A adubação do canavial é uma etapa decisiva para garantir uma safra com produtividade acima da média. Embora pareça um processo direto, dominar os detalhes sobre as necessidades nutricionais da cultura e as doses corretas faz toda a diferença no resultado final.
Para te ajudar a planejar uma fertilização eficiente, reunimos neste guia os pontos mais importantes. Vamos abordar desde a extração de nutrientes pela planta até as recomendações de adubação para nitrogênio, fósforo, potássio e micronutrientes, tudo de forma prática e direta.
Como Calcular o Adubo para Cana-de-Açúcar?
Para definir a adubação correta em qualquer cultura, incluindo a cana-de-açúcar, o primeiro passo é entender o balanço de nutrientes. Precisamos saber duas coisas: o quanto a planta precisa para se desenvolver bem e o quanto o solo já consegue fornecer.
A lógica é simples e pode ser resumida na seguinte fórmula:
Adubação = (Nutriente Requerido pela Planta – Nutriente Fornecido pelo Solo) x F
Nesta fórmula, o Fator F representa o fator de aproveitamento do fertilizante, que indica a eficiência com que o adubo aplicado será de fato absorvido pela planta.
A cana-de-açúcar extrai diferentes quantidades de cada nutriente ao longo do seu ciclo de desenvolvimento, como mostra o gráfico abaixo. O pico de absorção ocorre nos estágios de maior crescimento.
(Fonte: Yara)
Agora, vamos analisar as recomendações para os nutrientes mais importantes na adubação do canavial.
Recomendação de Adubação para Cana-de-Açúcar
As doses de fertilizantes variam principalmente entre a cana-planta (o primeiro ciclo) e a cana-soca (a rebrota após o corte).
Para entender melhor:
- Cana-planta: É o primeiro ciclo da cana, desde o plantio até a primeira colheita.
- Soqueira (ou Cana-soca): É a rebrota da cana após o corte, que origina os ciclos de produção seguintes.
Nitrogênio (N)
O nitrogênio é fundamental para o crescimento vegetativo da planta. No entanto, sua recomendação varia bastante.
Na cana-planta, a resposta à adubação nitrogenada costuma ser baixa. Por isso, a recomendação geral é aplicar uma dose fixa de 30 kg/ha
de N, independentemente da produtividade que se espera alcançar.
Já na cana-soca, a situação muda. As soqueiras respondem muito bem ao nitrogênio, e a dose deve ser ajustada conforme a meta de produtividade, como detalhado na tabela abaixo:
Adubação de nitrogênio para cana-soca
Fósforo (P)
O fósforo é frequentemente o nutriente mais limitante em áreas de expansão do canavial, sendo crucial para o desenvolvimento das raízes e o armazenamento de energia.
- Para a cana-planta, a adubação pode chegar até
180 kg/ha de P₂O₅
. - Já nas soqueiras, essa necessidade é menor, com doses que variam de
30 kg/ha
a60 kg/ha de P₂O₅
.
As tabelas a seguir apresentam as recomendações detalhadas com base na análise de solo (nível de Fósforo resina).
Adubação de fósforo para cana-planta
Para a cana-soca, a recomendação mais comum para solos com nível de fósforo resina de até 15 mg/dm³
é aplicar 30 kg/ha
de P₂O₅, conforme a tabela.
Adubação de fósforo para cana-soca
Potássio (K)
O potássio é um macronutriente essencial tanto para a cana-planta quanto para a cana-soca, influenciando diretamente o transporte de açúcares no colmo.
É fundamental acertar na dose: tanto a falta quanto o excesso de potássio podem prejudicar a qualidade da matéria-prima e o rendimento industrial. As recomendações a seguir ajudam a encontrar o equilíbrio ideal.
Adubação de potássio para cana-planta
Adubação de potássio para cana-soca
A Importância dos Micronutrientes
Apesar de serem necessários em pequenas quantidades, os micronutrientes são vitais para a produtividade da cana. Em solos de baixa fertilidade, o cobre (Cu) e o zinco (Zn) são os que mais limitam o desenvolvimento da cultura.
Para corrigir a deficiência desses elementos, você pode seguir as recomendações da tabela abaixo ou optar pela aplicação no sulco de plantio, utilizando doses de 5 a 7 kg/ha
de zinco e cobre.
Para outros micronutrientes, as recomendações são:
- Manganês (Mn): Pode ser corrigido com sulfato de ferro ou de manganês a 1%.
- Boro (B): A aplicação pode ser de
20 a 30 kg/ha
de bórax no solo ou via pulverização com ácido bórico a 0,5%.
A diferença em uma lavoura com e sem a aplicação de micronutrientes é visível e impacta diretamente a produtividade.
Efeito da aplicação de micronutrientes em cana-de-açúcar
(Fonte: Mellis e Quaggio, 2009)
Extração e Exportação de Nutrientes na Cana-de-Açúcar
Além de carbono (C), hidrogênio (H) e oxigênio (O), que a planta obtém do ar e da água, a cana-de-açúcar depende de uma série de nutrientes do solo. Eles são divididos em dois grupos:
- Macronutrientes: Exigidos em grandes quantidades. São eles: nitrogênio (N), fósforo (P), potássio (K), cálcio (Ca), magnésio (Mg) e enxofre (S).
- Micronutrientes: Exigidos em pequenas quantidades, mas igualmente essenciais. São eles: boro (B), cloro (Cl), cobre (Cu), ferro (Fe), manganês (Mn), molibdênio (Mo) e zinco (Zn).
As tabelas abaixo mostram a quantidade de macro e micronutrientes extraída do solo e exportada com a colheita para uma produção de 100 toneladas de colmos.
Extração e exportação de macronutrientes para a produção de 100 toneladas de colmo (Orlando, 1993) (Fonte: Vitti et al.)
Extração e exportação de micronutrientes para a produção de 100 toneladas de colmo (Orlando, 1993) (Fonte: Vitti)
Tipos de Adubo para Cana: Fontes Minerais e Orgânicas
Existem diversas fontes de fertilizantes que podem ser utilizadas na adubação do canavial.
Fontes de Nitrogênio (N)
- Ureia (45% de N): É uma fonte concentrada, mas requer cuidado. Para evitar perdas por volatilização (transformação em gás), ela deve ser levemente incorporada ao solo a uma profundidade de 5 cm.
- Sulfato de amônio (21% de N e 23% de S): Ótima opção, pois além de fornecer nitrogênio, também supre a necessidade de enxofre.
- Nitrato de potássio (13% de N e 44% de K₂O)
- Fosfato monoamônico - MAP (10% de N e 46 a 50% de P₂O₅)
- Fosfato diamônico - DAP (16% de N e 38 a 40% de P₂O₅)
Vantagens do sulfato de amônio (SA)
(Fonte: Advansix)
Principais Fontes de Fósforo (P)
A adubação fosfatada é crucial para o arranque da cultura, mas não interfere diretamente na qualidade final da cana. Fontes de fosfatos solúveis, como termofosfato e multifosfato magnesiano, geralmente apresentam melhores resultados que os fosfatos naturais.
- Fosfato monoamônico - MAP (10% de N e 46 a 50% de P₂O₅)
- Fosfato diamônico - DAP (16% de N e 38 a 40% de P₂O₅)
- Superfosfato simples (16% a 18% de P₂O₅ e 18% a 20% de Ca)
- Superfosfato triplo (41% de P₂O₅ e 7 a 12% de Ca)
- Termofosfato (18% de P₂O₅, 9% de Mg, 20% de Ca e 25% de SiO₄)
Fontes de Potássio (K) e Adubos Orgânicos
Além das fontes minerais, o setor sucroalcooleiro gera subprodutos ricos em nutrientes, como a vinhaça e a torta de filtro, que são excelentes adubos orgânicos.
- Vinhaça: Cada litro de álcool produzido gera de 10 a 13 litros de vinhaça. Este resíduo é extremamente rico em potássio.
- Torta de filtro: Cada tonelada de cana processada para açúcar gera
35 kg
de torta de filtro, que é rica em fósforo e cálcio.
A aplicação da torta de filtro pode ser feita de diferentes maneiras:
- Em área total (pré-plantio):
80 a 100 t/ha
. - No sulco de plantio:
10 a 20 t/ha
. - Nas entrelinhas:
40 a 50 t/ha
.
Principais fontes minerais de potássio:
- Cloreto de potássio ou sulfato de potássio (48% a 62% de K₂O)
- Nitrato de potássio (16% de N e 46% de K₂O)
Adubação Líquida para Cana: Uma Ferramenta Complementar
A adubação líquida é uma estratégia que pode aumentar a produtividade dos canaviais por melhorar o aproveitamento dos nutrientes aplicados. Ela reduz perdas por fixação no solo e lixiviação (lavagem pela chuva), trazendo benefícios químicos, físicos e biológicos.
Geralmente, a adubação líquida é feita via aplicação foliar para corrigir uma deficiência nutricional de forma rápida. Por isso, é importante lembrar que a adubação foliar é sempre complementar à adubação de base feita no solo.
Ela pode ser utilizada no plantio, pulverizando nutrientes nos colmos-semente, ou na soqueira, principalmente com fósforo, boro e zinco, para dar um impulso inicial à brotação.
Chave para identificar sintomas de deficiências nutricionais
(Fonte: Rossetto e Dias, 2007)
Custos da Adubação na Cana-de-Açúcar
O custo do adubo para cana depende diretamente da quantidade e do tipo de fertilizante que você precisa. Não existe uma “receita de bolo”.
O ponto de partida é sempre a análise de solo. É ela que vai identificar as deficiências de nutrientes e permitir um cálculo preciso da adubação necessária para atingir a produtividade esperada, garantindo o melhor retorno sobre o investimento.
A tabela abaixo mostra como a aplicação de micronutrientes, por exemplo, impacta não só a produtividade, mas também a viabilidade econômica da lavoura.
Produtividade, qualidade e viabilidade econômica em resposta à aplicação de micronutrientes em oito locais
(Fonte: Mellis e Quaggio, 2009)
Conclusão
A deficiência de macro e micronutrientes é um dos principais fatores que limitam a produtividade no canavial. Uma adubação correta e bem planejada é essencial para garantir bons resultados na lavoura.
Neste artigo, vimos que a cana-de-açúcar tem necessidades nutricionais diferentes ao longo do seu ciclo e que as doses devem ser ajustadas para cana-planta e cana-soca. Apresentamos também os diversos tipos de adubos minerais e orgânicos, como a vinhaça e a torta de filtro, que podem ser utilizados para nutrir a cultura.
Agora que você tem em mãos as principais informações sobre adubo para cana, utilize este guia para planejar a fertilização do seu canavial e potencializar sua produção.
Glossário
Cana-planta: Refere-se ao primeiro ciclo de cultivo da cana-de-açúcar, desde o plantio até a primeira colheita. É a fase de estabelecimento do canavial, que demanda uma adubação específica para o desenvolvimento inicial das raízes e da planta.
Cana-soca (ou Soqueira): É a rebrota da cana-de-açúcar que ocorre após o corte, dando origem aos ciclos produtivos seguintes. A adubação da cana-soca é fundamental para manter a produtividade e a longevidade do canavial.
Fósforo resina: Método de análise de solo que mede a quantidade de fósforo disponível para as plantas de forma mais precisa. O resultado, expresso em
mg/dm³
, é usado para determinar a dose correta de adubação fosfatada.kg/ha (Quilogramas por hectare): Unidade de medida padrão na agricultura que indica a quantidade de um insumo (como fertilizante) a ser aplicada por hectare de terra. Um hectare equivale a 10.000 m², aproximadamente a área de um campo de futebol oficial.
Lixiviação: Processo em que nutrientes do solo, como o nitrogênio, são “lavados” para camadas mais profundas pela água da chuva ou irrigação, ficando fora do alcance das raízes. Representa uma perda de fertilizante e eficiência.
P₂O₅ (Pentóxido de Fósforo): É a forma como a concentração de fósforo é expressa comercialmente nos fertilizantes e nas recomendações de adubação. Os valores nas tabelas (ex: 180 kg/ha de P₂O₅) indicam a quantidade deste composto a ser aplicada.
Torta de filtro: Subproduto sólido e rico em nutrientes gerado no processo de fabricação do açúcar. É um excelente adubo orgânico, muito utilizado para fornecer fósforo, cálcio e matéria orgânica ao solo do canavial.
Vinhaça: Resíduo líquido resultante da destilação do caldo de cana para produção de etanol. É extremamente rica em potássio, sendo amplamente reaproveitada como fertilizante líquido (fertirrigação) nos canaviais.
Volatilização: Fenômeno de perda de nitrogênio para a atmosfera na forma de gás (amônia). Ocorre principalmente com fertilizantes como a ureia quando aplicados na superfície do solo sem incorporação, reduzindo a eficiência da adubação.
Como a tecnologia ajuda a otimizar a adubação do canavial
Acertar na adubação, como vimos, é um equilíbrio delicado entre a necessidade nutricional da planta e o rigoroso controle de custos. Garantir que as doses corretas de fertilizantes sejam aplicadas, enquanto se monitora o impacto financeiro de cada operação, é um desafio constante. Um software de gestão agrícola como o Aegro ajuda a resolver isso, centralizando o planejamento das atividades e o controle de insumos. A ferramenta permite transformar as complexas tabelas de recomendação em um plano de ação claro, registrando cada aplicação para analisar o custo por hectare em tempo real e garantir que o investimento traga o máximo retorno.
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Perguntas Frequentes
Qual a principal diferença na adubação da cana-planta e da cana-soca?
A principal diferença está na necessidade de nitrogênio (N). A cana-planta (primeiro ciclo) tem baixa resposta ao N, recomendando-se uma dose fixa de 30 kg/ha. Já a cana-soca (rebrota) responde muito bem, exigindo doses maiores de nitrogênio, que são ajustadas conforme a produtividade esperada. As necessidades de fósforo (P) e potássio (K) também variam, sendo geralmente maiores no plantio.
Por que a análise de solo é tão importante para a adubação do canavial?
A análise de solo é fundamental porque informa exatamente quais nutrientes já estão disponíveis na terra e em que quantidade. Com essa informação, é possível calcular a dose exata de fertilizante necessária para atingir a meta de produtividade, evitando gastos com adubos desnecessários e prevenindo a aplicação em excesso, que pode prejudicar a lavoura e o meio ambiente.
Posso substituir totalmente a adubação mineral por adubos orgânicos como vinhaça e torta de filtro?
Embora a vinhaça (rica em potássio) e a torta de filtro (rica em fósforo) sejam excelentes fontes de nutrientes, a substituição total nem sempre é viável ou balanceada. O ideal é integrá-las ao manejo, usando-as para suprir parte da demanda e complementando com fertilizantes minerais para garantir que todos os nutrientes, incluindo nitrogênio e micronutrientes, estejam em níveis adequados.
O que acontece se eu aplicar potássio (K) em excesso na cana-de-açúcar?
O excesso de potássio pode ser tão prejudicial quanto a sua falta. Níveis muito altos de K no solo prejudicam a absorção de outros nutrientes importantes, como o cálcio (Ca) e o magnésio (Mg). Além disso, o potássio em excesso no colmo pode afetar negativamente a qualidade da matéria-prima, dificultando o processo de cristalização do açúcar na indústria e reduzindo o rendimento industrial.
A adubação foliar pode substituir a adubação feita no solo?
Não, a adubação foliar não substitui a adubação de base feita no solo. Ela funciona como uma ferramenta complementar e de ação rápida, ideal para corrigir deficiências pontuais de micronutrientes ou para fornecer um estímulo em fases críticas do desenvolvimento. A nutrição principal e de maior volume da planta deve sempre vir do solo.
Qual o cuidado necessário ao usar ureia como fonte de nitrogênio no canavial?
Ao usar ureia, é crucial incorporá-la levemente ao solo (a cerca de 5 cm de profundidade) logo após a aplicação. Esse cuidado evita perdas significativas de nitrogênio para a atmosfera através de um processo chamado volatilização, onde o N se transforma em gás amônia. A incorporação garante que o nutriente fique disponível para as raízes da planta, maximizando a eficiência do adubo.
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