Brusone no Trigo: Identificação, Diferenças da Giberela e Controle

Redatora parceira Aegro.
Brusone no Trigo: Identificação, Diferenças da Giberela e Controle

A brusone é uma doença séria que ataca principalmente cereais de inverno como trigo, cevada e centeio. Ela é mais comum em regiões onde o inverno tem temperaturas mais altas, como o norte do Paraná, São Paulo e o Centro-Oeste brasileiro.

O impacto dessa doença na lavoura é direto e severo. Pesquisas indicam que a brusone pode reduzir o peso da espiga em até 74%, o que significa uma grande quebra na produtividade do trigo.

Além da perda de quantidade, a qualidade dos grãos também é afetada. Eles ficam chochos, deformados e com baixo peso. Isso impacta diretamente o preço de venda, pois derruba o Peso do Hectolitro (PH): uma medida de densidade que classifica a qualidade do grão e define seu valor no mercado.

Os maiores danos acontecem no período reprodutivo da planta. Por isso, e por ser facilmente confundida com a giberela, é fundamental que produtores e técnicos saibam reconhecer cada detalhe da doença. Em anos de El Niño, com maior volume de chuvas, o risco aumenta e a atenção precisa ser redobrada.

Neste guia completo, vamos detalhar o que é a brusone, seu agente causador, como diferenciá-la da giberela e quais são as melhores práticas para um controle eficaz.

O que é e o que causa a brusone no trigo?

A brusone no trigo é uma doença causada pelo fungo Pyricularia oryzae. Em seu estágio de reprodução sexuada, que permite maior troca de material genético e variabilidade, ele também é conhecido como Magnaporthe oryzae.

O primeiro registro mundial da doença foi feito no Brasil, na década de 1980, em lavouras de trigo no norte do Paraná. Desde então, a brusone se espalhou por outras regiões produtoras do país e do mundo, incluindo Mato Grosso do Sul, São Paulo, Goiás, Minas Gerais e até mesmo o Rio Grande do Sul.

Condições que favorecem a doença

Embora o fungo possa atacar folhas, colmos e espigas, a brusone é considerada uma doença de espiga. É nesta fase que os prejuízos se tornam mais significativos e impactam diretamente a colheita.

Para que a doença se instale e se desenvolva, são necessárias algumas condições específicas:

  • Temperatura Elevada: A doença prospera em regiões com temperaturas acima de 20°C.
  • Alta Umidade: A umidade relativa do ar precisa estar alta para favorecer o fungo.
  • Molhamento Foliar: É necessário um período mínimo de 10 horas de molhamento foliar para que a infecção ocorra com sucesso. Esse molhamento pode vir da chuva ou até mesmo do orvalho.

Sintomas da Brusone no Trigo: Fique Atento aos Sinais

Os sintomas da brusone podem aparecer em todas as partes aéreas da planta. É crucial reconhecê-los corretamente para não confundir com outras doenças.

Os principais sinais incluem:

  • Descoloração das espigas: Este é o sintoma mais clássico. As espigas ficam esbranquiçadas a partir do ponto onde o fungo se instalou. Dependendo da severidade, a espigueta inteira pode ficar branca.
  • Lesões em folhas e plântulas: Podem surgir lesões ovais ou elípticas, geralmente de cinco a sete dias após a infecção. Elas costumam ter o centro acinzentado e as bordas mais escuras.
  • Pequenas manchas marrons: No início do desenvolvimento da doença, é comum visualizar pequenas lesões de cor marrom a marrom-escura, sem um centro bem definido. A aparência pode variar com o nível de suscetibilidade da cultivar.

É fundamental ter atenção, pois esses sintomas, especialmente o branqueamento da espiga, são muito parecidos com os da giberela. A diferenciação correta é decisiva, pois as estratégias de controle e os fungicidas recomendados podem ser diferentes para cada uma delas.

Qual a diferença entre Giberela e Brusone?

Essa é uma das dúvidas mais comuns no campo. Embora parecidas, as duas doenças possuem diferenças claras nos sintomas e nas condições climáticas que as favorecem. Saber distingui-las é o primeiro passo para um manejo assertivo.

Diferença nos Sintomas Visuais

A principal forma de diferenciar as duas doenças é observando como o branqueamento aparece na espiga.

  • Brusone: A descoloração começa em um ponto específico da espiga e avança de forma contínua para o resto da estrutura. Você verá uma parte branca e o resto verde, sem falhas entre as áreas.
  • Giberela: Os sintomas podem aparecer em diferentes pontos da espiga ao mesmo tempo. É comum ver espiguetas brancas intercaladas com espiguetas ainda verdes. Outro sinal característico da giberela é o desvio das aristas, que ficam “descabeladas”.

Um Pouco Mais sobre a Giberela

A giberela, também conhecida como fusariose, é causada por outro fungo, o Gibberella zeae. Sua forma de reprodução assexuada é o Fusarium graminearum. Junto com a brusone, ela forma a dupla de doenças mais importantes e prejudiciais para a cultura do trigo.

Diferenças nas Condições Climáticas Favoráveis

O clima ideal para cada doença também é um fator de distinção importante.

CaracterísticaBrusone (Pyricularia oryzae)Giberela (Gibberella zeae)
Temperatura Ideal24°C a 27°C (mais alta)20°C a 25°C (mais amena)
Molhamento FoliarMínimo de 10 horas contínuasMínimo de 48 horas contínuas

Dessa forma, mesmo que chova por apenas um dia, se a umidade relativa do ar permanecer alta, as condições para a giberela podem se manter favoráveis.

Para ambas as doenças, o período de maior risco e que exige mais atenção do produtor é o início da fase reprodutiva do trigo. É neste momento que as aplicações preventivas de fungicidas são mais recomendadas e eficazes, pois o controle se torna muito mais difícil depois que o fungo se instala na espiga.

Em anos de El Niño, as chuvas mais volumosas e as temperaturas mais elevadas no Sul do Brasil criam o cenário perfeito para a ocorrência de ambas as doenças, exigindo um monitoramento ainda mais rigoroso.

Como Controlar a Brusone de Forma Eficaz?

O controle da brusone não depende de uma única ação, mas sim de um conjunto de estratégias integradas, conhecido como Manejo Integrado de Doenças (MID). O objetivo é combinar diferentes táticas para proteger a lavoura de forma sustentável e eficiente.

As principais práticas recomendadas são:

  1. Rotação de Culturas: Evite plantar trigo em sucessão a outras culturas que também são hospedeiras do fungo, como outros cereais de inverno (cevada, centeio) e gramíneas como o arroz.
  2. Época de Semeadura: Realizar a semeadura um pouco mais tarde pode ajudar a evitar que o florescimento do trigo coincida com os períodos de clima mais favorável à doença. Sempre consulte o Zoneamento Agrícola de Risco Climático (ZARC) para sua região.
  3. Uso de Cultivares Tolerantes: Embora ainda não existam cultivares totalmente resistentes, opte por aquelas que demonstram maior tolerância à brusone. Essa escolha genética ajuda a reduzir o impacto da doença.
  4. Controle Químico Preventivo: O uso de fungicidas é uma ferramenta essencial e deve ser feito de forma preventiva. O monitoramento das previsões climáticas é fundamental para decidir o momento certo de aplicar.
    • Primeira aplicação (preventiva): Deve ocorrer no estágio de emborrachamento, que é quando a espiga está se formando dentro da bainha da folha bandeira.
    • Segunda aplicação: Realizada no florescimento pleno.
    • Terceira aplicação (se necessária): Cerca de 12 dias após a segunda. Este intervalo pode ser menor dependendo das condições climáticas e do produto utilizado. Siga sempre a recomendação da bula do fungicida e a orientação de um engenheiro agrônomo.

Conclusão: Manejo Estratégico é a Chave

A brusone tem um enorme potencial de perdas nas lavouras de trigo no Brasil. Saber reconhecer seus sintomas e, principalmente, não confundi-los com os da giberela, é um passo crucial para o sucesso do manejo.

Lembre-se que as estratégias podem ser opostas: para brusone, a semeadura tardia é uma tática, enquanto para giberela, a antecipação pode ser indicada. Além disso, a performance dos fungicidas pode variar para cada doença.

Para um manejo assertivo, o produtor precisa:

  • Monitorar o clima: Acompanhe as previsões de chuva e temperatura para tomar decisões sobre as aplicações de fungicidas.
  • Agir preventivamente: O controle químico é mais eficaz quando iniciado antes que a doença se instale na lavoura.
  • Rotacionar fungicidas: Utilize produtos com diferentes ingredientes ativos e grupos químicos para evitar o desenvolvimento de resistência do fungo.
  • Integrar as práticas: Combine o controle químico com a rotação de culturas e o uso de cultivares mais tolerantes para um manejo completo e sustentável.

Ao adotar uma abordagem estratégica, você otimiza o uso de recursos, protege o potencial produtivo da sua lavoura e garante maior lucratividade no cultivo do trigo.


Glossário

  • Brusone: Doença causada pelo fungo Pyricularia oryzae que ataca cereais como o trigo, provocando o branqueamento das espigas e a formação de grãos chochos. Causa perdas severas de produtividade e qualidade.

  • Emborrachamento: Estágio de desenvolvimento do trigo em que a espiga está totalmente formada, mas ainda se encontra dentro da bainha da folha bandeira. É um momento crítico para a aplicação preventiva de fungicidas contra doenças de espiga.

  • Giberela: Também conhecida como fusariose, é uma doença fúngica (Gibberella zeae) que também ataca as espigas do trigo. Seus sintomas de branqueamento podem ser confundidos com os da brusone, mas geralmente aparecem em pontos espalhados pela espiga, não de forma contínua.

  • Manejo Integrado de Doenças (MID): Conjunto de práticas agrícolas que combinam diferentes métodos de controle (químico, cultural, genético) para manejar doenças de forma eficaz e sustentável. Inclui ações como rotação de culturas, escolha de cultivares e uso estratégico de fungicidas.

  • Molhamento Foliar: Período em que as folhas e espigas da planta permanecem úmidas, seja por chuva ou orvalho. Para a brusone, um período mínimo de 10 horas de molhamento é necessário para que a infecção do fungo ocorra.

  • Peso do Hectolitro (PH): Medida de densidade dos grãos, expressa em kg/hl, que serve como um dos principais indicadores de qualidade do trigo. Grãos afetados pela brusone ficam leves e deformados, resultando em um baixo PH e, consequentemente, menor valor de mercado.

  • Pyricularia oryzae: Nome científico do fungo causador da brusone no trigo e em outras gramíneas. Sua forma de reprodução sexuada é chamada de Magnaporthe oryzae.

  • ZARC (Zoneamento Agrícola de Risco Climático): Ferramenta oficial que indica as épocas de semeadura mais adequadas para cada cultura em determinado município, com base em dados climáticos. Consultar o ZARC ajuda a reduzir os riscos de que o florescimento do trigo coincida com períodos de alta favorabilidade para doenças.

Veja como o Aegro pode ajudar no manejo da brusone

Controlar a brusone exige um planejamento preciso, especialmente na hora de definir o momento certo para as aplicações preventivas de fungicidas, que dependem do clima e do estágio da lavoura. Fazer esse acompanhamento no papel ou em planilhas pode ser arriscado e ineficiente. Um software de gestão agrícola como o Aegro ajuda a resolver isso, centralizando o planejamento e o registro de todas as atividades. Com ele, é possível programar as pulverizações, registrar as operações diretamente do campo pelo celular e, ao mesmo tempo, controlar os custos com insumos. Isso garante que as decisões sejam tomadas com base em dados concretos, otimizando a proteção da lavoura e a rentabilidade final.

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Perguntas Frequentes

Qual a principal diferença visual entre os sintomas da brusone e da giberela na espiga do trigo?

A principal diferença está no padrão de branqueamento. Na brusone, a descoloração começa em um ponto específico da espiga e avança de forma contínua para cima. Já na giberela, os sintomas aparecem em pontos aleatórios e intercalados, com espiguetas brancas e verdes na mesma espiga.

Qual é o momento ideal para a primeira aplicação de fungicida contra a brusone?

A aplicação de fungicidas deve ser preventiva para máxima eficácia. O momento ideal para a primeira pulverização é no estágio de emborrachamento, que ocorre quando a espiga está completamente formada, mas ainda protegida dentro da bainha da folha bandeira, antes de sua exposição.

Por que anos de El Niño aumentam o risco de brusone no trigo?

Anos de El Niño geralmente trazem um volume maior de chuvas e temperaturas mais elevadas, especialmente no Sul do Brasil. Essas condições criam o ambiente perfeito para o fungo Pyricularia oryzae, fornecendo a alta umidade e o molhamento foliar prolongado (acima de 10 horas) necessários para a infecção.

Além do controle químico, que outras práticas de manejo ajudam a controlar a brusone?

Sim, o Manejo Integrado de Doenças (MID) é fundamental. As práticas incluem a rotação de culturas com espécies não hospedeiras (como soja), o ajuste da época de semeadura para evitar que o florescimento coincida com o clima favorável à doença, e a escolha de cultivares de trigo com maior nível de tolerância.

Como a brusone afeta o valor comercial do meu trigo?

A brusone impacta diretamente a rentabilidade ao reduzir a qualidade dos grãos. Eles ficam chochos, enrugados e mais leves, o que derruba o Peso do Hectolitro (PH), um dos principais indicadores de qualidade para a comercialização. Um PH baixo resulta em desvalorização e menor preço de venda.

É possível controlar a brusone depois que os sintomas de branqueamento já apareceram na espiga?

O controle curativo, após o surgimento dos sintomas na espiga, é muito difícil e pouco eficaz. Uma vez que o fungo infecta a espiga, os danos à formação dos grãos são praticamente irreversíveis. Por isso, a estratégia mais eficiente é focar em aplicações preventivas de fungicidas, baseadas no monitoramento climático e no estágio da cultura.

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