A expansão da cultura da soja tem contribuído para o aumento de pragas que antes eram consideradas secundárias. Essa mudança no cenário agrícola exige mais atenção do produtor.
Um exemplo claro é o bicudo-da-soja ou tamanduá-da-soja, um inseto observado na cultura desde a década de 1980. Recentemente, alterações no manejo da lavoura fizeram com que sua população crescesse, tornando-se uma preocupação real para os sojicultores.
Além disso, o controle do bicudo é um grande desafio, principalmente por causa de seus hábitos de se esconder nas plantas e no solo.
Para te ajudar a proteger sua lavoura, preparamos este guia com informações detalhadas. Confira a seguir como identificar e manejar o bicudo-da-soja de forma eficiente.
Características do Bicudo-da-Soja: Como Identificar a Praga
O bicudo-da-soja, também conhecido como tamanduá-da-soja, pertence à ordem Coleoptera e família Curculionidae. A principal característica dessa família é o rostro: significa a estrutura alongada em forma de “bico”, que dá nome popular à praga.
A espécie, chamada Sternechus subsignatus, ataca a soja durante todo o seu ciclo de desenvolvimento.
Adultos
Apesar do alarme que causa, o inseto adulto é pequeno. Ele possui as seguintes características:
- Tamanho: Mede cerca de
8 mm
de comprimento. - Cor: É escuro, com listras amarelas na cabeça e nos élitros (as asas mais duras e protetoras).
- Hábitos: Para se proteger, os adultos costumam se esconder em locais estratégicos, como na parte de baixo das folhas (parte abaxial) e nas hastes. Dependendo da hora do dia, podem procurar abrigo na folhagem densa ou em restos de cultura no solo.
Adulto do bicudo-da-soja
(Fonte: Insetologia)
Larvas
As larvas são a fase que causa danos internos na planta. Sua identificação é feita por:
- Tamanho: Medem aproximadamente
10 mm
de comprimento. - Aparência: São brancas, não possuem pernas e têm a cabeça de cor castanho-escura.
- Localização: Desenvolvem-se dentro da haste principal da planta, na região onde a fêmea faz um anelamento para colocar os ovos.
- Hibernação: Ao final de seu desenvolvimento (últimos ínstares), as larvas descem para o solo. Lá, entram em um período de hibernação: significa que ficam inativas para sobreviver à entressafra. Esse comportamento complica o manejo, pois elas se enterram a uma profundidade de
5 cm a 10 cm
.
Larva de bicudo-da-soja dentro da haste da planta
(Fonte: Embrapa)
Sintomas e Danos na Lavoura de Soja
Atualmente, o bicudo-da-soja já causa prejuízos em diversos estados, com destaque para Santa Catarina, Paraná e Rio Grande do Sul. Tanto os adultos quanto as larvas danificam a cultura, mas o período mais crítico do ataque é na fase inicial de desenvolvimento das plantas.
Danos Causados pelos Adultos
Os adultos se alimentam “raspando” a camada externa (epiderme) das hastes. Isso deixa o tecido vegetal com um aspecto desfiado. Em plantas jovens, cujo caule ainda não está rígido (estrutura pouco lignificada), um ataque severo pode levar à perda total da lavoura se a população da praga for alta.
Danos de “raspagem” causados por adultos do bicudo-da-soja na haste
(Fonte: Embrapa)
Danos Causados pelas Larvas
A fêmea realiza a postura dos ovos (oviposição) em um anel que ela mesma faz ao redor da haste. Quando as larvas nascem, elas se alimentam do tecido interno da planta, no local do anelamento. Esse ataque causa a formação de galhas caulinares: são inchaços ou calos que se formam no caule, um sintoma muito característico do bicudo.
Essas galhas crescem à medida que as larvas se desenvolvem, muitas vezes ultrapassando o diâmetro da própria haste.
Galha caulinar (inchaço) na haste da soja, resultado do ataque da larva do bicudo
(Fonte: Embrapa)
Por serem canibais, é raro encontrar mais de uma larva por galha. Isso faz com que os danos fiquem espalhados pela planta, com cada galha servindo de abrigo e fonte de alimento para um único inseto até que ele esteja pronto para hibernar no solo.
Os ataques costumam ocorrer em reboleiras: significa que se concentram em manchas na lavoura, e são mais intensos em áreas de plantio direto, sistema que oferece condições ideais para a sobrevivência do inseto na palhada.
Como Fazer o Manejo do Bicudo-da-Soja
Como vimos, o manejo do bicudo-da-soja não é simples, devido aos hábitos da praga nas fases jovem e adulta. A melhor abordagem é adotar o Manejo Integrado de Pragas (MIP), combinando diferentes táticas para reduzir a população do inseto de forma sustentável.
É fundamental conhecer o histórico de infestação da área e iniciar o monitoramento antes mesmo do plantio.
1. Monitoramento Estratégico
O comportamento do bicudo é previsível, mas exige observação atenta para evitar surtos populacionais, especialmente na fase mais crítica da soja (início do ciclo).
- Amostragem na Entressafra: Faça amostragens para verificar a presença de insetos hibernando nas linhas da safra anterior.
- Frequência: O ideal é realizar 4 amostragens a cada 10 hectares.
- Nível de Controle: A decisão de aplicar inseticidas deve ser tomada quando atingir o nível de
0,4 adultos por metro
de fileira de soja. Este nível é válido para plantas que estão entre os estágios de duas (V2) e cinco (V5) folhas trifolioladas.
2. Planejamento da Época de Semeadura
Pesquisas da Embrapa Soja indicam que, após o período de pupa no solo, os adultos começam a emergir no início de novembro. Consequentemente, a população aumenta de forma significativa na segunda quinzena de dezembro.
Por isso, o planejamento da semeadura é crucial:
- Utilize um bom tratamento de sementes com inseticidas.
- Calcule a época de plantio para que o período residual do tratamento de sementes ainda esteja ativo durante o pico populacional do bicudo em dezembro, protegendo as plantas jovens.
3. Métodos de Controle Integrado
Rotação de Culturas
O bicudo-da-soja não ataca todas as culturas. Portanto, a rotação de culturas com plantas não-hospedeiras é uma excelente tática para quebrar o ciclo da praga. Boas opções incluem:
- Milho
- Crotalária
- Sorgo
- Girassol
- Algodão
Cultura-Armadilha
Para aumentar a eficiência da rotação, você pode usar uma cultura-armadilha: significa plantar uma cultura atrativa para a praga nas bordaduras, para concentrar os insetos em uma área específica e facilitar o controle.
Semeie essas culturas-armadilha em uma faixa de 20 a 30 metros
na bordadura da área de soja. Quando os bicudos se concentrarem ali, você pode aplicar inseticidas de forma localizada, economizando produto e protegendo o restante da lavoura.
Controle Químico
O controle químico deve ser usado de forma criteriosa. A aplicação foliar de inseticidas é recomendada quando o monitoramento indicar a média de 0,4 adultos por metro de fileira.
O controle químico com inseticidas de contato (que precisam atingir o inseto diretamente) é difícil, pois a praga se esconde bem. Por isso, os ingredientes ativos mais eficientes pertencem a grupos químicos que oferecem outros modos de ação, como:
- Organofosforados
- Neonicotinoides
- Pirazóis
Existem 56 produtos registrados no Agrofit, o sistema do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), para o controle químico do bicudo-da-soja.
Manejo de Pragas com Apoio da Tecnologia
Para colocar em prática as estratégias de controle de forma mais organizada e eficiente, a tecnologia é uma grande aliada.
Um aplicativo de gestão agrícola como o Aegro permite que o monitoramento da lavoura seja planejado e registrado diretamente no celular, funcionando até mesmo sem conexão com a internet. Com isso, todo o histórico de pragas de cada talhão fica armazenado de forma segura e fácil de consultar.
Após registrar as amostragens, o Aegro gera um mapa de calor que mostra visualmente a gravidade da infestação em cada ponto analisado. Isso te dá uma visão clara sobre a incidência do bicudo, permitindo aplicar os métodos de controle apenas onde é realmente necessário.
Na prática, o uso dessa tecnologia resulta em menores custos com defensivos agrícolas e um manejo de pragas mais eficaz na sua plantação. Conheça agora a solução Aegro para MIP!
Conclusão
Insetos que antes eram considerados pragas secundárias estão se tornando problemas cada vez mais sérios para o produtor de soja. O bicudo-da-soja é um exemplo claro, e sua presença tem se tornado recorrente em muitas lavouras brasileiras nos últimos anos.
Os hábitos do inseto, como se esconder e hibernar no solo, facilitam sua permanência na área e dificultam o manejo.
No entanto, com a aplicação correta das táticas de Manejo Integrado de Pragas (MIP), é possível proteger a lavoura. Práticas como o monitoramento preciso, a rotação de culturas e o uso criterioso do controle químico são fundamentais.
Espero que, com estas informações, você consiga implementar um controle eficiente do bicudo-da-soja em suas propriedades e garantir a produtividade da sua safra.
Glossário
Cultura-armadilha: Tática de manejo que consiste em plantar uma cultura atrativa para a praga, geralmente nas bordas da lavoura principal. O objetivo é concentrar os insetos em uma área menor para facilitar o controle localizado.
Galhas caulinares: Inchaços ou calosidades que se formam na haste da planta de soja. São um sintoma característico do ataque das larvas do bicudo, que se desenvolvem dentro desses tecidos.
Hibernação: Estado de inatividade ou dormência que permite a uma praga, como a larva do bicudo, sobreviver a períodos desfavoráveis, como a entressafra. A larva se enterra no solo e aguarda as condições ideais para se desenvolver.
Ínstares: Fases de desenvolvimento de um inseto entre uma muda (troca de pele) e outra. Os “últimos ínstares” referem-se aos estágios finais de desenvolvimento da larva antes de se tornar pupa.
MIP (Manejo Integrado de Pragas): Estratégia que combina diferentes métodos de controle (biológico, cultural, químico) de forma sustentável. O objetivo é manter a população de pragas abaixo do nível de dano econômico, em vez de simplesmente eliminá-la.
Parte abaxial: Termo técnico para a face inferior ou “costas” da folha. É um local comum onde pragas como o bicudo-da-soja se escondem para se proteger.
Período residual: Tempo que um produto químico, como um inseticida aplicado no tratamento de sementes, permanece ativo e eficaz na planta ou no solo. É crucial para planejar a época de semeadura e proteger a lavoura durante o pico da praga.
Reboleiras: Padrão de ataque de pragas ou doenças que ocorre em manchas ou áreas concentradas na lavoura, em vez de se espalhar uniformemente.
Rostro: Estrutura alongada em forma de bico presente na cabeça de insetos da família Curculionidae, como o bicudo-da-soja. O inseto utiliza o rostro para se alimentar dos tecidos vegetais.
Veja como o Aegro pode ajudar a superar esses desafios
Gerenciar o bicudo-da-soja exige um monitoramento detalhado e ações coordenadas, o que pode ser um desafio quando as informações ficam espalhadas em cadernos ou planilhas. Um software de gestão agrícola como o Aegro resolve isso ao permitir o registro de pragas diretamente no campo, pelo celular. Esses dados geram mapas de infestação que mostram visualmente os pontos críticos da lavoura, facilitando a tomada de decisão para um controle mais localizado e eficiente.
Além de otimizar o manejo agronômico, essa precisão se reflete diretamente nos custos de produção. Ao aplicar defensivos apenas onde é necessário, você economiza insumos e protege a margem de lucro da safra. O Aegro conecta essas operações de campo ao financeiro, permitindo um acompanhamento claro dos gastos e do resultado de cada talhão.
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Perguntas Frequentes
Qual é a principal diferença entre os danos causados pelo bicudo-da-soja adulto e pela larva?
O adulto causa danos externos, “raspando” a haste da planta, o que pode ser fatal para plantas jovens. Já a larva provoca danos internos, se alimentando dentro da haste e causando a formação de inchaços característicos conhecidos como galhas caulinares, que comprometem o fluxo de nutrientes da planta.
Por que o plantio direto pode agravar a infestação do bicudo-da-soja?
O sistema de plantio direto, embora benéfico para o solo, mantém a palhada na superfície. Essa cobertura serve de abrigo ideal para as larvas do bicudo durante seu período de hibernação no solo, protegendo-as de predadores e condições climáticas adversas e facilitando sua sobrevivência para a safra seguinte.
Qual é o momento mais crítico para o ataque do bicudo-da-soja na lavoura?
O período mais crítico é a fase inicial de desenvolvimento da soja, especialmente entre os estágios V2 e V5. Nessa fase, as plantas são mais frágeis e o ataque dos adultos na haste pode levar à morte das plântulas, causando perdas significativas no estande da lavoura.
Como a rotação de culturas ajuda a controlar o bicudo-da-soja de forma eficaz?
A rotação de culturas é uma das táticas mais eficientes porque quebra o ciclo de vida da praga. Ao introduzir culturas não hospedeiras, como milho, sorgo ou girassol, elimina-se a fonte de alimento do bicudo, forçando a redução de sua população na área e diminuindo a pressão de infestação para a próxima safra de soja.
Quando exatamente devo realizar o controle químico do bicudo-da-soja?
O controle químico deve ser feito com base em monitoramento criterioso. A aplicação de inseticidas foliares é recomendada apenas quando for atingido o nível de controle de 0,4 adultos por metro de fileira de soja. Realizar a aplicação antes ou depois desse nível pode ser ineficaz ou gerar custos desnecessários.
O tratamento de sementes com inseticida é uma medida importante contra o bicudo?
Sim, é uma medida preventiva fundamental. O tratamento de sementes com inseticidas protege as plântulas durante o período inicial de desenvolvimento, que é o mais vulnerável. O período residual do produto ajuda a controlar os primeiros adultos que emergem do solo, dando à lavoura tempo para se estabelecer com mais vigor.
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