O planejamento agrícola é a base para o sucesso da lavoura. Mas, quando se trata da aplicação de defensivos, você também planeja com o mesmo cuidado? Muitas vezes, essa decisão crucial é tomada na última hora, e o prejuízo pode ser grande.
Dados da Associação Nacional de Defesa Vegetal (Andef) mostram um número alarmante: em média, mais da metade dos produtos pulverizados na lavoura pode ser desperdiçada. As principais causas são escorrimento, deriva descontrolada e aplicação mal executada.
A boa notícia é que isso pode ser evitado com um bom planejamento. Ao integrar a aplicação de defensivos ao seu plano geral, você garante uma operação consciente, que reduz perdas, evita desperdícios e, o mais importante, atinge o controle eficaz do alvo.
Vamos detalhar os 5 passos essenciais para fazer isso sem dor de cabeça.
1º Passo: Comece pela Regulagem Completa do Pulverizador
Uma aplicação precisa começa com um pulverizador perfeitamente regulado. Antes de qualquer operação, é fundamental fazer uma checagem completa do equipamento.
Isso inclui a verificação de:
- Bicos de pulverização
- Barras
- Tanques
- Mangueiras
- Filtros
- Regulador de pressão
Atenção especial deve ser dada aos bicos, que são a parte mais crítica para garantir a distribuição correta do produto.
(Fonte: Jacto)
Essa verificação permite identificar vazamentos e garantir que tudo funcione como deveria. O resultado imediato é a redução da perda de produtos e o aumento da eficácia da aplicação.
A Importância da Agitação no Tanque
A regulagem vai além da parte externa. O agitador dentro do tanque de pulverização, por exemplo, deve estar funcionando corretamente para manter a calda homogênea.
Para isso, é preciso trabalhar com uma rotação de 540 rpm
na tomada de potência (TDP). Essa é a rotação para a qual a maioria dos sistemas é dimensionada para funcionar de forma ideal.
Sem a agitação correta, diferentes formulações se comportam de maneiras problemáticas:
- Pó-molhável (PM) ou Suspensão Concentrada (SC): Por terem partículas sólidas, tendem a se depositar no fundo do tanque.
- Concentrado Emulsionável (CE): Como contêm substâncias não solúveis em água (como óleo), tendem a ficar na superfície.
Isso causa uma aplicação desuniforme: no início, a concentração de produto pode ser muito alta (para PM ou SC) ou muito baixa (para CE), comprometendo a eficiência em toda a área.
(Fonte: Andef)
Lembre-se: todo o trabalho de verificação e regulagem do pulverizador deve ser feito com os Equipamentos de Proteção Individual (EPIs) adequados.
2º Passo: Defina o Produto, o Volume de Calda e o Tamanho da Gota
Com o equipamento pronto, é hora de tomar decisões técnicas sobre a aplicação em si.
Escolha o Produto Correto para o Alvo
A primeira escolha é o produto recomendado para a sua cultura e para o alvo específico que você identificou no monitoramento. Sempre leia a bula, pois ela contém todas as informações necessárias para uma aplicação segura e eficaz.
Para saber mais, confira nosso artigo: “Defensivos agrícolas: 8 curiosidades que você deveria saber”.
Entendendo a Relação: Gota, Cobertura e Deriva
O volume de calda e o tamanho da gota são definidos pelo seu alvo. A escolha correta equilibra a cobertura da planta com o risco de perda do produto.
- Gotas finas: Proporcionam maior cobertura do alvo, mas têm maior risco de deriva (que significa o arrasto do produto pelo vento para fora da área-alvo). São ideais para produtos de contato.
- Gotas grossas: Oferecem menor cobertura, mas com risco de deriva muito menor. São utilizadas para herbicidas residuais (produtos que permanecem ativos no solo) e outras aplicações no solo.
- Gotas médias: São as mais comuns, pois oferecem um bom equilíbrio entre cobertura e controle de deriva. Geralmente, são a escolha para produtos sistêmicos.
(Fonte: Andef)
O Bico de Pulverização: A Peça-Chave da Aplicação
A escolha do bico (ou ponta) de pulverização é uma das decisões mais importantes, pois é o bico que define o tamanho da gota e, consequentemente, a qualidade da cobertura do alvo.
(Fonte: Copam)
Você pode encontrar tabelas de referência com seu fornecedor ou online para verificar como o tipo de bico e a pressão de trabalho influenciam o tamanho da gota.
A tabela abaixo, adaptada da norma ASAE S-572, mostra essa relação. A vazão está em litros por minuto (L/min) e a pressão em Bar.
(Fonte: Adaptado de ASAE S-572)
3º Passo: Monitore as Condições Ideais para a Aplicação
Este é o passo onde o planejamento diário entra em ação. Antes de levar o pulverizador para o campo, responda a estas perguntas:
- Qual a área total que preciso aplicar?
- Quanto tempo essa operação vai levar?
- Qual é a previsão do tempo para as próximas horas e dias?
Verificar a previsão do tempo é fundamental. Alguns produtos precisam de um período sem chuva para serem absorvidos e agirem corretamente na planta.
Além da chuva, uma aplicação de alta performance só acontece sob condições climáticas ideais. Fique atento a estes três fatores:
Condições Ideais para Pulverização:
- Temperatura: Abaixo de 30°C
- Umidade relativa do ar: Acima de 50%
- Velocidade do vento: Entre 3 km/h e 10 km/h
(Fonte: Andef)
4º Passo: Acerte o Timing da Aplicação com Base no Monitoramento
Com o monitoramento constante da lavoura, você consegue planejar as aplicações necessárias no momento certo.
Isso significa saber se a cultura está na fase fenológica correta para receber o defensivo e, principalmente, se o alvo (praga, doença ou planta daninha) atingiu um nível que justifique o custo e o esforço da aplicação.
- Para pragas: O Manejo Integrado de Pragas (MIP) é a principal ferramenta. Ele define o nível de controle com base na quantidade de injúrias ou insetos identificados no monitoramento, evitando aplicações desnecessárias.
- Para doenças: Geralmente, a aplicação é necessária assim que os primeiros sintomas são encontrados no campo.
- Para plantas daninhas: O uso de pré-emergentes pode dar uma grande vantagem inicial à cultura. Durante o ciclo, o monitoramento contínuo determina a necessidade de novas aplicações.
5º Passo: Conheça o Histórico e a Realidade do Seu Campo
Este passo é a base para qualquer aplicação de defensivos agrícolas, seja com herbicida, inseticida, fungicida ou nematicida.
Monitoramento Semanal é Essencial
Inclua o monitoramento das lavouras em sua rotina semanal. Identifique as pragas, doenças e plantas daninhas presentes. Esse conhecimento “em tempo real” é o que permite tomar decisões rápidas e precisas.
O Histórico da Área é Seu Maior Aliado
O monitoramento das safras passadas cria um histórico valioso da sua área. Ele revela padrões de ocorrência de insetos, doenças e plantas daninhas, além do desempenho das aplicações anteriores. Esse banco de dados é crucial para identificar os principais problemas da propriedade e planejar estratégias de manejo mais eficazes a cada safra.
Para ajudar na identificação, existem excelentes materiais gratuitos disponíveis. Veja alguns exemplos para milho e soja:
Manual de Identificação de Doenças do Milho
(Fonte: Epagri)
Manual de Identificação de Plantas Daninhas da Soja
(Fonte: Embrapa)
Identificação de Nematoides em Soja
(Fonte: Embrapa)
Conclusão
O sucesso de uma aplicação de defensivos depende diretamente de um bom planejamento. Isso envolve uma combinação de fatores-chave que precisam trabalhar em conjunto:
- Conhecimento do alvo no campo e da época ideal de aplicação.
- Verificação e regulagem completa dos equipamentos de pulverização.
- Aplicação somente sob as condições climáticas ideais.
Ao colocar esses passos em prática, você não apenas acertará na aplicação, mas também verá resultados diretos no seu negócio: redução de custos, maior eficiência dos produtos e, consequentemente, mais lucro e sucesso para a sua fazenda.
Glossário
Calda: Refere-se à mistura final de água com um ou mais defensivos agrícolas, pronta para ser aplicada pelo pulverizador. Manter a calda homogênea (bem misturada) no tanque é crucial para uma aplicação uniforme.
Deriva: É o processo em que as gotas do produto pulverizado são arrastadas pelo vento para fora da área de aplicação desejada. A deriva resulta em desperdício de produto, contaminação ambiental e pode danificar lavouras vizinhas.
Fase Fenológica: Cada um dos estágios de desenvolvimento de uma planta, como germinação, crescimento vegetativo, floração e maturação. O sucesso da aplicação de um defensivo depende de aplicá-lo na fase correta tanto da cultura quanto do alvo (praga, doença ou planta daninha).
Herbicida Residual: Um tipo de herbicida que permanece ativo no solo por um período após a aplicação. Sua principal função é controlar o banco de sementes de plantas daninhas, impedindo que elas germinem e compitam com a cultura.
MIP (Manejo Integrado de Pragas): Uma estratégia de controle que combina diferentes métodos (biológico, cultural, químico) de forma sustentável. No MIP, os defensivos só são aplicados quando a população da praga atinge um nível que causa prejuízo econômico, evitando pulverizações desnecessárias.
Produto Sistêmico: Defensivo que, após ser absorvido pela planta (pelas folhas ou raízes), é transportado por todo o seu sistema vascular (seiva). Isso permite que o produto controle pragas ou doenças em partes da planta que não foram diretamente atingidas pela pulverização.
TDP (Tomada de Potência): Eixo presente na parte traseira dos tratores que transfere a energia do motor para acionar implementos agrícolas, como a bomba e o agitador do pulverizador. A rotação padrão de 540 rpm (rotações por minuto) é a ideal para garantir o funcionamento correto da maioria desses equipamentos.
Veja como o Aegro pode ajudar a superar esses desafios
Gerenciar todos esses detalhes na prática, do monitoramento ao histórico da área, é um desafio, especialmente quando se depende de anotações em papel. Controlar os custos de cada aplicação e garantir que o planejamento seja seguido à risca exige organização. Um software de gestão agrícola como o Aegro centraliza essas informações, permitindo registrar cada pulverização e associar os insumos utilizados e os custos operacionais diretamente ao talhão. Isso não só cria um histórico confiável para as próximas safras, mas também gera relatórios que mostram exatamente onde seu investimento está indo, ajudando a reduzir desperdícios.
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Perguntas Frequentes
Quais são os principais riscos de aplicar defensivos em condições climáticas desfavoráveis?
Aplicar defensivos com temperaturas acima de 30°C e umidade abaixo de 50% pode causar a evaporação das gotas antes que atinjam o alvo, reduzindo a eficácia. Ventos acima de 10 km/h aumentam drasticamente o risco de deriva, que é o desperdício do produto para fora da área desejada, podendo contaminar o ambiente e culturas vizinhas.
Por que a rotação da Tomada de Potência (TDP) em 540 rpm é tão importante para a calda do pulverizador?
A rotação de 540 rpm na TDP é o padrão para o qual a maioria dos sistemas de agitação de pulverizadores é projetada. Manter essa rotação garante que a calda permaneça homogênea no tanque, evitando que produtos em pó decantem ou que formulações oleosas se separem, o que causaria uma aplicação desuniforme e ineficaz na lavoura.
Como escolher o tamanho de gota ideal para minha aplicação de defensivos?
A escolha depende do alvo e do produto. Gotas finas oferecem ótima cobertura e são ideais para produtos de contato, mas têm alto risco de deriva. Gotas grossas minimizam a deriva e são usadas para herbicidas de solo. Gotas médias representam o melhor equilíbrio, sendo a escolha mais comum para produtos sistêmicos, que são absorvidos e transportados pela planta.
Qual a melhor forma de reduzir a deriva durante a pulverização?
Para reduzir a deriva, o ideal é pulverizar apenas quando a velocidade do vento estiver entre 3 e 10 km/h. Além disso, a escolha de bicos de pulverização que produzam gotas médias a grossas e trabalhar com pressões mais baixas são práticas eficazes para garantir que o produto atinja o alvo correto, evitando desperdícios e contaminação.
É realmente necessário monitorar a lavoura toda semana ou posso aplicar defensivos de forma preventiva?
O monitoramento semanal é crucial. Ele permite aplicar defensivos com base em dados reais, como o nível de infestação de uma praga (Manejo Integrado de Pragas - MIP), em vez de aplicar preventivamente. Essa abordagem economiza dinheiro, evita aplicações desnecessárias, protege inimigos naturais e reduz o risco de desenvolvimento de resistência do alvo ao produto.
Qual a diferença de aplicação entre um fungicida de contato e um sistêmico?
Um fungicida de contato age apenas onde a gota toca a planta, exigindo uma cobertura completa e, portanto, gotas mais finas. Já um fungicida sistêmico é absorvido pela planta e se move internamente, o que permite uma aplicação com gotas médias, oferecendo uma janela de aplicação maior e menor risco de perdas por deriva ou chuvas logo após a aplicação.
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