*Azospirillum* no Milho: O Guia Completo Sobre Esta Bactéria Benéfica

Engenheira agrônoma, mestre e doutora na linha de pesquisa de plantas daninhas. Atualmente professora da UEL (Universidade Estadual de Londrina).
*Azospirillum* no Milho: O Guia Completo Sobre Esta Bactéria Benéfica

Com certeza você já ouviu falar sobre fixação biológica de nitrogênio (FBN), um processo natural que converte o nitrogênio do ar em alimento para as plantas. Provavelmente, a primeira imagem que vem à sua mente é a parceria de sucesso entre a soja e a bactéria Rhizobium.

Mas essa tecnologia não é exclusiva da soja. Você sabia que a cultura do milho também pode se beneficiar de uma associação poderosa com bactérias?

Neste artigo, vamos explorar a fundo a bactéria do gênero Azospirillum, explicando seus benefícios para o milho e como você pode utilizá-la corretamente na sua lavoura para otimizar a adubação e aumentar a produtividade.

Qual o papel da Azospirillum brasilense na cultura do milho?

A bactéria Azospirillum faz parte de um grupo especial chamado bactérias promotoras de crescimento de plantas (BPCP).

As BPCPs são microrganismos que vivem em harmonia com as plantas, colonizando a superfície das raízes (rizosfera), as folhas (filosfera) e até mesmo os tecidos internos. Essa parceria traz grandes vantagens para a lavoura.

Concretamente, as BPCPs estimulam o crescimento das plantas através de várias ações:

  • Fixação biológica de nitrogênio: Capturam o nitrogênio (N) do ar e o transformam em uma forma que a planta pode absorver.
  • Aumento na atividade da redutase do nitrato: Ajudam a planta a processar melhor o nitrogênio já presente no solo.
  • Produção de hormônios: Produzem substâncias que estimulam o desenvolvimento das raízes e da planta como um todo.
  • Solubilização de fosfato: Tornam o fósforo (P) do solo mais disponível para a planta.
  • Controle biológico: Atuam como um escudo, protegendo a planta contra doenças causadas por outros microrganismos.

montagem comparativa que demonstra os efeitos da inoculação em plantas de milho. Dividida em dois painéis, a i Efeito da inoculação de milho com as estirpes Ab-V5 e Ab-V6 de Azospirillum brasilense no crescimento radicular, coloração verde e altura das plantas em ensaios conduzidos a campo (Fonte: Hungria et al. (2011))

Como Funciona a Fixação de Nitrogênio?

O nitrogênio no ar (N₂) tem uma ligação tripla muito forte, que as plantas não conseguem quebrar sozinhas. A bactéria Azospirillum possui uma enzima especial chamada dinitrogenase, que funciona como uma ferramenta capaz de quebrar essa ligação.

Ao fazer isso, ela transforma o nitrogênio em amônia, uma forma que a planta de milho consegue finalmente utilizar para seu crescimento.

É importante entender que o Azospirillum é uma bactéria associativa. Isso significa que ela libera apenas uma parte do nitrogênio que fixa diretamente para a planta. Portanto, a inoculação com Azospirillum suprirá parcialmente as necessidades de nitrogênio do milho, complementando a adubação, mas não a substituindo por completo.

uma plantação de milho densa e saudável sob um céu azul claro e ensolarado. As plantas de milho estão em um es Aspecto da parcela com milho inoculado com Azospirillum e recebendo apenas 24 kg N/ha na semeadura, em ensaio conduzido na safra 2009/10 na Embrapa Soja, Londrina, PR. (Fonte: Hungria et al. (2011))

O objetivo de usar inoculantes com Azospirillum no milho é reduzir a necessidade de adubação nitrogenada de cobertura e, ao mesmo tempo, melhorar a produtividade de grãos. O sucesso dessa estratégia depende de fatores como o híbrido utilizado, as condições de clima e solo (edafoclimáticas) e um manejo correto da lavoura.

Quais os benefícios práticos da bactéria no milho?

A parceria entre o Azospirillum e as raízes do milho gera uma série de vantagens diretas para a sua lavoura. O principal motor desses benefícios é o maior desenvolvimento do sistema radicular, que permite à planta absorver mais água e nutrientes do solo.

Isso acontece porque a bactéria produz hormônios vegetais que estimulam o crescimento das raízes. Com maior volume, comprimento e superfície radicular, a planta consegue explorar o solo de forma muito mais eficiente.

Os principais benefícios observados são:

Para o Crescimento e Produtividade:

  • Aumento da produtividade: Mais grãos por hectare.
  • Estímulo ao crescimento geral da planta: Plantas mais altas e vigorosas.
  • Maior massa seca: Mais biomassa produzida.
  • Acúmulo de nutrientes: A planta absorve e armazena mais nutrientes essenciais.
  • Síntese de hormônios: Produção de ácido indol-acético (AIA), giberelinas e citocininas, que regulam o crescimento.
  • Melhor fornecimento de nitrogênio para a cultura do milho.

Para a Saúde e Resistência da Planta:

  • Maior tolerância a estresses: Ajuda a planta a suportar melhor períodos de seca e solos com alta salinidade.
  • Maior resistência a doenças: Aumenta a tolerância a certos patógenos que atacam as plantas.

Além disso, estudos científicos também relatam melhorias nos processos de fotossíntese da planta, como:

  • Maior teor de clorofila: Resultando em folhas com uma coloração verde mais intensa.
  • Melhora no potencial hídrico: A planta gerencia melhor a água disponível.
  • Incremento em pigmentos fotossintéticos: Otimização da captura de luz solar (clorofila a, b, betacaroteno, etc.).
  • Maior condutância estomática: Trocas gasosas mais eficientes.

Fatores que afetam a atividade do Azospirillum no solo

Para que a bactéria trabalhe a seu favor, o ambiente do solo precisa estar adequado. Alguns fatores podem limitar ou impulsionar a atividade do Azospirillum:

  • pH: Solos muito ácidos prejudicam a sobrevivência e a eficiência da bactéria.
  • Umidade: A falta ou o excesso de água pode ser prejudicial.
  • Temperatura: Temperaturas extremas no solo afetam sua atividade.
  • Disponibilidade de carbono: A matéria orgânica serve de alimento para os microrganismos.

Isso mostra que um bom manejo da fertilidade do solo é essencial. Para criar as condições ideais, adote as seguintes práticas:

  1. Correção da acidez: Faça a calagem para elevar o pH e neutralizar o alumínio tóxico.
  2. Rotação de culturas: A rotação de culturas diversifica os microrganismos do solo e melhora sua estrutura.
  3. Sistema de plantio direto: O plantio direto é fundamental. A palhada na superfície aumenta a retenção de umidade, protege o solo de temperaturas extremas e eleva o teor de carbono orgânico.

Azospirillum no milho: Como fica a produtividade na prática?

Vamos analisar alguns dados de pesquisa que comprovam os resultados do uso de Azospirillum brasilense na produtividade do milho.

A tabela abaixo compara o rendimento em kg/ha de milho com diferentes tratamentos, incluindo a inoculação com estirpes de Azospirillum.

uma tabela de dados científicos proveniente de um experimento agrícola. A tabela compara diferentes ‘Tratament (Fonte: Hungria et al. (2011))

O gráfico a seguir mostra como a inoculação impactou os teores de nitrogênio nas folhas e nos grãos.

dois gráficos de barras que apresentam os resultados de um estudo sobre a nutrição da cultura do milho. A Figu (Fonte: Hungria et al. (2011))

No estudo acima, os pesquisadores demonstraram que a inoculação combinada com uma aplicação de 24 kg/ha de nitrogênio na semeadura resultou em um rendimento de 3.400 kg/ha.

No entanto, quando foi adicionada uma cobertura de 30 kg/ha de N no florescimento, o rendimento do milho inoculado saltou para 7.000 kg/ha, mostrando o poder da combinação entre a bactéria e a adubação estratégica.

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Cuidados ao comprar o inoculante com Azospirillum

A qualidade do inoculante é decisiva para o sucesso da operação. Ao comprar o produto, fique atento aos seguintes pontos:

  • Registro no MAPA: Verifique se o produto possui o número de registro do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento.
  • Prazo de validade: Nunca utilize um inoculante vencido, pois as bactérias podem não estar mais viáveis.
  • Condições de armazenamento: Certifique-se de que o produto foi conservado em condições adequadas de umidade e temperatura (máximo de 30℃) na revenda.
  • Conservação na fazenda: Armazene o inoculante em local arejado e protegido do sol direto até o momento do uso.
  • Concentração de bactérias: A legislação exige que inoculantes à base de Azospirillum tenham uma concentração mínima de 10⁸ células por grama ou mL.

Como fazer a inoculação das sementes com Azospirillum?

A aplicação do inoculante exige atenção aos detalhes para garantir que as bactérias cheguem vivas e em contato com as sementes.

Cuidados Essenciais na Inoculação:

  • Distribuição uniforme: Garanta que o inoculante líquido cubra todas as sementes de maneira homogênea.
  • Temperatura da máquina: Monitore a temperatura no depósito de sementes da semeadora. Se passar de 35℃, pare a operação para resfriar a caixa.
  • Proteção contra o sol: Não deixe as sementes inoculadas expostas diretamente ao sol, pois a radiação UV pode matar as bactérias.
  • Evite a caixa semeadora: Fazer a inoculação diretamente na caixa da máquina dificulta a cobertura uniforme das sementes. Prefira fazer em um local apropriado antes do abastecimento.
  • Tempo para semear: Após a inoculação, a semeadura deve ser feita imediatamente ou, no máximo, em até 24 horas.
  • Sementes tratadas: Se as sementes já foram tratadas com fungicidas, inseticidas ou micronutrientes, o inoculante deve ser o último produto a ser aplicado.

Formas de Aplicação:

Você pode aplicar o Azospirillum brasilense de diferentes maneiras, incluindo:

  • Inoculação das sementes (método mais comum).
  • Aplicação no sulco de semeadura.
  • Pulverizações foliares.

O mais importante é garantir que a bactéria fique o mais próximo possível da semente de milho. Por isso, a inoculação na semente ou a aplicação no sulco de plantio são as opções mais eficientes.

Conclusão

Como vimos neste artigo, as bactérias do gênero Azospirillum são uma ferramenta valiosa para a cultura do milho. Elas não apenas auxiliam na fixação de nitrogênio, mas também promovem um sistema radicular mais robusto, aumentando a absorção de água e nutrientes e tornando a planta mais resistente a estresses.

Ao seguir as boas práticas de manejo do solo e os cuidados na aplicação do inoculante, você pode integrar essa tecnologia na sua lavoura para complementar a adubação nitrogenada, otimizar o uso de fertilizantes e, consequentemente, aumentar sua produtividade e rentabilidade.


Glossário

  • Azospirillum: Gênero de bactéria que vive em associação com as raízes de plantas como o milho. Ela ajuda a planta a crescer, principalmente fixando nitrogênio do ar e produzindo hormônios que estimulam o desenvolvimento das raízes.

  • Bactérias Promotoras de Crescimento de Plantas (BPCP): Sigla para um grupo de microrganismos benéficos que vivem em harmonia com as plantas. Elas melhoram a saúde e o crescimento vegetal por meio de ações como fixação de nutrientes, produção de hormônios e proteção contra doenças.

  • Condições edafoclimáticas: Termo técnico que se refere ao conjunto de fatores do solo (edáfico) e do clima (climático) de uma região. Esses fatores, como tipo de solo, pH, chuva e temperatura, determinam o sucesso de uma cultura.

  • Dinitrogenase: Enzima especial produzida por bactérias como a Azospirillum. Funciona como uma ferramenta biológica que quebra a forte ligação do nitrogênio do ar (N₂), transformando-o em uma forma que as plantas podem absorver.

  • Fixação Biológica de Nitrogênio (FBN): Processo natural realizado por certos microrganismos, que capturam o nitrogênio gasoso da atmosfera e o convertem em compostos nitrogenados, como a amônia, que servem de alimento para as plantas.

  • Inoculação: Técnica agrícola de introduzir microrganismos benéficos, como a bactéria Azospirillum, nas sementes ou no solo. O objetivo é estabelecer uma parceria entre o microrganismo e a planta para promover seu crescimento.

  • kg/ha (Quilogramas por Hectare): Unidade de medida padrão na agricultura para expressar produtividade (ex: 7.000 kg/ha de milho) ou a quantidade de insumos aplicados (ex: 24 kg/ha de nitrogênio). Um hectare equivale a 10.000 metros quadrados.

  • Rizosfera: A região do solo que está sob a influência direta das raízes de uma planta. É uma área rica em atividade microbiológica, onde ocorrem as principais interações entre a planta e microrganismos como o Azospirillum.

  • Sistema radicular: O conjunto de todas as raízes de uma planta. Um sistema radicular bem desenvolvido, com maior volume e profundidade, é crucial para a absorção eficiente de água e nutrientes do solo.

Veja como o Aegro pode ajudar a superar esses desafios

Adotar tecnologias como o Azospirillum é um passo importante para otimizar a adubação e reduzir custos. No entanto, o grande desafio é medir o impacto real dessa prática na sua rentabilidade. Como saber se o investimento no inoculante realmente compensou a economia com fertilizantes e aumentou a produtividade daquele talhão?

Ferramentas de gestão agrícola como o Aegro resolvem essa questão, permitindo que você registre detalhadamente os custos de insumos e as atividades por área. Ao final da safra, é possível gerar relatórios precisos que comparam a produtividade e o custo de produção, garantindo que suas decisões sejam baseadas em dados concretos.

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Perguntas Frequentes

A inoculação com Azospirillum substitui completamente a adubação nitrogenada no milho?

Não, a inoculação com Azospirillum não elimina a necessidade de adubação nitrogenada, mas a complementa. A bactéria supre apenas parcialmente as necessidades da planta, permitindo uma redução estratégica na adubação de cobertura. Para alcançar altas produtividades, a combinação de inoculação com uma adubação nitrogenada bem manejada é a estratégia mais eficaz.

Qual a principal diferença entre a ação do Azospirillum no milho e a do Rhizobium na soja?

A diferença fundamental está no tipo de associação. O Rhizobium forma uma simbiose com a soja, criando nódulos nas raízes e fornecendo quase todo o nitrogênio necessário. O Azospirillum tem uma relação associativa com o milho, vivendo próximo às raízes, fixando uma parte do nitrogênio e, principalmente, produzindo hormônios que estimulam o crescimento radicular.

Além da fixação de nitrogênio, quais os outros benefícios práticos do Azospirillum para a lavoura?

O maior benefício é o estímulo ao desenvolvimento do sistema radicular, causado pela produção de hormônios vegetais. Raízes mais robustas e profundas permitem que a planta de milho absorva mais água e nutrientes do solo, o que aumenta a tolerância a estresses como a seca e a salinidade, além de melhorar a resistência a doenças.

Posso aplicar o inoculante em sementes de milho que já foram tratadas com fungicidas ou inseticidas?

Sim, é possível. No entanto, é crucial que o inoculante com Azospirillum seja o último produto a ser aplicado nas sementes. Após a inoculação, a semeadura deve ser realizada imediatamente, ou no máximo em 24 horas, para garantir a sobrevivência e a eficácia das bactérias.

Qual a forma mais recomendada para aplicar o Azospirillum na cultura do milho?

As formas mais eficientes são a inoculação direta das sementes ou a aplicação do produto no sulco de plantio. Ambos os métodos garantem que as bactérias fiquem em contato direto ou muito próximas das sementes, facilitando o estabelecimento rápido da associação com as raízes do milho assim que elas começam a se desenvolver.

Quais condições do solo podem prejudicar a eficiência da inoculação com Azospirillum?

A eficiência da bactéria pode ser limitada por condições adversas do solo. Solos muito ácidos (com pH baixo), excesso ou falta de umidade, temperaturas extremas e baixa disponibilidade de matéria orgânica são fatores que prejudicam a sobrevivência e a atividade do Azospirillum. Por isso, boas práticas de manejo, como calagem e plantio direto, são fundamentais.

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