Biotecnologia no Algodão: Tecnologia Bt contra Spodoptera e Helicoverpa

Redatora parceira Aegro.
Biotecnologia no Algodão: Tecnologia Bt contra Spodoptera e Helicoverpa

Todo produtor sabe que alcançar o lucro máximo na lavoura envolve superar diversos desafios. Um dos maiores é o custo com defensivos para o controle de pragas e doenças, que pode consumir uma parte significativa do orçamento. Além do dinheiro, há a preocupação com os impactos no meio ambiente e na saúde dos trabalhadores.

Na cultura do algodão, a tecnologia Bt surge como uma ferramenta estratégica para combater duas das pragas mais prejudiciais: a lagarta-do-cartucho (Spodoptera frugiperda) e a lagarta Helicoverpa.

Neste artigo, vamos explicar de forma clara como a biotecnologia no algodão pode reduzir seus custos e aumentar a produtividade da sua lavoura.

Entendendo a Biotecnologia Aplicada à Lavoura

A biotecnologia está transformando diversos setores, e na agricultura não é diferente. Ela é a base para o desenvolvimento de plantas mais adaptadas aos desafios do campo.

Cultivares tolerantes à seca, resistentes ao ataque de pragas ou a doenças são exemplos práticos do avanço do melhoramento genético e da biotecnologia.

Mas o que é biotecnologia, afinal? É um conjunto de técnicas que usa organismos vivos para desenvolver ou modificar produtos. Geralmente, isso envolve alterar o material genético da planta para que ela expresse uma nova característica. Daí vem o termo OGM (Organismo Geneticamente Modificado).

A biotecnologia é fundamental na criação de novas cultivares porque permite identificar e inserir genes específicos que trazem vantagens agronômicas, melhorando a produção e a produtividade.

Como o avanço das pragas e doenças no campo é muito rápido, o desenvolvimento de plantas resistentes também precisa ser ágil. A biotecnologia acelera esse processo e cria transformações mais estáveis, fazendo com que as características desejadas durem mais tempo na lavoura.

É importante lembrar que pragas e doenças também evoluem e desenvolvem suas próprias estratégias para superar as defesas das plantas.

O que é a Tecnologia Bt?

A tecnologia Bt usa genes de uma bactéria de solo chamada Bacillus thuringiensis. Essa bactéria produz proteínas que são tóxicas para certos tipos de insetos. Quando esses genes são introduzidos no código genético da planta, ela mesma passa a produzir essas proteínas, ganhando uma ação inseticida natural e contínua.

a fusão entre a natureza e a ciência avançada no contexto agrícola. Em primeiro plano, uma mão enluvada, sim (Fonte: Tecnologia Cultura)

Biotecnologia no Algodão: Proteção Direta na Planta

A cotonicultura é uma atividade de grande valor para o Brasil. Somos o quinto maior produtor e o segundo maior exportador de algodão do mundo.

No entanto, diversas pragas e doenças atacam o algodoeiro, mas as mais preocupantes são aquelas que causam danos diretos nos botões florais e nas maçãs.

A lagarta-do-cartucho (Spodoptera frugiperda) e a lagarta Helicoverpa (Helicoverpa armigera) são duas dessas pragas que causam enormes prejuízos na lavoura. Elas danificam desde plantas jovens até folhas, botões florais e maçãs em desenvolvimento.

O resultado desses ataques é a diminuição da produção e a redução da qualidade da fibra.

close-up detalhado de uma lagarta, provavelmente a lagarta-da-maçã (Helicoverpa armigera), sobre uma maçã d Helicoverpa em maçã de algodão (Fonte: Embrapa)

O algodão Bt foi desenvolvido para resolver esse problema, trazendo em seu material genético a resistência ao ataque dessas pragas de forma mais estável e duradoura.

Essa tecnologia não é nova. O primeiro algodão transgênico foi aprovado no Brasil em 2005 pela CTNBio (Comissão Técnica Nacional de Biossegurança). Desde então, muitas novas proteínas foram descobertas e, recentemente, novas cultivares mais eficientes foram lançadas.

Vantagens do Algodão Bt

Para quem está no dia a dia da lavoura, o algodão Bt oferece benefícios claros:

  • Ação inseticida constante: A proteção está na planta 24 horas por dia.
  • Redução de custos: Menor necessidade de aplicações de inseticidas.
  • Menos perdas econômicas: Menos danos às plantas resultam em maior produtividade e lucro.
  • Mais segurança: Menor exposição dos trabalhadores e menor impacto ambiental devido à redução no volume de defensivos.

Desvantagens do Algodão Bt

  • Maior investimento inicial: As sementes com essa tecnologia têm um custo mais elevado.
  • Manejo específico: É preciso seguir recomendações técnicas para garantir a eficácia da tecnologia a longo prazo.

Algodão Bt e o Controle das Pragas Spodoptera e Helicoverpa

Recentemente, foi lançada a terceira geração da biotecnologia Widestrike®3.

Desenvolvida pela Corteva Agriscience em parceria com a Tropical Melhoramento & Genética (TMG), essa tecnologia chegou ao mercado na safra 2020/2021 com a promessa de alta produtividade e controle de amplo espectro das lagartas que atacam a cultura.

As cultivares com Widestrike®3 possuem três proteínas da bactéria Bacillus thuringiensis (Bt) em seu código genético. A ação combinada das proteínas Cry1F, Cry1Ac e Vip3A confere às plantas um alto potencial inseticida contra a Spodoptera e a Helicoverpa ao mesmo tempo.

Duas cultivares com essa tecnologia estão disponíveis no mercado:

  • TMG 50WS3: Caracterizada por ser mais precoce, com alto potencial produtivo, tolerância à ramulária e excelente qualidade de fibra.
  • TMG 91WS3: Destaca-se pelo alto teto produtivo, ampla adaptabilidade a diferentes regiões e elevado peso de capulho.

Estas cultivares são indicadas para os estados de Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Goiás, Bahia, Piauí, Maranhão, Minas Gerais e São Paulo.

Atenção: A Tecnologia Exige Manejo Correto

Para que a tecnologia funcione e se mantenha eficaz por várias safras, é fundamental seguir algumas recomendações de manejo:

  1. Manejo Integrado de Pragas (MIP): Adote um conjunto de ações do MIP, como o monitoramento constante da lavoura.
  2. Vazio Sanitário: Respeite o período sem plantas de algodão no campo para quebrar o ciclo das pragas.
  3. Área de Refúgio: Plante uma área de 20% do total com algodão não-Bt. O refúgio é essencial para retardar o aparecimento de insetos resistentes à tecnologia.
  4. Tratamento de Sementes: Utilize tratamento de sementes para proteger as plantas nos estágios iniciais.

Sempre consulte o engenheiro agrônomo ou técnico responsável pelo acompanhamento da sua lavoura para receber orientações detalhadas.

Como Escolher a Melhor Cultivar de Algodão para sua Lavoura

A escolha da melhor cultivar de algodão depende de diversas características do solo e do clima da sua fazenda.

Abaixo, listamos alguns dos fatores mais importantes a serem considerados:

  • Rendimento de fibra: A quantidade de fibra produzida por área.
  • Produtividade de pluma: O volume total colhido.
  • Nível de resistência: Verifique a tolerância a doenças e ao ataque de outras pragas comuns na sua região.
  • Adaptabilidade: A cultivar se desenvolve bem no clima local?
  • Necessidades nutricionais: Qual a exigência de adubação?
  • Necessidades de água: A cultivar é mais ou menos tolerante a períodos de seca?
  • Rusticidade: A capacidade da planta de se desenvolver bem mesmo em condições não ideais.

Uma dica prática é verificar os resultados de ensaios técnicos e campos experimentais na sua região. Veja quais cultivares se saíram bem nesses testes e apresentaram bons resultados. Isso pode ajudar muito na sua decisão.

E não se esqueça: plantar dentro do zoneamento agroclimático recomendado é crucial. Além de garantir as melhores condições para a produção, isso é um requisito para acionar o seguro agrícola em caso de perdas na safra.

planilha de produtividade do algodão Aegro

Conclusão

O avanço da biotecnologia está entregando ferramentas cada vez mais eficientes para ajudar os produtores de algodão a terem sucesso na lavoura.

Como vimos neste artigo, novas cultivares com tecnologia Bt já permitem controlar de forma eficaz pragas difíceis como a Spodoptera frugiperda e a Helicoverpa, protegendo o potencial produtivo da planta.

Discutimos também os fatores que você deve considerar para escolher a melhor cultivar para a sua propriedade e a importância de um manejo correto para preservar a eficácia da tecnologia.

Espero que, com essas informações, você possa aproveitar ao máximo os avanços da ciência, otimizar o manejo no campo e, por fim, maximizar seus lucros no final da safra


Glossário

  • Biotecnologia: Conjunto de técnicas que utiliza organismos vivos para desenvolver ou modificar produtos. Na agricultura, é usada para alterar o material genético de plantas, conferindo características como resistência a pragas e doenças.

  • CTNBio (Comissão Técnica Nacional de Biossegurança): Órgão do governo brasileiro responsável por avaliar a segurança e liberar o uso comercial de Organismos Geneticamente Modificados (OGMs), como o algodão Bt.

  • Cultivar: Uma variedade de planta desenvolvida por melhoramento genético para apresentar características específicas e uniformes. Por exemplo, a ‘TMG 50WS3’ mencionada no texto é uma cultivar de algodão.

  • Manejo Integrado de Pragas (MIP): Estratégia que combina diferentes métodos de controle (biológico, cultural, químico) para manter as pragas abaixo do nível de dano econômico. Envolve monitoramento constante e uso racional de defensivos.

  • OGM (Organismo Geneticamente Modificado): Organismo, como uma planta, cujo material genético foi alterado em laboratório para expressar uma nova característica. O algodão Bt, que produz sua própria proteína inseticida, é um exemplo de OGM.

  • Refúgio (Área de Refúgio): Uma porção da lavoura (geralmente 20% no caso do algodão) plantada com uma cultivar convencional (não-Bt). Essa área ajuda a retardar o surgimento de pragas resistentes à tecnologia Bt, preservando sua eficácia a longo prazo.

  • Tecnologia Bt: Biotecnologia que insere genes da bactéria de solo Bacillus thuringiensis (Bt) em uma planta. Isso faz com que a própria planta produza proteínas tóxicas para certas lagartas, funcionando como um inseticida natural e contínuo.

Como otimizar os custos e o manejo do algodão Bt

Adotar a tecnologia Bt é um passo estratégico, mas para garantir o máximo retorno, é essencial controlar tanto os custos quanto as operações no campo. O investimento em sementes de maior valor precisa ser justificado pela economia com inseticidas, e um software de gestão agrícola como o Aegro ajuda a visualizar essa conta de forma clara, registrando cada despesa e centralizando os resultados da safra. Ao mesmo tempo, o sucesso do Manejo Integrado de Pragas (MIP) depende de um acompanhamento preciso. Com o Aegro, é possível planejar e registrar as atividades de monitoramento, garantindo que as recomendações técnicas, como a manutenção da área de refúgio, sejam seguidas à risca para proteger seu investimento a longo prazo.

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Perguntas Frequentes

O que é a tecnologia Bt no algodão e como ela funciona na prática?

A tecnologia Bt insere genes da bactéria Bacillus thuringiensis no DNA do algodoeiro. Isso faz com que a própria planta produza proteínas que são tóxicas especificamente para certas lagartas, como a Spodoptera e a Helicoverpa. Quando a praga tenta se alimentar da planta, ela ingere essa proteína e morre, garantindo uma proteção inseticida contínua diretamente na lavoura.

O uso de algodão Bt elimina completamente a necessidade de aplicar inseticidas?

Não necessariamente. O algodão Bt é altamente eficaz contra as principais lagartas-alvo, reduzindo drasticamente a necessidade de pulverizações para seu controle. No entanto, ele não age sobre outras pragas como percevejos e pulgões. Por isso, o Manejo Integrado de Pragas (MIP), incluindo o monitoramento constante, continua sendo fundamental.

Por que a área de refúgio é tão importante no cultivo do algodão Bt?

A área de refúgio, plantada com algodão não-Bt, é crucial para retardar o surgimento de lagartas resistentes à tecnologia. Ela permite que insetos suscetíveis (não resistentes) sobrevivam e se reproduzam com os poucos resistentes que possam surgir na área Bt. Esse cruzamento ajuda a manter a população de pragas sensível à tecnologia, preservando sua eficácia por mais safras.

O investimento em sementes de algodão Bt realmente compensa o custo mais alto?

Sim, na maioria dos casos o investimento é vantajoso. Embora as sementes Bt tenham um custo inicial maior, a economia gerada pela redução drástica no número de aplicações de inseticidas, somada à diminuição de gastos com combustível e mão de obra, geralmente supera esse valor. Além disso, a proteção eficaz resulta em menos perdas, o que leva a uma maior produtividade e qualidade da fibra.

Qual a principal diferença entre as novas gerações de algodão Bt e as versões mais antigas?

A principal diferença está na combinação de múltiplas proteínas inseticidas. Gerações mais novas, como a Widestrike®3 mencionada no artigo, expressam diferentes proteínas Bt simultaneamente. Essa estratégia amplia o espectro de controle, atinge as pragas de formas distintas e torna muito mais difícil o desenvolvimento de resistência, oferecendo uma proteção mais robusta e duradoura.

A tecnologia Bt é segura para o meio ambiente e para o consumo?

Sim. As proteínas Bt são altamente específicas e afetam apenas o sistema digestivo de certas ordens de insetos, sendo inofensivas para humanos, mamíferos, aves e a maioria dos outros insetos, incluindo polinizadores. No Brasil, todas as tecnologias OGM passam por avaliações rigorosas de biossegurança pela CTNBio antes de serem aprovadas para cultivo e consumo.

Artigos Relevantes

  • Como fazer um manejo efetivo de pragas do algodão: Este artigo é o complemento mais crucial, pois expande o tema do controle de pragas para além da tecnologia Bt. Enquanto o artigo principal foca em Spodoptera e Helicoverpa, este detalha o Manejo Integrado de Pragas (MIP) e aborda todo o complexo de outras pragas (bicudo, pulgões, mosca-branca), contextualizando a tecnologia Bt como uma ferramenta dentro de uma estratégia muito mais ampla e necessária.
  • Tudo o que você precisa saber sobre tecnologia Bt e área de refúgio: O artigo principal cita a ‘Área de Refúgio’ como uma exigência de manejo fundamental, mas não a aprofunda. Este candidato preenche essa lacuna perfeitamente, oferecendo um guia completo sobre o que é, por que é essencial para o manejo de resistência e como implementá-la corretamente. Ele fornece a base científica e prática para garantir a longevidade da tecnologia Bt discutida no texto principal.
  • Evite a rebrota da planta de algodão com esses 2 tipos de manejos: Este artigo detalha a prática por trás do conceito de ‘Vazio Sanitário’, mencionado no texto principal como um pilar do manejo correto. Ele explica a importância e os métodos para a destruição da soqueira, conectando diretamente essa ação à quebra do ciclo de pragas importantes, como o bicudo. Oferece, assim, o conhecimento prático para executar outra das recomendações essenciais do artigo principal.
  • Entenda a biotecnologia na agricultura e confira as novidades que vêm por aí: Este artigo oferece o contexto macro necessário para um entendimento completo do tema. Enquanto o artigo principal foca em uma aplicação específica (Bt no algodão), este ‘dá um zoom out’, explicando o que é biotecnologia, OGM e o papel de órgãos como a CTNBio. Ele solidifica a base de conhecimento do leitor, mostrando onde a solução do artigo principal se encaixa no universo da inovação agrícola.
  • Inseticidas para soja: Faça eles se pagarem: O artigo principal destaca que a tecnologia Bt reduz custos com inseticidas, mas não elimina seu uso. Este artigo, embora focado na soja, complementa essa ideia ao ensinar os princípios do manejo racional de inseticidas (Nível de Controle, rotação de ativos) que são universais ao MIP. Ele agrega um valor prático e econômico imenso, ensinando como otimizar as aplicações que ainda são necessárias, mesmo com o uso de algodão Bt.