O agronegócio brasileiro é uma força indiscutível, com uma participação robusta no Produto Interno Bruto (PIB) e uma clara tendência de crescimento.
Entender a fundo este mercado é fundamental para tomar decisões mais seguras e direcionar seus investimentos de forma inteligente. Qual cultura tem as melhores perspectivas de crescimento? A exportação é um caminho viável para sua operação? O cenário do agro no país responde a essas e outras perguntas.
Neste artigo, vamos analisar a situação atual do setor, os desafios que enfrentamos e o que esperar para os próximos anos.
O que é agronegócio no Brasil: conceito e definição
O agronegócio, também conhecido como agribusiness, é o conjunto de todas as atividades ligadas à agricultura e à pecuária, incluindo suas cadeias produtivas completas, do campo à mesa do consumidor.
De forma mais técnica, segundo o Projeto de Lei 487/2013, o agronegócio abrange toda a rede de negócios que vai desde a fabricação de insumos até a distribuição do produto final. Isso inclui etapas como:
- Produção (o que acontece dentro da porteira);
- Processamento e beneficiamento;
- Comercialização e negociação;
- Armazenamento e logística;
- Distribuição de bens agrícolas, pecuários, de reflorestamento e pesca.
Tipos de produtos gerados pelo setor
O agronegócio brasileiro se destaca pela sua enorme diversidade de produtos. Podemos dividir essa produção em três grandes vertentes:
- Agricultura: Fornece produtos vindos do cultivo da terra, que podem ser para consumo direto, para a indústria ou para a geração de energia. Exemplos incluem frutas, verduras, legumes, grãos, fibras (como algodão), madeira e culturas bioenergéticas (como a cana-de-açúcar).
- Pecuária: Focada na criação de animais, fornece principalmente carnes e outros produtos para consumo direto ou para a indústria. Inclui a criação de bovinos, suínos, aves, peixes, ovinos, além da produção de leite, ovos, entre outros.
- Agroindústria: É o elo que transforma a matéria-prima da agricultura e da pecuária em produtos industrializados. Aqui entram os móveis, papel e celulose, biocombustíveis, tecidos, vestuário, açúcar, óleos vegetais, bebidas, cosméticos e muitos outros.
Situação atual do agronegócio brasileiro
O agronegócio não se resume apenas a grandes produtores com alta tecnologia. Ele envolve toda a cadeia produtiva, desde a agricultura familiar até as grandes cooperativas e indústrias.
Os dados mais recentes do Censo Agropecuário do IBGE (de 2017) mostram que o setor emprega, direta ou indiretamente, cerca de 1 em cada 3 trabalhadores no Brasil.
Do total de mais de 30 milhões de pessoas empregadas no agro (que representa 37% de todos os empregos do país), a divisão é a seguinte:
- 42% trabalham na pecuária;
- 21% trabalham na agricultura;
- 21% trabalham no comércio de produtos agropecuários;
- 15% trabalham na agroindústria.
O Brasil possui mais de 5 milhões de propriedades rurais, que ocupam aproximadamente 40% do território nacional. Desse total, 3,8 milhões são classificadas como agricultura familiar. Isso significa que 77% das propriedades são de pequenos produtores, ocupando 23% do total da área agrícola.
Entre 2006 e 2017, a forma como a terra é utilizada mudou. Houve um aumento na área de matas nativas e plantadas e uma redução na área de lavouras permanentes.
(Fonte: IBGE)
Essa mudança aconteceu principalmente por causa do Novo Código Florestal (Lei 12.651/2012), que fortaleceu a exigência de Áreas de Preservação Permanente (APPs) e de Reserva Legal dentro das propriedades rurais.
A importância do agronegócio para o Brasil
O motor financeiro do agronegócio brasileiro é a soja, seguida pela carne bovina e pelo milho. Outros produtos como leite, frango, cana-de-açúcar, carne suína, café, algodão e ovos também têm enorme relevância.
Somando toda essa produção, o Valor Bruto de Produção (VBP) de 2022 foi estimado em R$ 1,38 trilhão.
(Fonte: CNA)
A expectativa para 2022 era que o país atingisse sua safra recorde de grãos, com um total de 261,4 milhões de toneladas. Esse desempenho impacta diretamente a economia brasileira e é um dos principais fatores para o sucesso econômico do país.
Desde 2010, o agro tem sido o principal responsável por manter a balança comercial brasileira positiva. Enquanto outros setores tiveram saldo negativo (importaram mais do que exportaram), o agronegócio consistentemente exportou muito mais do que importou.
Em 2021, por exemplo, o setor foi responsável por mais da metade de todas as exportações brasileiras, impulsionando a economia nacional mesmo durante uma das maiores crises globais da história.
Essa força se reflete no PIB (Produto Interno Bruto). A participação do PIB do agronegócio no PIB total do Brasil vem crescendo consistentemente.
- Em 2020, o PIB do agro representou 26,6% do PIB brasileiro.
- Em 2021, essa participação subiu para 27,4%, com tendência de continuar crescendo.
Segurança alimentar: um desafio para o setor agrícola
O agronegócio global enfrenta uma pressão crescente para produzir mais, e isso se deve a três fatores principais:
- Aumento da população mundial, que deve ultrapassar a marca de 9 bilhões de pessoas até 2050.
- As condições climáticas estão cada vez mais instáveis e extremas.
- A necessidade de usar de forma racional e sustentável recursos finitos como água, energia e insumos.
Esses fatores aumentam a demanda por alimentos, fibras e energia, colocando o agronegócio no centro das atenções.
A população brasileira também continua a crescer. A estimativa é que, até 2050, o país tenha entre 230 e 235 milhões de habitantes, um aumento de 8% a 10% em relação à população atual.
Felizmente, a agropecuária brasileira tem potencial para produzir alimentos suficientes para 800 milhões de pessoas, o que equivale a cerca de 10% da população mundial. Isso é possível graças a vantagens competitivas como:
- Grande extensão territorial;
- Clima tropical e subtropical favorável;
- Alta insolação durante o ano;
- Boa disponibilidade de água;
- Facilidade de mão de obra.
Claro, a produção por si só não resolve o problema da fome, que também depende de distribuição e poder de compra. Mesmo sendo um grande produtor, o Brasil ainda enfrenta desafios internos de insegurança alimentar.
Ainda assim, o impacto do agronegócio brasileiro no cenário mundial é inegável, não apenas pela alta produção, mas pela capacidade de exportação para atender à demanda de outros países.
(Fonte: CNA)
Quais os principais problemas e limitações?
Apesar da sua força e importância, o agronegócio brasileiro ainda enfrenta gargalos que precisam ser resolvidos. Os principais são:
- Infraestrutura de transportes: As estradas e ferrovias para escoar a produção ainda são um gargalo, especialmente em regiões produtoras importantes e mais isoladas, como o Centro-Oeste. Isso aumenta custos e perdas.
- Infraestrutura de armazenamento: A falta de silos e armazéns em muitas regiões produtoras força o produtor a vender a safra logo após a colheita, sem poder esperar por melhores preços no mercado.
- Carga tributária e dolarização: A combinação de impostos altos, falta de subsídios e a necessidade de importar insumos cotados em dólar (como fertilizantes e defensivos) aperta a margem de lucro do produtor e aumenta os riscos da atividade.
Projeções futuras do agribusiness
Conhecer as projeções do mercado é essencial para identificar tendências de demanda e preços, além de orientar investimentos.
Segundo estudos do Ministério da Agricultura (Mapa), os produtos com maior dinamismo nos próximos anos serão soja, algodão, milho, carnes (suína, bovina e de frango) e frutas.
Esse crescimento será impulsionado principalmente pelas exportações e pela demanda internacional.
Por exemplo, a projeção é que a safra de grãos chegue a 331 milhões de toneladas na safra de 2030/31, um aumento de 27% em dez anos. Para alcançar esse volume, será necessário um aumento de 12% na área cultivada.
Enquanto algumas culturas vão expandir sua área, outras devem ter uma redução, como mostra a tabela abaixo:
(Fonte: Projeções do Agronegócio Brasileiro 2020/21 a 2030/31)
Esse aumento de área virá, principalmente, da conversão de áreas de pastagens degradadas e da substituição de culturas menos produtivas.
Principais desafios e bases futuras do agro no Brasil
O sucesso contínuo do agronegócio brasileiro dependerá de como o setor lidará com alguns pontos-chave. Os principais são:
- Sustentabilidade: O uso eficiente de recursos como terra, água, energia e insumos será cada vez mais decisivo, tanto do ponto de vista ambiental quanto econômico.
- Tecnologia: Ferramentas de agricultura de precisão, sensoriamento remoto e automação agrícola já são uma realidade e se tornarão ainda mais presentes.
- Mão de obra: Será fundamental capacitar profissionais para operar as novas tecnologias que chegam ao campo.
- Infraestrutura: Melhorar as vias de transporte e a capacidade de armazenamento é crucial para reduzir o desperdício e aumentar a rentabilidade.
- Pesquisa: O investimento em pesquisa é necessário para desenvolver novas soluções, técnicas e tecnologias que permitam ganhos de produtividade de forma sustentável.
- Gestão agrícola: Uma gestão profissional da fazenda, baseada em dados, deixará de ser um diferencial para se tornar uma condição para o sucesso.
- Marketing e Comunicação: É preciso comunicar de forma clara e correta as realidades do agronegócio para quebrar mitos e preconceitos, tanto no Brasil quanto no exterior.
Impactos e benefícios
É comum encontrar narrativas que pintam o agronegócio como um vilão. Geralmente, as críticas se baseiam em três pontos:
- Ambiental: Acusado pelo uso excessivo de defensivos agrícolas, esgotamento do solo e perda de biodiversidade devido à monocultura.
- Econômico: Criticado pela concentração de renda em grandes produtores e empresas multinacionais.
- Social: Apontado como causa da diminuição de empregos no campo, êxodo rural e má distribuição de terras.
No entanto, os dados mostram um cenário diferente. Os benefícios econômicos para o país são indiscutíveis, como vimos nos números do PIB e da balança comercial.
A alta porcentagem de pequenos produtores (77% das propriedades) demonstra a força da agricultura familiar, que é fundamental na produção de culturas como feijão, fumo e mandioca.
A diminuição da necessidade de mão de obra braçal é uma tendência global impulsionada pela tecnologia, não uma exclusividade do agro. Além disso, enquanto empregos diretos no campo se transformam, a cadeia produtiva do agronegócio como um todo emprega 37% de todos os trabalhadores do país.
Do ponto de vista ambiental, nenhuma outra atividade econômica no Brasil tem a obrigação legal de preservar grandes áreas de vegetação nativa dentro de suas propriedades, como o agro faz com a Reserva Legal e as APPs. Além disso, a tecnologia de aplicação de defensivos tem avançado muito para reduzir o impacto ambiental, com doses mais precisas e a crescente substituição por produtos biológicos.
Conclusão
Entender o cenário do agronegócio no Brasil ajuda a compreender o mercado e a fazer projeções mais realistas para o seu negócio.
Considerando a importância do setor para a economia brasileira e seu papel no cenário mundial, fica claro que a atividade será ainda mais crucial no futuro.
Para você, produtor, o desafio é continuar fazendo do agronegócio uma atividade sustentável, sempre equilibrando seus três pilares: ser socialmente justo, economicamente viável e ambientalmente correto.
Glossário
Agribusiness (Agronegócio): Conjunto de todas as atividades econômicas ligadas à produção agrícola e pecuária. Engloba desde a fabricação de insumos (fertilizantes, sementes) até o processamento, armazenamento, comercialização e distribuição do produto final ao consumidor.
Áreas de Preservação Permanente (APPs): Zonas protegidas por lei dentro de uma propriedade rural, como margens de rios e encostas íngremes. O objetivo é preservar recursos hídricos, a paisagem e a estabilidade geológica, não sendo permitido o seu desmatamento.
Balança Comercial: Indicador econômico que mede a diferença entre o valor total das exportações e das importações de um país. Um saldo positivo, como o do agronegócio brasileiro, significa que o setor vendeu mais para outros países do que comprou.
Cadeia Produtiva: Sequência de todas as etapas envolvidas na produção e entrega de um bem, desde a matéria-prima até o consumidor final. No agro, inclui a produção na fazenda, o beneficiamento, a industrialização e a logística de distribuição.
PIB (Produto Interno Bruto): Soma de todos os bens e serviços finais produzidos em um país durante um período. A participação do agronegócio no PIB brasileiro demonstra a relevância econômica do setor para o país.
Reserva Legal: Percentual de uma propriedade rural que deve ser mantido com cobertura de vegetação nativa, conforme determina o Código Florestal. Sua função é assegurar o uso econômico sustentável dos recursos naturais e a conservação da biodiversidade.
VBP (Valor Bruto de Produção): Indicador que estima o faturamento bruto do setor agropecuário “dentro da porteira”. Ele calcula o valor total da produção agrícola e pecuária com base nos volumes produzidos e nos preços recebidos pelos produtores.
Supere os desafios do agronegócio com uma gestão eficiente
O artigo destaca desafios cruciais como a alta carga tributária e a dolarização dos insumos, que pressionam a margem de lucro do produtor. Ao mesmo tempo, aponta que uma gestão agrícola profissional, baseada em dados, deixou de ser um diferencial para se tornar uma necessidade para o sucesso da fazenda.
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Perguntas Frequentes
Qual é a diferença fundamental entre agricultura e agronegócio?
A agricultura se refere especificamente às atividades realizadas “dentro da porteira”, como o plantio e a colheita. Já o agronegócio, ou agribusiness, é um conceito mais amplo que abrange toda a cadeia produtiva, incluindo a fabricação de insumos, o processamento industrial, a logística, a distribuição e a comercialização dos produtos ao consumidor final.
A agricultura familiar realmente tem espaço no cenário do agronegócio brasileiro?
Sim, a agricultura familiar é um pilar essencial do setor. Dados do Censo Agropecuário mostram que 77% das propriedades rurais no Brasil são familiares. Embora ocupem uma área menor em comparação com o agronegócio de larga escala, são fundamentais para a produção de alimentos para o mercado interno e para a segurança alimentar do país.
Quais são os principais desafios de infraestrutura que o produtor rural brasileiro enfrenta?
Os principais gargalos são a logística de transporte e a capacidade de armazenamento. Estradas precárias e a dependência do modal rodoviário encarecem o escoamento da produção, enquanto a falta de armazéns e silos suficientes força muitos produtores a venderem a safra imediatamente após a colheita, muitas vezes por preços menos favoráveis.
Por que o agronegócio é tão importante para a economia do Brasil?
O agronegócio é um motor da economia brasileira, respondendo por mais de 27% do PIB nacional. Ele é o principal responsável pelo saldo positivo da balança comercial, exportando significativamente mais do que importa e trazendo divisas para o país. Além disso, o setor emprega, direta ou indiretamente, cerca de 1 em cada 3 trabalhadores no Brasil.
É possível aumentar a produção agrícola no Brasil sem aumentar o desmatamento?
Sim, as projeções de crescimento se baseiam principalmente no aumento da produtividade e na conversão de áreas de pastagens já degradadas em lavouras, e não na abertura de novas áreas de mata nativa. A legislação, como o Código Florestal, que exige a manutenção de Reserva Legal e APPs, juntamente com o avanço de tecnologias sustentáveis, são cruciais para essa expansão responsável.
Quais produtos do agronegócio brasileiro têm maior potencial de crescimento para os próximos anos?
De acordo com estudos do Ministério da Agricultura, os produtos com maior dinamismo projetado para a próxima década são a soja, o milho e o algodão. Na pecuária, as carnes bovina, suína e de frango também apresentam forte tendência de crescimento, impulsionadas principalmente pela crescente demanda do mercado internacional por exportações.
Como a dolarização dos insumos impacta o produtor rural?
A dolarização de insumos essenciais, como fertilizantes e defensivos, impacta diretamente a margem de lucro do produtor. Como esses custos são em dólar e a venda da produção é muitas vezes em real ou atrelada a cotações voláteis, o risco financeiro da atividade aumenta. Uma gestão de custos rigorosa se torna indispensável para mitigar esse impacto.
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