Amostragem de Solo Georreferenciada para Agricultura de Precisão

Sou engenheira-agrônoma e mestra em agronomia, com ênfase em produção vegetal, pela Universidade Federal de Goiás.
Amostragem de Solo Georreferenciada para Agricultura de Precisão

A análise de solo funciona como um “raio-x” da sua lavoura. Ela utiliza pequenas porções de terra para avaliar as características químicas e físicas, revelando o que está acontecendo debaixo da superfície. Para que essa análise seja confiável, as amostras coletadas precisam representar fielmente toda a variabilidade da sua área.

Somente com uma amostragem bem-feita é possível usar insumos como gesso agrícola, calcário e adubos na medida certa, evitando desperdícios e maximizando o potencial produtivo. Na agricultura de precisão, existem diferentes métodos para realizar essa coleta de forma inteligente.

Neste artigo, vamos detalhar cada um desses métodos, explorar o futuro da amostragem de solo e mostrar os equipamentos necessários para executar o processo. Boa leitura!

O que é uma Amostra Composta de Solo?

A amostragem é o ponto de partida para qualquer análise de solo. O processo envolve coletar pequenas porções de terra, chamadas de subamostras, de vários pontos do talhão. Quando você mistura todas essas subamostras de forma homogênea, o resultado é a amostra composta: uma única amostra que representa a média daquela área.

É essa amostra composta que será enviada ao laboratório para a análise química e física, permitindo avaliar a fertilidade do solo e sua textura.

Por que uma amostragem correta é inegociável?

Se a coleta for feita de maneira errada, a amostra não vai refletir a real condição do solo. Um erro aqui compromete todo o processo seguinte, levando a recomendações equivocadas de calagem e adubação.

É importante entender que erros na amostragem do solo não podem ser corrigidos depois no laboratório. A amostra enviada precisa ser a representação mais fiel possível da área que você pretende cultivar.

Como Fazer Amostragem Georreferenciada na Fazenda?

Na agricultura de precisão, a coleta de amostras é feita com base em métodos que utilizam o georreferenciamento.

Georreferenciamento: significa registrar a localização exata de cada ponto de coleta usando coordenadas geográficas (latitude e longitude), como um GPS.

Isso permite criar mapas precisos da fertilidade e de outras características do solo na sua propriedade. Os dois principais métodos são a amostragem em grade (por ponto ou por célula) e a amostragem direcionada.

1. Amostragem em Grade por Ponto

Neste método, o talhão é dividido em uma grade, formando áreas menores com formato de quadrado ou retângulo (células).

Dentro de cada uma dessas células, você define um ponto georreferenciado para a coleta. Esse ponto pode ser no centro da célula ou em uma posição aleatória dentro dela.

uma vista aérea de um talhão agrícola sobre a qual foi sobreposta uma grade de amostragem. Esta grade, compostAmostragem em grade por ponto (Fonte: Revista Cultivar)

A coleta das subamostras é feita ao redor desse ponto central. A recomendação geral é:

  • Número de subamostras: 8 a 12 por ponto.
  • Raio de coleta: 3 a 5 metros ao redor do ponto georreferenciado.

Depois, todas as subamostras de um mesmo ponto são misturadas para formar a amostra composta daquele local. Quanto mais subamostras você coletar, mais confiável será o resultado, embora isso aumente o custo e o tempo da operação.

Com os dados georreferenciados de cada ponto, é possível usar softwares para processar e interpolar as informações.

Interpolar: significa usar os dados dos pontos coletados para estimar os valores nos espaços entre eles, preenchendo o mapa por completo e mostrando a variabilidade na área.

O resultado é um mapa de fertilidade detalhado, como o que você vê abaixo.

processo de criação de um mapa de fertilidade do solo, uma ferramenta essencial na agricultura de precisãoGeração do mapa de fertilidade por meio da interpolação de dados obtidos por amostragem em grade (Fonte: Agricultura de Precisão – Boletim Técnico 02)

2. Amostragem em Grade por Célula

Assim como no método anterior, os talhões são divididos em células, que não precisam ter um tamanho regular. A grande diferença está na coleta: em vez de coletar ao redor de um único ponto, as subamostras são retiradas de vários locais dentro de cada célula, geralmente caminhando em zigue-zague.

Todas as subamostras coletadas dentro de uma mesma célula são misturadas de forma homogênea. Isso cria uma única amostra composta que representa a média de toda a área daquela célula.

Comparado à amostragem por ponto, o método por célula geralmente exige um investimento menor, pois o número total de amostras enviadas ao laboratório costuma ser menor.

processo de amostragem de solo em grade e a criação de um mapa de variabilidade, conceitos centrais da agrMapa de fertilidade obtido por amostragem em grade por célula (Fonte: Agricultura de Precisão – Boletim Técnico 02)

3. Amostragem Direcionada (ou por Zonas de Manejo)

Este método é mais avançado, ideal para produtores que já têm um bom histórico de dados da fazenda e familiaridade com a agricultura de precisão. Para aplicá-lo, você precisa de informações prévias sobre a área, como:

O objetivo aqui não é criar um mapa do zero, mas sim usar os dados existentes para entender as causas da variabilidade na lavoura. Os pontos de amostragem são definidos estrategicamente dentro de zonas com características semelhantes (por exemplo, uma zona de alta produtividade e outra de baixa produtividade).

Isso significa que os pontos de coleta não são distribuídos de maneira uniforme, mas sim direcionados para áreas de interesse, para investigar por que elas se comportam de maneiras diferentes.

mapa de produtividade de uma área agrícola, uma ferramenta essencial na agricultura de precisão. O mapa utiAmostragem direcionada com base em mapa de produtividade (Fonte: Agricultura de Precisão – Boletim Técnico 02)

Agora que conhecemos os métodos, vamos ver quais equipamentos são usados no processo.

Equipamentos Necessários para Amostragem de Solos

A coleta da amostra de solo pode ser feita com o auxílio de diversas ferramentas, desde as mais simples até as mais tecnológicas.

Amostradores Motorizados

Atualmente, já existem no mercado amostradores de solo com motores a combustão, elétricos, hidráulicos ou pneumáticos.

  • Elétricos: São mais leves e práticos, mas têm menor potência e são indicados para solos menos argilosos.
  • Hidráulicos ou a combustão: São necessários para solos compactados e pesados. No entanto, são equipamentos mais pesados e difíceis de operar manualmente.

equipamento agrícola elétrico especializado, apresentado sobre um fundo branco para destacar seus detalhes.Amostrador de solo elétrico alimentado à bateria automotiva (Fonte: Saci Soluções)

Para facilitar o trabalho, é comum acoplar esses amostradores em caminhonetes, quadriciclos, tratores ou outros veículos utilitários. Já existem empresas que fornecem o conjunto completo: veículo e amostrador prontos para uso, incluindo sistemas para separação e identificação das amostras.

quadriciclo (ATV) de cor vermelha, adaptado para uso agrícola, sobre um fundo branco. O veículo foi modificAmostrador de solo com comando automático acoplado a um quadriciclo (Fonte: Saci Soluções)

Ferramentas Manuais

Para coletas manuais ou em menor escala, as ferramentas mais comuns são:

  • Trado: Pode ser do tipo rosca, calador, caneca, holandês ou fatiador.
  • Cavadeira
  • Enxadão
  • Pá reta (pá de vanga)

O Futuro do Mercado de Amostragem de Solo

A tecnologia está avançando para tornar a análise de solo mais rápida e precisa. Estão surgindo no mercado equipamentos que realizam a medição das características do solo em campo e em tempo real. Aparelhos de raio-X, lasers e scanners prometem quantificar os nutrientes das amostras de forma quase instantânea.

No Brasil, um exemplo é a SpecSolo, que utiliza tecnologia de infravermelho próximo para realizar análises de solo. Com um gigantesco banco de dados, os resultados são gerados mais rapidamente e com mais segurança.

Como Facilitar o Acompanhamento da Amostragem no Aegro

Depois de coletar as amostras, é fundamental armazenar e organizar esses dados de forma segura para um acompanhamento eficaz.

Com o Aegro, você visualiza sua propriedade no mapa, dividindo o terreno em diferentes talhões e safras. A partir daí, você pode usar o sistema para otimizar todo o processo.

1. Planeje os Pontos de Coleta

No planejamento de atividades, você pode marcar pontos específicos no mapa onde as amostras serão coletadas, usando a função de monitoramento.

GIF que exibe a tela ‘Atividades’ do aplicativo móvel Aegro. A interface mostra o gerenciamento de tarefas paraTela para planejar os pontos de amostragem no aplicativo pelo celular

2. Registre em Campo com Precisão

Para registrar cada ponto de amostragem, basta que o localizador (GPS) do seu celular esteja ativado. O aplicativo irá georreferenciar a coleta, identificando exatamente onde você está dentro do talhão. Ao chegar no ponto definido, a função realizar amostragem guia o processo.

Você pode selecionar o talhão e adicionar observações importantes, como a presença de pragas, o número de plantas por m² e o estágio de desenvolvimento da cultura.

Este GIF animado exibe a tela de ‘Monitoramento’ do aplicativo móvel da Aegro. A imagem mostra o sumário de uma atividade deTela de monitoramento de atividades no Aegro

Após a coleta, você acompanha um resumo do monitoramento, com a quantidade de pontos avaliados e outras informações relevantes, mantendo o histórico de cada atividade organizada e acessível.

Conclusão

Uma amostragem de solo bem-feita não é um custo, é um investimento. Ela é o primeiro e mais crítico passo para um manejo correto de insumos, o que evita desperdícios e protege sua rentabilidade.

Erros cometidos nesta etapa inicial podem levar a recomendações erradas de calagem e adubação, comprometendo a produtividade final da lavoura.

Felizmente, a tecnologia avança com novas metodologias e ferramentas, garantindo que você tenha dados cada vez mais precisos para tomar as melhores decisões para o seu negócio.


Glossário

  • Amostra Composta: É a mistura homogênea de várias porções menores de solo (subamostras) coletadas em uma mesma área. Esta amostra única representa a média das características do solo daquele local e é a que será enviada para análise no laboratório.

  • Georreferenciamento: Processo de atribuir coordenadas geográficas (latitude e longitude) a um ponto ou área. Na amostragem de solo, é como usar um GPS para registrar a localização exata de cada coleta, permitindo a criação de mapas de fertilidade precisos.

  • Interpolação: Técnica estatística usada para estimar valores em locais onde não houve coleta de dados. Com base nos resultados das amostras georreferenciadas, a interpolação “preenche” os espaços vazios do mapa, mostrando a variação de nutrientes em todo o talhão.

  • NDVI (Índice de Vegetação por Diferença Normalizada): Um indicador obtido por meio de imagens de satélite ou drones que mede a saúde e o vigor da vegetação. Valores altos de NDVI indicam plantas mais saudáveis e densas, ajudando a identificar zonas de manejo com diferentes potenciais produtivos.

  • Subamostra: Uma única porção de terra coletada em um ponto específico dentro de um talhão. A combinação de várias subamostras de uma mesma área forma a amostra composta.

  • Talhão: Uma subdivisão da fazenda, tratada como uma unidade de manejo única. É uma área específica de cultivo, geralmente delimitada por estradas, cercas ou características geográficas, onde se realiza o planejamento e as operações agrícolas.

  • Zonas de Manejo: Áreas dentro de um talhão que apresentam características semelhantes e estáveis ao longo do tempo, como produtividade, tipo de solo ou relevo. A amostragem direcionada é feita com base nessas zonas para entender a causa da variabilidade e otimizar a aplicação de insumos.

Veja como o Aegro pode ajudar a superar esses desafios

Realizar uma amostragem de solo detalhada é um investimento crucial, mas o custo e o tempo envolvidos, além da complexidade de transformar esses dados em ações, são desafios reais. Para garantir que esse investimento traga retorno, é fundamental conectar os resultados do laboratório com a gestão financeira e operacional da fazenda. Ferramentas como o Aegro ajudam a fazer essa ponte, permitindo que você planeje a aplicação de insumos com base nos mapas de fertilidade e acompanhe os custos de cada talhão. Dessa forma, você não apenas corrige o solo, mas também visualiza o impacto direto na sua rentabilidade, tomando decisões mais seguras safra após safra.

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Perguntas Frequentes

Qual a principal diferença entre a amostragem de solo em grade por ponto e por célula?

A principal diferença está na representatividade da amostra. Na amostragem por ponto, cada amostra representa um local específico e os dados são interpolados para criar um mapa contínuo. Na amostragem por célula, a amostra representa a média de toda a área da célula, resultando em um mapa em blocos. O método por célula geralmente envolve um custo menor por ter menos amostras enviadas ao laboratório.

Com que frequência devo realizar a amostragem georreferenciada de solo na minha fazenda?

A frequência ideal depende do seu sistema de produção. Para culturas anuais em plantio direto, uma nova amostragem a cada 2 ou 3 anos costuma ser suficiente para monitorar a fertilidade. Em sistemas de manejo mais intensivo ou culturas perenes, pode ser necessário realizar a análise anualmente para ajustes mais finos no plano de fertilização.

A amostragem direcionada por zonas de manejo é indicada para qualquer produtor?

Não exatamente. Este método é mais avançado e recomendado para produtores que já possuem um histórico de dados da propriedade, como mapas de produtividade de safras passadas ou imagens de NDVI. Seu objetivo não é criar um mapa do zero, mas sim investigar as causas da variabilidade já identificada, tornando-o ideal para otimizar o manejo em um estágio mais maduro da agricultura de precisão.

O investimento em amostragem de solo para agricultura de precisão realmente compensa?

Sim, o investimento geralmente se paga com a economia de insumos e o aumento da produtividade. Ao identificar a variabilidade do solo, você pode aplicar calcário e fertilizantes em taxas variáveis, colocando a quantidade certa no lugar certo. Isso evita desperdícios em áreas já férteis e corrige deficiências em pontos críticos, otimizando a rentabilidade geral da operação.

É obrigatório usar um amostrador motorizado para a coleta georreferenciada?

Não é obrigatório, mas é altamente recomendado para grandes áreas ou solos compactados. Amostradores motorizados, acoplados a quadriciclos ou caminhonetes, garantem maior agilidade, padronização na profundidade da coleta e reduzem o esforço físico. Para áreas menores ou orçamentos limitados, ferramentas manuais como trados ainda podem ser utilizadas, desde que a coleta seja feita com rigor.

As novas tecnologias de análise em tempo real já podem substituir os laboratórios tradicionais?

Ainda não completamente. Tecnologias como sensores de raio-X ou infravermelho são promissoras e agilizam a obtenção de dados em campo, mas ainda funcionam melhor como um complemento à análise laboratorial. Os laboratórios continuam sendo o padrão de referência para a calibração desses equipamentos e para análises químicas mais detalhadas e precisas.

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