Armazenamento de Trigo: Guia Completo para Evitar Perdas na Pós-Colheita

Redator parceiro Aegro.
Armazenamento de Trigo: Guia Completo para Evitar Perdas na Pós-Colheita

O cuidado com o trigo após a colheita é um passo decisivo para garantir a qualidade dos grãos e proteger o valor do seu investimento. Um manejo inadequado pode levar a perdas significativas, tanto em volume quanto no preço de venda.

Muitos produtores têm dúvidas sobre os detalhes que fazem a diferença, como a temperatura ideal na secagem, as melhores práticas de armazenagem para evitar pragas e como monitorar contaminantes de forma eficiente.

Neste guia prático, vamos detalhar os manejos essenciais que você precisa adotar na pós-colheita para manter a integridade dos seus grãos, minimizar perdas e garantir a melhor rentabilidade.

As Etapas Essenciais da Pós-Colheita do Trigo

A pós-colheita do trigo envolve três etapas principais: a limpeza, a secagem e o armazenamento dos grãos.

A limpeza é o primeiro passo e, geralmente, não causa danos. Pelo contrário, ela pode melhorar a qualidade geral do lote, pois remove impurezas, palha, e grãos chochos ou quebrados.

Os desafios maiores estão na secagem e no armazenamento. Nessas fases, se os manejos não forem executados corretamente, a qualidade dos grãos pode ser seriamente comprometida. Por isso, é fundamental ter atenção aos detalhes em cada operação após a colheita do trigo.

Secagem de Trigo: O Primeiro Passo para a Qualidade

Antes de iniciar a secagem, os grãos devem passar por uma pré-limpeza, normalmente realizada por uma máquina de ar e peneiras. O objetivo aqui é remover restos culturais e materiais estranhos, como pedras e torrões de terra. Essa etapa é crucial porque uma massa de grãos limpa facilita uma secagem mais uniforme e garante um armazenamento de melhor qualidade.

O principal objetivo da secagem é reduzir o teor de água dos grãos, permitindo que sejam armazenados de forma segura por um período mais longo. Existem dois métodos principais para isso: com ar aquecido ou com ar natural.

Secagem com Ar Aquecido

Ao usar ar aquecido, o fator mais importante a ser controlado é a temperatura do ar de secagem. Essa temperatura ideal varia conforme o tipo de secador que você utiliza e o teor de água inicial dos grãos.

Para não prejudicar a qualidade industrial do trigo (glúten, farinha, etc.), a regra geral é que a temperatura da massa de grãos não ultrapasse 60 ℃.

  • Na secagem estacionária: Como os grãos ficam em camadas fixas, existe o risco de aquecer e secar demais a camada inferior. Por isso, é recomendado usar temperaturas mais baixas, na faixa de 45 ℃ a 50 ℃.
  • Em secadores intermitentes: Nestes equipamentos, os grãos circulam e não ficam em contato constante com o ar quente. Isso permite o uso de temperaturas um pouco mais altas, em torno de 70 ℃.

O teor de água inicial também influencia a regulagem. Grãos mais úmidos (próximos de 20%) devem ser secos com temperaturas mais baixas. Já os grãos mais secos (perto de 15%) podem receber temperaturas mais próximas do limite máximo indicado.

Fique atento: A retirada de água de forma muito rápida pode causar fissuras e quebras nos grãos. Isso não apenas reduz a qualidade e o potencial de conservação, mas também diminui diretamente o valor comercial do seu produto.

Secagem com Ar Natural

A secagem com ar natural é feita em secadores estacionários ou em silos-secadores, mas sem usar ar aquecido. Neste método, os principais pontos de atenção são:

  • A temperatura e a umidade relativa do ar ambiente.
  • O teor de água da massa de grãos.

A grande vantagem deste método é o custo mais baixo, além de eliminar completamente os riscos de danos por excesso de calor.

Por outro lado, o processo é bem mais lento. Dependendo das condições climáticas e da umidade inicial dos grãos, a secagem pode demorar tanto que o produto começa a se deteriorar antes de atingir o ponto ideal de armazenamento.

  • Recomendação: Em regiões com histórico de alta umidade relativa do ar, este método não é indicado.
  • Onde funciona bem: Em regiões de clima mais seco, a secagem com ar natural é uma alternativa muito eficiente.

Cuidados Fundamentais no Armazenamento de Trigo

Uma vez secos, os grãos precisam ser armazenados corretamente. Os dois fatores que você precisa monitorar constantemente durante o armazenamento são o teor de água e a temperatura da massa de grãos.

Quando os grãos são armazenados com alta umidade e em temperaturas elevadas, sua taxa de respiração aumenta, o que acelera o processo de deterioração.

Para um armazenamento seguro, siga estas metas:

  • Teor de água: Abaixo de 13%.
  • Temperatura da massa de grãos: Próximo de 18 ℃.

O monitoramento do teor de água pode ser feito através de coletas de amostras periódicas e sistemáticas dentro do silo.

Para a temperatura, a tecnologia ajuda muito. O monitoramento pode ser feito com termopares, que são sensores instalados no meio dos grãos para medir a temperatura em tempo real, enviando os dados para um sistema central.

a interface de um software de termometria para monitoramento de grãos em um silo. A tela principal mostra uma Sistema de monitoramento da temperatura da massa de grãos por termopares. (Fonte: Fockink)

É essencial que os silos para armazenagem de trigo a granel tenham ventiladores para realizar a aeração. Esse processo ajuda a uniformizar a temperatura e a umidade em toda a massa de grãos, além de renovar o ar entre eles.

Pragas no Armazenamento de Trigo: Inimigos Silenciosos

Durante o armazenamento, fungos e insetos, conhecidos como pragas de armazenagem, podem atacar os grãos e causar perdas significativas. Conhecer, monitorar e controlar esses inimigos é fundamental.

Fungos

Os fungos mais comuns em grãos de trigo armazenados são a giberela (Fusarium graminearum) e os mofos e bolores (Aspergillus spp. e Penicillium spp.).

uma composição de quatro fotografias em close-up de grãos de trigo sobre um fundo branco. As duas imagens supe Grãos de trigo contaminados pela giberela (Fusarium graminearum). (Fonte: O Presente Rural)

O maior perigo desses fungos é a produção de micotoxinas: substâncias tóxicas produzidas por eles que podem causar doenças graves e até a morte de humanos e animais que consomem os grãos contaminados.

O controle de fungos deve ser preventivo. As melhores práticas são:

  • Armazenar os grãos com baixo teor de água (abaixo de 13%).
  • Manter a massa de grãos em baixas temperaturas (próximo de 18 ℃).
  • Realizar uma limpeza e higienização rigorosa das estruturas de armazenagem (silos, moegas, elevadores) antes de guardar a nova safra. Restos de grãos e sujeira da safra anterior podem ser fontes de contaminação.

Insetos

As pragas de insetos mais comuns no trigo armazenado são o besourinho dos cereais (Rhyzopertha dominica) e o gorgulho (Sitophilus sp.).

composição de duas fotografias em close-up que exibem pragas comuns em grãos armazenados. Na imagem da esquerd Grãos de trigo atacados por insetos R. dominica (esquerda) e Sitophilus sp. (direita). (Fonte: Grupo Líder e Minden Pictures)

Para um controle eficaz, utilize as práticas do MIP (Manejo Integrado de Pragas), uma estratégia que combina várias táticas de controle. As principais medidas são:

  1. Limpeza e tratamento preventivo: Higienizar e tratar as estruturas do armazém com inseticidas protetores antes do armazenamento é a medida mais importante.
  2. Qualidade dos grãos: Armazenar apenas grãos limpos e secos (<13% de umidade) em baixas temperaturas (18 ℃).
  3. Monitoramento constante: Inspecionar regularmente a presença de pragas ao longo de todo o período de armazenamento.
  4. Tratamento dos grãos: Aplicar inseticidas recomendados nos grãos durante o enchimento do silo, se necessário.
  5. Expurgo com fosfina: Esta é uma medida corretiva, utilizada para eliminar infestações já estabelecidas.

Dica prática: Se seu silo possui sistema de termometria, fique de olho em pontos de aquecimento localizados. O aumento repentino de temperatura em uma área específica da massa de grãos é um forte indicativo da atividade de insetos.

Monitoramento de Contaminantes: Segurança e Valor Agregado

Considerando a importância da cultura do trigo para a alimentação, especialmente em produtos integrais, o monitoramento de contaminantes é essencial para garantir a segurança do produto e atender às exigências do mercado.

Os principais contaminantes que devem ser monitorados são:

  • Micotoxinas
  • Fragmentos de insetos
  • Resíduos de agrotóxicos

Hoje, o monitoramento de micotoxinas pode ser feito de forma rápida na própria unidade armazenadora. Existem testes rápidos no mercado que detectam diferentes tipos e concentrações de micotoxinas em poucos minutos.

dois tipos de testes rápidos para detecção da micotoxina Deoxinivalenol (DON), comumente encontrada em grãos c Equipamentos de testes rápidos para detecção de micotoxinas em trigo. (Fonte: Vicam)

Para fragmentos de insetos, a legislação brasileira (RDC N° 14 da Anvisa) estabelece um limite máximo de 75 fragmentos para cada 50 g de farinha.

Já o monitoramento de resíduos de agrotóxicos é mais complexo, pois exige equipamentos de laboratório. Portanto, a melhor prática é a prevenção: sempre respeite o período de carência dos produtos aplicados e utilize apenas agrotóxicos registrados para uso em grãos armazenados.

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Conclusão

As etapas de pós-colheita do trigo são tão importantes quanto o manejo na lavoura. Um descuido na secagem ou no armazenamento pode causar a desvalorização de todo o seu trabalho, afetando diretamente a lucratividade.

Como vimos neste guia, a atenção à temperatura na secagem, o controle rigoroso da umidade e temperatura no armazenamento, e o monitoramento constante de pragas e contaminantes são as chaves para o sucesso. Ao adotar essas práticas, você garante a qualidade dos seus grãos, minimiza as perdas e fortalece seu poder de negociação no mercado.

Espero que estas informações ajudem você a realizar uma excelente pós-colheita do trigo


Glossário

  • Aeração: Processo de ventilação forçada da massa de grãos dentro do silo. Seu objetivo é uniformizar a temperatura e a umidade, além de renovar o ar, prevenindo a deterioração.

  • Expurgo com fosfina: Tratamento químico corretivo para eliminar infestações de insetos já presentes nos grãos armazenados. Utiliza o gás fosfina, que penetra na massa de grãos para controlar as pragas.

  • Micotoxinas: Substâncias tóxicas produzidas por fungos, como a giberela, que contaminam os grãos. Representam um risco grave para a saúde humana e animal, sendo um critério de qualidade e segurança alimentar.

  • MIP (Manejo Integrado de Pragas): Estratégia que combina diferentes métodos de controle (preventivos, físicos e químicos) para manter as pragas de armazenamento abaixo do nível de dano econômico. Foca na prevenção e no monitoramento constante.

  • Secadores intermitentes: Equipamentos de secagem onde os grãos estão em constante movimento, circulando e não ficando em contato direto com o ar quente por muito tempo. Isso permite o uso de temperaturas mais elevadas (cerca de 70 °C) sem danificar os grãos.

  • Secagem estacionária: Método de secagem em que os grãos permanecem em uma camada fixa, sem movimento. Exige temperaturas de ar mais baixas (45 °C a 50 °C) para evitar o superaquecimento e danos à camada inferior.

  • Teor de água: Percentual de umidade presente nos grãos, um fator crítico para a conservação. Para o armazenamento seguro do trigo, o ideal é que este valor seja inferior a 13%.

  • Temperatura da massa de grãos: Medida da temperatura no interior do silo, que indica a atividade biológica dos grãos e de possíveis pragas. A meta para um armazenamento seguro é manter a temperatura próxima de 18 °C.

  • Termopares: Sensores de temperatura instalados em diferentes pontos dentro do silo. Eles permitem o monitoramento preciso e em tempo real da temperatura da massa de grãos, ajudando a detectar focos de aquecimento que podem indicar problemas.

Otimize sua pós-colheita e proteja sua lucratividade

Controlar todas as variáveis da pós-colheita – desde a temperatura de secagem e umidade no silo até o monitoramento de pragas – é um desafio complexo que exige organização. Um erro pode comprometer a qualidade de todo o lote. Ferramentas de gestão agrícola, como o Aegro, ajudam a centralizar essas informações, permitindo registrar e planejar todas as atividades de armazenamento, desde a aeração até as inspeções, garantindo que nada seja esquecido.

Além do controle operacional, cada uma dessas etapas impacta diretamente o custo final do seu produto. Saber exatamente quanto foi gasto com energia para secagem, insumos para o tratamento de pragas e mão de obra é fundamental para calcular a rentabilidade da safra. Com um sistema integrado, é possível atrelar esses custos às atividades, oferecendo relatórios precisos que ajudam a tomar decisões mais seguras e a negociar melhores preços de venda.

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Perguntas Frequentes

Qual o teor de umidade ideal para armazenar trigo e por que ele é tão importante?

O teor de umidade ideal para o armazenamento seguro do trigo é abaixo de 13%. Manter este nível é crucial porque a alta umidade, combinada com o calor, acelera a respiração dos grãos, o que leva à deterioração, ao desenvolvimento de fungos e à produção de micotoxinas perigosas. Controlar a umidade garante a qualidade e a longevidade do produto armazenado.

Qual a principal diferença de temperatura na secagem com ar aquecido em secadores estacionários e intermitentes?

A principal diferença está no risco de superaquecimento. Em secadores estacionários, os grãos ficam parados, exigindo temperaturas mais baixas (45 °C a 50 °C) para não danificar a camada inferior. Já nos secadores intermitentes, os grãos estão em movimento, permitindo o uso de temperaturas mais altas (cerca de 70 °C) para uma secagem mais rápida e segura.

Como posso detectar uma infestação de insetos no meu silo de forma precoce?

Além do monitoramento visual e armadilhas, um dos sinais mais eficazes é o surgimento de “pontos de aquecimento” na massa de grãos. Um aumento súbito e localizado de temperatura, detectado por um sistema de termometria (termopares), é um forte indicativo da atividade de insetos, permitindo uma ação corretiva antes que a infestação se alastre.

A secagem com ar natural é sempre uma boa opção para reduzir custos?

Não necessariamente. Embora seja um método mais econômico, a secagem com ar natural depende muito das condições climáticas e é um processo lento. Em regiões com alta umidade relativa do ar, o processo pode demorar tanto que os grãos começam a se deteriorar antes de atingir a umidade ideal para armazenamento, tornando-se uma opção arriscada.

O que são micotoxinas e qual a melhor forma de evitar sua contaminação no trigo?

Micotoxinas são substâncias tóxicas produzidas por fungos, como a giberela, que contaminam os grãos e representam um sério risco à saúde humana e animal. A prevenção é a melhor estratégia: armazene os grãos com baixo teor de água (abaixo de 13%), mantenha a temperatura da massa de grãos baixa (próximo de 18 °C) e realize uma limpeza rigorosa das instalações de armazenagem antes de receber a nova safra.

Para que serve a aeração em um silo de grãos?

A aeração consiste em ventilar a massa de grãos dentro do silo para uniformizar a temperatura e a umidade. Este processo ajuda a resfriar os grãos, a evitar a formação de bolsões de umidade e a renovar o ar, criando um ambiente desfavorável para o desenvolvimento de pragas e fungos e preservando a qualidade do produto.

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