Você já ouviu falar em Barter? Se você está planejando a próxima safra, essa é uma palavra que precisa estar no seu vocabulário. Trata-se de uma negociação cada vez mais comum no agronegócio, especialmente na cultura da soja.
De forma simples, o Barter permite que você adquira e pague por insumos – como sementes, fertilizantes e defensivos – usando sua produção futura como moeda de troca. É uma estratégia financeira inteligente que pode garantir um preço mínimo de venda para a sua soja, trazendo mais segurança e poder de negociação para a sua fazenda.
Neste artigo, vamos detalhar como funciona o Barter de soja, apresentar dicas importantes, mostrar exemplos práticos e explicar por que essa modalidade está crescendo tanto no Brasil.
Afinal, o que é Barter?
O conceito de Barter é direto: é uma operação comercial baseada na troca. No agronegócio, isso significa que você, produtor rural, troca parte da sua produção futura por insumos essenciais para a lavoura.
Em outras palavras, ao invés de usar dinheiro para comprar adubos, herbicidas ou sementes, você utiliza sacas de soja, milho ou outros grãos como forma de pagamento. A grande vantagem é que você garante os insumos para o plantio sem precisar desembolsar dinheiro vivo antecipadamente.
O termo “Barter” vem do inglês e significa permuta ou troca. No Brasil, essa prática já foi conhecida como “soja verde”, e reflete bem essa ideia de negociar a safra que ainda está no campo.
Essa negociação geralmente envolve uma empresa fornecedora de insumos e uma trading.
- Trading: é uma empresa especializada em negociar commodities, ou seja, matérias-primas como soja e milho. O objetivo da trading é lucrar com a compra e venda desses produtos em larga escala, seja no mercado interno ou para exportação.
(Fonte: Roberto A. S. Lima baseado em Azimute Agronegócios)
Quando o Barter é utilizado?
O Barter é uma ferramenta usada por muitas cooperativas e grandes empresas do setor. Elas realizam a troca de insumos (sementes, adubos, defensivos) por produtos agrícolas como soja, milho, algodão, café e até boi gordo.
Grandes companhias como FMC, Bayer, Adama, Bunge, Cargill e Monsanto oferecem essa modalidade aos produtores. Além delas, inúmeras cooperativas regionais também trabalham com operações de Barter.
Na maioria dos casos, os contratos de Barter são formalizados através da Cédula de Produto Rural (CPR).
- Cédula de Produto Rural (CPR): é um título que representa a promessa de entrega futura de um produto agropecuário. Funciona como um documento oficial que garante à empresa que ela receberá a quantidade de sacas acordada na data combinada.
Atenção ao contrato: a formulação correta da CPR e do contrato de Barter é fundamental. Segundo o advogado Tobias Marini de Salles Luz, existem muitos casos em que contratos mal elaborados geraram problemas. Empresas tiveram dificuldades para cobrar o que era devido, e produtores acabaram pagando mais do que o combinado.
Por isso, o cuidado deve ser redobrado por ambas as partes. É sempre uma boa prática buscar o auxílio de um profissional especializado para revisar os documentos antes de assinar.
Barter de Soja: Um Mercado em Ascensão
Com o crédito rural cada vez mais competitivo e burocrático, o Barter de soja surge como uma solução prática para custear o plantio e adquirir tecnologia.
A operação de Barter normalmente envolve três partes:
- O Produtor Rural: que entrega a produção futura.
- O Fornecedor de Insumos: uma cooperativa ou companhia que fornece sementes, defensivos, etc.
- A Trading: que recebe o grão e garante a liquidez da operação.
Essa modalidade se tornou tão robusta que já existem casos de financiamento de máquinas agrícolas de alto valor, como colheitadeiras de até R$ 1 milhão, via Barter. A New Holland, por exemplo, foi pioneira nesse sistema no Brasil em 2015. Com o apoio da Cargill, que tem interesse em receber a soja para processamento e exportação, a empresa fechou diversos negócios dessa forma.
No caso das colheitadeiras, Jefferson Kohler, então gerente de marketing da New Holland, explicou que os produtores costumavam usar suas futuras sacas de soja para pagar a entrada, cerca de 10% do valor total da máquina. O restante era financiado por linhas como o Finame Agrícola (BNDES). No entanto, houve negócios em que o Barter representou até 40% do valor do equipamento.
Para participar do Barter de soja, o produtor rural precisa atender a alguns requisitos de garantia:
- Negócios até US$ 250 mil: Geralmente é exigido um avalista e a emissão da CPR correspondente ao volume de soja negociado.
- Negócios acima de US$ 250 mil: É comum a exigência de uma hipoteca da terra como garantia adicional.
Em um cenário de safras recordes, os preços das commodities podem sofrer pressão para baixo devido à grande oferta no mercado. Com o Barter, o produtor trava o preço de venda de parte da sua produção no momento da assinatura do contrato. Isso protege contra a volatilidade do mercado e garante uma margem de lucro previsível, explicando o forte crescimento deste tipo de operação.
Barter de Soja: O Caso Bayer
Eduardo Roncaglia, diretor de Operações Estruturadas da Bayer, destaca que, em anos de grandes safras, a tomada de decisão se torna um desafio para o produtor. Um bom planejamento, no entanto, pode gerar excelentes resultados.
Ele recorda que produtores que travaram seus preços na safra 2017 obtiveram um resultado financeiro cerca de 30% melhor, pois as cotações caíram drasticamente em relação a 2016.
No modelo da Bayer, o produtor não entrega o produto físico diretamente para a empresa de defensivos. Quem recebe os grãos são as tradings parceiras. A Bayer oferece toda a estrutura para ajudar o produtor a travar seu preço, incluindo uma mesa de negócios que opera na bolsa de Chicago.
Para o caso específico da Bayer, existem 3 modalidades principais de Barter:
- Barter com Cessão de Direitos: Aproveita um contrato que o produtor já tem fixado com uma trading. O produtor simplesmente autoriza (cede o direito) que o pagamento seja repassado à Bayer.
- Barter Financeiro: A Bayer utiliza o mercado de opções de compra e venda para ajudar o produtor a se proteger da volatilidade dos preços, sem a necessidade de entrega física do grão.
- Barter Físico: A modalidade mais tradicional, onde ocorre a negociação para a entrega física do produto negociado com o agricultor.
O Barter é uma modalidade de negócio mais segura porque trava os preços das mercadorias e formaliza tudo em contrato. Os encargos financeiros também costumam ser menores que os de financiamentos bancários, o que ajuda a impulsionar as vendas das empresas de insumos e beneficia o produtor.
Em resumo, o Barter cria um ambiente de baixo risco para todos os envolvidos, viabilizando a redução da necessidade de financiamentos bancários para custeio da safra.
Tipos de Barter de Soja
Existem diferentes formas de estruturar uma operação de Barter. Vamos detalhar as mais comuns no mercado brasileiro, conforme as classificações apresentadas no vídeo da Marina Piccini.
1. Compra de Contrato (Cessão de Crédito)
Esta modalidade ocorre quando o produtor já possui um contrato de venda futura fechado com uma trading. A empresa que está vendendo os insumos solicita que o produtor faça uma cessão de crédito.
Funciona assim:
- O produtor entrega as sacas de soja para a trading, conforme o contrato já existente.
- A trading, em vez de pagar ao produtor, paga diretamente ao fornecedor de insumos o valor referente à negociação.
- Normalmente, o fornecedor já tem em mãos a CPR com penhor do volume que foi negociado, garantindo a operação.
Basicamente, é como uma venda a prazo normal, mas o pagamento é garantido por um contrato de venda de grãos já existente.
2. Campanha da Indústria/Cooperativa com a Trading
Este é um modelo muito comum, que ocorre quando uma indústria de insumos ou cooperativa se une a uma trading para lançar uma campanha de vendas.
Nesse formato, a indústria pode criar um pacote promocional de produtos com preços diferenciados. A trading, por sua vez, oferece uma cotação de preço atrativa para a safra futura do produtor. Essa parceria tem um grande potencial para alavancar as vendas e é uma das modalidades de Barter mais utilizadas no mercado.
(Fonte: Advertising Week)
3. Indústria ou Cooperativa Assume o Risco do Preço
Neste caso, a indústria de insumos ou a cooperativa atua sozinha, sem a parceria direta de uma trading na negociação inicial. Ela assume o risco do mercado.
A empresa monta seus próprios pacotes de insumos e define um valor fixo em sacas de soja para a troca. Para que isso funcione, a indústria ou cooperativa precisa ter uma estrutura robusta, com profissionais que entendam de mercado futuro para calcular os valores corretamente e minimizar os riscos de prejuízo.
Além disso, é fundamental que o contrato social da empresa permita a comercialização de commodities. A área contábil também precisa estar preparada para registrar a entrada desse ativo (as sacas de soja a receber) e fazer a marcação a mercado para garantir uma boa venda do produto no momento certo.
Conclusão
A operação de Barter de soja está cada vez mais presente no dia a dia do agronegócio, e por um bom motivo. A possibilidade de trocar a produção futura por insumos é uma alternativa viável e, muitas vezes, mais vantajosa do que buscar créditos bancários com suas taxas de juros.
É claro que, na maioria das vezes, a compra de insumos agrícolas à vista continua sendo a opção com o menor custo final.
Porém, quando você não tem o capital disponível, o Barter se torna uma ferramenta estratégica poderosa. Ele permite travar custos, garantir o fornecimento de tecnologia e mitigar os riscos de variação de preços da sua soja.
O segredo é analisar sua situação financeira, comparar as condições do Barter com as de um financiamento bancário e escolher o caminho que oferece mais segurança e rentabilidade para o seu negócio. Aproveite esse conhecimento e avalie suas opções para a próxima safra
Glossário
Barter: Modalidade de negociação onde o produtor rural paga por insumos (sementes, fertilizantes, defensivos) com parte de sua produção futura. Em vez de dinheiro, a moeda de troca é o próprio produto agrícola, como sacas de soja.
Cédula de Produto Rural (CPR): Título legal que formaliza a promessa de entrega futura de um produto agropecuário. Funciona como uma garantia para a empresa credora de que receberá a quantidade de grãos acordada no contrato.
Cessão de Crédito: Um tipo de operação Barter na qual o produtor, que já possui um contrato de venda futura com uma trading, autoriza que o pagamento seja feito diretamente ao seu fornecedor de insumos.
Commodities: Matérias-primas ou produtos agrícolas básicos produzidos em larga escala e comercializados globalmente, como soja, milho, algodão e café. Seus preços são definidos pelo mercado internacional.
Marcação a mercado: Prática contábil de atualizar o valor de um ativo (como um contrato de soja a receber) para o seu preço de mercado atual. É usada por empresas que assumem o risco do preço para gerenciar sua posição financeira.
Mesa de negócios: Setor especializado, geralmente em tradings ou grandes empresas, responsável por operar no mercado financeiro e de commodities. Acompanha cotações e executa operações para travar preços e gerenciar riscos.
Trading: Empresa especializada na compra e venda de commodities em grande volume, atuando como intermediária entre produtores e o mercado global. No Barter, ela frequentemente recebe o grão do produtor e garante a liquidez da operação.
Travar o preço: Ação de fixar o valor de venda da safra futura no momento da assinatura do contrato de Barter. Essa prática protege o produtor contra a volatilidade e possíveis quedas de preço no mercado.
Como a tecnologia ajuda a gerenciar o Barter com segurança?
Gerenciar operações de Barter, que envolvem contratos complexos e a promessa de entrega futura, exige um controle rigoroso para evitar prejuízos. O produtor precisa acompanhar de perto o que foi negociado, a quantidade de insumos recebida e o volume de sacas que precisa entregar, garantindo que os termos do contrato sejam cumpridos.
A falta desse controle pode levar a erros que comprometem a rentabilidade da safra. Um software de gestão agrícola como o Aegro resolve esse desafio centralizando todas as informações em um só lugar.
Nele, é possível registrar seus contratos de Barter, vincular a entrega da produção e comparar o custo real da operação com outras modalidades de financiamento. Isso oferece uma visão clara sobre o comprometimento da safra e ajuda a tomar decisões mais estratégicas, garantindo que a troca seja realmente vantajosa para o seu negócio.
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Perguntas Frequentes
O que é Barter de soja e como funciona na prática?
O Barter de soja é uma operação comercial onde o produtor rural adquire insumos, como sementes e defensivos, e paga por eles com uma quantidade pré-definida de sua produção futura. Na prática, você garante o necessário para o plantio sem desembolsar dinheiro imediatamente, usando suas futuras sacas de soja como moeda de troca.
Qual a principal vantagem de ’travar o preço’ da soja em uma negociação de Barter?
A principal vantagem é a proteção contra a volatilidade do mercado. Ao travar o preço de venda de parte da sua safra no momento do contrato, você garante uma margem de lucro previsível para aquela porção, mesmo que as cotações da soja caiam até o período da colheita. Isso traz muito mais segurança financeira para a operação.
Fazer Barter é sempre mais vantajoso do que comprar insumos à vista ou com financiamento?
Não necessariamente. A compra de insumos à vista geralmente representa o menor custo final. No entanto, o Barter se torna uma ferramenta estratégica poderosa quando não há capital disponível, sendo uma alternativa com encargos financeiros muitas vezes menores que os de financiamentos bancários e que, adicionalmente, mitiga os riscos de variação de preços da commodity.
Quais são os maiores riscos em um contrato de Barter e como o produtor rural pode se proteger?
O maior risco reside em contratos mal elaborados, que podem gerar cobranças indevidas ou dificuldades na entrega do produto. Para se proteger, é fundamental que o produtor rural busque o auxílio de um profissional especializado, como um advogado agrário, para revisar detalhadamente o contrato e a Cédula de Produto Rural (CPR) antes de assinar.
Pequenos e médios produtores também podem realizar operações de Barter?
Sim, o Barter é uma modalidade acessível a produtores de diferentes portes. As garantias exigidas, como a necessidade de um avalista para valores menores ou uma hipoteca para negociações maiores, são geralmente escalonáveis. Isso permite que produtores com operações menores também possam usar o Barter para custear a safra e adquirir tecnologia.
Qual é a função da Cédula de Produto Rural (CPR) em uma operação de Barter?
A Cédula de Produto Rural (CPR) é o documento legal que formaliza a negociação. Ela funciona como um título que representa a promessa de entrega futura da soja, garantindo ao fornecedor de insumos ou à trading que receberá a quantidade de sacas acordada na data combinada, trazendo segurança jurídica para a operação.
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