A brusone é, sem dúvida, a principal doença que ataca a cultura do arroz, causando prejuízos tanto na quantidade quanto na qualidade da sua produção.
Uma lavoura severamente afetada por essa doença pode ser completamente comprometida, com perdas que chegam a 100%.
Mas como você pode identificar os primeiros sinais da brusone no campo? E qual é o momento certo para aplicar fungicidas e garantir um controle realmente eficaz?
Neste artigo, reunimos as informações essenciais para que você possa prevenir e controlar a brusone no arroz de forma segura e eficiente. Acompanhe!
Por que a Brusone no Arroz é Tão Perigosa?
A brusone no arroz é causada pelo fungo Magnaporthe oryzae e é considerada a doença mais devastadora para a cultura em diversas regiões produtoras do mundo. No Brasil, ela está presente em praticamente todas as áreas de cultivo, do Rio Grande do Sul ao Norte do país.
Essa doença é um fator que limita diretamente a produtividade do arroz. Quando o ataque acontece durante a fase de crescimento da planta (fase vegetativa), os danos são visíveis:
- Redução na altura da planta;
- Menor número de perfilhos (os brotos que saem da base da planta);
- Diminuição no número e na qualidade dos grãos formados.
Em condições favoráveis ao fungo, a brusone pode causar perdas de até 100% da produção, inviabilizando toda a colheita.
Como Identificar a Brusone no Campo: Sinais em Cada Parte da Planta
A brusone pode atacar as plantas de arroz em qualquer fase do desenvolvimento, desde a emergência das plântulas até a formação final dos grãos. Os sintomas aparecem nas folhas, colmos, panículas e nos próprios grãos.
Sintomas nas Folhas
O sintoma mais clássico nas folhas começa com pequenos pontos de cor castanha. Com o tempo, esses pontos evoluem para manchas em formato de elipse (ovaladas).
Essas manchas crescem no sentido da nervura da folha, apresentando um centro cinza e bordas de cor marrom. Em alguns casos, pode haver um anel amarelado ao redor da mancha.
(Fonte: Matzenbacher e Funck em Planeta Arroz)
Esse dano reduz a área fotossintetizante, ou seja, a capacidade da folha de gerar energia para a planta, o que resulta em menor produção de grãos. Se a infecção for severa no início do desenvolvimento, a planta pode morrer.
Sintomas nos Colmos e Nós
Nos entrenós dos colmos (os “gomos” do caule), podem surgir manchas elípticas semelhantes às das folhas, com centro cinza e bordas marrons. Essas lesões podem tomar conta de grandes partes do colmo.
Quando as lesões ocorrem na região dos nós, pode haver uma ruptura do tecido, causando a morte da parte da planta acima daquele ponto.
Sintomas nas Panículas e Grãos
Os sintomas também podem ser vistos nas raques (as ramificações da panícula), com manchas de coloração marrom. Os grãos que se formam a partir dessas partes infectadas ficam chochos (vazios e sem peso).
Manchas marrons também podem aparecer diretamente na casca das sementes ou grãos.
(Fonte: APS)
Um sintoma muito fácil de identificar no campo são as panículas esbranquiçadas, que ocorrem quando a infecção acontece antes da formação dos grãos leitosos.
Se a infecção for mais tardia, pode causar redução no peso dos grãos e a quebra da panícula, sintoma conhecido como “pescoço quebrado”.
O fungo também pode infectar a semente e ser transmitido internamente, causando sintomas já nas plântulas recém-germinadas.
Entendendo o Ciclo da Doença: Como o Fungo Age
O fungo causador da brusone se espalha através de conídios (conídio: é como se fosse a “semente” do fungo), que são facilmente transportados pelo vento. Esse é um fator chave para a infecção de novas plantas na mesma lavoura e para a disseminação para talhões vizinhos.
As condições ideais para o desenvolvimento da brusone são:
- Temperatura: entre
20℃
e25℃
. - Umidade: presença de água livre sobre as folhas (orvalho ou chuva) por um período prolongado.
Outro ponto importante é a sobrevivência do fungo. Ele pode permanecer ativo em restos culturais da safra anterior, em sementes contaminadas e em plantas de arroz voluntárias (tiguera) que ficam no campo.
Embora a doença possa ocorrer em qualquer estádio da cultura, a fase de enchimento dos grãos é a mais suscetível e crítica.
A severidade da brusone aumenta quando há um desequilíbrio nutricional na lavoura, especialmente com o uso de doses excessivas de nitrogênio.
Vale lembrar que a brusone também pode atacar outras gramíneas, como o trigo e diversas espécies de gramados.
Manejo Integrado: Estratégias para Controlar a Brusone no Arroz
Para controlar qualquer doença em plantas cultivadas, a melhor abordagem é sempre o manejo integrado, que significa combinar várias táticas de controle para um resultado mais eficaz e sustentável.
Veja as principais medidas recomendadas para reduzir os prejuízos com a brusone:
1. Uso de Variedades Resistentes ou Moderadamente Resistentes
Em sistema irrigado, utilize variedades com bom nível de resistência genética e mantenha uma lâmina de água sobre o solo durante todo o ciclo. A lâmina de água ajuda a reduzir o risco da doença.
Já no sistema de sequeiro, a falta de água pode deixar as plantas mais estressadas e suscetíveis à brusone. Portanto, a escolha de variedades adaptadas para cada sistema de cultivo e região é fundamental.
2. Atenção às Práticas Culturais
- Preparo do Solo: A aração profunda ajuda as raízes a se desenvolverem melhor, tornando a planta mais resistente aos efeitos da falta de água.
- Qualidade da Semente: Utilize sempre sementes sadias e certificadas, que são livres do patógeno.
- Adubação Equilibrada: O excesso de nitrogênio aumenta a suscetibilidade da planta à doença, mas a falta dele também pode ser prejudicial. Realize uma adubação nitrogenada balanceada, baseada na análise de solo.
- Densidade e Espaçamento: Evite o plantio muito adensado. Uma alta densidade de plantas e um menor espaçamento podem criar um microclima favorável à doença e aumentar o estresse por falta de água.
3. Uso Estratégico de Fungicidas
Os fungicidas são uma ferramenta importante e podem ser usados de duas formas principais:
- Tratamento de Sementes: Produtos como a combinação
carboxina + tiran
protegem as plântulas nas fases iniciais. - Pulverização Foliar: Aplicações na parte aérea das plantas devem ser feitas de modo preventivo, especialmente ao usar variedades suscetíveis.
Efeito do tratamento de sementes de arroz para o controle de brusone. Tratamento químico com 3 fungicidas diferentes (A, B e C) e parcela sem tratamento (figura D)
(Fonte: Lobo)
Regra de ouro: Caso a lavoura apresente os primeiros sintomas da doença na fase vegetativa, a aplicação de fungicida deve ser realizada imediatamente.
No Agrofit, sistema do Ministério da Agricultura, existem 78 produtos comerciais registrados para o controle da brusone no arroz.
Atenção: Se for necessário realizar mais de uma aplicação de fungicida, utilize produtos com modos de ação diferentes. Isso ajuda a reduzir a chance de o fungo desenvolver resistência aos defensivos.
Para tomar a decisão certa no momento correto, é essencial que a lavoura seja constantemente monitorada. Para um diagnóstico preciso e recomendações de manejo, consulte sempre um(a) engenheiro(a) agrônomo(a).
Conclusão
A brusone é a doença mais importante da cultura do arroz e tem potencial para causar prejuízos enormes.
Neste artigo, você aprendeu a identificar os principais sintomas, entendeu o ciclo da doença e conheceu as estratégias mais eficazes para um controle integrado.
Com essas informações em mãos, você está mais preparado para implementar um manejo eficiente, proteger sua lavoura e garantir uma safra mais produtiva e rentável
Glossário
Área fotossintetizante: Refere-se à superfície das folhas capaz de realizar fotossíntese para gerar energia. Lesões causadas pela brusone reduzem essa área, funcionando como “painéis solares” danificados que diminuem a produção de grãos da planta.
Colmo: É o caule característico das gramíneas, como o arroz, geralmente oco e dividido em segmentos chamados nós e entrenós. A brusone pode atacar o colmo, enfraquecendo a estrutura da planta e o transporte de nutrientes.
Conídios: Estruturas microscópicas de reprodução dos fungos, que funcionam como “sementes”. São os conídios do fungo da brusone que se espalham pelo vento, infectando novas plantas e lavouras vizinhas.
Grãos chochos: Grãos que não se enchem adequadamente, resultando em sementes vazias, leves e sem valor comercial. É um dano direto causado pela brusone quando a infecção ocorre na panícula durante a fase de enchimento.
Magnaporthe oryzae: Nome científico do fungo causador da brusone, a principal doença da cultura do arroz. Conhecer o agente causal é o primeiro passo para entender seu ciclo de vida e definir as melhores estratégias de controle.
Manejo Integrado: Estratégia que combina diferentes táticas de controle (como uso de variedades resistentes, práticas culturais e aplicação de fungicidas) para manejar uma doença de forma eficaz e sustentável, mantendo-a abaixo do nível de dano econômico.
Panícula: A inflorescência do arroz, ou seja, a estrutura no topo da planta onde os grãos se formam. É a parte diretamente responsável pela produção e um dos principais alvos da brusone, especialmente na fase reprodutiva.
Patógeno: Organismo, como um fungo, bactéria ou vírus, que é capaz de causar doença em outro ser vivo (o hospedeiro). No artigo, o Magnaporthe oryzae é o patógeno que causa a brusone no arroz.
Perfilhos: Brotações ou caules secundários que surgem da base da planta principal de gramíneas como o arroz. Um bom perfilhamento é essencial para uma alta produtividade, e a brusone pode reduzir o número de perfilhos viáveis.
Otimize o controle da brusone com a gestão certa
O manejo integrado da brusone, como vimos, exige um controle rigoroso de diversas frentes: desde o monitoramento constante da lavoura até o planejamento preciso das aplicações de fungicidas e o controle dos custos envolvidos. Manter todos esses registros em planilhas ou cadernos pode levar a falhas e decisões tardias, comprometendo a eficácia do tratamento.
É aqui que um software de gestão agrícola como o Aegro se torna um forte aliado. A plataforma permite centralizar as anotações do monitoramento de pragas e doenças, agendar as pulverizações com antecedência e registrar cada aplicação. Isso não apenas garante o controle do estoque de defensivos, mas também fornece o custo exato por talhão, facilitando uma tomada de decisão mais estratégica.
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Perguntas Frequentes
Quais são as condições climáticas que mais favorecem a brusone no arroz?
A brusone se desenvolve mais rapidamente sob condições específicas de temperatura e umidade. O fungo prospera com temperaturas entre 20°C e 25°C e, principalmente, quando há um longo período de molhamento foliar, seja por orvalho ou chuva. Essas condições permitem que os esporos do fungo germinem e infectem a planta.
Por que o excesso de adubação com nitrogênio agrava a infecção por brusone?
O nitrogênio em excesso estimula um crescimento vegetativo exuberante, resultando em tecidos vegetais mais tenros e suculentos. Essas folhas e colmos mais frágeis são mais fáceis de serem penetrados pelo fungo Magnaporthe oryzae, aumentando a suscetibilidade da lavoura à doença. Por isso, uma adubação nitrogenada equilibrada é fundamental.
O que exatamente é o sintoma de ‘pescoço quebrado’ causado pela brusone?
O ‘pescoço quebrado’ ocorre quando o fungo infecta a base da panícula, a região que a conecta ao colmo. Essa infecção interrompe o fluxo de nutrientes para os grãos, fazendo com que a panícula se torne esbranquiçada, os grãos fiquem chochos e, eventualmente, a estrutura se quebre nesse ponto, causando perdas diretas na produção.
É possível controlar a brusone apenas com o uso de variedades resistentes?
Não. Embora o uso de variedades resistentes seja a base do manejo integrado, não é uma solução isolada. A resistência pode ser quebrada por novas raças do fungo. Portanto, é essencial combinar essa tática com outras práticas, como adubação equilibrada, uso de sementes sadias e, quando necessário, o uso estratégico de fungicidas para garantir um controle eficaz.
Qual o momento correto para aplicar fungicidas para controlar a brusone?
A aplicação de fungicidas deve ser prioritariamente preventiva, especialmente em variedades suscetíveis e sob condições climáticas favoráveis à doença. Se os primeiros sintomas aparecerem na fase vegetativa, a aplicação deve ser imediata. As fases mais críticas para proteger a planta com pulverizações são o emborrachamento e o florescimento, visando proteger a panícula.
Como o fungo da brusone sobrevive na lavoura entre as safras?
O fungo Magnaporthe oryzae é muito eficiente em sobreviver no ambiente. Ele permanece viável em restos culturais da safra anterior, em sementes contaminadas que serão usadas no próximo plantio e em plantas de arroz voluntárias (tiguera) ou outras gramíneas hospedeiras que crescem na área. Essa capacidade de sobrevivência reforça a importância de usar sementes certificadas e manejar bem os restos culturais.
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