As mesmas condições de clima que ajudam sua lavoura de soja a crescer também podem favorecer o aparecimento de doenças. E o prejuízo pode ser grande.
A ferrugem-asiática, por exemplo, é uma das doenças mais agressivas e pode causar perdas de até 90% na produtividade. O custo para controlar essa doença no Brasil chega a uma média de US$ 2,8 bilhões por safra.
Por isso, produtor, é fundamental estar atualizado sobre as novas estratégias de manejo. Elas ajudam a controlar melhor as doenças, evitar que os fungos se tornem resistentes aos produtos e, o mais importante, proteger o potencial produtivo da sua lavoura.
Neste artigo, reunimos as informações mais importantes sobre a aplicação de fungicidas na soja, incluindo as novas tendências de manejo para te ajudar a colher mais e melhor. Confira!
As Principais Doenças da Soja no Brasil
Antes de planejar o controle, você precisa conhecer os inimigos da sua lavoura. As principais doenças que afetam a soja no nosso país são:
- Antracnose (Colletotrichum truncatum)
- Ferrugem-asiática (Phakopsora pachyrhizi)
- Mancha-alvo (Corynespora cassiicola)
- Mofo-branco (Sclerotinia sclerotiorum)
- Oídio (Microsphaera diffusa)
- Podridão-de-carvão (Macrophomina phaseolina)
(Fonte: Paulo Saran)
Saber identificar os sintomas de cada doença e entender quais condições de clima favorecem seu desenvolvimento é o primeiro passo para um controle eficaz. Além disso, conhecer o histórico de doenças da sua fazenda e da sua região é crucial para montar um bom plano de manejo.
Para aprofundar: Já temos um guia completo sobre este assunto aqui no blog. Acesse: “Lavoura saudável: como combater as doenças da soja (+ nematoides)”
Prevenção: O Manejo Começa Antes do Fungicida
Embora o uso de fungicidas seja a ferramenta de controle mais comum, o verdadeiro manejo de doenças começa muito antes da primeira pulverização. Fazer o básico bem feito é o que garante a eficiência lá na frente.
Para reduzir a gravidade das doenças, o objetivo é diminuir a quantidade de inóculo inicial (o material do fungo que começa a infecção, como esporos) e a suscetibilidade da planta ao patógeno (o organismo que causa a doença).
Isso só é possível com um bom Manejo Integrado de Doenças (MID). As principais práticas na soja incluem:
- Fazer a rotação de culturas para quebrar o ciclo das doenças.
- Utilizar sementes certificadas e de boa qualidade.
- Optar por cultivares de ciclo precoce.
- Realizar a semeadura o mais cedo possível, na janela recomendada.
- Garantir um bom manejo nutricional para deixar as plantas mais fortes.
- Respeitar o período do vazio sanitário.
- Controlar plantas daninhas e hospedeiras, principalmente durante o vazio sanitário.
- Monitorar a lavoura constantemente para identificar os primeiros sinais de doenças.
- Rotacionar fungicidas com diferentes mecanismos de ação para evitar resistência.
- Aplicar os produtos no momento certo e na dose recomendada na bula.
- Usar uma boa tecnologia de aplicação para garantir que o produto chegue ao alvo.
Qual o Momento Ideal para a Aplicação de Fungicidas na Soja?
Definir o calendário de pulverização não é simples, pois cada lavoura tem sua realidade. Os principais fatores que você deve analisar são:
- Condições climáticas: Chuva e umidade aumentam o risco.
- Época de plantio: Plantios mais tardios geralmente sofrem maior pressão de doenças.
- Suscetibilidade da cultivar: Verifique se a cultivar escolhida é mais ou menos resistente às doenças da sua região.
- Ciclo da cultivar: Cultivares de ciclo mais longo ficam mais tempo expostas no campo.
- Histórico da área: Se uma doença foi problema na safra passada, a chance de ela voltar é maior.
Com essas informações em mãos, fica mais fácil decidir o momento ideal, os produtos e as doses corretas para a sua situação. Em lavouras com ciclo longo ou plantio atrasado, a pressão de doenças tende a ser maior, exigindo um início de controle mais cedo.
A Tendência da “Aplicação Zero”
Nos últimos anos, uma estratégia que ganhou força é a antecipação da primeira aplicação de fungicida, antes do que era feito tradicionalmente (que ocorria perto do estádio V7/V8).
No entanto, apenas adiantar essa primeira aplicação e aumentar o intervalo entre as pulverizações para mais de 15 dias não se mostrou muito eficaz.
Por isso, muitos produtores adotaram a chamada “aplicação zero”. Trata-se de uma aplicação adicional, feita no estádio V3-V4 (cerca de 30 dias após a emergência - DAE), com o objetivo de reduzir o inóculo inicial e impedir que os fungos infectem a soja logo no começo.
- Foco da Aplicação Zero: Manchas foliares, antracnose e oídio.
- Produtos Utilizados: Como é uma aplicação complementar, não se usam os produtos mais caros do mercado. O objetivo é ajudar as aplicações principais sem elevar muito o custo. Por isso, geralmente é feita junto com a aplicação de glifosato (em soja RR).
- Ingredientes Ativos Comuns: Produtos que misturam triazóis, benzimidazóis, estrobilurinas e multissítios são frequentemente usados.
Atenção: Se você for misturar fungicidas com glifosato, verifique sempre a compatibilidade dos produtos no tanque, especialmente em relação ao pH da calda.
Após a “aplicação zero”, o intervalo até a primeira aplicação do programa convencional é mais curto, em torno de 9 dias. Isso garante que a próxima pulverização ocorra no momento ideal: antes do fechamento das linhas, no estádio V7 (próximo de 40 DAE).
Programa Convencional de Aplicações
O manejo mais comum hoje em dia na soja consiste em um programa de 4 aplicações de fungicidas, com um intervalo de aproximadamente 15 dias entre elas. O calendário geralmente segue este padrão:
- 1ª Aplicação: Antes do fechamento das linhas (estádio V7; por volta de 40 DAE).
- 2ª Aplicação: No início do florescimento (R1; por volta de 55 DAE).
- 3ª Aplicação: Na formação das vagens (R3; por volta de 70 DAE).
- 4ª Aplicação: Na fase de enchimento de grãos (R5; por volta de 85 DAE).
As duas primeiras aplicações (antes do fechamento e no florescimento) são consideradas as mais importantes do programa. É nesse momento que os produtores costumam usar os melhores e mais eficientes fungicidas disponíveis para garantir a proteção da lavoura.
Ferrugem-asiática (Phakopsora pachyrhizi), uma das principais ameaças à cultura da soja.
(Fonte: Grupo Cultivar)
Como Posicionar os Produtos em Cada Aplicação
A escolha dos produtos, as doses e o número de aplicações dependem da realidade da sua lavoura. Um posicionamento que tem mostrado ótimos resultados é intercalar produtos com ação curativa e preventiva nas primeiras aplicações.
Veja um exemplo de estratégia eficiente:
- Aplicação Zero: Usar um produto com forte ação curativa.
- 1ª Aplicação (V7): Usar uma mistura de produtos com ação curativa e preventiva.
- 2ª Aplicação (R1): Usar uma mistura de produtos com foco preventivo.
Para as aplicações finais (na formação de vagens e enchimento de grãos), a escolha do produto dependerá das condições do clima e de qual doença representa maior risco.
- Se o risco maior for de Ferrugem: Produtos à base de Mancozeb e/ou Morfolina são boas opções.
- Se o risco for de Manchas ou Manchas + Ferrugem: Produtos à base de Clorotalonil e/ou Triazol podem ser mais indicados.
Importante: Devido aos casos de resistência da ferrugem-asiática a alguns fungicidas, sempre verifique a eficiência atual dos produtos. A Embrapa publica relatórios anuais com os resultados dos ensaios cooperativos, que são uma excelente fonte de consulta.
Outro ponto de atenção na última aplicação é o período residual do fungicida. Escolha um produto que não prolongue o ciclo da planta, evitando o problema de “haste verde e folha retida” na hora da colheita.
Conclusão
Neste artigo, vimos a importância de um bom manejo de doenças na soja e listamos as principais ameaças no Brasil.
Você aprendeu que a prevenção, através de um manejo integrado, é a base para um controle eficaz e para evitar novos casos de resistência dos fungos aos produtos.
Além disso, detalhamos o momento ideal para a aplicação de fungicidas, explicamos o conceito da “aplicação zero” e mostramos como posicionar os produtos de forma estratégica para proteger o potencial produtivo da sua lavoura.
Lembre-se sempre: o manejo de doenças é complexo e a recomendação de fungicidas deve ser feita com o acompanhamento de um engenheiro-agrônomo de sua confiança. Ele é o profissional capacitado para te ajudar a tomar a melhor decisão para a sua fazenda.
Glossário
Aplicação Zero: Aplicação de fungicida realizada de forma antecipada, no estádio V3-V4 da soja, antes do programa de pulverizações convencional. Seu objetivo é reduzir a quantidade inicial de fungos na área, protegendo a lavoura desde cedo.
Cultivar: Refere-se a uma variedade específica de planta, como a soja, desenvolvida por melhoramento genético para apresentar características desejáveis (ex: alta produtividade, resistência a doenças). É o equivalente a uma “raça” de planta.
DAE (dias após a emergência): Sigla para “Dias Após a Emergência”. É uma medida de tempo usada para acompanhar o desenvolvimento da lavoura, contando os dias a partir do momento em que as plântulas de soja rompem o solo.
Estádios Fenológicos (V/R): Sistema padronizado para identificar as fases de desenvolvimento da soja. Os estádios “V” (V1, V2, etc.) representam a fase vegetativa (crescimento de folhas), enquanto os estádios “R” (R1, R2, etc.) indicam a fase reprodutiva (flores, vagens e grãos).
Inóculo inicial: Quantidade inicial do patógeno (como esporos de fungos) presente na lavoura ou na semente no início do ciclo da cultura. O manejo busca reduzir esse inóculo para diminuir a pressão e a severidade das doenças.
Manejo Integrado de Doenças (MID): Estratégia que combina diferentes táticas de controle (cultural, químico, biológico) para manter as doenças abaixo do nível de dano econômico. Envolve práticas como rotação de culturas, vazio sanitário e uso racional de fungicidas.
Patógeno: Microrganismo, como um fungo ou bactéria, capaz de causar doença em uma planta. No artigo, o fungo Phakopsora pachyrhizi, que causa a ferrugem-asiática, é um exemplo de patógeno.
Vazio sanitário: Período obrigatório por lei em que é proibido ter plantas vivas de soja no campo. Essa medida visa quebrar o ciclo de vida de doenças e pragas, principalmente a ferrugem-asiática, reduzindo o inóculo para a safra seguinte.
Veja como o Aegro pode ajudar a superar esses desafios
Gerenciar um cronograma de pulverizações tão detalhado, com aplicações em estágios V3, V7 e R1, é um desafio que exige controle total. Esquecer uma aplicação ou errar a data pode colocar a produtividade em risco. Um software de gestão agrícola como o Aegro centraliza o planejamento e o registro das atividades, permitindo que você agende cada pulverização e acompanhe o que foi realizado direto do campo, pelo aplicativo.
Além disso, com o alto custo dos defensivos, controlar os gastos é crucial. O artigo menciona que o controle da ferrugem-asiática custa bilhões por safra, e saber o impacto disso no seu bolso faz toda a diferença. Com o Aegro, cada aplicação registrada atualiza automaticamente seus custos de produção por talhão, oferecendo uma visão clara da rentabilidade da lavoura e ajudando a tomar decisões mais inteligentes.
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Perguntas Frequentes
O que é exatamente a “aplicação zero” de fungicidas na soja e por que ela é importante?
A “aplicação zero” é uma pulverização antecipada de fungicida, realizada na fase V3-V4 da soja, cerca de 30 dias após a emergência. Sua importância está em reduzir a quantidade inicial de fungos (inóculo) na lavoura, principalmente para doenças como manchas foliares e antracnose, protegendo a planta desde cedo e preparando o terreno para as aplicações principais.
Se eu fizer a “aplicação zero”, posso pular alguma das pulverizações do programa convencional?
Não, a “aplicação zero” não substitui as pulverizações principais, ela é uma aplicação complementar. Pelo contrário, após realizá-la, o intervalo para a primeira aplicação convencional (em V7) costuma ser até mais curto, garantindo que não haja uma janela de desproteção antes do fechamento das linhas.
Qual a diferença entre um fungicida com ação curativa e um com ação preventiva?
Um fungicida preventivo deve ser aplicado antes do surgimento da doença, criando uma barreira protetora na folha que impede a infecção pelo fungo. Já o fungicida curativo age quando a infecção já começou, combatendo o patógeno que está dentro da planta. O manejo ideal combina os dois tipos de ação de forma estratégica.
Por que as aplicações antes do fechamento das linhas (V7) e no florescimento (R1) são as mais críticas?
Essas duas fases são cruciais porque marcam o início do período reprodutivo, quando a planta define seu potencial produtivo. Proteger as folhas nesse momento garante a máxima capacidade de fotossíntese para encher os grãos. Além disso, a aplicação em V7 é a última chance de atingir as folhas inferiores (baixeiro) com boa cobertura, onde muitas doenças se iniciam.
Como posso escolher os fungicidas mais eficientes contra a ferrugem-asiática, considerando a resistência?
A melhor forma é consultar os resultados de ensaios de eficiência conduzidos por instituições de pesquisa, como os relatórios anuais da Embrapa. Esses documentos testam os principais produtos do mercado contra as populações atuais do fungo, indicando quais ingredientes ativos e misturas estão entregando os melhores resultados de controle a campo.
O que acontece se eu atrasar a aplicação e a lavoura já estiver com as linhas fechadas?
Atrasar a aplicação após o fechamento das linhas compromete seriamente a eficácia do controle. O dossel fechado impede que o produto chegue às folhas do baixeiro, que são a porta de entrada para doenças como a ferrugem-asiática. O resultado é uma proteção falha, que pode permitir que a doença se estabeleça e cause perdas significativas de produtividade.
É seguro misturar fungicidas com herbicidas, como o glifosato, na mesma aplicação?
Sim, essa prática é comum para otimizar as operações, especialmente na “aplicação zero” em soja RR. No entanto, é fundamental verificar a compatibilidade entre os produtos na bula e realizar um teste de calda. Além disso, deve-se ter atenção ao pH da calda, pois a eficácia de ambos os produtos pode ser afetada se as condições não forem ideais.
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- O que são fungicidas multissítios e por que você deve passar a utilizá-los: Este artigo complementa perfeitamente o artigo principal, que recomenda a rotação de mecanismos de ação sem aprofundar no ‘como’. Ele detalha a diferença crucial entre fungicidas sítio-específicos e multissítios, explicando por que a inclusão destes últimos é a principal estratégia prática para o manejo de resistência, um conceito apenas mencionado no texto base.
- Fungicidas da cultura da soja que já apresentam resistência e alternativas de controle: Enquanto o artigo principal foca nas estratégias de aplicação, este explora a consequência do manejo inadequado: a resistência. Ele contextualiza a urgência das estratégias recomendadas ao listar os grupos químicos que já perderam eficiência (triazóis, estrobilurinas, carboxamidas), fornecendo o ‘porquê’ por trás da necessidade de rotação e do uso de novas ferramentas como os multissítios.
- Ciclo da ferrugem da soja e novidades da doença para esta safra: O artigo principal identifica a ferrugem-asiática como a principal ameaça e baseia seu calendário de aplicações (V7, R1, R3, R5) em seu controle. Este artigo oferece um mergulho profundo no ciclo de vida deste patógeno específico, explicando as condições ideais para sua infecção. Isso fornece a base biológica que justifica o porquê do momento das aplicações ser tão crítico, enriquecendo a compreensão do leitor.
- O que é vazio sanitário? Por que é importante?: O artigo principal menciona o vazio sanitário como um item dentro do Manejo Integrado de Doenças (MID). Este artigo expande essa única menção em um guia completo, explicando a importância estratégica, o funcionamento e a legislação por trás da prática. Ele reforça a mensagem de que o controle eficaz começa muito antes da primeira pulverização, oferecendo um pilar preventivo fundamental que o texto principal não detalha.
- Conheça as 11 principais doenças da soja e como combatê-las (+ nematoides): O artigo principal lista as principais doenças da soja, mas foca sua estratégia de aplicação majoritariamente no controle da ferrugem. Este artigo serve como um guia de referência essencial para as outras doenças citadas (mancha-alvo, oídio, mofo-branco, etc.), detalhando a identificação e o manejo específico de cada uma. Ele preenche a lacuna de conhecimento sobre as demais ameaças, tornando o leitor mais preparado para um manejo completo da lavoura.