Adubo para Feijão: O Guia Completo para uma Adubação de Alta Produtividade

Redatora parceira Aegro.
Adubo para Feijão: O Guia Completo para uma Adubação de Alta Produtividade

O sucesso na lavoura de feijão está diretamente ligado à nutrição que a planta recebe. Como é uma cultura de ciclo rápido, uma adubação precisa e bem planejada é o caminho mais seguro para alcançar altas produtividades.

Neste guia, vamos detalhar a importância do adubo para feijão. Você vai entender como fornecer a adubação no momento certo e na quantidade exata para tornar seu cultivo muito mais produtivo e rentável.

O Que Fazer Antes de Adubar o Feijão?

Não adianta aplicar o melhor fertilizante se o solo não estiver pronto para recebê-lo. Para que o adubo funcione com máxima eficiência, é fundamental seguir alguns passos preparatórios.

1. Análise de Solo: O Ponto de Partida Essencial

Conhecer a real situação do solo é o primeiro passo para quem busca aumentar a produção. A única forma de saber o que seu solo precisa é através de uma análise laboratorial.

Como fazer a coleta corretamente:

  1. Para cada área homogênea (mesmo tipo de solo, relevo e histórico), que não deve passar de 10 a 20 hectares, colete 15 sub-amostras.
  2. Misture bem todas as sub-amostras para criar uma amostra única e representativa, chamada de amostra composta.
  3. Separe cerca de 500 gramas dessa mistura para enviar ao laboratório.

É recomendado fazer a amostragem pelo menos dois meses antes do plantio. Esse tempo é crucial para planejar e realizar as correções necessárias com calma.

2. Calagem: Corrigindo a Acidez para Máximo Aproveitamento

Com o resultado da análise em mãos, se o solo apresentar alta acidez, excesso de alumínio trocável e falta de cálcio e magnésio, a calagem é indispensável. Calagem, em outras palavras, significa aplicar calcário para neutralizar a acidez do solo.

Benefícios da Calagem:

  • Aumenta a eficiência dos fertilizantes aplicados.
  • Estimula a atividade de microrganismos benéficos, que liberam nutrientes.
  • Melhora a estrutura física do solo (aeração e infiltração de água).
  • Aumenta a produtividade da lavoura.
  • Eleva o pH do solo para uma faixa ideal.
  • Fornece Cálcio (Ca) e Magnésio (Mg), que são nutrientes essenciais.
  • Reduz ou elimina os efeitos tóxicos do Alumínio (Al), Manganês (Mn) e Ferro (Fe).
  • Diminui a “fixação” do Fósforo (P), deixando-o mais disponível para as plantas.
  • Aumenta a disponibilidade de Nitrogênio (N), Potássio (K), Enxofre (S) e Molibdênio (Mo).

Quando aplicar? A calagem pode ser feita em qualquer época do ano, mas o ideal é aplicá-la com pelo menos 3 meses de antecedência à semeadura. Se o tempo for mais curto, utilize um calcário com maior PRNT (Poder Relativo de Neutralização Total), pois ele reage mais rápido no solo.

Como distribuir? A distribuição deve ser a mais uniforme possível em toda a área. Em seguida, o calcário deve ser incorporado na maior profundidade que o equipamento permitir. Em sistemas de plantio direto já consolidados, o calcário é apenas distribuído na superfície, o que torna seu efeito mais lento.

Como determinar a necessidade de calcário (NC)? O cálculo da NC pode ser feito por dois métodos principais: o da neutralização da acidez trocável e elevação dos teores de cálcio e magnésio, e o método da saturação por bases.

  • Fórmula do método da neutralização da acidez e elevação de Ca e Mg: NC=Y[Al3+– (mt . t/100)] + [X – (Ca2++Mg2+)]

  • Fórmula do método da soma de bases: NC= T(Ve – Va)/100

Qual quantidade de calcário aplicar (QC)? O cálculo da NC ainda não é a dose final. Para definir a quantidade a ser aplicada, é preciso ajustar a NC considerando a área a ser coberta, a profundidade de incorporação e a qualidade do calcário (PRNT).

A fórmula para a quantidade correta é: QC= NC x (SC/100) x (PF/100) x (100/PRNT)

Onde:

  • QC: Quantidade de Calcário a aplicar (em toneladas por hectare).
  • NC: Necessidade de Calcário calculada anteriormente.
  • SC: Superfície do terreno a ser Coberta (%).
  • PF: Profundidade de Incorporação (cm).
  • PRNT: Poder Relativo de Neutralização Total do calcário (%).

3. Gessagem: Nutrição em Profundidade para Raízes Fortes

O gesso agrícola (sulfato de cálcio) atua como um condicionador, melhorando as camadas mais profundas do solo, onde o calcário não chega com facilidade.

Vantagens da Gessagem:

  • Reduz o alumínio trocável nas camadas mais profundas, permitindo que as raízes cresçam mais.
  • Fornece enxofre e cálcio em profundidade.
  • Permite que a planta explore um volume maior de solo, o que dá acesso a mais água e nutrientes, especialmente em períodos de seca.

Quando aplicar? A gessagem é recomendada quando a análise de solo da camada de 20 a 40 cm de profundidade mostrar:

  • Teor de cálcio menor que 4,0 mmol/dm³.
  • E/ou saturação por alumínio (m%) maior que 30%.

Quanto aplicar? A quantidade de gesso depende da textura do solo, do teor de fósforo remanescente e do cálculo da NC (Necessidade de Calcário). As equações específicas podem ser encontradas em manuais técnicos de recomendação, como o “Recomendações para o uso de corretivos e fertilizantes em Minas Gerais - 5ª Aproximação”.

Qual o Melhor Adubo para Feijão?

Devido ao ciclo curto e ao sistema de raízes pouco profundo do feijão, os adubos precisam estar disponíveis no lugar certo e na hora certa.

Para se ter uma ideia, a cada 1.000 kg de grãos de feijão produzidos, a planta extrai e exporta do solo as seguintes quantidades de nutrientes:

  • Nitrogênio (N): 35,5 kg
  • Fósforo (P): 4,0 kg
  • Potássio (K): 15,3 kg
  • Cálcio (Ca): 3,1 kg
  • Magnésio (Mg): 2,6 kg
  • Enxofre (S): 5,4 kg

gráfico técnico conhecido como ‘marcha de absorção de nutrientes’, que ilustra a quantidade de diferentes m Marcha de absorção do feijoeiro (Fonte: Haag et al. (1967))

Nitrogênio (N)

O nitrogênio é exigido durante todo o ciclo, mas o pico de absorção ocorre entre o 35º e o 50º dia após a emergência (DAE). Diferente da soja, a fixação biológica de nitrogênio não é suficiente para o feijão, exigindo adubação complementar.

  • Aplicação: A prática mais comum é dividir a dose: ⅓ na semeadura e ⅔ em cobertura, aplicada entre 25 a 30 DAE.
  • Doses: Variam de 40 a 120 kg/ha, dependendo da tecnologia usada e da produtividade esperada.

Fósforo (P)

A maior demanda por fósforo acontece dos 30 aos 55 DAE, com picos no final do florescimento e início da formação das vagens.

  • Aplicação: Por ser pouco móvel no solo, recomenda-se aplicar a dose total na semeadura, posicionada ao lado e abaixo das sementes.
  • Doses: Ficam entre 30 e 110 kg/ha, ajustadas conforme a análise de solo, tecnologia e meta de produção.

Potássio (K)

O potássio tem um comportamento diferente, com dois picos de absorção:

  1. Na diferenciação dos botões florais (25 a 35 DAE).
  2. No florescimento e formação das vagens (45 a 55 DAE).
  • Aplicação: Para a maioria dos solos, a dose total pode ser fornecida no plantio. Em solos arenosos, que perdem potássio mais facilmente, recomenda-se parcelar: metade da dose na semeadura e a outra metade em cobertura, entre 25 e 30 DAE.
  • Doses: A recomendação varia de 20 a 50 kg/ha, dependendo da produtividade e do teor no solo.

Cálcio (Ca) e Magnésio (Mg)

Ambos os nutrientes são fornecidos principalmente pela aplicação de calcário durante a calagem, que além de corrigir o pH, nutre a planta.

Enxofre (S)

O feijoeiro responde muito bem à adubação com enxofre, especialmente em solos com baixos teores.

  • Dose: Recomenda-se aplicar 20 kg/ha deste nutriente. Ele pode ser fornecido por meio de adubos nitrogenados ou fosfatados que já o contêm em sua fórmula, ou via gessagem.

Zinco (Zn) e Boro (B)

Se a análise de solo indicar deficiência desses micronutrientes:

  • Boro: Aplicar 1 kg/ha.
  • Zinco: Aplicar de 2 a 4 kg/ha, preferencialmente junto com a adubação de plantio.

Fórmulas de Adubo e Estratégias de Aplicação

Quando o solo já está com a fertilidade bem corrigida, uma estratégia avançada é basear a adubação nos valores de extração e exportação de nutrientes pela cultura, conforme a produtividade esperada.

uma tabela comparativa que detalha a extração e exportação de macronutrientes por diferentes cultivares agríco Extrações e exportações de nutrientes segundo diferentes autores (Fonte: Brasil IPNI)

O mercado oferece diversas formulações de adubo NPK. A escolha ideal deve ser baseada na análise de solo, no nível de tecnologia adotado, na meta de produção e no investimento disponível.

Algumas formulações NPK comuns para o feijoeiro são:

  • 08-24-12
  • 06-26-12
  • 08-20-15

Adubação Orgânica para Feijão

A cultura do feijão responde muito bem à adubação orgânica. A aplicação de esterco de curral ou de galinha melhora a estrutura do solo e fornece nutrientes de forma gradual.

  • Doses: De 15 a 20 t/ha de esterco de curral ou de 4 a 8 t/ha de esterco de galinha (cama de frango).
  • Efeito Residual: O benefício dessa adubação pode ser percebido por até três anos na área.
  • Aplicação: Os adubos orgânicos devem ser aplicados a lanço e incorporados ao solo com uma gradagem.

Adubo Foliar para Feijão

A adubação foliar é uma ferramenta importante para corrigir deficiências pontuais de forma rápida, principalmente de micronutrientes.

No entanto, ela não substitui a adubação via solo e deve ser usada como uma estratégia complementar, não principal, em culturas anuais como o feijão. Use com cuidado, pois doses altas podem causar fitotoxicidade (queima das folhas).

Uma aplicação foliar comum no feijão é a de molibdênio, aplicando 60 g/ha do nutriente (o que equivale a 154 g/ha de molibdato de sódio ou 111 g/ha de molibdato de amônio) entre 15 e 25 DAE.

Conclusão

Como vimos, uma adubação de alta performance começa muito antes de o fertilizante chegar ao campo. A preparação do solo, com uma análise criteriosa, calagem e gessagem, é fundamental para garantir que os nutrientes aplicados sejam totalmente aproveitados pela planta.

Ao entender as necessidades nutricionais do feijoeiro em cada fase e aplicar as doses corretas de macro e micronutrientes, você cria as condições ideais para uma lavoura mais saudável, resistente e, principalmente, mais produtiva.


Glossário

  • Adubação de cobertura: Aplicação de fertilizantes na superfície do solo após a emergência das plantas, geralmente para fornecer nutrientes de alta demanda em fases específicas do ciclo, como o nitrogênio.

  • Calagem: Processo de aplicação de calcário no solo para corrigir a acidez (elevar o pH) e fornecer cálcio e magnésio. Esta prática “destrava” a disponibilidade de outros nutrientes e melhora a eficiência dos adubos.

  • DAE (Dias Após a Emergência): Unidade de tempo usada na agricultura para marcar os estágios de desenvolvimento da cultura, contando a partir do dia em que as plântulas rompem a superfície do solo. É fundamental para programar a adubação de cobertura e outros manejos.

  • Fitotoxicidade: Efeito tóxico de um produto químico (como fertilizantes ou defensivos) sobre a planta, causando danos como queima das folhas, redução do crescimento ou até a morte. A adubação foliar em excesso é uma causa comum.

  • Gessagem: Aplicação de gesso agrícola (sulfato de cálcio) para melhorar as camadas mais profundas do solo. Diferente da calagem, seu principal objetivo é neutralizar o alumínio tóxico em profundidade e fornecer enxofre, permitindo que as raízes cresçam mais.

  • NPK: Sigla para Nitrogênio (N), Fósforo (P) e Potássio (K), os três macronutrientes mais exigidos pelas plantas e componentes principais dos fertilizantes. As formulações (ex: 08-24-12) indicam a porcentagem de cada um na mistura.

  • PRNT (Poder Relativo de Neutralização Total): Medida que indica a qualidade do calcário em corrigir a acidez do solo. Um PRNT mais alto significa que o produto reage mais rápido e com maior eficiência.

Veja como o Aegro pode ajudar a superar esses desafios

Todo esse planejamento detalhado, desde a análise de solo até a aplicação de adubos NPK e foliares, exige um controle rigoroso para não se perder em meio a tantas informações e garantir que o investimento traga retorno. Ferramentas de gestão agrícola, como o Aegro, são projetadas exatamente para simplificar esse processo.

Com um software como este, é possível criar um planejamento safra completo, agendando cada aplicação de corretivos e fertilizantes com base nas recomendações técnicas. Ao mesmo tempo, cada operação e compra de insumo é registrada, permitindo que você acompanhe o custo de produção da sua lavoura de feijão em tempo real. Isso transforma dados complexos em decisões mais seguras e lucrativas.

Que tal transformar o planejamento da sua adubação em um processo mais organizado e rentável?

Experimente o Aegro gratuitamente e descubra como ter o controle total da sua lavoura na palma da sua mão.

Perguntas Frequentes

Qual a diferença prática entre a calagem e a gessagem na preparação do solo para o feijão?

A calagem corrige a acidez (aumenta o pH) na camada mais superficial do solo (0-20 cm), fornecendo cálcio e magnésio. Já a gessagem atua como um condicionador em camadas mais profundas (20-40 cm), neutralizando o alumínio tóxico e fornecendo enxofre, o que permite um crescimento mais vigoroso das raízes. As duas práticas são complementares e não excludentes.

Com que frequência devo realizar a análise de solo para o cultivo de feijão?

O ideal é realizar uma análise de solo completa a cada dois ou três anos, ou sempre que houver uma mudança significativa no sistema de cultivo. Em áreas de alta tecnologia e produtividade, uma amostragem anual pode ser vantajosa para realizar ajustes finos na adubação e garantir a máxima eficiência no uso de fertilizantes.

Por que o feijão precisa de adubação com nitrogênio se ele é uma leguminosa como a soja?

Apesar de ser uma leguminosa, a capacidade de fixação biológica de nitrogênio do feijoeiro é muito inferior à da soja. As bactérias associadas às suas raízes não conseguem suprir toda a demanda da cultura, especialmente em um ciclo tão curto. Portanto, a adubação nitrogenada complementar é essencial para alcançar altas produtividades.

Posso aplicar todo o adubo NPK de uma só vez no plantio para economizar tempo?

Para o Fósforo (P), sim, pois ele é pouco móvel e deve estar disponível desde o início. No entanto, para o Nitrogênio (N), não é recomendado, pois ele se perde facilmente no solo. A melhor estratégia é parcelar o nitrogênio, aplicando parte no plantio e o restante em cobertura, garantindo que o nutriente esteja disponível no pico de demanda da planta.

A adubação foliar pode substituir a adubação via solo no feijoeiro?

Não. A adubação foliar é uma ferramenta complementar e de ação rápida, excelente para corrigir deficiências pontuais de micronutrientes ou fornecer um estímulo em fases críticas. As principais necessidades nutricionais da planta, especialmente de macronutrientes (NPK), devem ser atendidas via solo, que é a principal fonte de absorção e garante um suprimento contínuo.

Qual o risco de usar uma fórmula NPK pronta sem fazer a análise de solo?

Utilizar uma fórmula NPK sem base na análise de solo é arriscado e ineficiente. Você pode aplicar um nutriente em excesso, causando desequilíbrio, toxicidade e desperdício de dinheiro, ou aplicar uma quantidade insuficiente, o que limitará o potencial produtivo da sua lavoura. A análise de solo é o que garante uma adubação precisa e rentável.

Artigos Relevantes

  • Calcário no solo: tipos, vantagens, como funciona e eficiência: Este artigo aprofunda o tema da calagem, que é apresentado como um pilar fundamental no artigo principal. Ele detalha os diferentes tipos de calcário (calcítico, dolomítico) e os métodos de cálculo regionais, oferecendo um guia prático e técnico que transforma a seção de ‘Calagem’ do artigo principal em um conhecimento acionável e completo.
  • Gesso agrícola: o que é, benefícios para o solo e como usar para elevar sua produção: Enquanto o artigo principal introduz a gessagem como um passo importante, este candidato se aprofunda no ‘porquê’ e no ‘como’. Ele explica a função do gesso como condicionador de subsuperfície, diferencia-o claramente da calagem e ilustra o impacto no crescimento radicular, fornecendo a base científica e prática para a recomendação do texto base.
  • Veja como e quando é feita a adubação de cobertura: O artigo principal recomenda o parcelamento do nitrogênio em cobertura, mas não detalha a técnica. Este artigo preenche essa lacuna, explicando o conceito de adubação de cobertura, os nutrientes mais adequados (N e K) e o momento ideal de aplicação. Ele fornece o embasamento técnico para que o leitor entenda e aplique corretamente a estratégia sugerida para o feijão.
  • Adubação foliar: entenda os princípios e saiba o que funciona: Este artigo complementa a seção sobre adubo foliar do texto principal, que a descreve como uma ferramenta complementar. Ele explica os princípios fisiológicos da absorção de nutrientes pelas folhas, os fatores que afetam a eficiência e as vantagens e desvantagens da prática. Isso capacita o leitor a usar a adubação foliar de forma mais estratégica e consciente, indo além da simples recomendação.
  • Inoculante para feijão caupi: por que e como utilizar: Este artigo oferece uma perspectiva complementar e de alto valor ao focar na fixação biológica de nitrogênio. Enquanto o texto principal se concentra na adubação química, este candidato apresenta a inoculação como uma alternativa sustentável e de baixo custo para suprir o nitrogênio, respondendo diretamente à dúvida sobre por que o feijão precisa de N, mesmo sendo uma leguminosa, e oferecendo uma solução inovadora.