Algumas pragas só recebem a devida atenção quando já estão causando danos visíveis no campo. A broca-das-axilas é um exemplo clássico. Embora não cause surtos frequentes, é fundamental conhecer suas características, os estragos que provoca e, principalmente, as formas de controle.
Com o conhecimento correto, você pode evitar o crescimento anormal das plantas de soja, protegendo a sua lavoura da queda de produtividade. Mais importante ainda, você previne prejuízos financeiros que poderiam ser evitados com um manejo bem-feito.
Neste guia completo, vamos detalhar tudo o que você precisa saber para identificar e combater essa lagarta de forma eficiente.
Características da Broca-das-axilas
A espécie Crocidosema (Epinotia) aporema, mais conhecida como broca-das-axilas, é um tipo de mariposa. Ela pertence à família Tortricidae e à ordem Lepidoptera. Sua presença é registrada em todo o continente americano, do sudeste dos Estados Unidos até a Argentina.
No Brasil, embora encontrada em diversas regiões, ela tem sido uma preocupação maior para os produtores de soja em áreas de clima mais frio. Por isso, é geralmente classificada como uma praga secundária, mas que exige atenção.
Seu principal alvo são as leguminosas, com destaque especial para a cultura da soja.
Os adultos da broca-das-axilas são microlepidópteros: significa que são mariposas pequenas, medindo cerca de 10 mm
de comprimento. Elas possuem uma coloração amarronzada, sendo os machos geralmente mais escuros que as fêmeas.
Adultos de Crocidosema aporema. A – fêmea; B – macho
(Fonte: Vanusa Horas)
Ciclo de Vida e Identificação
O ciclo biológico completo desta praga dura entre 30 e 40 dias, variando conforme as condições de clima e temperatura. Ele se divide em quatro fases principais:
- Ovo: Para encontrar os ovos, procure nos folíolos dos brotos mais novos da soja. Eles são muito pequenos, de cor amarelo-claro e depositados de forma isolada, um a um.
- Lagarta (Larva): Ao nascerem, as lagartas são brancas com a cabeça preta. Conforme se desenvolvem, sua cor muda para rosada e a cabeça se torna marrom. Elas passam por cinco estágios de crescimento (estádios larvais).
- Pupa: No final da fase de lagarta, elas descem para o solo. Ali, enterram-se a uma profundidade de
1 cm
a2 cm
para se transformar em pupa. - Adulto: A mariposa emerge do solo para acasalar e reiniciar o ciclo.
O período mais favorável para a proliferação da broca-das-axilas vai de setembro a abril. Nessas condições, a praga pode ter até sete gerações sobrepostas, o que significa que há uma presença contínua de ovos, lagartas e adultos no campo.
Sintomas e Danos na Lavoura
Os danos começam logo após a eclosão dos ovos. Como eles são postos nos brotos novos, as pequenas lagartas já começam a se alimentar dessas partes tenras da planta.
Danos nos Brotos e Folhas
Ao se alimentarem, as lagartas produzem fios de seda que unem os folíolos, formando uma espécie de “teia” protetora. Elas permanecem dentro dessa estrutura, o que causa um retardamento no desenvolvimento dos brotos e impede sua abertura normal.
Com o tempo, os folíolos atacados se deterioram, podendo secar e morrer. Quando isso acontece, as lagartas migram para as axilas das folhas – o ponto de junção entre a folha e o caule.
O nome popular “broca-das-axilas” vem justamente desse comportamento: elas penetram nos pecíolos (cabinhos das folhas) e nas hastes, abrindo galerias descendentes. Esse ataque provoca uma obstrução no fluxo de seiva, prejudicando a nutrição da planta.
Quando os brotos atacados finalmente conseguem se abrir, as folhas apresentam um aspecto danificado:
- Ficam rugosas e enrugadas;
- Apresentam contornos irregulares;
- O consumo dos folíolos pode causar uma redução de até 50% da área foliar da planta nesta fase.
a) dano causado nos brotos; b) lagarta; c) adulto de broca-das-axilas
(Fonte: Embrapa)
Impacto na Estrutura da Planta e na Colheita
Em estágios mais avançados da cultura, a broca-das-axilas também pode atacar botões florais e vagens, especialmente em cultivares de ciclo tardio.
Quando a infestação é alta durante o período vegetativo, a planta tem sua altura reduzida e é forçada a emitir ramos secundários (laterais). Como consequência direta, a inserção das primeiras vagens ocorre em uma altura muito baixa, o que dificulta a colheita mecânica e aumenta as perdas.
Manejo da Broca-das-axilas
Antes de detalhar os métodos de controle, é preciso reforçar um ponto crucial: esta é uma praga secundária na maioria das regiões produtoras de soja.
Atenção: O uso incorreto de táticas de controle, especialmente o método químico, pode transformar a broca-das-axilas em uma praga primária. Aplicações de inseticidas baseadas em calendário, sem monitoramento prévio, aumentam muito esse risco.
Hoje, com a tecnologia disponível e os conceitos do MIP (Manejo Integrado de Pragas), é totalmente possível controlar pragas de forma mais inteligente, combinando diferentes métodos e reduzindo a dependência de pesticidas. Mesmo ao optar pelo controle químico, é essencial usar a dose recomendada pelo fabricante e apenas quando for realmente necessário.
Controle Varietal (Uso de Biotecnologia)
Uma das ferramentas mais eficazes é o uso de cultivares de soja com tecnologia embarcada.
Soja Intacta RR2 PRO: Disponível desde 2013, esta tecnologia oferece resistência à broca-das-axilas e a outras lagartas importantes, como a lagarta-da-soja (Anticarsia gemmatalis), a falsa-medideira (Chrysodeixis includens) e a lagarta-das-maçãs (Chloridea virescens).
Soja Intacta 2 Xtend: Aprovada em 2021, esta nova geração amplia a proteção, controlando também pragas como a Helicoverpa armigera e a Spodoptera cosmioides.
Ambas as tecnologias funcionam porque a planta de soja geneticamente modificada produz a proteína Bt (Bacillus thuringiensis). Essa proteína é altamente específica e atóxica para a maioria dos seres vivos, mas age no sistema digestivo de certas lagartas, levando-as à morte após a ingestão de partes da planta.
Importante: A eficácia da proteção pode variar com o nível de infestação. Por isso, mesmo em lavouras com tecnologia Bt, o monitoramento constante da área continua sendo indispensável.
(Fonte: Plataforma Intacta 2 Xtend)
Controle Químico
O controle químico deve ser a última opção, usada de forma estratégica para não agravar o problema. A decisão de aplicar um inseticida deve ser baseada no monitoramento da lavoura.
O nível de ação para a broca-das-axilas é atingido quando 30% dos ponteiros (brotos terminais) da lavoura estiverem atacados. Somente a partir desse ponto a aplicação de pulverizações é recomendada.
De acordo com o MAPA (Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento), existem 54 produtos comerciais registrados para o controle desta praga. No entanto, eles se baseiam em ingredientes ativos de apenas dois grupos químicos: organofosforado e metilcarbamato de oxima.
(Fonte: Agrofit)
Conclusão
Neste artigo, vimos que a broca-das-axilas, apesar de não ser uma praga de alerta máximo em todo o Brasil, pode causar danos sérios e prejuízos financeiros se não for manejada corretamente.
A boa notícia é que seus sintomas são bastante característicos, o que facilita a identificação no campo e permite uma ação rápida para evitar perdas de produtividade.
Lembre-se dos pontos-chave para um manejo de sucesso:
- Identificação Correta: Aprenda a reconhecer os danos nos brotos e o aspecto das lagartas.
- Monitoramento Constante: Acompanhe a lavoura para identificar o ataque antes que ele se espalhe.
- Controle Integrado: Utilize todas as ferramentas disponíveis, dando preferência ao controle varietal com tecnologias Bt.
- Uso Criterioso do Controle Químico: Só aplique inseticidas quando o nível de ação de 30% dos ponteiros atacados for atingido.
O controle da broca-das-axilas é limitado em opções, por isso, cada decisão deve ser bem pensada e executada para garantir a saúde e a rentabilidade da sua lavoura.
Glossário
Crocidosema (Epinotia) aporema: Nome científico da praga conhecida popularmente como broca-das-axilas. É uma mariposa cujas lagartas atacam principalmente a cultura da soja.
Folíolos: Cada uma das pequenas partes, semelhantes a folhas, que compõem uma folha composta. Na soja, a lagarta une os folíolos novos com fios de seda para se abrigar e alimentar.
Lepidoptera: Ordem de insetos que inclui as borboletas e mariposas. Sua principal característica é a fase de lagarta (larva) antes de se tornarem adultos alados.
Microlepidópteros: Termo técnico para designar mariposas de tamanho muito pequeno. O adulto da broca-das-axilas, com cerca de 10 mm, é um exemplo de microlepidóptero.
MIP (Manejo Integrado de Pragas): Estratégia que combina diferentes métodos de controle (biotecnológico, químico, cultural) de forma sustentável. O objetivo é manter as pragas em níveis que não causem dano econômico, reduzindo a dependência de inseticidas.
Nível de Ação (NA): Densidade populacional da praga que indica o momento ideal para iniciar o controle, evitando prejuízos econômicos. Para a broca-das-axilas, o NA é atingido quando 30% dos brotos terminais da lavoura estão atacados.
Pecíolo: A haste ou “cabinho” que liga a folha ao caule da planta. A broca-das-axilas perfura os pecíolos para criar galerias, o que interrompe o fluxo de seiva e prejudica a nutrição da planta.
Praga Secundária: Um organismo que normalmente não causa danos econômicos significativos, mas que pode se tornar um grande problema (uma praga primária) devido a desequilíbrios no agroecossistema, como o uso excessivo de inseticidas que eliminam seus inimigos naturais.
Proteína Bt (Bacillus thuringiensis): Uma proteína inseticida produzida por uma bactéria de solo. Cultivares de soja com tecnologia Bt (como a Soja Intacta) produzem essa proteína, que mata lagartas específicas ao ser ingerida, funcionando como um controle embutido na própria planta.
Veja como o Aegro pode ajudar a superar esses desafios
O monitoramento constante e o uso criterioso de defensivos, como destacado no artigo, são a chave para evitar que pragas secundárias causem grandes prejuízos. No entanto, registrar e analisar essas informações pode ser um desafio na correria do dia a dia. É aqui que um software de gestão agrícola como o Aegro se torna um aliado, permitindo registrar os dados do monitoramento direto no celular, no meio da lavoura. Isso cria um histórico preciso para identificar o momento exato de agir, garantindo um controle mais eficiente e econômico de pragas como a broca-das-axilas.
Além disso, cada aplicação de defensivo representa um custo significativo. Ao utilizar os registros do monitoramento para tomar decisões, você otimiza o uso de insumos, evitando aplicações desnecessárias e protegendo a rentabilidade da sua safra.
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Perguntas Frequentes
Por que essa praga é chamada de ‘broca-das-axilas’?
Ela recebe esse nome devido ao comportamento da lagarta. Após se alimentar dos brotos novos, a lagarta migra para as axilas das folhas, que é o ponto de união entre a folha e o caule. Ali, ela perfura os pecíolos e hastes para criar galerias, o que interrompe o fluxo de seiva e danifica a estrutura da planta.
Qual o principal sinal para identificar o ataque da broca-das-axilas na soja?
O sinal mais característico é a união dos folíolos dos brotos novos com fios de seda, formando uma espécie de ’teia’ protetora. Dentro dessa estrutura, a lagarta se alimenta, causando o retardamento do desenvolvimento e o enrugamento das folhas. Esse é o principal sintoma para diferenciar seu ataque do de outras lagartas.
O uso de soja com tecnologia Bt (Intacta) me isenta de monitorar a broca-das-axilas?
Não. Embora as tecnologias Bt ofereçam excelente controle e resistência a esta praga, o monitoramento constante da lavoura continua sendo fundamental. Em situações de alta pressão da praga, a eficácia da proteção pode variar, e o acompanhamento garante que o produtor possa tomar medidas adicionais se necessário, protegendo o potencial produtivo.
Quando é o momento correto de aplicar inseticida para controlar a broca-das-axilas?
O controle químico deve ser iniciado apenas quando a infestação atinge o nível de ação, que é de 30% dos ponteiros (brotos terminais) da lavoura atacados. Aplicar inseticidas antes desse ponto aumenta os custos, pode ser ineficaz e agrava o risco de transformar essa praga secundária em um problema principal.
Como o ataque da broca-das-axilas pode aumentar as perdas na colheita?
Quando a infestação é alta, o ataque aos brotos força a planta a desenvolver mais ramos laterais. Isso faz com que as primeiras vagens se formem em uma altura muito baixa. Consequentemente, a plataforma da colheitadeira não consegue alcançar essas vagens, resultando em perdas mecânicas significativas durante a colheita.
A aplicação incorreta de defensivos pode realmente piorar o problema com a broca-das-axilas?
Sim, com certeza. A broca-das-axilas é uma praga secundária, mantida em equilíbrio por inimigos naturais. O uso de inseticidas de amplo espectro ou sem critério técnico elimina esses predadores e parasitoides, causando um desequilíbrio que favorece a multiplicação da praga, podendo torná-la um problema sério e de difícil controle.
Além da soja, quais outras culturas a broca-das-axilas pode atacar?
O principal alvo da Crocidosema aporema são as plantas da família das leguminosas. Embora seja mais conhecida pelos danos causados na cultura da soja, ela também pode ser encontrada atacando outras culturas importantes como o feijão e outras leguminosas forrageiras, exigindo atenção em sistemas de rotação de culturas.
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