A busca por maior produtividade na lavoura é uma constante para todo produtor rural. Nesse cenário, a adubação com micronutrientes pode ser a chave para destravar um novo patamar de resultados, e o boro é um dos elementos essenciais nesse processo.
Este micronutriente desempenha um papel fundamental na formação dos grãos e na estrutura das células vegetais. Contudo, muitos produtores ainda têm dúvidas: Qual a melhor época para aplicar? Em que situações o investimento realmente vale a pena? E qual a forma mais eficiente de disponibilizar o boro para as plantas?
Neste artigo, vamos detalhar o manejo do boro, mostrando como usá-lo de forma estratégica para impulsionar a produtividade, sempre com foco na rentabilidade.
A Função do Boro nas Plantas
Micronutrientes são elementos que as plantas precisam em pequenas quantidades, especialmente quando comparados aos macronutrientes como o nitrogênio. No entanto, mesmo em doses menores, eles são indispensáveis para o desenvolvimento saudável e completo da lavoura.
Entre os principais micronutrientes, temos o manganês (Mn), zinco (Zn), molibdênio (Mo), cloro (Cl), cobre (Cu), ferro (Fe) e, claro, o boro (B).
Nos solos brasileiros, a quantidade total de boro pode variar de 20 a 200 ppm
(partes por milhão). Contudo, a parcela que está realmente disponível para as plantas é muito menor, ficando entre 0,4 e 5 ppm
.
O boro é crucial para a formação de novos tecidos, pois participa da constituição da parede celular e garante a integridade da membrana plasmática. Além disso, suas principais funções incluem:
- Participação na divisão celular;
- Metabolismo e transporte de açúcares;
- Germinação do grão de pólen e crescimento do tubo polínico.
Devido à sua importância na reprodução, o boro influencia diretamente o pegamento de flores e a granação (enchimento de grãos). Por isso, a exigência nutricional da planta por este elemento se intensifica no início da fase reprodutiva, quando as estruturas de flores e frutos estão se formando.
Onde as Carências de Boro São Mais Comuns?
Nossos solos tropicais, por serem muito intemperizados (desgastados pela ação do clima), naturalmente já apresentam uma tendência à carência de boro. Essa deficiência se torna ainda mais evidente em duas situações:
- Solos arenosos: Nesses solos, ocorre maior lixiviação.
- Lixiviação: significa a “lavagem” dos nutrientes do solo pela água da chuva, que os carrega para camadas mais profundas, fora do alcance das raízes.
- Solos com baixos teores de matéria orgânica: A matéria orgânica é a principal forma de disponibilização de boro no solo.
Formas de Aplicação do Boro nas Plantas
A aplicação de boro pode ser realizada de duas maneiras principais: via solo ou via foliar.
Geralmente, as lavouras respondem muito bem à adubação quando os níveis de boro no solo estão baixos (<0,20 mg/dm³
) ou médios (0,20-0,60 mg/dm³
).
Uma pesquisa conduzida por Boaretto demonstrou que a absorção de boro via solo pode ser até 3,5 vezes superior à absorção via folhas. Isso acontece porque o boro não é móvel no floema.
- Em outras palavras: uma vez que o boro é absorvido e incorporado em um tecido da planta (como uma folha mais velha), ele não consegue se mover para outras partes que precisam dele, como folhas novas ou flores.
O transporte do boro ocorre principalmente pelo xilema, que é o sistema que puxa a água e os nutrientes do solo para a parte aérea da planta. Por isso, a aplicação via solo é tão eficiente.
Contudo, em culturas perenes como o café, as aplicações foliares são mais práticas. Nesse caso, são necessárias aplicações frequentes para garantir que o nutriente chegue a todas as partes da planta, devido à sua imobilidade.
(Fonte: IPNI)
Para entender melhor: Pesquisas recentes descobriram que, em algumas poucas plantas como macieira e amendoeiras, o boro pode apresentar mobilidade no floema, mas isso é uma exceção à regra geral.
Principais Recomendações: Quando e Quanto Aplicar?
As culturas agrícolas apresentam diferentes graus de resposta à adubação com boro. Por isso, é fundamental calcular se o custo da aplicação será compensado pelo ganho de produção.
- Alta resposta: Leguminosas (como a soja) e hortaliças geralmente apresentam ganhos significativos.
- Média resposta: Gramíneas (como o milho) costumam ter uma resposta mais moderada.
(Fonte: IPNI)
Como regra geral, as taxas de aplicação via solo para culturas de alta resposta, como a soja, podem ser de 3 kg/ha
de boro. Já para as de resposta menor, como o milho, a dose recomendada fica entre 0,5 e 1 kg/ha
.
Importância do Boro no Milho
Nas monocotiledôneas (plantas como milho, trigo e cana), os tecidos vegetais normalmente contêm de 6 a 18 ppm
de boro. Por essa razão, a manifestação de deficiência em cereais é menos comum do que em outras culturas.
Ainda assim, o boro nas plantas de milho é essencial para garantir uma boa formação e um bom enchimento de grãos nas espigas. A falta do nutriente pode resultar em espigas falhadas e tortas.
Veja na imagem abaixo os sintomas de deficiência de boro no milho:
(Fonte: Nutrição de plantas)
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Importância do Boro na Soja
Nas dicotiledôneas (plantas como soja, feijão e algodão), os tecidos vegetais costumam ter de 20 a 60 ppm
de boro, o que indica uma demanda bem maior por este nutriente.
Na soja, a absorção de boro é relativamente lenta no início do ciclo, aumenta gradualmente durante o desenvolvimento vegetativo e reprodutivo, e diminui no final do ciclo.
(Fonte: Nutrição de Plantas)
Essa curva de absorção se justifica pela alta demanda de boro nos processos reprodutivos, como na formação do tubo polínico. Por isso, a aplicação de boro na soja costuma apresentar as melhores respostas quando realizada nos estágios de abotoamento e canivete.
A deficiência de boro na soja é notada primeiro nas folhas novas. Em estágios avançados, os sintomas podem incluir superbrotamento (devido à morte da gema apical) e o encarquilhamento (enrugamento) das folhas.
(Fonte: 3rlab)
Fontes de Boro para Adubação
No mercado, existem diversas fontes de boro, que variam principalmente em sua solubilidade em água e na concentração de B que fornecem.
Abaixo, listamos algumas das principais fontes:
- Maior solubilidade: Ácido Bórico, Bórax, Solubor, tetraborato de sódio pentahidratado, decaborato de potássio, hexaborato de sódio tetrahidratado.
- Menor solubilidade: Colemanita, Ulexita.
(Fonte: Vitti et. al)
Opções de Produtos Comerciais para Aplicação de Boro
O mercado oferece inúmeros produtos comerciais como fonte de boro. Na tabela abaixo, listamos algumas opções e suas respectivas empresas:
A escolha do produto deve levar em conta a solubilidade e a concentração de boro. De modo geral, as formas mais solúveis são preferíveis. A exceção são os solos muito arenosos, onde fontes menos solúveis podem reduzir as perdas por lixiviação.
Muitos produtos também contêm outros nutrientes na formulação, então é importante verificar a composição completa.
Atenção: A margem entre a deficiência e a toxidez por boro é muito estreita. É fácil passar de um cenário de carência para um de excesso, que também prejudica a lavoura. Portanto, a escolha cuidadosa do produto e da dose correta é uma prática de manejo fundamental.
Sintomas de Deficiência vs. Toxidez de Boro
O boro é absorvido pelas raízes principalmente na forma de ácido bórico (H3BO3), que é sua forma mais solúvel na solução do solo.
O principal sintoma de deficiência de boro é a paralisia dos meristemas apicais (os pontos de crescimento nas pontas dos caules e das raízes).
(Fonte: Nutrição de plantas)
Isso leva à redução do tamanho e à deformação das folhas novas, podendo causar a morte da gema apical.
Para diferenciar a deficiência da toxidez (excesso), observe onde os sintomas aparecem:
- Deficiência: Sintomas aparecem nas folhas mais novas.
- Toxidez: Sintomas surgem nas folhas mais velhas, começando com uma clorose (amarelamento) malhada e evoluindo para necrose (morte do tecido) nas bordas das folhas.
Conclusão
A produtividade de uma lavoura depende de um equilíbrio complexo de fatores, e o fornecimento adequado de todos os nutrientes é um dos pilares.
Como vimos, o boro é um micronutriente essencial, com funções vitais no sistema vegetal, especialmente na fase reprodutiva. Neste guia, abordamos a importância da adubação com boro, explicando como, quando e por que aplicá-lo em culturas como soja e milho.
Ao identificar corretamente os sintomas de deficiência e escolher as fontes e doses adequadas, você pode realizar um manejo de boro mais eficiente em sua propriedade. Fique atento às dicas e cuidados para garantir uma lavoura mais produtiva e rentável.
Glossário
Dicotiledôneas: Classe de plantas cujas sementes possuem dois cotilédones (as primeiras “folhas” do embrião). Exemplos agrícolas como a soja, o feijão e o algodão pertencem a este grupo e geralmente apresentam uma demanda maior por boro.
Floema: Sistema de vasos que transporta os açúcares (energia) produzidos nas folhas para as outras partes da planta. O boro possui baixa mobilidade no floema, o que explica por que a aplicação foliar precisa ser frequente para suprir novas áreas de crescimento.
Lixiviação: Processo de “lavagem” e perda de nutrientes do solo, carregados pela água da chuva ou irrigação para camadas mais profundas. Em solos arenosos, a lixiviação de boro é um problema comum, diminuindo sua disponibilidade para as plantas.
Meristemas apicais: Pontos de crescimento ativo localizados nas extremidades dos caules e das raízes. A deficiência de boro afeta diretamente essas áreas, paralisando o desenvolvimento e causando a morte das gemas terminais.
Micronutrientes: Elementos que as plantas necessitam em pequenas quantidades, mas que são indispensáveis para seu desenvolvimento completo. Além do boro (B), outros exemplos incluem o zinco (Zn) e o manganês (Mn).
Monocotiledôneas: Classe de plantas cujas sementes possuem apenas um cotilédone. No agronegócio, as gramíneas como milho, trigo e cana-de-açúcar são exemplos e costumam ter uma exigência de boro menor que as dicotiledôneas.
ppm (partes por milhão): Unidade de medida que expressa uma concentração muito pequena. Dizer que um solo contém
1 ppm
de boro significa que há 1 grama de boro para cada 1.000.000 de gramas (1 tonelada) de solo.Xilema: Sistema de vasos que transporta a água e os nutrientes minerais absorvidos pelas raízes para toda a parte aérea da planta. O boro é transportado principalmente pelo xilema, o que torna a aplicação via solo muito eficiente.
Veja como o Aegro pode ajudar a superar esses desafios
Garantir que o investimento em adubação, como a aplicação de boro, se traduza em maior produtividade é um dos maiores desafios do produtor. Controlar os custos de cada insumo e, ao mesmo tempo, registrar as atividades no campo para evitar erros de dosagem pode ser complexo, especialmente quando a margem entre a deficiência e a toxidez é tão estreita.
Um software de gestão agrícola como o Aegro simplifica esse controle, permitindo que você planeje e registre todas as operações, desde a compra de insumos até a aplicação no talhão. Com isso, é possível acompanhar os custos de produção em tempo real e analisar a rentabilidade de cada cultura, garantindo que cada decisão seja baseada em dados concretos. Que tal simplificar a gestão da sua fazenda?
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Perguntas Frequentes
Qual é a principal diferença entre a aplicação de boro via solo e via foliar?
A aplicação via solo é geralmente mais eficiente porque o boro é absorvido pelas raízes e transportado para toda a planta pelo xilema, junto com a água. Já a aplicação foliar tem efeito mais localizado, pois o boro é pouco móvel no floema, ou seja, não se desloca da folha que o recebeu para outras partes da planta que necessitam do nutriente, como flores ou folhas novas.
Qual a época mais crítica para a aplicação de boro na soja e por quê?
A fase mais crítica e com melhor resposta à aplicação de boro na soja é o início do período reprodutivo, nos estágios de abotoamento e formação de vagens (canivete). Isso ocorre porque o boro desempenha um papel fundamental na germinação do grão de pólen e no desenvolvimento do tubo polínico, processos essenciais para o pegamento de flores e o enchimento dos grãos.
Como posso evitar a toxidez por boro, já que a margem de segurança é pequena?
A melhor forma de evitar a toxidez é basear a adubação em uma análise de solo recente para determinar a dose exata necessária. Siga rigorosamente as recomendações técnicas para sua cultura e tipo de solo, evitando superdosagens. A escolha de fontes de boro de liberação mais lenta pode ser uma estratégia em solos muito arenosos para minimizar tanto a lixiviação quanto o risco de excesso.
Por que solos arenosos são mais propensos à deficiência de boro?
Solos arenosos são mais suscetíveis à deficiência de boro devido à alta lixiviação. Como suas partículas são maiores, a água passa facilmente por eles, “lavando” e carregando o boro solúvel para camadas mais profundas, fora do alcance das raízes. Além disso, esses solos costumam ter baixos teores de matéria orgânica, que é a principal reserva natural de boro.
Onde os sintomas de deficiência de boro aparecem primeiro na planta?
Os sintomas de deficiência de boro surgem primeiro nas partes mais novas da planta, como folhas jovens e pontos de crescimento (meristemas apicais). Isso acontece devido à sua imobilidade dentro da planta; uma vez que o boro é incorporado em um tecido mais velho, ele não consegue ser remobilizado para suprir as necessidades das áreas em crescimento ativo.
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