Ver a lavoura com as folhas manchadas nunca é um bom sinal. Quando você descobre que pode ser uma doença, a preocupação aumenta, e com razão. Doenças como a antracnose podem limitar seriamente a produção e causar grandes prejuízos em diversas culturas de grãos.
Este artigo é um guia prático para você entender o que é a antracnose, como ela afeta suas plantações e, o mais importante, quais são as medidas de controle mais eficazes para proteger sua lavoura e garantir sua produtividade.
O Impacto da Antracnose na Produção de Grãos
A antracnose é uma doença causada por fungos do gênero Colletotrichum que pode atacar várias culturas, afetando diferentes partes da planta, desde as folhas até os grãos. Ela representa uma ameaça significativa para lavouras de feijão, soja, milho e sorgo.
A importância desta doença fica clara quando olhamos os números:
- Na cultura do feijão, a antracnose é uma das doenças mais graves. Em plantios com variedades suscetíveis, as perdas de produção podem chegar a impressionantes 100%.
- Na cultura do sorgo, é considerada a doença mais importante. Sua ampla distribuição e os danos severos podem levar a perdas de mais de 80% na produção de grãos em variedades sem resistência.
Além de reduzir a quantidade colhida (perda quantitativa), a antracnose também afeta a qualidade do produto (perda qualitativa). Grãos com manchas escuras ou lesões perdem valor de mercado, impactando diretamente a rentabilidade do seu negócio.
Como o Fungo da Antracnose Sobrevive e se Espalha
Para controlar a doença de forma eficaz, é fundamental entender como o fungo sobrevive de uma safra para outra. As espécies de Colletotrichum que causam a antracnose podem permanecer na área através de:
- Sementes infectadas: Esta é a principal forma de entrada do fungo em uma nova área. Sementes contaminadas podem não germinar bem ou dar origem a plantas doentes, que se tornam fontes de disseminação na lavoura.
- Restos de culturas: O fungo sobrevive na palhada e em outros resíduos vegetais deixados no campo após a colheita.
- Hospedeiros alternativos: Outras plantas, incluindo algumas daninhas, podem abrigar o fungo sem necessariamente mostrar sintomas, mantendo o patógeno vivo na área.
O fungo se mantém na área principalmente nos restos culturais e nos hospedeiros alternativos, formando o que chamamos de inóculo.
Para entender melhor: Inóculo significa a parte do fungo (patógeno) capaz de iniciar a infecção na planta. Quanto mais inóculo na área, maior o risco de a doença se manifestar.
Saber disso reforça a importância de impedir a entrada do patógeno na sua lavoura desde o início.
Condições que Favorecem a Doença
Fique atento ao clima. A antracnose se desenvolve melhor em condições de temperatura moderada a alta, combinadas com alta umidade.
Plantios muito adensados (com excesso de plantas por metro) podem criar um microclima úmido entre as plantas, o que, junto com temperaturas favoráveis, cria o cenário perfeito para a proliferação da doença.
Estratégias de Manejo: Como Controlar a Antracnose na Prática
O controle eficaz da antracnose exige um conjunto de estratégias integradas. Como o fungo sobrevive nos restos de cultura, uma das técnicas mais importantes é a rotação de culturas.
Isso significa alternar o plantio de diferentes espécies de plantas na mesma área, em diferentes safras. É crucial escolher plantas que não sejam hospedeiras do fungo da antracnose para quebrar o ciclo da doença.
No plantio direto, a rotação de culturas é uma prática obrigatória. No sistema de plantio direto, a palhada permanece sobre o solo. Se você plantar a mesma cultura suscetível safra após safra, a população do fungo nos restos culturais só vai aumentar, garantindo uma infecção severa logo no início do ciclo seguinte.
Outras Estratégias de Manejo Integrado
Além da rotação de culturas, adote as seguintes práticas de manejo:
- Uso de Variedades Resistentes: Escolha cultivares que possuam resistência genética à antracnose. Este é o método de controle mais eficiente e econômico.
- Sementes Sadias e Certificadas: Comece com o pé direito. Use sementes de boa procedência e livres do patógeno.
- Tratamento de Sementes: Utilize fungicidas específicos para tratar as sementes antes do plantio. Isso protege as plântulas nos estágios iniciais de desenvolvimento.
- Espaçamento Adequado: Evite plantios muito adensados. Siga a recomendação técnica para a sua cultura e região para garantir boa ventilação entre as plantas.
- Aplicação de Fungicidas na Parte Aérea: O controle químico, com pulverização de fungicidas nas folhas, é uma ferramenta importante. No entanto, deve ser usado dentro de um manejo integrado, e não como única solução.
A melhor abordagem é sempre a prevenção. Use sementes sadias e faça o tratamento. Se o patógeno já está presente na área, combine todas as estratégias: rotação, variedades resistentes e espaçamento correto, usando o controle químico quando necessário.
A seguir, vamos detalhar as particularidades da antracnose em cada cultura.
Antracnose na Soja
A antracnose já foi considerada a segunda doença mais importante da cultura da soja, perdendo apenas para a ferrugem asiática. A espécie de fungo mais comum é a Colletotrichum truncatum, mas outras do mesmo gênero também podem causar a doença na soja.
A doença pode afetar a soja em qualquer fase de desenvolvimento, atacando folhas, hastes e vagens. Os maiores danos ocorrem durante a floração e o enchimento de grãos, fases em que pode causar a queda de flores e vagens. Se a infecção ocorre no início do ciclo, pode levar à morte das plântulas.
Sintomas na Soja:
- Folhas: Lesões escuras (necróticas), podendo ocorrer escurecimento das nervuras.
- Vagens: Lesões escuras, de formato irregular e afundadas (deprimidas). Esses danos podem atingir os grãos dentro da vagem.
- Grãos e Sementes: Ficam manchados, o que reduz sua qualidade e valor comercial, além de transformar a semente em um veículo para o fungo.
(Fonte: Fundação Rio Verde)
Controle da Antracnose na Soja
- Utilize sementes sadias e de boa procedência.
- Realize o tratamento de sementes com fungicidas registrados para o patógeno.
- Adote a rotação de culturas com espécies não hospedeiras, como o milho.
- Mantenha um espaçamento adequado entre as linhas de plantio.
- Faça a aplicação de fungicidas na parte aérea, se necessário, principalmente nos estádios reprodutivos R5 e R6, seguindo a recomendação técnica.
Antracnose no Milho
No milho, a antracnose é causada pelo fungo Colletotrichum graminicola e ataca principalmente as folhas e o colmo. Os danos podem reduzir a produção de milho em até 40%.
A doença tem se tornado mais problemática com o aumento do plantio direto e da safrinha, pois o fungo sobrevive facilmente nos restos culturais do milho, aumentando o inóculo para a safra seguinte.
Sintomas no Milho:
- Antracnose Foliar: Lesões necróticas (mortas), de formato arredondado a alongado e coloração castanha.
- Antracnose do Colmo: Lesões estreitas de cor castanha na parte externa. Internamente, os tecidos do colmo ficam escuros e podem se desintegrar, levando ao tombamento da planta.
(Fonte: Rodrigo Véras da Costa em Embrapa)
Métodos de Controle da Antracnose no Milho
- Uso de Híbridos Resistentes: A principal medida de controle é a escolha de híbridos de milho com boa resistência genética à antracnose.
- Rotação de Culturas: Rotacionar com culturas como a soja ou o feijão ajuda a reduzir a quantidade de inóculo do fungo na área.
Antracnose na Cultura do Sorgo
Como já mencionado, a antracnose é a doença mais importante do sorgo, também causada pelo fungo C. graminicola. A doença pode atacar folhas, colmo, panícula e grãos.
Os sintomas nas folhas podem aparecer em qualquer fase, mas são mais comuns a partir do desenvolvimento da panícula.
Sintomas no Sorgo:
- Folhas: Inicialmente, as lesões são circulares ou ovais com o centro cor de palha. Com o tempo, o centro escurece e as bordas ficam avermelhadas ou castanhas.
- Colmo: Formam-se cancros, que são áreas mais claras cercadas por uma pigmentação escura, principalmente em plantas adultas.
- Panícula: A infecção pode ser uma extensão da podridão do colmo. As panículas de plantas doentes ficam menores e amadurecem antes da hora.
(Fonte: Embrapa)
Controle para Antracnose no Sorgo
- Utilize variedades resistentes.
- Plante sementes sadias e de origem conhecida.
- Realize o tratamento de sementes com fungicidas.
- Faça a rotação de culturas para reduzir o inóculo na área.
Antracnose no Feijoeiro
A antracnose no feijão é causada pelo fungo Colletotrichum lindemuthianum. É uma das doenças mais devastadoras para a cultura, podendo atingir toda a parte aérea da planta.
Sintomas no Feijoeiro:
- Folhas: O sintoma mais característico é o aparecimento de áreas escuras (necrosadas) nas nervuras, principalmente na parte de baixo da folha. As lesões podem ser alongadas e angulosas, de cor vermelha a marrom.
- Vagens: Surgem lesões circulares, afundadas, com uma borda escura (marrom ou avermelhada) bem definida.
(Fonte: Marília Goulart da Silva e Edson Ampélio Pozza em Revista Cultivar)
Controle da Antracnose do Feijoeiro
- Utilize sementes sadias e certificadas.
- Faça o tratamento de sementes com fungicidas adequados.
- Plante variedades resistentes, que é a medida mais eficaz.
- Pratique a rotação de culturas com gramíneas, como milho ou sorgo.
- Aplique fungicidas para pulverização da parte aérea conforme a necessidade e recomendação técnica.
Para consultar os produtos registrados para o controle da antracnose em cada cultura, acesse o sistema Agrofit do MAPA. Em caso de dúvida, procure sempre um(a) engenheiro(a) agrônomo(a) para a correta prescrição do receituário.
Para resumir, veja a tabela abaixo com as principais características da antracnose em cada cultura.
Conclusão
Neste artigo, você viu que a antracnose é uma ameaça séria para as culturas de grãos, mas que pode ser controlada com um manejo bem planejado.
Entendemos como o fungo sobrevive na área, as condições que favorecem a doença e as estratégias de manejo mais eficazes, desde a escolha de sementes sadias e variedades resistentes até a rotação de culturas e o uso correto de fungicidas.
Abordamos também os sintomas e controles específicos para soja, milho, feijão e sorgo, fornecendo um panorama completo para você proteger sua lavoura.
Ao aplicar um bom manejo integrado, você evita perdas de produção e garante a rentabilidade do seu trabalho. Fique atento aos sinais na sua lavoura e atue de forma preventiva
Glossário
Colmo: O principal caule ou haste de plantas da família das gramíneas, como o milho e o sorgo. É a estrutura que sustenta as folhas e a panícula/espiga.
Colletotrichum: Gênero de fungos que é o agente causador da doença conhecida como antracnose em uma ampla variedade de culturas agrícolas.
Cultivar: Termo técnico para uma variedade específica de planta obtida por meio de melhoramento genético. A escolha de cultivares resistentes é uma das principais formas de controle da antracnose.
Hospedeiros alternativos: Plantas, incluindo espécies daninhas, que podem abrigar um patógeno (como o fungo da antracnose) sem necessariamente mostrar sintomas, permitindo que ele sobreviva na área entre as safras da cultura principal.
Inóculo: A parte de um patógeno (neste caso, esporos do fungo) que é capaz de infectar uma planta. A quantidade de inóculo presente na lavoura determina o potencial de severidade da doença.
Lesões necróticas: Manchas ou áreas de tecido vegetal morto, que aparecem como resultado da infecção. Na antracnose, essas lesões são geralmente escuras, de cor marrom a preta.
Panícula: Estrutura reprodutiva (inflorescência) presente no topo de plantas como o sorgo, onde as flores e, posteriormente, os grãos são formados.
Patógeno: Qualquer microrganismo, como um fungo, bactéria ou vírus, capaz de causar uma doença em outro ser vivo. No artigo, o patógeno é o fungo Colletotrichum.
Rotação de culturas: Prática agrícola que consiste em alternar, de forma planejada, o plantio de diferentes espécies vegetais em uma mesma área. É fundamental para quebrar o ciclo de vida do fungo da antracnose, que sobrevive nos restos culturais.
Veja como o Aegro pode ajudar a superar esses desafios
Gerenciar todas as estratégias de controle da antracnose – da rotação de culturas ao monitoramento e aplicação de fungicidas – exige organização. A falta de um registro preciso pode comprometer a eficácia do manejo.
Softwares de gestão agrícola, como o Aegro, ajudam a centralizar essas informações, permitindo planejar e registrar cada atividade no campo. Com o aplicativo, é possível anotar ocorrências da doença diretamente do talhão, garantindo um histórico confiável para tomar decisões mais rápidas e eficientes safra após safra.
Além do desafio agronômico, o controle da antracnose impacta diretamente os custos de produção. Cada aplicação de fungicida é um investimento que precisa ser monitorado para garantir a rentabilidade.
Ferramentas como o Aegro simplificam essa tarefa, conectando as operações de campo ao financeiro. Ao registrar os gastos com insumos, o sistema calcula automaticamente o custo por hectare, oferecendo uma visão clara de onde o dinheiro está sendo investido e qual o retorno sobre cada talhão.
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Perguntas Frequentes
Quais são as primeiras medidas que devo tomar para prevenir a antracnose na minha lavoura?
A prevenção começa antes mesmo do plantio. As duas medidas mais importantes são escolher sementes sadias e certificadas, livres do patógeno, e optar por variedades ou híbridos que possuam resistência genética à antracnose. Além disso, o tratamento de sementes com fungicidas específicos é uma prática fundamental para proteger as plântulas nos estágios iniciais.
Como a rotação de culturas ajuda especificamente a controlar a antracnose?
O fungo causador da antracnose (Colletotrichum) sobrevive nos restos de culturas infectadas de uma safra para outra. Ao praticar a rotação com uma cultura não hospedeira (como milho após feijão), você quebra o ciclo de vida do fungo, pois ele não encontra um hospedeiro para se multiplicar. Isso reduz drasticamente a quantidade de inóculo na área para a próxima safra suscetível.
A aplicação de fungicidas na parte aérea é suficiente para controlar a antracnose?
Não, o controle químico sozinho não é suficiente e não deve ser a única estratégia. A aplicação de fungicidas é uma ferramenta importante, mas deve ser integrada a outras práticas, como o uso de variedades resistentes, rotação de culturas e espaçamento adequado. O manejo integrado é a abordagem mais eficaz e sustentável para o controle da doença.
Quais condições climáticas aumentam mais o risco de uma epidemia de antracnose?
A antracnose é favorecida por condições de alta umidade combinadas com temperaturas de moderadas a altas. Períodos chuvosos e tempo nublado prolongado criam o ambiente ideal para a infecção e disseminação do fungo. Lavouras muito adensadas também aumentam o risco, pois retêm umidade entre as plantas, criando um microclima propício à doença.
A antracnose afeta soja e milho da mesma forma?
Não, os sintomas e o impacto variam. Na soja, a doença ataca folhas, hastes e, principalmente, as vagens, podendo causar queda de flores e apodrecimento de grãos. No milho, os principais alvos são as folhas (antracnose foliar) e o colmo (antracnose do colmo), que pode levar ao enfraquecimento e tombamento das plantas, prejudicando a colheita.
Posso usar sementes salvas de uma lavoura que teve antracnose?
Não é recomendado. As sementes infectadas são uma das principais formas de introdução e disseminação da antracnose em uma área. Utilizar sementes de uma lavoura doente, mesmo que pareçam sadias, carrega um alto risco de iniciar a próxima safra já com a doença presente, comprometendo o potencial produtivo desde o início.
Qual é o principal sintoma que diferencia a antracnose no feijoeiro?
No feijoeiro, o sintoma mais característico e distintivo ocorre nas vagens, onde se formam lesões circulares, afundadas e com bordas escuras e bem definidas, de cor marrom ou avermelhada. Nas folhas, um sinal comum é o escurecimento das nervuras na parte inferior, com lesões alongadas e angulosas.
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