O controle de pragas, doenças e plantas daninhas na lavoura de algodão representa um custo significativo para o produtor rural. Para ajudar a enfrentar esse desafio, a Embrapa lançou em 2021 a cultivar transgênica BRS 500 B2RF, uma solução que já vem mostrando resultados no campo.
Essa nova variedade de algodão foi desenvolvida para ser resistente a importantes doenças e pragas, além de tolerar a aplicação do herbicida glifosato. A promessa é clara: aliar alta produtividade com uma qualidade de fibra que atende às exigências da indústria têxtil.
Neste artigo, vamos detalhar as principais características da BRS 500 B2RF, suas vantagens e as estratégias de manejo que você precisa adotar para extrair o máximo potencial dessa tecnologia.
Como a BRS 500 B2RF se Torna Resistente a Pragas e Doenças
A cultivar BRS 500 B2RF é uma planta de ciclo médio para tardio e porte alto, que combina três tecnologias genéticas importantes para proteger sua lavoura:
- Roundup Ready Flex (RF): Garante que a planta de algodão tolere a aplicação do herbicida glifosato em qualquer fase do seu desenvolvimento, facilitando o controle de plantas daninhas.
- Bollgard II (B2): Introduz proteínas que tornam a planta tóxica para certas espécies de lagartas, reduzindo os danos e a necessidade de inseticidas específicos.
- FRdC1: Confere à planta resistência genética a doenças, principalmente a mancha de ramulária.
Esse pacote tecnológico faz com que a cultivar seja parcialmente resistente ao [nematoide-das-galhas]: um verme microscópico que ataca as raízes, causando “inchaços” (galhas) que prejudicam a absorção de água e nutrientes.
Além disso, a BRS 500 B2RF apresenta alta resistência às seguintes doenças:
- [Mancha de ramulária] (Ramularia areola): doença causada por um fungo que provoca manchas nas folhas, levando à desfolha precoce e perda de produtividade.
- Mancha angular (Xanthomonas citri pv. malvacearum): doença bacteriana que afeta folhas, caules e maçãs do algodão.
- Doença azul típica (Cotton leafroll dwarf virus – CLRDV): virose transmitida pelo pulgão que causa o enrolamento e o azulamento das folhas.
Atualmente, a mancha de ramulária é a doença que mais preocupa os cotonicultores, especialmente nas regiões de Cerrado. Para controlá-la, são necessárias, em média, de 4 a 8 pulverizações de fungicidas durante o ciclo da cultura. Em anos de alta pressão da doença, esse número pode chegar a 12 aplicações, elevando drasticamente o custo de produção.
A resistência genética da BRS 500 B2RF a essas doenças se traduz diretamente em economia, maior produtividade e menor impacto ambiental, já que o número de pulverizações é consideravelmente reduzido.
Nível de resistência à doenças da cultivar BRS 500 B2RF
(Fonte: Embrapa Algodão)
Qualidade da Fibra: O que a Indústria Procura
Além da resistência no campo, a qualidade da fibra é um fator decisivo para a rentabilidade. A BRS 500 B2RF entrega uma fibra branca com atributos valorizados pela indústria têxtil:
- Comprimento médio:
30,4 mm
(milímetros) - Índice Micronaire médio:
4,6
- Para entender melhor: O índice micronaire mede a finura e a maturidade da fibra. Valores entre 3,7 e 4,2 são considerados ideais, mas a faixa de 4,3 a 4,9 ainda é muito bem aceita pela indústria.
- Resistência média:
30,8 gf/tex
(grama-força por tex)- Para entender melhor: A resistência indica a força necessária para romper a fibra. Acima de 30 gf/tex é considerado um valor muito bom, resultando em fios mais resistentes.
Potencial de Produtividade
De acordo com os dados da Embrapa Algodão, a produtividade média da BRS 500 B2RF é de 5.667 quilos por hectare de algodão em caroço. Após o beneficiamento, isso se traduz em 2.579 quilos por hectare de pluma (fibra).
A cultivar também apresenta um rendimento de fibra entre 38,5% e 40,5%, um índice considerado excelente para a cultura.
Áreas Indicadas para o Plantio
A BRS 500 B2RF foi desenvolvida e é indicada para o plantio em áreas de Cerrado, abrangendo os seguintes estados:
- Goiás
- Mato Grosso
- Mato Grosso do Sul
- Tocantins
- Regiões do Maranhão, Piauí e Bahia (MATOPIBA)
É especialmente recomendada para talhões onde a mancha de ramulária e o nematoide-das-galhas são problemas recorrentes e limitam a produção.
Manejo Inteligente: Como Proteger a Tecnologia Transgênica
A adoção de uma cultivar transgênica não elimina a necessidade de um manejo cuidadoso. Pelo contrário, o Manejo Integrado de Pragas, Doenças e Plantas Daninhas é indispensável para preservar a eficácia da tecnologia por mais tempo.
Aqui estão as práticas essenciais:
Rotação de Ingredientes Ativos: Evite usar sempre os mesmos agroquímicos. Alternar os ingredientes ativos dos produtos aplicados impede que pragas, doenças e plantas daninhas desenvolvam resistência.
Monitoramento Constante: Fique atento à população de insetos que não são o alvo da tecnologia transgênica. Eles precisam ser monitorados e controlados de forma seletiva para não se tornarem um novo problema.
Rotação de Tecnologias: Se possível, rotacione cultivares de algodão com diferentes tecnologias transgênicas (rotação de genes) em safras futuras.
Vazio Sanitário: Cumpra rigorosamente o período do vazio sanitário. A ausência de plantas vivas de algodão na área (soqueira e tiguera) quebra o ciclo de pragas e doenças, sendo fundamental para o controle do bicudo-do-algodoeiro.
A Importância do Refúgio Agrícola
O refúgio agrícola é a prática mais importante para o manejo de resistência de insetos. A estratégia é simples: manter uma parte da lavoura cultivada com uma variedade de algodão não transgênica (sem a tecnologia Bt).
Essa área permite que insetos suscetíveis (não resistentes) sobrevivam e se acasalem com os poucos insetos resistentes que possam surgir na área transgênica. Isso dilui a característica de resistência na população da praga, retardando a quebra da tecnologia e garantindo sua eficácia por muitos anos.
Regras para o Refúgio no Algodão:
- Tamanho: A área de refúgio deve corresponder a 20% da área total plantada com algodão transgênico.
- Distância: O refúgio deve estar a uma distância máxima de 800 metros da área com a cultivar BRS 500 B2RF.
- Manejo: A área de refúgio deve ser plantada na mesma época e receber os mesmos tratos culturais (adubação, controle de plantas daninhas, etc.) que a área transgênica. A única diferença é o manejo de lagartas, que deve ser feito com inseticidas quando atingir o nível de dano econômico.
- Cultivar: Use uma planta da mesma espécie e com ciclo similar ao da cultivar transgênica.
O refúgio pode ser instalado em faixas, blocos ou na bordadura/perímetro da lavoura.
Vantagens da BRS 500 B2RF em Resumo
Para facilitar, aqui estão os principais benefícios que a cultivar oferece:
- Tolerância ao herbicida glifosato, facilitando o manejo de plantas daninhas.
- Resistência à mancha de ramulária, mancha angular e doença azul.
- Tolerância parcial ao nematoide-das-galhas.
- Resistência a algumas das principais lagartas da cultura.
- Produz fibra de alta qualidade, bem aceita pela indústria têxtil.
- Reduz o número de aplicações de fungicidas e inseticidas.
- Diminui os custos de produção e aumenta a rentabilidade.
- Melhora a competitividade do algodão brasileiro no mercado internacional.
- Proporciona um menor impacto ambiental.
- Contribui para a maior sustentabilidade da cotonicultura.
Conclusão
A cultivar de algodão BRS 500 B2RF é uma ferramenta poderosa para o produtor. Ela combina resistência a múltiplas doenças e pragas, alta produtividade e fibra de qualidade em uma única planta.
Ao adotar essa tecnologia e seguir as boas práticas de manejo, como o refúgio agrícola, você não apenas reduz o número de aplicações de agroquímicos e, consequentemente, os custos de produção, mas também contribui para uma atividade agrícola mais sustentável e competitiva no mercado global.
Glossário
Bollgard II (B2): Tecnologia transgênica que insere proteínas na planta de algodão, tornando-a tóxica para certas espécies de lagartas. Funciona como um inseticida embutido, protegendo a cultura e reduzindo a necessidade de pulverizações.
Cultivar: Termo técnico para uma variedade de planta que foi desenvolvida por meio de melhoramento genético para apresentar características específicas e desejáveis. É análogo a uma “raça” de uma cultura, como a BRS 500 B2RF para o algodão.
gf/tex (grama-força por tex): Unidade de medida que indica a resistência da fibra de algodão, ou seja, a força necessária para rompê-la. Valores acima de 30 gf/tex são considerados muito bons e resultam em fios mais fortes para a indústria têxtil.
Índice Micronaire: Medida que avalia simultaneamente a finura e a maturidade da fibra de algodão. A indústria têxtil utiliza esse índice para classificar a qualidade da pluma, com valores entre 3,7 e 4,2 sendo considerados ideais.
Mancha de ramulária: Doença causada pelo fungo Ramularia areola que ataca as folhas do algodoeiro, provocando manchas e desfolha precoce. É uma das doenças que mais elevam o custo de produção devido à necessidade de múltiplas aplicações de fungicidas.
Nematoide-das-galhas: Verme microscópico que vive no solo e ataca as raízes das plantas. Ele causa a formação de “galhas” (inchaços) que impedem a correta absorção de água e nutrientes, limitando o potencial produtivo da lavoura.
Refúgio Agrícola: Área da lavoura plantada com uma variedade de algodão não transgênica (sem tecnologia Bt) próxima à área transgênica. Essa prática é fundamental para retardar o desenvolvimento de resistência nas populações de pragas, garantindo a eficácia da tecnologia por mais tempo.
Roundup Ready Flex (RF): Tecnologia de transgenia que confere tolerância da planta de algodão ao herbicida glifosato. Isso permite que o produtor controle as plantas daninhas na lavoura sem afetar o desenvolvimento da cultura principal.
Vazio Sanitário: Período definido por lei em que é proibido manter plantas vivas de algodão no campo após a colheita. A prática visa quebrar o ciclo de sobrevivência de pragas e doenças, como o bicudo-do-algodoeiro, para a safra seguinte.
Veja como a tecnologia otimiza o manejo e os custos do algodão
A adoção de uma cultivar como a BRS 500 B2RF é um passo estratégico para reduzir o número de aplicações e, consequentemente, os custos de produção. No entanto, para garantir que essa economia se materialize no balanço final, é essencial um controle financeiro e operacional rigoroso. Um software de gestão agrícola como o Aegro centraliza essas informações, permitindo registrar cada pulverização, analisar o custo por hectare e comparar o desempenho entre diferentes talhões.
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Perguntas Frequentes
Quais são as três principais tecnologias genéticas da cultivar de algodão BRS 500 B2RF e seus benefícios?
A BRS 500 B2RF combina três tecnologias: Bollgard II (B2), que confere resistência a certas espécies de lagartas; Roundup Ready Flex (RF), que garante tolerância ao herbicida glifosato; e FRdC1, que oferece resistência genética a doenças como a mancha de ramulária. Juntas, elas reduzem a necessidade de pulverizações, diminuem os custos e facilitam o manejo da lavoura.
É realmente necessário fazer o refúgio agrícola ao plantar a BRS 500 B2RF?
Sim, é uma prática fundamental e obrigatória. O refúgio, que consiste em plantar 20% da área com algodão não-Bt, é essencial para retardar o desenvolvimento de resistência das lagartas à tecnologia. Sem ele, a eficácia da cultivar contra pragas pode ser perdida em poucas safras, comprometendo o investimento e a sustentabilidade da tecnologia.
Qual a economia esperada com a redução de pulverizações ao usar a BRS 500 B2RF?
A economia é significativa, principalmente no controle da mancha de ramulária, que pode exigir de 4 a 12 aplicações de fungicidas em cultivares suscetíveis. A resistência genética da BRS 500 B2RF reduz drasticamente esse número, gerando economia direta em produtos, combustível e mão de obra, além de diminuir o impacto ambiental.
A fibra produzida pela BRS 500 B2RF atende às exigências da indústria têxtil?
Sim, a qualidade da fibra é um dos seus pontos fortes. Com comprimento, resistência (acima de 30 gf/tex) e índice micronaire dentro dos padrões valorizados pelo mercado, ela produz uma pluma de alta qualidade. Isso resulta em maior liquidez e melhor remuneração para o produtor.
Além das lagartas e doenças, a BRS 500 B2RF oferece proteção contra o nematoide-das-galhas?
Sim, a cultivar apresenta tolerância parcial ao nematoide-das-galhas (Meloidogyne incognita). Isso significa que, embora não seja imune, ela sofre menos danos causados por esse verme microscópico que ataca as raízes, sendo uma excelente opção para talhões com histórico de infestação.
Posso plantar a cultivar BRS 500 B2RF em qualquer região do Brasil?
Não. A BRS 500 B2RF foi desenvolvida e testada para as condições específicas do Cerrado brasileiro. Ela é recomendada para estados como Mato Grosso, Goiás, Bahia e a região do MATOPIBA, onde apresenta seu máximo potencial produtivo e de resistência.
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