-a por completo. É diferente de um herbicida de contato, que age apenas na área onde foi aplicado.
Buva (Conyza spp.): Gênero de plantas daninhas de alta capacidade de dispersão e difícil controle, também conhecida como rabo-de-foguete. É uma das principais invasoras em lavouras de soja e milho no Brasil.
Efeito residual (Herbicida): Período em que um herbicida permanece ativo no solo após a aplicação, controlando novas plantas daninhas que tentam germinar. É importante monitorar esse efeito para evitar danos à cultura que será plantada em sucessão.
Entressafra: Período entre a colheita de uma cultura principal e o plantio da safra seguinte. Esta janela de tempo é estratégica para realizar o manejo da buva, pois permite o uso de mais ferramentas de controle sem o risco de prejudicar a cultura comercial.
Fotoblásticas positivas: Característica de sementes que precisam de exposição à luz para iniciar o processo de germinação. As sementes de buva possuem essa característica, por isso germinam principalmente quando estão na superfície do solo.
Manejo Integrado de Plantas Daninhas (MIPD): Abordagem estratégica que combina diferentes métodos de controle (preventivo, cultural, mecânico e químico) de forma equilibrada. O objetivo é reduzir a dependência de herbicidas e prevenir o surgimento de plantas resistentes.
Ponte verde: Termo que descreve como plantas daninhas na entressafra servem de abrigo e alimento para pragas e doenças. A buva atua como “ponte”, permitindo que esses organismos sobrevivam até a chegada da cultura principal.
Soja RR: Sigla para “Roundup Ready®”, que se refere à soja geneticamente modificada para ser tolerante ao herbicida glifosato. O uso intensivo dessa tecnologia sem rotação de herbicidas foi um dos fatores que selecionou populações de buva resistentes ao glifosato.
Como a tecnologia ajuda a superar os desafios no manejo da buva
O controle eficaz da buva, como vimos, exige um Manejo Integrado de Plantas Daninhas (MIPD) bem executado. Isso significa planejar cada aplicação, rotacionar herbicidas com precisão e manter um registro detalhado das operações para evitar o avanço da resistência. Fazer esse acompanhamento em planilhas ou cadernos pode ser complexo e levar a erros que custam caro.
É aqui que um software de gestão agrícola como o Aegro faz a diferença. A plataforma centraliza o planejamento e o registro de todas as atividades de manejo, como o controle de pragas e plantas daninhas. Com um histórico detalhado de aplicações por talhão, fica simples visualizar quais herbicidas foram usados e planejar a rotação de mecanismos de ação. Além disso, o sistema conecta essas operações aos custos de produção, ajudando a tomar decisões mais inteligentes para proteger a rentabilidade da safra.
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Perguntas Frequentes
Por que a buva é considerada uma planta daninha tão difícil de controlar?
A buva é difícil de controlar por três motivos principais: sua altíssima capacidade de produção de sementes (até 200 mil por planta), que são facilmente dispersas pelo vento; sua capacidade de germinar durante quase todo o ano; e, principalmente, o desenvolvimento de resistência a múltiplos herbicidas, incluindo o glifosato e o 2,4-D.
Qual é o momento ideal para aplicar herbicidas e controlar a buva com mais eficácia?
O controle mais eficaz ocorre quando a buva ainda é jovem, no estágio de roseta e com até 15 cm de altura. O período da entressafra é estratégico para esse manejo, pois as plantas estão menores e há uma janela maior para usar diferentes herbicidas sem prejudicar a cultura principal.
O que significa dizer que a buva atua como uma ‘ponte verde’ na entressafra?
O termo ‘ponte verde’ significa que a buva, ao se desenvolver na entressafra, serve de abrigo e fonte de alimento para pragas (como percevejos e lagartas) e doenças. Isso permite que esses inimigos da lavoura sobrevivam e se multipliquem, atacando a cultura principal assim que ela for plantada.
É possível manejar a buva de forma eficiente sem o uso de produtos químicos?
Sim, é possível através do Manejo Integrado de Plantas Daninhas (MIPD). Práticas como a rotação de culturas, o uso de plantas de cobertura (como aveia ou centeio) para abafar a buva e o preparo do solo (aração e gradagem) são métodos mecânicos e culturais muito eficazes para reduzir a infestação sem depender exclusivamente de herbicidas.
Como a rotação de culturas ajuda especificamente no controle da buva?
A rotação de culturas quebra o ciclo de vida da buva e dificulta sua proliferação. Além disso, ao alternar culturas como soja e milho, é possível rotacionar também os mecanismos de ação dos herbicidas utilizados, uma prática fundamental para prevenir e retardar o surgimento de novas populações resistentes.
Se eu encontrar plantas de buva que sobreviveram a uma aplicação de herbicida, o que devo fazer?
É crucial eliminar essas plantas sobreviventes imediatamente, antes que produzam sementes. Utilize métodos mecânicos como o arranquio manual ou a roçagem. Isso impede a disseminação de sementes potencialmente resistentes, evitando que o problema de resistência se agrave na sua área.
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