Plantas mais nutritivas e lavouras mais resistentes ao ataque de pragas já são uma realidade no campo. Isso só é possível graças ao avanço da biotecnologia na agricultura.
Essa tecnologia está muito mais próxima do seu dia a dia do que parece e não para de evoluir. O objetivo é criar soluções mais sustentáveis para os problemas da lavoura e para os desafios de alimentar o mundo que estão por vir.
Atualmente, dezenas de produtos com biotecnologia estão em desenvolvimento e devem ser lançados em breve, como a soja tolerante à seca. Quer entender melhor como tudo isso funciona e conhecer as novidades que vêm por aí? Continue a leitura!
O que é biotecnologia, afinal?
De forma simples, o conceito de biotecnologia é a união da biologia com a tecnologia. Trata-se de um conjunto de técnicas que utiliza organismos vivos, ou partes deles, para desenvolver produtos ou melhorar processos.
Embora muitos pensem que a biotecnologia é algo recente, ela está presente em nosso cotidiano há milhares de anos. A biotecnologia surgiu por volta de 1.800 a.C., quando nossos antepassados começaram a usar microrganismos para os processos de fermentação, essenciais para produzir vinhos, pães, queijos e cervejas.
Com o passar dos séculos, essa técnica foi aprimorada e ganhou espaço em diversas áreas, como medicina, farmácia e, claro, a agricultura.
O grande salto aconteceu quando os pesquisadores descobriram que podiam manipular o material genético dos organismos, conhecido como DNA: o “manual de instruções” de todo ser vivo.
Como a teoria vira prática?
A biotecnologia veio para revolucionar diversos setores. Com ela, os pesquisadores podem “editar” o DNA de uma planta ou de um microrganismo. Na prática, isso permite retirar ou acrescentar uma característica importante, como a resistência a uma doença ou a tolerância à falta de água. De modo geral, a técnica moderna foca principalmente no uso estratégico do DNA.
Principais produtos da biotecnologia. (Fonte: Embrapa)
Agora, vamos entender como essa técnica é aplicada e por que ela é tão importante para a agricultura.
A importância da biotecnologia na agricultura
A biotecnologia ganhou um lugar de destaque no agronegócio por um motivo principal: tornar a produção mais eficiente e segura. Estudos nessa área permitem aos cientistas identificar e selecionar genes de interesse, que são partes do DNA responsáveis por características agronômicas desejáveis.
Alguns exemplos práticos dessas características são:
- Tolerância a climas adversos, como seca ou calor excessivo.
- Resistência a doenças e pragas.
- Melhor aproveitamento de nutrientes do solo.
O objetivo final é sempre reduzir perdas na lavoura e alcançar altas produtividades de forma mais sustentável.
Na prática, a biotecnologia, junto com a engenharia genética, já desenvolveu soluções que você provavelmente utiliza em sua fazenda. É o caso das plantas tolerantes a herbicidas, como a famosa soja RR, e das plantas resistentes a insetos, como as que usam a tecnologia Bt.
Essa capacidade de criar novas características nos leva a um dos principais resultados da biotecnologia: os organismos geneticamente modificados (OGMs).
Organismos Geneticamente Modificados (OGMs) – Os Transgênicos
Os organismos geneticamente modificados, mais conhecidos como transgênicos, são os principais frutos da biotecnologia moderna. Eles foram criados para solucionar problemas práticos do dia a dia no campo.
[Transgênico]: significa um organismo que recebeu um ou mais genes de outra espécie para adquirir uma nova característica que não possuía naturalmente.
Os benefícios que eles trazem para a lavoura são muitos:
- Maior produtividade: plantas mais fortes e protegidas produzem mais.
- Maior qualidade dos produtos: grãos e fibras com melhores características.
- Maior rentabilidade: a soma dos benefícios resulta em mais lucro para o produtor.
- Facilidade no manejo: simplifica o controle de plantas daninhas, pragas e doenças.
Essa facilidade de manejo se reflete em menos aplicações de herbicidas, inseticidas e fungicidas, o que ajuda a preservar o meio ambiente, reduz custos e otimiza o tempo de trabalho.
O algodão, por exemplo, é uma cultura que historicamente exige muitas aplicações de produtos químicos. O número de pulverizações pode chegar a 20 aplicações por safra. O uso da tecnologia Bt no algodão facilitou muito o Manejo Integrado de Pragas (MIP), diminuindo a necessidade de aplicar inseticidas.
Estudos realizados na China mostraram que, em alguns casos, essa tecnologia pode reduzir a aplicação de inseticidas em até 67%. Quando bem manejados, os cultivos transgênicos também ajudam a diminuir as perdas de produção no campo.
É importante lembrar que, antes de chegar até você, produtor, todos os produtos transgênicos passam por inúmeros testes rigorosos, tanto no campo quanto em laboratório, para avaliar sua eficiência e segurança.
(Fonte: Tecnologia Cultura)
Biossegurança: A Garantia de que a Tecnologia é Segura
Depois de passar por todos os testes científicos, os produtos transgênicos precisam ser aprovados legalmente. No Brasil, a Lei nº 11.105/05 é a que regulamenta todas as atividades com biotecnologia, incluindo as plantas transgênicas.
Essa lei estabelece que um transgênico deve ser obrigatoriamente testado desde a sua descoberta no laboratório até a sua liberação como um produto comercial.
Todo esse processo leva, em média, 10 anos para ser concluído. O objetivo é garantir que o produto seja seguro para a produção de alimentos, para o consumo humano e animal, e também para o meio ambiente.
Essas etapas criteriosas são supervisionadas pela CTNBio.
[CTNBio]: significa Comissão Técnica Nacional de Biossegurança. É um grupo de pesquisadores e especialistas de todo o país que avalia se um OGM é seguro.
A Comissão analisa cada detalhe do organismo geneticamente modificado, observando suas vantagens, desvantagens e possíveis impactos na saúde humana, animal, no meio ambiente e na agricultura. Somente após a análise e aprovação da CTNBio é que um produto transgênico pode ir para o mercado.
(Fonte: CTNBio)
O Cuidado Necessário: O Risco da Resistência
Apesar de todas as vantagens, essas tecnologias, quando utilizadas sem planejamento, podem se tornar uma dor de cabeça no campo.
Um exemplo clássico é o uso da soja RR, que permite aplicar o herbicida glifosato para controlar as plantas daninhas da soja. Com a popularização dessa tecnologia, muitos produtores passaram a usar apenas o glifosato em seu manejo, sem fazer a rotação de produtos com diferentes mecanismos de ação.
O resultado? A seleção de inúmeras plantas daninhas resistentes ao glifosato, que hoje são um grande desafio em muitas regiões.
Por isso, o uso de qualquer tecnologia deve ser feito de maneira consciente e integrada a boas práticas agrícolas, para não selecionar organismos resistentes e garantir a longevidade da ferramenta.
Próximos avanços da biotecnologia na agricultura
O desenvolvimento não para. Existem muitos outros produtos geneticamente modificados em fase de pesquisa ou já prontos para serem comercializados.
Separamos algumas das novidades que vêm por aí:
Soja tolerante à seca
A CTNBio já aprovou essa tecnologia, conhecida como HB4®. No entanto, o lançamento comercial no Brasil ainda depende da aprovação dos principais países que compram a soja brasileira.
Além da característica de tolerância à seca (HB4®) sozinha, também foi aprovado um evento que combina a tolerância à seca com a tolerância ao herbicida glifosato. O processo de registro dessas novas variedades já está em andamento.
Esse avanço permitirá que os produtores de soja protejam a produtividade mesmo sob condições de estresses climáticos, como veranicos, trazendo maior estabilidade para o cultivo.
Algodão: WideStrike 3
Essa tecnologia, também já aprovada pela CTNBio, foi lançada comercialmente pela empresa TMG.
É uma tecnologia focada na proteção contra insetos-praga. Ela combina três eventos diferentes:
- As proteínas Cry1Ac e Cry1F.
- Uma proteína inseticida vegetativa (Vip3A), todas originadas da bactéria Bacillus thuringiensis (Bt).
Na prática, essa combinação oferece proteção superior durante todo o ciclo da cultura do algodão, defendendo a lavoura contra uma ampla variedade de pragas importantes.
Outras tecnologias em desenvolvimento
A Embrapa também está trabalhando em diversas outras tecnologias inovadoras, como:
- Soja Cultivance: resistente a herbicidas do grupo das imidazolinonas (inibidores de AHAS).
- Plantas sem sementes: um método para produzir frutas sem sementes.
- Plantas inseticidas: desenvolvimento de plantas transgênicas que produzem suas próprias proteínas para se defender de insetos.
- Maior tolerância a estresses: criação de plantas transgênicas mais tolerantes à falta de água (déficit hídrico) e ao excesso de sal no solo (estresse salino).
- Biocontrole de insetos: novos métodos para usar organismos vivos no controle de pragas.
- Soja com óleo especial: método para produzir soja com uma composição de óleo diferenciada na semente, para fins industriais ou de saúde.
Nesta página da Embrapa, você pode acompanhar essas e outras novidades que estão sendo estudadas e podem chegar em breve à sua lavoura!
Conclusão
A biotecnologia é uma peça-chave na agricultura moderna e uma forte aliada para quem busca altas produtividades com mais sustentabilidade.
Neste artigo, mostramos o que é a biotecnologia, desde suas origens até as aplicações avançadas que transformam o dia a dia no campo.
Você também entendeu a importância da biossegurança, que garante o uso seguro dessas ferramentas, e conheceu algumas das novas tecnologias que em breve estarão disponíveis para tornar sua lavoura ainda mais eficiente e rentável.
Glossário
Biossegurança: Conjunto de normas e procedimentos que garantem a segurança de produtos biotecnológicos para a saúde humana, animal e o meio ambiente. É o processo que avalia se uma nova planta transgênica, por exemplo, pode ser liberada para cultivo e consumo sem riscos.
CTNBio (Comissão Técnica Nacional de Biossegurança): Órgão brasileiro formado por especialistas que analisa e aprova a segurança de Organismos Geneticamente Modificados (OGMs). É a CTNBio que autoriza a comercialização de uma nova tecnologia transgênica no país.
DNA (Ácido Desoxirribonucleico): Molécula presente nos seres vivos que carrega suas informações genéticas. A biotecnologia moderna “edita” o DNA para inserir ou modificar características em uma planta, como a resistência a uma praga ou tolerância a herbicidas.
Glifosato: Princípio ativo de um dos herbicidas mais utilizados na agricultura para o controle de plantas daninhas. Culturas como a soja RR são geneticamente modificadas para serem tolerantes à aplicação de glifosato.
MIP (Manejo Integrado de Pragas): Estratégia que utiliza múltiplas táticas de controle (biológico, cultural, químico, etc.) para manter as pragas em níveis que não causem danos econômicos. O uso de plantas com tecnologia Bt é uma ferramenta importante dentro do MIP.
OGM (Organismo Geneticamente Modificado): Um ser vivo que teve seu material genético (DNA) alterado em laboratório, geralmente recebendo um gene de outra espécie. Também conhecido como transgênico, é desenvolvido para obter uma característica desejada, como a resistência a insetos.
Tecnologia Bt: Refere-se a plantas que receberam um gene da bactéria Bacillus thuringiensis (Bt). Esse gene faz com que a planta produza uma proteína tóxica para certas lagartas, funcionando como um inseticida embutido na própria cultura.
Potencialize os ganhos da biotecnologia com uma gestão eficiente
A biotecnologia oferece ferramentas poderosas para facilitar o manejo e proteger a produtividade, mas o sucesso a longo prazo depende de uma gestão bem planejada. Evitar a resistência de pragas e plantas daninhas e garantir que o investimento em sementes tecnológicas se traduza em maior rentabilidade são desafios que exigem controle preciso.
É aqui que um software de gestão agrícola faz a diferença. Ferramentas como o Aegro permitem registrar e planejar todas as atividades no campo, facilitando a rotação de defensivos e a implementação de um Manejo Integrado de Pragas (MIP) eficaz. Ao mesmo tempo, o sistema centraliza o acompanhamento de custos de produção, mostrando de forma clara o retorno sobre o investimento em cada tecnologia e ajudando a otimizar o uso de insumos.
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Perguntas Frequentes
Qual a diferença entre biotecnologia e um produto transgênico (OGM)?
A biotecnologia é um campo amplo de técnicas que usam organismos vivos para criar ou modificar produtos. Um transgênico (ou OGM) é um resultado específico da biotecnologia moderna, onde um gene de outra espécie é inserido em uma planta para lhe conferir uma nova característica. Portanto, todo transgênico é fruto da biotecnologia, mas nem toda aplicação biotecnológica resulta em um transgênico.
Os alimentos derivados de plantas transgênicas são seguros para o consumo?
Sim. Antes de serem liberados no mercado, todos os produtos transgênicos passam por uma rigorosa avaliação de segurança que dura, em média, 10 anos. No Brasil, a Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio) analisa todos os possíveis impactos na saúde humana, animal e no meio ambiente, garantindo que o consumo seja seguro.
Como a tecnologia Bt protege a lavoura contra o ataque de pragas?
A tecnologia Bt insere um gene da bactéria Bacillus thuringiensis no DNA da planta. Esse gene faz com que a planta produza uma proteína específica que é tóxica apenas para certos grupos de insetos, como as lagartas. Quando a praga se alimenta da planta, a proteína danifica seu sistema digestivo, levando-a à morte e protegendo a lavoura de forma contínua e específica.
Por que é tão importante evitar o uso repetido do mesmo defensivo em lavouras transgênicas?
O uso contínuo de um mesmo defensivo, como o glifosato na soja RR, cria uma forte pressão de seleção sobre as plantas daninhas. Isso faz com que indivíduos naturalmente resistentes sobrevivam e se multipliquem, tornando a tecnologia ineficaz ao longo do tempo. A rotação de produtos com diferentes mecanismos de ação é fundamental para quebrar esse ciclo e preservar a eficácia da biotecnologia.
A biotecnologia é uma ferramenta acessível apenas para grandes produtores rurais?
Não, a biotecnologia beneficia produtores de todos os portes. Sementes com tecnologias como tolerância a herbicidas e resistência a insetos estão amplamente disponíveis no mercado. Embora o custo inicial da semente possa ser maior, a economia com defensivos e a proteção da produtividade geralmente resultam em um bom retorno sobre o investimento, tornando-a viável para pequenas e médias propriedades.
Quais os próximos avanços da biotecnologia além da resistência a pragas e herbicidas?
As pesquisas futuras da biotecnologia focam em desafios como as mudanças climáticas e a nutrição. Estão em desenvolvimento plantas mais tolerantes a estresses como seca e salinidade do solo, culturas com maior valor nutricional (como soja com óleo especial) e plantas que aproveitam de forma mais eficiente os nutrientes do solo.
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