O amendoim-bravo, também conhecido popularmente como leiteiro, é uma espécie invasora de grande importância na agricultura. Esta planta se destaca por seu crescimento rápido, ciclo de vida curto e uma elevada capacidade de produção de sementes, tornando-se uma competidora agressiva nas lavouras.
É considerada uma das principais plantas daninhas em lavouras de soja transgênica, mas sua presença se estende por todo o território brasileiro, afetando tanto culturas anuais quanto perenes.
Para evitar perdas significativas na sua produção, é fundamental conhecer as características dessa invasora e aplicar as melhores táticas de manejo de plantas daninhas.
Neste artigo, vamos detalhar como identificar o leiteiro e apresentar as estratégias de controle mais eficazes, combinando métodos culturais, mecânicos, preventivos e químicos. Boa leitura!
Características do amendoim-bravo ou leiteiro (Euphorbia heterophylla)
O amendoim-bravo, cujo nome científico é Euphorbia heterophylla, é uma planta daninha herbácea com ciclo de vida anual. Dependendo da região, ela também pode ser chamada de leiteira, flor-de-poeta ou café-do-diabo.
Um dos seus traços mais conhecidos é a liberação de uma substância leitosa, um látex, quando a planta sofre algum corte ou dano. Essa secreção de látex é uma característica comum das espécies da família Euphorbiaceae, justificando o apelido “leiteiro”.
Amendoim-bravo ou leiteiro (Euphorbia heterophylla)
(Fonte: Embrapa)
Seu caule é ereto e cilíndrico, podendo crescer de forma simples ou com ramificações. A base do caule pode variar de cor, indo do verde ao avermelhado. Em condições favoráveis, o amendoim-bravo pode atingir até 80 cm
de altura.
A inflorescência é do tipo ciátio: um arranjo floral onde várias flores masculinas se posicionam ao redor de uma única flor feminina.
As folhas dessa planta daninha são simples, mas se destacam por terem formatos bastante variáveis. Essa característica é chamada de heterofilia, o que significa que na mesma planta é possível encontrar folhas com diferentes formas. Elas podem ser ovaladas, lanceoladas (formato de lança), elípticas, obovadas (formato de ovo invertido) ou com formato de violino.
(Fonte: Embrapa)
Como o leiteiro se propaga na lavoura?
A propagação do amendoim-bravo ocorre exclusivamente por sementes. Quando os frutos amadurecem, eles se rompem de forma explosiva, um mecanismo que lança as sementes para longe da planta-mãe. Esse rompimento explosivo do fruto facilita enormemente a sua disseminação pela área.
Essa planta invasora possui uma alta capacidade de produzir sementes. Uma única planta de leiteiro pode gerar aproximadamente 490 sementes, um número que eleva seu potencial de competição contra as culturas comerciais.
As sementes do amendoim-bravo têm um formato ovalado irregular e coloração castanha. Seu tamanho varia de 2 mm
a 3 mm
de comprimento por 2 mm
a 2,5 mm
de largura.
Outro ponto de atenção é que as sementes conseguem manter seu poder de germinação por longos períodos no solo. Além disso, elas apresentam um alto potencial para germinar mesmo quando enterradas em maiores profundidades. As temperaturas ideais para a germinação do leiteiro ficam entre 25 °C e 35 °C.
Sementes de amendoim-bravo ou leiteiro (Euphorbia heterophylla)
(Fonte: Manual de Identificação e Controle de Plantas Daninhas)
Danos causados pela Euphorbia heterophylla na cultura da soja
O leiteiro é uma planta bastante agressiva, com um crescimento inicial muito rápido. À medida que se desenvolve, ele forma uma cobertura densa sobre as plantas de soja. Como a soja tem um desenvolvimento inicial mais lento, ela acaba sendo sombreada pelo amendoim-bravo.
Este sombreamento intenso interfere negativamente no desenvolvimento da soja e, consequentemente, na produtividade final. A Euphorbia heterophylla compete diretamente com a cultura por recursos essenciais como água, nutrientes, luz e espaço, afetando tanto a quantidade quanto a qualidade dos grãos colhidos.
Estudos mostram que, em culturas anuais, o amendoim-bravo pode reduzir a produção de grãos em até 60%. A presença massiva de plantas daninhas durante a colheita da soja também pode dificultar fisicamente a operação. Uma alta infestação de invasoras compromete o funcionamento das colhedoras e reduz a eficiência da atividade.
Além disso, a presença do amendoim-bravo no momento da colheita eleva o teor de umidade dos grãos, o que gera maiores gastos com secagem e beneficiamento da soja. Como o amendoim-bravo produz látex, essa substância contribui para que impurezas grudem no material colhido.
Hospedeiro de pragas e doenças
O amendoim-bravo serve como hospedeiro para algumas das principais pragas da soja, como o percevejo-marrom (Euschistus heros) e a mosca-branca (Bemisia tabaci).
Essa planta daninha também pode ser infectada pelo vírus do mosaico-anão (Euphorbia mosaic virus – EMV). A partir do leiteiro infectado, o vírus é transmitido pela mosca-branca para as plantas de soja, criando uma ponte verde para a doença.
Por isso, a incidência do vírus do mosaico-anão em soja está fortemente associada à presença do leiteiro. Em lavouras com grande população de mosca-branca, o risco dessa virose é significativamente maior.
Para completar, o leiteiro também é hospedeiro de nematoides como Meloidogyne incognita e Pratylenchus coffeae, além do fungo Diaporthe phaseolorum, causador do cancro da haste da soja.
Como fazer o controle do leiteiro (amendoim-bravo)
O amendoim-bravo é reconhecido como uma planta de difícil controle, principalmente por já ter desenvolvido resistência a diversos herbicidas. Diante desse cenário, é essencial que o manejo integre diferentes métodos de controle: preventivo, cultural, mecânico e químico.
Métodos preventivos
O objetivo do manejo preventivo é impedir que sementes de leiteiro e de outras daninhas sejam introduzidas na área de cultivo. As principais medidas são:
- Utilizar sementes certificadas e de boa procedência para o plantio da lavoura.
- Realizar a limpeza de máquinas e implementos agrícolas para evitar o transporte de torrões de terra contaminados entre áreas.
- Controlar as espécies invasoras não apenas dentro da área cultivada, mas também nas estradas, carreadores e bordaduras da lavoura.
- Manter o controle das plantas daninhas durante o período da entressafra.
Métodos culturais
As práticas culturais ajudam a fortalecer a cultura principal, tornando-a mais competitiva contra o leiteiro. As principais são:
- Rotação de culturas: alternar espécies com diferentes características para quebrar o ciclo das daninhas.
- Adubação equilibrada: nutrir adequadamente a cultura para que ela se desenvolva mais rápido que a invasora.
- Cobertura verde: utilizar plantas de cobertura para abafar o crescimento das daninhas.
- Época de semeadura: plantar na janela ideal para favorecer o desenvolvimento inicial da cultura.
- Bom preparo do solo: garantir um ambiente favorável para o estabelecimento rápido da lavoura.
- Plantio de variedades/cultivares adaptadas à região.
- Variação no espaçamento e na densidade de plantas para fechar as entrelinhas mais rapidamente.
Métodos mecânicos
No manejo mecânico, a eliminação das plantas daninhas é feita de forma física, por meio de:
- Cultivo mecanizado (gradagem, por exemplo).
- Arranquio manual.
- Capina (manual ou com enxada).
- Roçagem (manual ou mecânica).
Em lavouras sob sistema de plantio direto, a palhada sobre o solo tem um papel importante. Ela limita a passagem de luz e altera a temperatura e a umidade, criando um efeito físico que também ajuda no manejo das espécies invasoras.
Método químico
O controle químico exige atenção redobrada, pois o amendoim-bravo já possui biótipos com resistência múltipla a herbicidas inibidores da enzima ALS (acetolactato sintase), como:
- clorimuron-etil;
- cloransulam-metil;
- imazamox;
- imazaquim;
- imazethapyr.
Essa daninha também já demonstrou resistência a herbicidas inibidores da enzima Protox (protoporfirinogênio oxidase), incluindo:
- acifluorfen;
- diclosulam;
- flumetsulam;
- flumiclorac-pentyl;
- fomesafen;
- lactofen;
- metsulfuron-methyl;
- nicosulfuron;
- saflufenacil.
Mais recentemente, foram confirmados biótipos desta planta invasora resistente ao glifosato. Portanto, no manejo do amendoim-bravo, é fundamental que o uso de herbicidas seja integrado a outros métodos.
Ao optar pelo controle químico, adote cuidados essenciais, como a rotação de produtos com mecanismos de ação diferentes. Siga rigorosamente as orientações da bula quanto à dosagem, modo e época de aplicação.
O sucesso da aplicação também depende do estádio de desenvolvimento das plantas daninhas. Plantas jovens são muito mais fáceis de controlar do que plantas adultas e já estabelecidas.
Conclusão
O amendoim-bravo, ou leiteiro, é uma planta daninha de controle desafiador, com ciclo curto e alta produção de sementes, podendo gerar até 490 sementes por planta. Sua resistência a múltiplas moléculas de herbicidas, incluindo o glifosato, exige uma estratégia de manejo bem planejada.
Na cultura da soja, essa invasora compete por recursos, causa sombreamento, dificulta a colheita e eleva os custos de produção. Além disso, funciona como hospedeira para pragas e doenças importantes.
O manejo eficaz do amendoim-bravo deve ser realizado pela adoção integrada de diferentes métodos: preventivo, cultural, mecânico e químico.
Na dúvida, consulte sempre um(a) engenheiro(a)-agrônomo(a) de sua confiança para definir o melhor plano de ação para a sua realidade.
Glossário
Biótipo: Grupo de plantas de uma mesma espécie que possuem uma característica genética específica, como a resistência a um determinado herbicida. A existência de biótipos resistentes de amendoim-bravo explica por que um produto químico pode falhar em controlá-lo em certas áreas.
Ciátio: Tipo de inflorescência (conjunto de flores) característico de plantas como o amendoim-bravo. É uma estrutura que parece uma flor única, mas na verdade agrupa várias flores masculinas ao redor de uma única flor feminina.
Entressafra: Período entre a colheita de uma cultura principal e o plantio da safra seguinte. É uma janela de tempo crucial para realizar o controle de plantas daninhas, impedindo que elas se multipliquem e infestem a próxima lavoura.
Heterofilia: Fenômeno em que uma única planta exibe folhas com formas e tamanhos diferentes. No amendoim-bravo, essa característica é marcante e pode dificultar a identificação, pois folhas ovais e com formato de violino podem ser encontradas na mesma planta.
Hospedeiro: Organismo, como uma planta daninha, que abriga e permite a sobrevivência de pragas (insetos, nematoides) ou doenças (vírus, fungos). O amendoim-bravo atua como hospedeiro para a mosca-branca e nematoides, mantendo-os na área mesmo na ausência da soja.
Manejo de Plantas Daninhas: Conjunto de estratégias integradas (preventivas, culturais, mecânicas e químicas) usadas para controlar as plantas invasoras. O objetivo não é a erradicação, mas manter a população de daninhas abaixo do nível que causa prejuízos econômicos à cultura.
Nematoides: Vermes microscópicos que vivem no solo e atacam as raízes das plantas, causando queda na produtividade. O amendoim-bravo pode servir como reservatório para espécies de nematoides que também atacam a cultura da soja.
Ponte Verde: Conceito que descreve como plantas daninhas ou voluntárias servem de “ponte” para pragas e doenças sobreviverem durante a entressafra. Ao manter o patógeno vivo, a planta daninha permite que ele infecte a nova cultura assim que ela for plantada.
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O controle do amendoim-bravo exige um manejo integrado e um acompanhamento rigoroso dos custos para não comprometer a lucratividade. Afinal, lidar com a resistência a herbicidas e, ao mesmo tempo, monitorar o impacto financeiro de cada aplicação é um desafio complexo.
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Perguntas Frequentes
Por que o amendoim-bravo é considerado tão prejudicial para a lavoura de soja?
O amendoim-bravo é extremamente prejudicial devido ao seu crescimento inicial rápido, que sombreia as plantas de soja, cujo desenvolvimento inicial é mais lento. Ele compete agressivamente por água, luz e nutrientes, podendo reduzir a produtividade de grãos em até 60%. Além disso, sua presença dificulta a colheita mecânica e aumenta a umidade dos grãos colhidos.
Qual é a maneira mais fácil de identificar o amendoim-bravo (leiteiro) no campo?
A característica mais marcante e inconfundível do amendoim-bravo é a liberação de uma seiva branca e leitosa (látex) quando seu caule ou folhas são cortados ou danificados. Mesmo que as folhas possam ter formatos variados na mesma planta (heterofilia), a presença do látex é um identificador chave.
Como a resistência a herbicidas do amendoim-bravo afeta o seu controle químico?
A resistência a múltiplos herbicidas, incluindo glifosato e inibidores de ALS e Protox, torna o controle químico um grande desafio. Não se deve depender de um único produto. A estratégia mais eficaz é a rotação de herbicidas com diferentes mecanismos de ação e a aplicação nos estágios iniciais de desenvolvimento da planta, sempre como parte de um manejo integrado.
O controle do amendoim-bravo ajuda a reduzir pragas e doenças na soja?
Sim, definitivamente. O amendoim-bravo atua como hospedeiro alternativo (ponte verde) para pragas importantes como a mosca-branca e o percevejo-marrom, além de nematoides e doenças como o mosaico-anão. Controlar essa planta daninha na entressafra quebra o ciclo desses problemas, diminuindo a pressão sobre a cultura da soja.
De que forma o amendoim-bravo se espalha tão eficientemente pela área?
Sua principal forma de disseminação é através das sementes. Uma única planta pode produzir cerca de 490 sementes. A propagação é eficiente porque, ao amadurecer, os frutos se rompem de forma explosiva, lançando as sementes a uma certa distância da planta-mãe, o que facilita a rápida colonização da área.
É eficaz controlar o amendoim-bravo apenas durante o período da entressafra?
O controle na entressafra é uma medida preventiva crucial para reduzir o banco de sementes no solo, mas não é suficiente. O manejo deve ser contínuo, integrando ações preventivas, culturais (como rotação de culturas), mecânicas e químicas também durante o ciclo da cultura principal para evitar a competição e novas infestações.
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